Já disse por aqui, mais que uma vez, que o futuro será elétrico. Vai ser outro "admirável mundo novo", onde muito do que conhecemos em termos não só dos automóveis como da condução, da estrutura dos carros, e de como os manteremos, entre outros, será totalmente modificado em relação ao que aprendemos no passado e o que vemos agora. Contudo, em 2018, apesar de todas estas novidades que ouvimos todos os dias, e de muitas noticias a favor e contra, o que se pode dizer sobre a tecnologia, os carros, os pontos de carregamento, entre outros, é que existe um casto desconhecimento. Ainda é uma elite, apesar de vermos cada vez mais carros a circularem nas ruas. E em Portugal, organizações como a UVE, Utilizadores de Veículos Elétricos, esforçam-se para divulgar este mundo novo. E este ano, a cidade onde moro teve a chance de receber o Encontro Nacional de Veículos Elétricos (ENVE), que aconteceu no fim-de-semana de 7 e 8 de julho. Ali, tinha a oportunidade de visitar e ver o que de importante iria ser mostrado, e ouvir as pessoas sobre o panorama atual e o que está planeado para o futuro. E daquilo que vi deu-me esperança... e alguma preocupação. O evento - que este ano está na sua sexta edição - começou no dia 7, um sábado, pelas dez da manhã, com a presença do ministro do Ambiente, Matos Fernandes, e do presidente da câmara da cidade, Raul Castro. O ministro chegou num carro elétrico, um Nissan Leaf de primeira geração, e no seu discurso, falou do desafio não só para o país como também para a espécie humana para a revolução que terá de ser feita na captação de energia e redução das emissões de gás carbónico, e de como desafios como a construção de uma rede de carregamentos de carros eletricos. Para além disso, há o compromisso de ser um país neutro em carbono em 2050, e para isso, não é só reduzir ao mínimo as emissões em termos de transporte, como também aumentar a aposta nas energias renováveis, desde o solar até à eólica, passando pela energia das marés, onde existem algumas estações experimentais no litoral português. As "Aves Raras". O evento acontecia no estacionamento do estádio municipal de Leiria. Um lugar vasto de onde a organização conseguiu fazer duas coisas: de um lado, uma "gincana", onde poderiam usar os carros nesse percurso para todos os que quisessem experimentar um carro elétrico. Por outro, alguns stands onde se expunham os vários modelos que as marcas pudessem apresentar ao mundo. A grande novidade era o Jaguar I-Pace, o SUV da marca que estava a ter a sua estreia nacional, para além de uma camioneta Mitsubishi Fuso eCanter. Contudo, ambos eram apenas modelos presenciais, sem possibilidade de teste. Algo diferente eram os carros de outras marcas elétricas ali presentes. Tesla, Smart, Renault, Nissan. Hyundai, BMW, Kia, todos tinham os seus modelos elétricos, bem como carros para teste de estrada. A Toyota tinha um carro raro: um híbrido entre electricidade e hidrogénio, com uma capacidade de até 1200 quilómetros. Não experimentei esse carro - outro dos modelos presenciais, como o Jaguar - mas a chance de andar de Tesla ou de Renault era grande, e foi o que fiz. Notaram-se duas coisas nas curtas viagens de teste: o silêncio e o poder de torque que estes carros têm. Quando se fala que determinado carro tem - vamos supor, 500 cavalos - isso está disponível desde o primeiro segundo. Diferente de um carro com motor a combustão, que tens essa potência de modo progressivo, através de uma caixa de velocidades. E é essa a grande diferença. O Renault é bom, mas o Tesla é fantástico. Mas para o bolso do "comum dos mortais", é o Renault que vai ganhar, porque se pode comprar entre os 18 e os 23 mil euros, antes dos incentivos, e o Tesla Model S é um modelo de luxo, a rondar os cem mil euros. Mas havia outras "aves raras" expostas naquela exposição. Havia um Tesla Roadster, que tinha participado num rali um mês antes, e um Fisker Karma, este o único existente em Portugal, importado através da firma Zeev.pt, dedicado à importação de veículos elétricos. E não havia só carros puramente elétricos ou híbridos. Estava também um Land Rover sem motor de combustão. A ideia era de mostrar as virtudes da conversão de um carro normal, feito para acolher um motor de combustão interna, para os motores elétricos. Houve também conferências dedicadas sobre o assunto. Não consegui ir a todas, e só depois é que soube da presença de um representante da ABRAVEI, a Associação Brasileira de Veículos Elétricos, onde deu o exemplo sobre a mobilidade elétrica no Brasil, onde há muito poucos carros eletricos à venda. Ele disse que somente a BMW tem modelos disponíveis no mercado. Mas consegui ir a uma tertúlia sobre a mobilidade elétrica. Isso aconteceu depois dos participantes terem feito a sua ação simbólica desse dia, que foi desenhar um 1,5ºC no asfalto com os carros elétricos presentes. Demorou um bocadinho, e as fotos só poderiam ser vistas do alto, tiradas por drones e outros, mas os resultados foram aqueles que se esperavam. Na tertúlia, falou-se muito sobre postos de carregamento, o custo desse carregamento por kilowatt/hora, e a rede que vai ser espalhada por Portugal. Havia diversas marcas de carregadores, que mostravam os seus aparelhos, indicando que existirão vários modelos disponíveis, desde os Tesla - neste momento há quatro Superchargers em Portugal - até gasolineiras internacionas como a BP, e nacionais como a Galp ou Prio. Um desfile silencioso.
No segundo - e último - dia, basicamente, as coisas eram mais ou menos as mesmas, com a grande excepção do desfile final, pelas ruas da cidade. Tenho um amigo meu que é proprietário de um Twizy, o microcarro da Renault, do qual também fui experimentar, e deu para colocar a conversa em dia. O desfile aconteceu pela tarde, e foi... o mais silencioso que já vi. Eram cerca de duzentos carros presentes, vindos um pouco por todo o país, de todos os modelos expostos e foram mostrar-se à cidade, num domingo à tarde onde se notava que muitos preferiram ir à praia do que ver o futuro da mobilidade nas cidades. E o silêncio do desfile até foi uma maneira de mostrar a diferença. Não é preciso fazer barulho ou cheirar mal para mostrar que estão ali. Aliás, é precisamente o contrário. Está cada e mais provado, através de estudos médicos na Europa e nos Estados Unidos que a poluição por causa do Diesel - que contêm dióxido de azoto - é causa do aumento dos casos de asma e rinites alérgicas um pouco por todo o mundo industrializado. E é por isso que tivemos o "Dieselgate", o escândalo da adulteração das emissões de gases poluentes. O facto de as construtoras automóveis terem cada vez mais dificuldade em cumprir as obrigações da União Europeia em relação aos gases de escape fazem com que seja mais fácil falsificar os testes ambientais do que converter a sua tecnologia para a eletricidade. Agora estão a fazer, mas à custa de biliões de dólares de multas por parte da União Europeia e do governo americano, que os obrigou a comprar os carros a Diesel para os sucatear. De resto, foi uma experiência agradável. Fica-se com a ideia de que muitos estavam ali para vender carros, e isso era verdade, mas vendo as coisas desta forma, quem compra um carro agora, sendo um carro com motor de combustão interna, poderá estar a adquirir o seu último carro com esse sistema de combustão. Começa a haver cada vez mais uma diversidade de carros elétricos, com autonomias cada vez maiores, carros viáveis, e serão cada vez mais baratos. Para muita gente que visitou nesse fim de semana a exposição, ficaram com a ideia de que o próximo carro que comprarem vai ser um elétrico, porque se aproxima cada vez mais de um carro dito "normal". E até conseguem ser melhor em alguns aspectos. Saudações D’além Mar, Paulo Alexandre Teixeira
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