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O ataque ao autódromo do Eusébio PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 04 August 2019 15:44

Olá amigos,

 

Eu gostaria de falar de coisas boas, dar notícias agradáveis, homenagear grandes feitos do automobilismo ou do motociclismo aqui da região, mas terei que falar do que está acontecendo no Ceará e que coloca em risco um patrimônio do nosso esporte a motor.

 

Está em andamento na Assembleia Legislativa do Ceará um projeto de lei enviado pelo governador do Ceará, Camilo Santana, do Partido dos Trabalhadores, autorizando a venda para a iniciativa privada de nove imóveis do Estado. A expectativa do governo é de arrecadar 700 milhões de reais. E na lista desses imóveis está o Autódromo Virgílio Távora.

 

Construído em 1969 com investimento privado e adquirido pelo Estado em 1993, o Virgílio Távora recebeu, neste meio século de existência, competições nacionais e internacionais, há anos o autódromo vem sobrevivendo com as competições regionais, mas mesmo assim, com seu uso contínuo estava ocupado em quase todo ano nos finais de semana, o que custeava sua manutenção de forma humilde e sem melhorias para o desenvolvimento do esporte, como carecem todos os autódromos.

 

No projeto de lei, o Governo do Estado argumenta que a conservação de imóveis públicos, “acompanhada da necessidade de protegê-los contra invasões, submete o erário público a elevados custos administrativos”. E, segundo o Executivo Estadual, nem sempre há verba para pagar as despesas. Isso faz sentido no caso dos outros imóveis, mas não no caso do autódromo, que estava sob os cuidados da FCA (Federação Cearense de Automobilismo) e não gerava despesas para o estado.

 

 Este é o "mapa" da privatização que o governo cearense quer fazer. Entre todos, o único imóvel não ocioso é o autódromo.

 

Mas todos sabem o que existe por trás do processo de venda do autódromo, localizado em uma região que tem sido alvo de uma grande valorização e especulação imobiliária. Uma área praticamente plana e “limpa” como é o autódromo, é um prato cheio para as construtoras e também para as autoridades, que irão aumentar a arrecadação de impostos caso ele seja transformado em um complexo imobiliário com prédios, casas e estabelecimentos comerciais. Inclusive, o kartódromo que ficava ali perto já foi “pro pau” nesse esquema.

 

No momento em que completa 50 anos, o Autódromo Internacional Virgílio Távora, localizado no município do Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza, está com o futuro indefinido. O valor da área ainda não foi definido, mas no caso do autódromo, a “desculpa” de que ele estaria sendo subutilizado é uma falácia descarada da parte das autoridades e dos interessados em vender um patrimônio com meio século de existência para benefícios questionáveis.

 

 O Ceará tem o automobilismo mais forte da região nordeste, com competições em diversas categorias ao longo do ano.

 

Realmente, a “subutilização” começou quando as atividades no autódromo foram suspensas desde o dia 22 de abril. Por solicitação da Secretaria do Esporte e Juventude (Sejuv) foi feito o cancelamento de todos os eventos pré-agendados para 2019, por tempo indeterminado, até que questões administrativas fossem solucionadas. A medida foi realizada para que o Governo reassumisse o controle da pista de corridas. Com 15 provas realizadas até o período, a FCA informou que 20 eventos estão paralisados devido ao imbróglio e passíveis de encerramento.

 

O abandono da presidência da FCA por parte do Sr. Ayrton Vasconcelos, que decidiu ir morar fora do Brasil, mudando-se para os Estados Unidos sem fazer um processo de transição com Lutianne Dantas, que segurou a bomba, vinha honrando os compromissos com os pilotos e associados e atendendo todas as solicitações documentais, provendo com os 15 mil reais mensais para manter o autódromo em condições de realizar seus eventos. Entre janeiro e o dia 22 de abril, foram realizadas 15 provas. Ou seja, atividades em praticamente todos os finais de semana do ano.

 

 Em 2017, quando a Copa Truck, em reestruturação, veio para o Ceará, o governo arrecadou 8 milhões de reais em impostos.

 

Além das corridas de automóveis , incluindo as diversas categorias e as provas de arrancadas, o Autódromo Virgílio Távora está apto a competições de Off-Road, Fórmula Truck, Fórmula 3, motocicletas e bicicletas, reunindo uma média de três mil pessoas por evento. A pista também é utilizada pelo Governo para treinamentos das forças de segurança motorizadas e do Corpo de Bombeiros, inclusive uma delas foi presenciada e registrada por nossa equipe de reportagem.

 

Já sabemos, inclusive, que existe um grande grupo empresarial do estado “muito interessado” em comprar o terreno para atendes seus interesses. Felizmente, na contramão deste movimento do governo estadual, a Prefeitura do Eusébio manifestou interesse em adquirir o autódromo assumindo todas as despesas e impondo uma cláusula de que a finalidade do espaço nunca poderia ser alterada.

 

No último dia 11 de julho, a Assembleia Legislativa votou, ontem, mensagens do Governo e projetos de lei. A mensagem 8404/2019 foi a que acendeu maior polêmica, demandando mais tempo até a aprovação dos parlamentares. Proposto pelo governador Camilo Santana (PT), o texto pede a autorização da Casa para que o Executivo possa, eventualmente, vender ou usar os imóveis como garantia de crédito, no caso de contração de empréstimos pelo Estado.

 

 O deputado Carlos Felipe (o mais baixo) e o governador Camilo Santana estão empenhados em levar esse crime adiante.

 

O deputado estadual Carlos Felipe (PCdoB) foi um dos parlamentares da base de Camilo a sugerir aperfeiçoamento. Para ele, o Autódromo Internacional Virgílio Távora (no Eusébio) não deveria figurar na lista. Afirmou que a venda significaria a interrupção de atividades esportivas e o desemprego direto ou indireto de pessoas.

 

Ciente da possibilidade elevada de aprovação, dado o tamanho da base governista na Assembleia, Carlos Felipe opinou que como “lá valorizou demais, então o Estado tem de encontrar uma saída, que na hora da futura venda, o futuro comprador possa permutar uma estrutura, que não descontinue as atividades esportivas”.

 

Em entrevista o deputado do PCdoB foi confrontado por jornalistas, que apresentaram para ele que, na última vinda da Copa Truck ao Ceará, em 2017, mesmo com a categoria passando por uma reestruturação, o evento gerou em impostos 8 milhões de reais. Se esse valor fosse investido no autódromo, com uma modernização, não apenas a Copa Truck continuaria no Ceará como a Stock Car poderia realizar uma etapa no estado e gerar uma grande arrecadação anual para os cofres públicos.

 

 A sociedade civil cearense e a comunidade automobilística e motociclística de todo NE precisa se mobilizar.

 

A verdade é que a gente já viu esse filme antes, né? No Rio de Janeiro as autoridades fizeram a mesma promessa, destruíram o autódromo de Jacarepaguá, construíram um monte de elefantes brancos e o tal do novo autódromo... nada. Só um sonho delirante de um projeto faraônico que nunca vai sair do papel.

 

Em decisão tomada nesta semana passada (dia 09/08) a Federação Cearense de Automobilismo, após entendimento com o governo estadual por meio da Secretaria de Esporte e da Juventude, conseguiu a liberação do autódromo para os eventos anteriormente agendados. com isso teremos atividades no autódromo já nestes dois próximos finais de semana, 17e18/08 e 24e25/08.

 

Abraços a todos,

 

Reinaldo Cunha 
Last Updated ( Friday, 16 August 2019 13:39 )