Fiz muitas entrevistas importantes na vida. Foram presidentes da República, senadores, deputados, enfim uma série de pessoas que, gostemos ou não gerem nossa vida, o nosso dia a dia. Aqui neste generoso espaço do Nobres do Grid vamos falar do nosso assunto: corridas. Também tenho na memória algumas com muitos pilotos importantes como Ayrton Senna, Nelson Piquet, Emerson Fittipaldi, com quem tinha grande contato. O Ayrton eu perseguia quando ele estava no Brasil. O Nelson se ele quisesse, falava. Se estivesse de saco cheio, evitava. Simples assim. Todos tiveram importância fundamental, mas vou me ater aos pilotos estrangeiros com quem falei e também tenho orgulho de ter podido entrevistá-los. Jackie Stewart foi um deles. Estávamos em Interlagos e batemos um gostoso e descontraído papo sentados numa mesinha atrás dos antigos boxes. Ele já era o dono da equipe e tirou um tempinho para gastar comigo. Foi ótimo. Mika Hakkinen, Damon Hill, o campeão mais sem sal que já vi na vida, Alan Prost, Jenson Button, Jacques Villeneuve e muitos outros campeões mundiais. Quero destacar dois, mas vou falar mais de um. Para vocês verem como sou antigo e usado, cheguei a entrevistar o argentino Juan Manuel Fangio. Faz muitos anos e ele estava vivo, claro, e deu uma entrevista na capital paulista. Eu estava lá e conversamos pouco, pois ele não era de muitas palavras, mas falamos e a entrevista saiu publicada em O Globo. O que mais me empolgou na época e lembrei disso por ele ter completado 50 anos há poucos dias, mais exatamente em 3 de janeiro, foi uma com o heptacampeão Michael Schumacher. Era um daqueles GPs do Brasil de Fórmula 1 em que eu trabalhava como um maluco até chegar o reforço do Rio de Janeiro, de onde, na boa época do jornalismo impresso e do Senna, vinham mais cinco jornalistas para a gente fazer uma cobertura completa. Eram cinco ou seis páginas diárias sobre a F1. Isso já acabou e hoje temos pouquíssima gente na categoria: trabalhando e ninguém correndo. Pelo menos até agora. Confesso que não tinha muita simpatia pelo alemão, mas lá estávamos eu e o velho amigo Castilho de Andrade, na época editor de Esportes do hoje extinto Jornal da Tarde, o JT. Foram mais de 40 minutos de uma boa conversa. Sentados num confortável sofá de uma sala de um hotel, com a assessoria dele próxima, mas sem se intrometer em nada, falamos sobre corridas, futebol, algo que ele gosta, ou gostava, difícil dizer. Também puxamos o assunto Ayrton Senna e dissemos que alguns brasileiros não gostavam muito dele por ter festejado a vitória em Ímola quando o tricampeão tinha se acidentado e já estava praticamente morto. Ele explicou que até ali ninguém havia informado da gravidade do acidente e por isso festejou como sempre fazia. Depois que ficou sabendo da seriedade do acidente se disse triste. Eu e o Castilho acabamos por concordar que vimos nos olhos dele certo arrependimento pela atitude, que já não poderia ser mudada. Tudo o que perguntamos o Schumacher respondeu e se empolgava mesmo quando falava de futebol. Lembro que ele participou de uma partida na Vila Belmiro e levou uma caneta do então jovem Robinho. Riu muito. Foi excelente entrevista, tanto que terminamos antes do prazo programado pela assessoria, que se surpreendeu ao dizermos que tínhamos acabado, já que normalmente eles precisavam encerrar. Entrevista exclusiva ficou para ser publicada alguns dias depois e soltamos juntos no JT e no Globo. Uma das grandes com um grande que fiz. A partir desse dia mudei meu conceito sobre o heptacampeão Michael Schumacher, o maior pilotos de todos os tempos, em termos de número de títulos mundiais, claro, pois é a única maneira de se avaliar gente de épocas e carros totalmente diferentes. Milton Alves |