Olha eu aqui mais uma vez discutindo sobre as redes sociais. Justo eu que não morro de amores por elas, quando o assunto é privacidade e exposição da vida pessoal, mas entendo o valor e proporção que elas adquiriram em nossas vidas e na maneira como nos comunicamos. Ainda lembro uma amiga me dizendo, há uns 10 anos mais ou menos: “Essa exposição nas redes sociais é para celebridades, artistas, atletas famosos. Quem vai querer saber onde eu almocei, onde passei as férias. Só mesmo minha família, os melhores amigos”. Pois é… Os anos passaram e não é bem assim. O que mais tem hoje é gente “estalqueando” a vida dos outros nas redes sociais. E não só os famosos. Eu, você, qualquer pessoa que tenha seu perfil exposto ali. Mas o que me levou a escrever sobre as redes sociais novamente foi alguns acontecimentos das últimas semanas. Um deles muito comentado, envolvendo a maior rede de comunicações do país no caso do goleiro Sidão, do Vasco da Gama, eleito o Craque do Jogo pelos internautas, após levar três gols e ainda falhar no primeiro deles numa partida do Campeonato Brasileiro de Futebol contra o Santos. A “brincadeira” na internet, impulsionada por uma postagem no twitter do canal do Youtube Desimpedidos pedindo os votos para o goleiro, deu nisso. Como a internet ainda é terra de ninguém, em muitos casos, você pode trolar, criticar, xingar, ameaçar e quase nada acontece. Mas, de verdade, me espantou a rede Globo permitir a entrega do troféu para o goleiro. Foi uma das maiores humilhações que eu já vi na minha vida na TV. Não gostaria de estar na pele da repórter, Júlia Guimarães, que teve de entregar o troféu ao vivo e que disseram que chorou ao final do episódio. De verdade, acho que eu me recusaria a entregar. Não teria coragem. Acho que eu preferia ser demitida. Fato consumado e registrado para milhões de telespectadores e os presentes no estádio. Algumas horas depois, Globo, SporTV, Globoesporte todo mundo pedindo desculpas, falando em mudar a regra da votação. Mas, na hora, não tinha ninguém para dizer: “Obrigado internautas pela participação, mas está claro que não foi um voto no craque da rodada e sim uma brincadeira. Vamos anunciar o eleito de vocês, mas não faremos a entrega”? É claro, que irão aprender com este erro, mas o episódio foi mais uma prova de que os meios de comunicação tradicionais ainda não sabem lidar com a internet. O que eu noto é que vale tudo para impulsionar as hashtags, fazer com que o público interaja pelas duas telas (TV e telefone). Mas até que ponto isso dá resultado? Vi uma matéria recentemente sobre o Masterchef, programa de maior audiência na TV Bandeirantes. No twitter, a hashtag do programa está sempre nos trend topics durante a exibição da atração. Mas, segundo o ibope, a audiência na TV não passa de 4 pontos. Como essa conta fecha? Falando do nosso meio, automobilismo, surgiram também recentemente alguns perfis no Instagram expondo várias histórias, criticando pessoas, pilotos. Como é um nicho e não foi algo que “passou na Globo”, pouco se falou fora do meio movido a velocidade. Mas os perfis fizeram sucesso, várias pessoas seguindo, comentando e agora… algumas delas já querendo processar os "autores anônimos". Li recentemente um caso em Minas Gerais de uma professora que estava sendo alvo de publicações ofensivas em perfis falsos na internet. Felizmente, conseguiram chegar à pessoa que estava por detrás disso e ela foi obrigada a pagar uma indenização. Mas quantas coisas isso pode causar de ruim na vida de uma pessoa? Você precisa parar sua vida para descobrir o maluco que está fazendo isso. Pode perder emprego, amigos, relacionamentos. Tudo por conta de uma “brincadeira” na internet? Como muita coisa na internet ainda é nova, não existem leis específicas, nem sobre condutas como estas, mas já surgem escritórios e advogados especializados em Direito Digital e que conseguem enquadrar os atos em normas que já estão ai. Talvez o mundo esteja chato demais com algumas coisas e humor é sempre bom. Mas tudo tem sua medida. E outra coisa que me impressiona nas redes sociais é o tempo que as pessoas dedicam a isso todos os dias… Como as pessoas acompanham tudo isso? Trabalham? Têm vida fora da internet? Ainda acredito que a vida acontece ao vivo e em cores. Olho no olho. Talvez, por isso, ainda questione tanto as redes sociais. Enfim… sei que não dá mais para viver sem as redes sociais. É um caminho sem volta. Mas é preciso ter cuidado com essa linha tênue que separa o mundo real do virtual. Não dá para aceitar que uma brincadeira vire uma humilhação ou um problema na vida real de uma pessoa. Fernanda Gonçalves Fernanda Gonçalves é Diretora Executiva da FGCom Assessoria em Comunicação Quer saber mais? Conheça o nosso site: www.fgcom.com.br |