Durante a segunda etapa da Stock Cars em Curitiba, também tivemos a felicidade e o prazer de entrevistar o Dr. Dino Altimann, uma pessoa de personalidade e simpatia impressionantes.Este paulistano que há anos milita no automobilismo tem suas raízes no esporte desde a infância, sendo amigo desde esta época de Paulo Salles, filho do grande Mauro Salles, “mentor intelectual” das equipes Willys e Greco, revelou passagens impressionantes da sua vida e vocês poderão acompanhar tudo aqui, com os Nobres do Grid. NdG: Então sua vida no meio da velocidade começou muito antes do que qualquer um poderia imaginar... Dino Altimann: Realmente, eu tinha e tenho desde esta época uma amizade muito grande com o Paulo Salles e acompanhei de perto a trajetória do Luiz Pereira Bueno ao volante dos Binnos. Nós íamos e voltávamos juntos da escola, íamos sempre a Interlagos juntos... ele corria de kart e eu acompanhava tudo de perto. NdG: E nesse relacionamento tão próximo, não deu aquela vontade de ser piloto? Dino Altimann: Vontade deu, mas não tinha “retaguarda”. Eu até fiz curso de pilotagem, estava conseguindo patrocínio e tudo... mas eu não tinha “jogo de cintura” para competir com esse pessoal que é “malandro de autódromo”. Eu estava conversando com o pessoal da Philips para correr com patrocínio deles. Eu tinha um fusca – Divisão 3 – era em 1974, acho, foi no ano de lançamento da Fórmula Super Vê. Só que eu não tinha carro e não tinha equipe... eu não tinha nada! Além disso tudo, eu não tinha noção de como fazer nada disso. Não tinha um pai que me ajudasse, que orientasse, que conhecesse gente para abrir portas... eu fiquei insistindo no meu projeto de Divisão 3 e acabei ficando sem nada (risos). A Philips acabou patrocinando o (Marcos) Troncon e um outro piloto que não me lembro. NdG: E como foi que a medicina entrou na sua vida? Dino Altimann: Este é outra passagem interessante. Eu, apesar de gostar de medicina, achava que seria muito difícil entrar na faculdade. A concorrência era grande e eu não era um aluno assim de notas excepcionais. Assi, eu achava que não tinha muitas chances de entrar. Ainda mais que, quando eu descobri meu gosto pela medicina eu estava no científico (hoje chamado de ensino médio) e eu estava fazendo a área de exatas... a gente decidia isso no primeiro ano e seguia os três anos com mais matérias desta área. Eu já tinha terminado o primeiro ano e uma amiga que mudou no meio do ano e teve que estudar muita biologia. Eu peguei o livro dela e vi aquele monte de nomes que tinha numa célula e eu pensei: ‘eu não sou capaz disso!’ E nisso eu não mudei para biológicas, mas acabei nem fazendo vestibular para exatas... fiz para administração de empresas. Passei, fiz 1 ano e estava indo super bem... mas aquela coisa de aptidão é estranho e eu tinha muita habilidade para coisas manuais, trabalhos manuais e eu já tinha visto algumas cirurgias e foi aquela época que fizeram o primeiro transplante de coração e eu decidi que ia fazer medicina e ia ser cirurgião cardíaco. Bom, eu larguei a faculdade, estudei 1 ano por conta própria e entrei na faculdade de medicina (risos). Eu descobri que não tinha nada de difícil... a gente não entende essas coisas, não sabe o que é difícil e o que não é. NdG: Então sua especialidade é cardiologia. O senhor exerce ou exerceu diretamente esta especialização fora ou antes de vir para as pistas como médico? Dino Altimann: Na verdade não (risos). Desde o meu terceiro ano de faculdade eu trabalhava com um grupo nessa área de cirurgia cardíaca e fomos assim, nesta área até o meu terceiro ano de residência. Eu precisava decidir o que fazer e via que cirurgia cardíaca era uma coisa de grupos muito fechados e era complicado. No final você ia ser empregado de alguém a sua vida toda e eu pensei: ‘eu não nasci para isso’... e assim “acabou a cirurgia cardíaca”. Daí eu precisava decidir que caminho tomar. Então eu me especializei em cirurgia geral e posteriormente em cirurgia oncológica (cirurgias de câncer). É um desafio constante, tem sempre coisas novas... é diferente de cirurgia geral. Tem que se estudar muito... mas isso faz parte. Todo médico é um estudioso nato, pois há sempre coisas sendo descobertas todos os dias. Já os carros, ou os acidentes, vem de uma coisa que é muito forte na formação dos cirurgiões aqui no Brasil: aqui tem muito acidente de transito, nas estradas, muita violência, não só de armas de fogo, mas armas brancas também. Nos últimos anos o numero de acidentes tem diminuído, mas ainda é um numero muito elevado aqui no Brasil. NdG: Com toda esta bagagem acumulada, porque o automobilismo? Como foi então que o senhor retornou as pistas? Acostumado a assistir corridas dos boxes, Dino não se conformava em assistir a F1 de outro lugar. Credenciou-se como médico. Dino Altimann: Em 1990 a Fórmula 1 voltou para São Paulo e eu pensei comigo: tenho que conseguir uma credencial. Não conhecia corrida de arquibancada por conta do convívio com o Paulinho Salles e se não fosse ali, onde sempre estive eu mesmo disse que não ia assistir corrida de uma arquibancada. Daí eu descobri que as credenciais não eram mais como as credenciais de antigamente, onde com os amigos se conseguia as coisas. Daí você transitava entre os carros, por dentro dos boxes, entre os pilotos, mecânicos e tudo que acontecia. A coisa havia mudado e as credenciais de Paddock davam uma parte deste trânsito, mas não era a mesma coisa. Além do que, era uma coisa que eu teria que garimpar um ano e depois no outro e nada garantiria que eu conseguiria e ainda não ia conseguir ver a corrida dos boxes como eu estava acostumado a assistir. Eu precisava tentar conseguir trabalhar como médico! Daí fui atrás, apresentei meu currículo e consegui trabalhar com a equipe médica na Fórmula 1. E foi assim que comecei a trabalhar com automobilismo. Daí eu fui crescendo no automobilismo e a partir de 1996 eu passei a ser o médico da Stock Car e em 2001 passei a ser o Diretor Médico do Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1 e também da comissão médica da FIA. NdG: Agora que estamos aqui, na Stock, como funciona o sistema de atendimento médico na categoria? Dino Altimann: Na Stock as coisas funcionam em torno do que eu planejo. Temos apenas um carro médico onde vou eu e mais um médico, sendo nós quem chegamos primeiro em caso de um acidente. Se tiver algo mais grave, vem a ambulância. Assim, o socorro é prestado por nós e pela equipe de emergência que nos auxilia. E é uma equipe que conta com um médico em cada ambulância, sendo todos especializados em emergências hospitalares como são o SAMU e outros do gênero. NdG: Quantas ambulâncias temos aqui?
Dino Altimann: Temos normalmente três. Aqui tenho quatro desta vez e em São Paulo costumo ter mais, uma vez que o Hospital São Luiz nos cede um efetivo maior dando um suporte especial. NdG: Temos helicóptero?
Dino Altimann: Não. Normalmente não temos. Eventualmente até temos como foi em Brasília no inicio da temporada. O SAMU é do lado do autódromo. Embora a aeronave não fique no autódromo, fica do lado. Tivemos também em uma etapa em Guaporé – RS, que tem menos recursos médicos que o que poderia ser necessário. Teve um outro que também tivemos, mas não me lembro agora onde foi. NdG: O senhor falou que a FIA tem uma comissão médica. Existe intercâmbio entre os médicos ligados ao automobilismo? Certamente os senhores trocam informações. Como isso é feito?
O Brasil e a Stock são uma referência em questão de segurança no exterior. Não só dos carros como na parte de resgate. Dino Altimann: Eu comecei a ir aos congressos da FIA em 1999, assim como os do ICMS – International Concil Motorsport Science. Fora do Brasil existe um sistema de atendimento medico nos autódromos em que se tem um Diretor Médico e equipes permanentes dentro do autódromo, trabalhando só com automobilismo. Então podemos dizer que eles tem um nível melhor que o nosso a nível de infraestrutura. Quando se vai a um simpósio, que se pode trocar experiências com os outros colegas, vemos que eles tem – especialmente nas categorias top – um nível de trabalho excelente. Aprende-se muito com eles, mas posso dizer que não ficamos atrás. Por exemplo, quando se fala em carros de turismo e eu mostro o carro da nossa Stock Cars eles ficam babando com as soluções de segurança que a gente tem aqui no Brasil. Não apenas na segurança do carro mas também na área de resgate. Uma coisa é segurança para o piloto não se machucar, outra é segurança para facilitar o trabalho do médico na hora do resgate e nós temos uma condição muito boa nestes carros. Este teto removível, por exemplo, é fantástico. Nos carros de turismo, fundamentalmente, o espaço para o médico trabalhar é muito apertado. É complicado para imobilizar um piloto. É o pior carro para o médico trabalhar. NdG: estes congressos são anuais? Quem organiza?
Dino Altimann: Temos basicamente dois órgãos que organizam e a cada ano temos o ICMS – International Concil Motorsport Science, que é o “braço americano” do atendimento médico em automobilismo e durante muitos anos eu não perdi nenhum simpósio deles. Nos últimos anos tem coincidido com compromissos outros e não pude ir, mas tenho acompanhado tudo o que é desenvolvido por lá. A FIA, a cada dois anos, tem o congresso que é o Simpósio Bianual, e desse eu participo sempre por que sou membro da Comissão Médica da FIA, sou do “board” da faculdade de medicina que não é bem uma faculdade, é um órgão que esta tentando estruturar e otimizar o ensino médico voltado para o automobilismo, dentro do Instituto FIA. Tem um site foi lançado há pouco sobre esta ação desenvolvida pelo Instituto FIA. Tem um livro que está em fase final de edição, devendo ser lançado agora em dezembro e que deve dar origem a um curso de atendimento médico em automobilismo e este curso será ministrado ao redor do mundo. Estamos procurando melhorar o atendimento médico no automobilismo ao redor do mundo, como vocês podem ver. NdG: A FIA e os médicos da FIA estão de parabéns por este projeto. É muito importante em todos os setores se buscar a melhoria através de prevenção do que da reparação. Está dentro disso o projeto?
Dino Altimann: Está. A Comissão Médica da FIA trabalha justamente na regulamentação e na prevenção. Não podemos esquecer, claro, que no automobilismo sempre houve e sempre haverão acidentes. O que não queremos ver são pilotos feridos, machucados, sofrendo sequelas graves. Em termos de segurança, precisamos pensar sempre na frente. Uma ação preventiva é sempre melhor que uma corretiva. NdG: O senhor acompanhou de perto todo o processo pós acidente do Felipe Massa e no caso do monoposto, que é totalmente aberto e o piloto foi atingido por uma mola. Num carro como o da Stock, qual seria o risco ao qual o piloto estaria mais exposto? Dino Altimann: Essa é uma pergunta difícil de responder... é algo que foge totalmente do que se pode chamar de habitual e tudo que foge do habitual pode acontecer. Quando se identifica um risco, trabalha-se para que ele diminua, então, assumindo que um risco é maior que o outro, trabalha-se preventivamente para que ele não ocorra ou reduza-se ao máximo. Quando se fala qual pode ser o maior risco, talvez devamos colocar o choque lateral como o maior deles. Agora, se ao se identificar este risco maior e não se fizer nada para minimizá-lo, você vai estar sendo até omisso se não buscarmos corrigir estes riscos, tanto nos carros como nos autódromos. Nos autódromos é um pouco mais difícil porque não depende da gente. Na Stock, especificamente, onde estou trabalhando há 14 temporadas, eu me sinto na obrigação de protegê-los e a solução deste carro é algo extremamente moderna em termos de segurança e nós tivemos uma participação ativa neste processo todo. NdG: Há alguns anos as transmissões da Fórmula 1 mostra no canto da tela aquele gráfico com a indicação da força G atuando sobre os pilotos. O Fórmula 1 é bem mais rápido que o carro da Stock, mas este é bem mais pesado. Indo buscar agora a sua base de formação de exatas, o deslocamento da massa do carro da Stock Car e – no caso – a interrupção deste deslocamento pode ser um complicador tão grande quanto o causado pela velocidade mais alta do Fórmula 1 no caso de uma desaceleração abrupta devido a uma colisão? Dino Altimann: Em termos de cálculo, a gente sabe que a força é dada pela massa vezes o quadrado da velocidade. Ou seja, a velocidade é mais importante. A massa, no caso não vai ter uma influencia tão grande. O que se tem mesmo de mais importante nos carros é a capacidade de dissipação de energia. A forma como um Fórmula 1 dissipa energia em caso de um acidente é muito, mas muito eficiente. O carro vai se destruindo, mas a célula de sobrevivência mantém-se intacta. Na maioria das vezes, quanto mais espetacular é o acidente, maior é a dissipação de energia. Então, quando se vê um acidente como o do (Robert) Kubica no Canadá, é uma cena que impressiona, mas o que se viu ao final, com o carro todo despedaçado, foi o piloto estar fisicamente bem, apesar da primeira pancada ter sido extremamente forte. NdG: O caso do acidente com o Gualter Salles em Buenos Aires se enquadraria neste caso? Dino Altimann: A diferença no caso do acidente do Gualtinho foi a queda dentro do túnel. Esse foi um complicador que me causou mais preocupação do que o do Kubica. Ali o Gualtinho ficou com a perna para fora do carro e isso poderia trazer um dano maior, como um esmagamento. O caso do Stock Car é de uma capacidade de absorção enorme. Tem o cone frontal em forma de colméia de abelha, o cone traseiro e a forma da estrutura tubular que são muito eficientes. Com o carro antigo nós tivemos batidas extremamente fortes tanto de frente como atrás que demonstraram que a capacidade de dissipação de energia é fantástica. O único ponto que podemos chamar de mais vulnerável é em caso de choque lateral. Do carro novo para o antigo houve uma melhoria muito grande no aspecto preventivo, ao menos pelos testes e estudos. Quanto melhor ficou só o tempo poderá dizer. NdG: O carro ganhou em limite de resistência, em capacidade de absorção de choque e de dissipação de energia. E o piloto? Quais seriam os pontos mais vulneráveis de um piloto num carro da Stock? Dino Altimann: A questão dos pilotos... podemos dizer que – para alguns – falta um melhor preparo físico. Uma das formas mais importante de proteção que o piloto tem é seu preparo físico. Então toda a estrutura muscular e fundamentalmente o preparo aeróbico vão proporcionar uma resistência muito maior não somente na hora de um choque, mas também na capacidade minimizar a extensão de uma lesão que se possa sofrer. Das partes do corpo, em um carro da Stock eu acredito que os pés continuem sendo os pontos mais vulneráveis por causa das pedaleiras. É bom eu lembrar que nesses 14 anos aqui na Stock não houve ninguém que tenha se machucado sofrendo uma fratura de pé. Estou considerando o pé por conta apenas das pedaleiras. Os novos bancos adotados tornaram muito maior a proteção da coluna tanto cervical, como no tórax e região lombar. Então eu diria que não há um ponto que possamos identificar como mais fraco... as mãos, talvez, num choque frontal... mas se houvesse um ponto assim, identificado, já teríamos feito um trabalho em função deste. NdG: alguns anos atrás aconteceu um acidente na NASCAR que – para quem assiste a NASCAR e costuma ver o “padrão de acidentes” da categoria – vendo pela televisão não pareceu tão grave mas que na verdade o foi: o acidente que vitimou Dale Enhart. O acidente dele foi fruto de algum estudo nestes congressos médicos desta área automobilística? Dino Altimann: Na investigação do acidente, constatou-se uma falha de equipamento no carro dele. O cinto de segurança, de alguma forma, se soltou. Na verdade um dos pontos do cinto se soltou e todas as lesões que ele sofreu foram em decorrência desta falha. Esse é um motivo de preocupação muito grande: A fixação dos cintos de segurança é de extrema importância para a vida e a saúde do piloto. Nos carros novos os cintos de segurança são fixados nos pontos corretos. No passado até recente, não eram. Se formos olhar alguns carros da Stock Light, vamos encontrar cintos fixados muito na parte de trás e com isso, muito longos. Se olharmos com mais cuidado, o parafuso de fixação pode não ser o homologado e uma das coisas que já aconteceu aqui na categoria e que foi uma das razões acidente onde o Rafael Sperafico veio a falecer, o piloto que colidiu contra ele, o Renato Russo, machucou-se porque soltou-se a fixação do carro dele. Caso contrário ele não teria se machucado. Assim, veja, as coisas acontecem por uma falha no sistema de segurança que a gente tem e confia. NdG: Além da Stock Car e da Fórmula 1 o senhor trabalha em outra categoria? Dino Altimann: Com a Porsche Cup. NdG: O senhor falou sobre a importância de um bom condicionamento físico para um piloto. Existe por parte da CBA ou da VICAR ou outra organizadora de corridas que o senhor tenha conhecimento aqui no Brasil que exija uma bateria de exames regulamentares ou uma bateria mínima de testes físicos ou um conjunto destes dois pontos para que um piloto possa estar apto a correr? Dino Altimann: A exigência da CBA é que, para tirar e/ou renovar a carteira de piloto eles devem ter feito um exame médico. Isso não tem nada a ver com os organizadores. Se a CBA renova a licença do piloto para correr, ele está apto a correr. NdG: E de que consiste este exame médico? O senhor sabe quais são as exigências da confederação? Nenhuma categoria exige exames clínicos, físicos ou médicos para aceitar um piloto. Basta um atestado médico e ele pode correr. Dino Altimann: Não tem uma exigência mínima. O que ele tem que ter é um atestado médico dizendo que ele tem condições. NdG: Quer dizer que se o piloto tiver um vizinho que seja médico e gostar de corridas, um pedido de um atestado a este vizinho pode ser tudo o que ele precisará para poder correr? Sem exame algum? Dino Altimann: Sim. NdG: Isso não é perigoso? Não deveria haver um controle mais rigoroso? Alguma categoria fora do Brasil tem isso? Dino Altimann: Temos que partir do princípio de que eles, os pilotos, são profissionais e como profissionais eles deveriam cuidar disso. Você faz checkup anual? NdG: Atualmente eu faço o meu e o da empresa e quando trabalhava com produtos químicos fazia checkups semestrais. Dino Altimann: Então, é disso que estou falando. É algo que se faz por responsabilidade. NdG: No caso dos produtos químicos era por norma da empresa. Dino Altimann: É... aqui não tem como a gente exigir. Vou contar uma passagem só. No meu começo na Stock Car, eu consegui para todos os pilotos da época um pacote super baratinho para eles fazerem uma bateria de exames de laboratório, eu não iria cobrar consulta no meu consultório e tinha eletrocardiograma de esforço, raio X de tórax e alguns exames de sangue básicos. Na época custava algo perto de 100 reais (menos de 500 reais em valores de hoje). Apenas quatro ou cinco pilotos fizeram. È como você falou: é muito mais fácil ligar para um médico conhecido e pedir um atestado médico. NdG: Se não tem exame para entrar, também não tem para retornar, certo? Dino Altimann: Não tem. NdG: Aqui no Brasil nos já tivemos algumas mulheres ao longo da história correndo e com bastante sucesso como Graziela Fernandes Santos, Maria Cristina Rosito, Suzane Carvalho e a grande estrela do nosso país agora, a Ana Beatriz Figueiredo. Em termos de fisiologia, unicamente nisso porque sabemos que as fisiologias do homem e da mulher são diferentes, as mulheres tem alguma desvantagem em relação ao homem? Se existe, qual seria? Fisicamente bem preparada, uma mulher pode estar em melhores condições fisicas que um homem. Alguns deles se dedicam pouco. Dino Altimann: Particularmente eu não vejo uma desvantagem. Atualmente a gente vê tantas mulheres chegando as categorias principais. A questão das mulheres é que elas são minoria no automobilismo e o filtro é muito grande. Até elas chegarem ao topo e sendo minoria serão menos que os homens. Se em 1000 homens 10 chegam ao topo, em 10 mulheres, talvez nenhuma chegue. Quanto às exigências físicas de hoje, são bem diferentes das do passado em que se trocava marcha 3000 vezes, manualmente, num GP, ou que por não haver direção hidráulica elas tinham desvantagem. Atualmente esse não é o ponto. Além do talento, é preciso somar uma série de coisas que vão desde um bom preparo psicológico e vão até o preparo físico. Uma piloto fisicamente bem preparada pode estar até numa condição de vantagem. Tomando a Bia Figueiredo, por exemplo, é uma excelente piloto e que teve grandes resultados este ano. Mas, que se formos analisar e comparar com o início da carreira, ela não conseguiu manter o mesmo handcap. Não sei dizer o fator disso, as vezes até o psicológico. Com o tempo todos crescendo, ela por o carro no retrovisor de alguém, o garoto vai fazer de tudo e mais ainda para não perder a posição para uma garota. Para mim a questão está mais no número de mulheres. NdG: nestes últimos meses surgiram muitos casos de doping em diversos esportes e no inicio do ano, a Stock Car anunciou que seriam feitos exames antidoping nos pilotos. A categoria divulgou ou adotou alguma lista de substâncias proibidas? Esta lista foi entregue as equipes e/ou aos pilotos? Dino Altimann: O que nos fizemos quando começamos foi passar a todos uma lista de substâncias proibidas. Esta lista é a lista da WADA – World Antidoping Agency – que está à disposição de quem queira ver na internet e ela muda a cada ano. Então todos sabem, os pilotos sabem, onde procurar esta lista. O maior ensinamento que nós damos a eles é: não tomem nada sem saber que é doping! Esse conselho nem sempre é escutado por atletas em geral. Se não for absolutamente necessário, não tome nada. O doping não intencional é um problema no mundo todo mas aqui ele tem números impressionantes e isso é uma falta de formação e de educação nossa, dos brasileiros. Estou falando como um todo, não apenas da Stock Car. O atleta ainda tem uma educação em relação ao piloto de automóvel. Este não tem nenhuma em relação a este problema do doping. Esta é a maior dificuldade que encontramos neste sentido e que temos ainda muito o que trabalhar para melhorar. Hoje eu posso dizer que tenho quase certeza de que não há doping na categoria. São feitos exames regularmente, mesmo não sendo em todas as provas, mas eles são feitos. NdG: Mas houve um caso comprovado este ano, não? Dino Altimann: Sim, houve, mas foi algo mais de desconhecimento do que intencional. Foi um caso único na temporada e acredito que não vá mais acontecer. NdG: Não dá para fazer com todos e sempre? Em todas as provas? Dino Altimann: É complicado. O custo é altíssimo. Uma coisa que sempre digo é que se há esta busca pelo controle e pela lisura no esporte, tinha que haver um controle dos governos, um envolvimento e o custo ser acessível ou nenhum para a organização de um evento. Até porque, o órgão regulatório não é o organizador do evento, mas é ele quem arca com os custos. A Stock Car é a única categoria que faz este exame e isso é algo que deve ser lembrado e louvado por todos ao invés de criticar-nos. Somos criticados por fazermos o que fazemos. NdG: Que conselho médico o senhor pode dar para um piloto em início de carreira ou um postulante a piloto para que ele possa ter a melhor condição física e fisiológica para se desenvolver na carreira e até, quem sabe, poder estar um dia alinhando para uma prova na Stock Car? Os governos e instituições deveriam baratear ou custear o exame anti doping, que é caríssimo e quem banca é a organização. Dino Altimann: Tem que ser metódico, abdicar de muita coisa, ter organização... a vida de um piloto é sacrificante. Ele tem que abdicar de uma série de coisas, não que ele tenha que ser um santo e não fazer nada, mas não dá, por exemplo, para ir na balada toda noite. A Stock tem 12 etapas e não dá para entre uma e outra cometer excessos. Todos eles são profissionais, mas alguns poderiam ser mais profissionais. A conta que se paga por um excesso é cobrada mais adiante. Ter um condicionamento e uma preparação correta, uma vida regrada vai se somar ao talento que ele tiver. Mesmo aqueles que tem um grande talento, mas não tem uma vida regrada, tenha certeza de que ele seria ainda melhor. É isso então: seja dedicado, cuide-se fisicamente, desenvolva-se em suas habilidades e seja um piloto em tempo integral. NdG: Dr. Dino, agradecemos de coração todo este tempo que o senhor nos dedicou e como fazemos com os nossos entrevistados, gostaríamos de presenteá-lo com uma camisa dos Nobres do Grid, grupo de amigos do automobilismo que o senhor já faz parte há muito tempo. |