Foto aérea do então AIC, tirada pelo piloto Átila Abreu em 2015. Era uma vez um apaixonado pelo automobilismo que, empresário visionário, viu na possibilidade de transformar um antigo autódromo nos arredores da cidade onde morava em um espaço de referência... e assim o fez! O antigo Autódromo Internacional de Curitiba (hoje não mais internacional, uma vez que não teve renovada a sua licença na categoria FIA-3 junto à Federação Internacional de Automobilismo) vem passando por um processo desgastante de especulações em torno da sua venda e desativação. Apesar disso, até novembro do ano passado, sob uma administração profissional e austera, nas mãos do Sr. Itaciano Neto, tornou-se ao longo da última década um local de referência e considerado por todos os profissionais que trabalham com automobilismo como sendo o segundo melhor autódromo do país, ficando atrás apenas de Interlagos. Consultado pela CBA, o presidente do autódromo não demonstrou interesse em renovar a certificação junto à FIA. Extremamente bem cuidado, com suas áreas gramadas regularmente aparadas, muros pintados, grades, portões e portas lubrificados e pintados, uma torre de controle impecavelmente bem cuidada, com pontos para as transmissões estrategicamente bem localizados e facilidades para equipes e pilotos instalarem-se no autódromo, dispensando os apertos do trânsito na saída de Pinhais para Curitiba e dispensando o uso de hotéis para ficarem em seus ‘motorhomes’. Era um prazer ir até lá para todos os profissionais ligados ao esporte a motor. Já é sabido de todos as necessidades pelas quais passam a empresa de seu principal proprietário, o Sr. Jauneval de Oms. Inclusive, foi para o Site dos Nobres do Grid que ele, com exclusividade, expôs a sua necessidade de vender o autódromo. Desde então, encontrou nos integrantes do Projeto Nobres do Grid um grupo de defensores do respeito à propriedade privada e da necessidade do proprietário em vender um bem. A empresa, inclusive, não está mais em recuperação judicial desde o início do mês de dezembro de 2018. Em 2016 fizemos estas fotos do autódromo que era o segundo melhor do país, só atrás de Interlagos. Se por um lado os problemas mais graves da empresa estão sendo resolvidos, o bem sucedido modelo de gestão do autódromo é coisa do passado. Desde novembro de 2017 houve uma mudança no modelo de gestão do autódromo e o filho do proprietário, Manuel de Oms Neto passou a ser o novo administrador do autódromo e tratou de estabelecer novas diretrizes de gestão, que para o automobilismo vem sendo extremamente negativas. Em 2011, a então empresa gestora do Autódromo Internacional de Interlagos – SPTuris – alterou a forma de cobrança de arrendamento da praça de esportes e como local de eventos. Esta alteração teria como data de início da prática de novos valores o dia 1° de janeiro do ano seguinte, 2012. Mesmo com o anúncio com certa antecedência, o aumento de – em alguns casos – até 141% inviabilizou eventos agendados/planejados e levou o então presidente da CBA, Cleyton Pinteiro a buscar a autarquia para evitar a inviabilização dos eventos nacionais e regionais. No caso do autódromo de Pinhais, ao assumir a gestão em novembro de 2017, o novo administrador estabeleceu novas regras para a locação do autódromo com efeito imediato, não para o ano seguinte, e afetando eventos que já estavam agendados para os dois últimos meses do ano. Tal medida inviabilizou um dos maiores eventos promovidos no autódromo: o Festival Brasileiro de Arrancada, gerando prejuízos ao promotor do evento (Força Livre) e a participantes, que tinham passagens aéreas e reservas em hotéis para o evento. A atual administração também demitiu as equipes de manutenção e segurança que cuidavam dos equipamentos instalados no autódromo, algo que teria um preço a ser cobrado em pouco tempo, com a eliminação das portas dos boxes, remoção de parte das grades e portões de acesso entre o estacionamento interno e o paddock, o corte e poda periódico da vegetação ao lado do traçado e das árvores existentes no complexo. As palmeiras que existiam na área do paddock e estacionamento foram cortadas pela raiz e até a árvore plantada no ano passado pelo piloto Raijan Mascarello junto ao escritório da administração foi arrancada! A árvore plantada por Raijan Mascarello, Paulo e Lorenzo Vassarin, comemorando 50 anos do autódromo, "sumiu". Se um autódromo precisa ou não ter árvores, talvez isso não seja importante, mas o corte “meia sola” que foi feito antes da etapa da Stock Car em abril deste ano deveria ter se tornado um caso de polícia. Ao fazer apenas um corte limitado a uma faixa em torno da pista e não em todo a autódromo, que tinha vegetação com 15 a 20 centímetros de altura poderia provocar um desastre de grandes proporções como o que aconteceu em Caruaru em 2014, com o gramado pegando fogo ao entrar em contato com um carro que deixou a pista e que, devido ao vento, provocou um incêndio de grandes proporções e interrompeu a final da Copa Nordeste de Automobilismo. No caso do que aconteceu naquele final de semana no autódromo de Pinhais, o prejuízo ficou na conta das equipes. Além do corte inadequado da grama, fizeram o serviço pela metade, deixando a grama cortada no local. Com isso, cada carro que saia da pista coletava uma parte desta grama cortada... que entupia as tomadas de ar de arrefecimento de freios e motor. O resultado foi desastroso: 7 (SETE) carros pegaram fogo no final de semana por superaquecimento. Os donos de equipe estavam furiosos e foram cobrar explicações do diretor da VICAR. Acima, uma vista do projeto paisagístico do AIC. Abaixo, o lamentável corte das árvores e a degradação no autódromo. Vale salientar que por muito pouco a etapa da Stock Car no autódromo de Pinhais não aconteceu. Entrevistamos o Diretor Executivo da empresa promotora da categoria durante o final de semana da abertura do campeonato, em Interlagos, quatro semanas antes da etapa paranaense, e o contrato ainda não estava fechado, com o próprio site da categoria tendo ao lado da data um “asterisco” e um “a confirmar” entre parênteses. Como foi falado acima em “caso de polícia”, a falta de manutenção não é o único problema da área de 560 mil metros quadrados que incluem, além do autódromo, o kartódromo (Raceland) e uma área onde aconteciam corridas em um circuito de terra. A eliminação do quadro de seguranças em quase sua totalidade, deixou a área vulnerável a ataques de invasores, que já roubaram uma boa parte da fiação elétrica do circuito e, sem ver qualquer reação, um dos invasores partiu para roubar cabos de alta tensão (mais grossos, pesados e caros). Só não contava que, apesar de às escuras, o circuito estava alimentado e o invasor morreu eletrocutado, com o fato sendo noticiado na imprensa local. Voltando para a área esportiva e comercial, as questões de desacordo dos promotores de eventos com a atual administração do autódromo, que em seus emails era assinado como CEA (Centro de Excelência de Automobilismo) foi mais além do que com os promotores de eventos de competição. Os promotores de Track Days, eventos que reúnem proprietários de carros que pagam aos promotores para dar algumas voltas no circuito que é locado por estes promotores, enfrentaram tantos problemas no início do ano que em quase sua totalidade desistiram de promover seus eventos. As grades, em partes arrancadas estavam degradadas. Sem manutenção, a tendência é piorar. Além dos emails com linguagem agressiva por parte do administrador do autódromo, os promotores dos eventos se deparavam com a falta de luz nos boxes (desligada propositadamente sob a alegação de que “um evento diurno não precisava de luz nos boxes”), que para além de outros tratamentos negativos, foram levando estes a promover eventos em outros locais, em outras cidades, inclusive. Ao longo deste ano a própria administração do autódromo realizou eventos – inclusive noturnos – com um número de carros muito menor que os levados pelos promotores que locavam o espaço. Telas enferrujadas, descuido com as barreiras com arame, falta de pintura. Isso não acontecia antes de 2018. Até mesmo as relações com grandes clientes se tornaram complicadas. Falamos com o Diretor de Marketing de uma grande montadora de automóveis que possui planta industrial na região metropolitana da capital paranaense e que pediu para não mencionarmos seu nome e o da empresa. Ao longo dos últimos anos esta empresa foi a maior cliente do autódromo de Pinhais, onde realizava Track Days para seus clientes, eventos corporativos, testes de pneus e de motores e que chegava a locar a pista por mais de 100 dias por ano. Ele revelou que devido aos problemas com a atual administração a empresa passou a realizar os testes com seus veículos majoritariamente em uma pista de aviação no município de Campo Magro, quatro vezes mais distante do que o autódromo de Pinhais. Também revelou que em dois eventos com clientes houve “muito ruído” com a atual administração e que mesmo sendo o Paraná uma praça importante, que não pode ser descartada, a empresa está sendo muito meticulosa em realizar eventos no autódromo com a atual política. No final do mês de novembro, o nosso jornalista decano, Milton Alves, que tem mais de quatro décadas de jornalismo esportivo, uma reputação inquestionável e que não precisa se auto promover na mídia nacional, em sua coluna semanal no site dos Nobres do Grid onde ao falar sobre a decisão da Copa Truck que aconteceria no final de semana seguinte, mencionando o fato do autódromo de Pinhais estar penhorado (existem diversas ações no TRT e outras varas onde o autódromo está arrolado e colocado como condição de indenização) foi atacado em redes sociais. A reação por parte do proprietário do autódromo, seu filho e administrador e alguns curitibanos ultrapassou o limite do bom senso, ao ponto de acusarem o jornalista de estar buscando autopromoção. Em uma demonstração de seriedade jornalística, o site dos Nobres do Grid concedeu aos proprietários e administradores do autódromo de Pinhais o direito de resposta, publicando na íntegra o corpo do agressivo email assinado pelo administrador do autódromo e que, para nosso espanto, apenas confirmou as afirmações feitas pelo jornalista em sua coluna. Devidamente credenciados pelo promotor do evento, o site dos Nobres do Grid esteve no autódromo para constatar in loco o estado de depreciação das instalações da praça de esportes e acabou encontrando problemas muito mais sérios do que apenas a degradação do paisagismo. As condições de trabalho para os profissionais e mesmo o público estavam longe de ser as mesmas de anos anteriores. Ar condicionados "engenbrados" pelas janelas uma vez que os aparelhos originais foram retirados e não substituídos. A torre de controle, que possuía salas climatizadas e com divisórias para os grupos de trabalho que nela exercem suas funções como a cronometragem, comissários desportivos, narradores e comentaristas além da direção de prova eram coisas do passado. O que vimos foram aparelhos de climatização improvisados, com o cabeamento dos mesmos dependurados por uma das laterais da torre, com o espaço que antes era a sala de reunião dos comissários com os vidros revestidos de plásticos negros, “padrão saco de lixo”. As salas e divisórias da torre não existem mais e as "cortinas" são de plástico preto, tipo "saco de lixo" Na área de hospitalidade, não apenas os problemas estruturais como paredes rachadas foram encontradas como foi observada a negligência com a segurança, com postos onde deveriam haver extintores de incêndio sem os mesmos. Para os profissionais responsáveis pela transmissão, as torres de posicionamento das câmeras – arrancadas pela base – foram substituídas por andaimes precariamente, que qualquer técnico de segurança do trabalho reprovaria e encaminharia o montador para uma reciclagem do curso da NR 18. Paredes rachadas e falta de extintores de incêndio degradação à mostra e negligência com a segurança. As grades e telas, que por estarem expostas às intemperes climáticas, precisam de manutenção, lubrificação e pintura tiveram várias seções removidas, mas algumas não foram substituídas. Além das grades em estado de degradação, algumas partes das mesmas ainda estavam lá, sem terem sido removidas. Um cenário que junto com a destruição de boa parte do gramado do paddock e o corte brutal das palmeiras davam um ar de desolação para os que há anos conhecem o autódromo de Pinhais, amenizado pela produção do evento, responsabilidade da empresa “+ Brasil”, de Carlos Col. As torres para as câmeras (foto acima) foram desmontadas e em seu lugar fizeram andaimes como este (foto abaixo). Para nosso espanto, o proprietário do autódromo apropriou-se do trabalho competente da promotora (+ Brasil), que transformou o autódromo com seus equipamentos e parceiros comerciais em um local visualmente apresentável para as lentes das câmeras dos fotógrafos e da transmissão pela TV, que com uma categoria bem promovida e com grandes pilotos conseguiu vender milhares de ingressos e com isso encher as arquibancadas, ações que não dependem e não tem nenhuma participação do proprietário do autódromo, que está locado à categoria e seu promotor, sendo este o responsável pelo espetáculo. O pres. do autódromo, hipocritamente, quis colher os frutos da competência do promotor, o responsável pelo espetáculo. As estrelas do espetáculo, no caso os pilotos e suas equipes não estavam nada satisfeitas com a situação que encontraram para a acomodação dos seus motorhomes. Algo que era fornecido pelo autódromo em seus contratos anteriores – a energia para os motorhomes – estava cortada e foi necessário o promotor alugar um gerador de energia para não deixar equipes, pilotos e mecânicos às escuras. O valor do gerador foi cobrado das equipes de forma rateada e as reações foram de um inconformismo silencioso a reclamações contundentes e a colocação de não querer voltar a Pinhais em 2019 chegou a ser explícita por parte de alguns. Sem direito à energia para os Motorhomes, o promotor precisou alugar um gerador e ratear o custo com as equipes. Sempre diplomático, Carlos Col – que a partir de janeiro do próximo ano será o presidente do Conselho Administrativo da VICAR além de promover a Copa Truck – procurou minimizar o efeito dos protestos, mas não deixou de revelar que havia feito o pagamento antecipado pela locação do autódromo e que, caso tivesse que mudar a corrida final de local por algum motivo, não teria o dinheiro de volta. Quanto ao retorno ao autódromo de Pinhais para 2019, o dirigente disse que o calendário ainda está em elaboração, assim como o da Stock Car (este último previsto para ser divulgado na sexta-feira, dia 14 de dezembro), que terá duas etapas em Goiânia (uma no circuito completo e outra no anel externo), algo que há bem pouco tempo era um privilégio do autódromo e do público paranaense. Quem foi mais direto foi o Presidente da Federação Paranaense de Automobilismo, Rubens Gatti, que revelou estar mantendo contato com os pilotos dos campeonatos regional e metropolitano e que de 2017 para 2018 a quantidade de etapas disputadas caiu de seis para quatro no autódromo de Pinhais e para 2019 há a concreta possibilidade estudada pela federação de realizar apenas duas etapas em Pinhais. O problema se estende ao kartódromo, o Raceland, que foi anunciado como o palco no final do campeonato brasileiro de kart, disputado este ano no kartódromo da Granja Viana, com um recorde de pilotos em um campeonato brasileiro. As exigências feitas pelo proprietário foram consideradas absurdas pela CBA e pela FPRA. O resultado foi a transferência da competição para o kartódromo de Cascavel. Apesar das negativas do proprietário, o autódromo de Pinhais caminha a passos largos para se tornar uma pária para o automobilismo e demais atividades que pontuaram e fizeram dele o segundo melhor autódromo do país, hoje superado pelo Velocittà e pelo autódromo de Goiânia. As nossas fotos mostram a triste realidade constatada há duas semanas. O amor paterno é algo louvável. Inclusive na bíblia sagrada temos uma prova maiúscula de quão grande pode ser o amor de um pai por um filho quando abraçou e festejou o retorno de um de seus filhos depois dele ter perdido tudo (Evangelho de Lucas, 15:11-32). Ver Jauneval de Oms defendendo os atos administrativos do seu filho, Manuel de Oms Neto é algo perfeitamente compreensível e, apesar de todo o exposto acima, vale salientar: o autódromo de Pinhais é um bem privado e seus proprietários podem fazer dele o que bem quiser. Inclusive, vale lembrar o proprietário anterior, Sr. Flavio Chagas Lima, que após um conflito com a CBA e a federação paranaense, fechou o acesso ao autódromo e colocou vacas para pastar no local, transformando-o num “vacódromo”, termo que o mesmo utilizou. Jauneval e Manuel Oms: Há que se respeitar o direito de vender o autódromo ou simplesmente fechá-lo. A pergunta que todos deveriam fazer e se fazer é: com qual intuito o proprietário de um espaço como o complexo autódromo/kartódromo vem depreciando seu próprio patrimônio e estabelecendo relações conflitantes com os locadores desta propriedade? A resposta está com a família Oms. Se eles vão dizer as verdadeiras razões, isso ninguém, que não os mesmos, podem garantir.
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