Na penúltima etapa da Stock Car em 2018, em Goiânia, as câmeras de TV mostraram uma novidade para o público e que nós apelidamos de “o Big Brother CBA”. A partir desta etapa os comissários técnicos passaram a utilizar câmeras para registrar imagem e vídeo se seu trabalho e de como seriam as relações com chefes de equipe, mecânicos e pilotos das equipes. Além disso, os ‘briefings’ da direção de prova com os pilotos também seriam gravadas, bem como todas as imagens da torre de controle, com áudio e vídeo de todos os treinos, corrida e diálogos com pilotos ou chefes de equipe que forem até lá. Não bastasse, pelo regulamento particular da competição ficou estabelecido que, em caso de investigação, as conversas entre piloto e equipe também seriam disponibilizadas. Colocado em prática no final da temporada de 2018, este procedimento será implementado em todas as categorias nacionais a partir de 2019. O que será que os Profissionais de Imprensa que trabalham com automobilismo pensam desta novidade que, pela CBA, chega para ficar? Américo Teixeira Eu nunca vi isso em lugar nenhum! É algo completamente novo para mim e, honestamente, não tenho qualquer informação de como é feito este trabalho e qual uso se faz disso e também não sei o que vai resultar disso. Acho estranho, em um primeiro momento. Não vou me omitir de comentar e dentro disso, não sei que tipo de benefício isso poderá trazer para o automobilismo. Se trouxer, talvez deixe de soar estranho no meu ouvido. Temos dois caminhos: ou este soar pode desaparecer ou tornar-se um ruído insuportável a partir do momento que eu tomar ciência da origem e da destinação disso. Eu não posso me posicionar de forma positiva ou negativa a esta novidade que está sendo apresentada. Vamos imaginar o seguinte: se você tem uma maneira de tornar a competição e os procedimentos mais transparentes e que seja preservada a autoridade de ambos os lados, se de um lado temos as autoridades esportivas atuando, segundo o disposto em regulamento e estatuto da CBA, do outro temos profissionais do mais alto gabarito como donos de equipe, chefes de equipe, pilotos. Não é uma brincadeira de final de semana e são poucas as ilhas de prosperidade neste meio que tanto carece de desenvolvimento. O que temos no Brasil é o trabalho da Stock Car, a maior categoria do Brasil, a Copa Truck, que mesmo enfrentando dificuldades vem se erguendo pelo esforço das equipes e pelo trabalho do Carlos Col e a Porsche, que é um nicho diferenciado. A par disso temos grupos que tentam sobreviver num automobilismo que não podemos chamar de profissional. São iniciativas marcantes e importantes. E o crescimento seja credenciado pela credibilidade. Vejamos o que esta novidade vai impactar no automobilismo. Celso Miranda Eu acho ótimo! Quanto mais as pessoas tiverem claro o que estão fazendo, com quem estão fazendo e para que estão fazendo, melhor para todo mundo, estarão todos jogando às claras, sem segredinhos, sem conversinha, sem “ah, mas ele...” Infelizmente é do ser humano este tipo de coisa e o ser humano da América Latina tem isso ainda mais forte, e talvez nós, que falamos português, façamos isso de uma forma ainda mais exasperada. Se você não tem mais como discutir porque as coisas estão gravadas e não tem mais contextualização, não tem mais como discutir. Esta medida leva as questões referentes aos vários relatos de discordâncias entre comissários e membros de equipes, donos, chefes, pilotos, para um outro platamar. É preciso lembrar que isso é uma consequência, consequências de muitas outras coisas que foram negativas, tanto para um lado, tanto para o outro. Um esporte que tem este nível de movimento financeiro, num pais que passa pela crise financeira que vivemos, precisa se precaver para manter o platamar de confiabilidade. Se temos hoje tecnologia para ter este tipo de recurso, com todos sabendo que os movimentos e diálogos estão sendo gravados, coisa linda! Dinho Leme Eu não estou por dentro desta novidade que vocês estão falando, mas tem algumas coisas que eu acho interessante. Gravar tudo, do que seta se fazendo nos boxes, das conversas entre o pessoal das equipes e os comissários, dos comissários com os pilotos, vai deixar claro as conversas e vai acabar com o “um disse isso, o outro disse aquilo”. Não só o áudio como o vídeo vai elucidar qualquer exagero de qualquer das partes, são dois seres humanos e um ou outro sempre pode se exaltar e agir fora do que não deve... em parte eu acho isso muito legal, mas esse “big brother” pode ser mesmo algo bom para todos e acredito que o Dadai [Waldner Bernardo, Presidente da CBA] chegou à conclusão de que isso precisava ser feito e talvez precisasse mesmo. Temos um histórico de cenas até mostradas pela televisão de que houve discussões e divergências entre pilotos, equipes e comissários e ninguém sabe quem falou o que para quem, quem não falou, quem respondeu e ter esse recurso que vai proteger a todos, porque é uma proteção, inclusive para a CBA, vai ser interessante. Se precisaria se chegar a isso, não sei, mas está aí e eu espero que funcione para o bem. Fred Sabino Eu acho que tudo tem que ser conversado. Se tudo foi conversado antes de ser decidido, se for algo que está sendo implementado para melhorar, eu não vejo problema. O que eu acho que não seria bom era se isso fosse feito de forma secreta, sem ser às claras e sem todas as partes estarem sabendo. Se todas as partes estão sabendo do que está acontecendo e como isso poderá ser usado, para todas as partes, é algo que vai agregar, que vai somar e melhorar a relação entre os comissários e as equipes e pilotos. Todos estarem juntos nesse processo de deixar claro os fatos, de ter como comprovar ou não qualquer motivo para punições, coisas que sempre geram debates em nossas coversas no meio da imprensa, eu penso que tudo que for feito para melhorar está está valendo. Luc Monteiro Tudo o que seja feito para deixar as coisas mais transparentes no automobilismo vai ser sempre bom. Se a CBA tem a disponibilidade para colocar em funcionamento um sistema deste, eu apoio totalmente por que é uma segurança tanto para a CBA quanto para os pilotos e as equipes. Ninguém vai questionar ou confrontar uma conversa que vai estar gravada em áudio e vídeo e estará disponível para os dois lados. Eu entendo que se o intuito é, como foi colocado na pergunta, ter tudo gravado sobre tudo o que foi tratado em uma conversa entre os comissários e as pessoas na equipe, isso tem meu total apoio. Evidentemente que se alguém tem alguma coisa a esconder não vai gostar da medida. Quem está trabalhando e jogando as claras, seja do lado da CBA, seja do lado das equipes – embora todos, pressupomos, estejam do mesmo lado – todos vão sair ganhando e quem tem algo a esconder, não acredito que alguém tenha, vai ser bom para todos. Rafael Lopes Eu acho uma boa. Transparência sempre é bom. Pelo que eu sei este material vai ficar disponível para equipes, pilotos e CBA para o caso de recursos onde tanto a posição do piloto, do chefe de equipe, do mecânico quanto a do comissário técnico da confederação vão estar registrados. Todo processo que venha dar transparência para o automobilismo é bom e também vão estar gravados os briefings dos pilotos e eu estou vendo a CBA preocupada com a qualidade do trabalho dos comissários e diretores de prova, promovendo cursos para qualificar melhor estas pessoas é outra medida positiva. A CBA ficou anos sem investir neste aspecto de qualificação de pessoal. O automobilismo chegou em um nível de profissionalismo muito alto, com categorias como a Stock Car, a Copa Truck, a Porsche e não podemos ter comissários amadores. Todas as iniciativas que forem feitas para profissionalizar os processos de organização, procedimento e embasamento jurídico para o julgamento correto. Conhecimento e transparência só tem a somar para o automobilismo. Sérgio Lago Eu não estava sabendo disso e vejo como algo que talvez seja inédito isso de se gravar as conversas entre pilotos e comissários, chefes de equipe e comissários, torre de controle, diretor de prova... em princípio eu não vejo isso como um problema. Eu sei que muita gente talvez me xingue, mas por exemplo, a gravação dos pilotos no rádio durante a prova com seu chefe de equipe, com seu spotter, isso é comum na NASCAR e isso não fica restrito ao diretor de provas, aos organizadores ou para uma investigação. É aberta ao público. Você no speedway pode comprar um receptor, escolhe um piloto e vai escutar toda a conversa dele com a equipe, ou escolhe uma frequência que você escuta todos os pilotos. Já essa coisa do comissário andar com uma câmera é uma certa paranoia. Desde que sejam respeitados os segredos das equipes, as coisas entre piloto e chefe de equipe, entre piloto e engenheiro, das táticas da equipe durante a corrida para os outros ficarem sabendo, eu sou contra. Se o comissário está lá no Box e informações saem daquela equipe e chega a outras, isso eu sou contra. Não pode haver isso. Agora, se for para fiscalizar a forma da relação de como acontecem os diálogos entre o comissário e as pessoas da equipe e os pilotos com ele, eu sou a favor. Vejo como uma coisa boa. Sérgio Louzão Eu não vi essa corrida que gerou todo o problema nem vi a primeira corrida que a CBA introduziu este processo de gravação de imagens e áudio. Eu fui um opositor ao atual presidente na última eleição. Falei isso pra ele na época e hoje em dia nós conversamos, batemos longos papos e hoje penso que ele tem uma cabeça boa e está fazendo as coisas. Não sei se a intenção destas gravações de imagem e som é realmente deixar ‘clean’ as conversas dos comissários com o pessoal das equipes. Todo mundo sabe que o Cacá [Bueno] já foi vítima um tempo atrás de uma molecagem sem precedentes e o Dadai [Waldner Bernardo, presidente da CBA] está muito atento a isso, ele não quer este tipo e outros tipos de problemas que nós já vimos nestes anos de sua administração. Eu acho que ele está bem intencionado, tendo uma postura profissional e todos que estavam naquele debate que o Livio Oricchio organizou, que cobramos dele, que estamos vendo ele trabalhar, temos que dar apoio a esta gestão. Se esta atitude está sendo tomada para mostrar a transparência dos comissários, eu acho acertadíssimo. Precisamos fazer coisas boas pelo nosso automobilismo. |