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Entrevista: Toninho da Matta PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 24 February 2010 20:40

 

 

Acompanhando de perto os passos do filho Cristiano desde o kart, Toninho da Matta é mais que um pai, é uma referência! 

 

O mineiro de Belo Horizonte, Toninho da Matta, foi o primeiro piloto natural daquele estado a conseguir uma grande projeção nacional, mesmo sem que Minas Gerais jamais tivesse dado a ele um palco para suas brilhantes apresentações. Foi no “kartódromo de rua”, na Avenida Olegário Maciel, e invadindo o templo do esporte mais popular do país, o Mineirão (não no gramado, mas no estacionamento), que Toninho projetou-se para o automobilismo e para a história. 

 

Durante os testes coletivos da Fórmula Truck onde um legítimo herdeiro de sua estirpe, Cristiano da Matta, fazia sua adaptação ao novo desafio nas pistas que decidiu encarar – o Campeonato Sul Americano da Fórmula Truck – que o patriarca nos deu a honra de conceder esta entrevista para os Nobres do Grid. 

 

NdG: ‘Seu’ Toninho, como foi que o automobilismo entrou na sua vida?  

 

Toninho da Matta: Eu tinha 17/18 anos e tinha a mania de fazer uns rachas pela cidade. Meu pai, vendo isso, me chamou num canto e falou: “Você gosta de correr? Então você vai correr no meio de quem sabe”. Foi aí que ele me comprou um kart. Foi aí que eu comecei a correr de kart e tive um sucesso, sagrando-me campeão mineiro várias vezes, fui campeão brasileiro algumas vezes e depois de um certo tempo começaram as corridas em torno do Mineirão.  

 

NdG: Foi aí que se deu o “rito de passagem” do kart para os carros?  

 

Toninho da Matta: De certa forma, sim. Minas Gerais não tinha autódromo, como até hoje não tem... tem um pequeno, mas que não pode receber corridas importantes... quando começaram estas corridas, descobriram que não haviam pilotos em Belo Horizonte... tinha um, eu acho. Então eles correram com os kartistas... e eu era um deles. Daí uma revenda da Chevrolet resolveu por um Opala para correr e me convidaram para ser o piloto... e eu topei! Daí eles disseram, “pega aqui o Opala, ‘faz’ o carro e põe pra correr”. Assim foi que iniciou a minha carreira como piloto de carros. Daí fui para São Paulo, procurei o Chico Landi para fazer o motor, voltei e na primeira corrida eu cheguei em segundo. Perdi para uma AC (protótipo criado pelo Anísio Campos) depois da segunda, terceira corrida, voltei a São Paulo, procurei o Wilsinho e o Emerson (Fittipaldi) e aí fizemos mais coisas, colocamos rodas melhores, “aliviamos” o carro (tirou-se todo o peso desnecessário) e aí o carro começou a ficar com cara de carro de corridas. Daí sim, ganhei várias corridas com aquele Opala. 

 

NdG: O senhor correu de kart por mais de uma década. Como era correr de kart nos anos 60/70? Hoje em dia a gente vê um kart altamente tecnológico e os karts daquela época, perto dos de hoje, são completamente “pelados”... 

 

 

"Um dia meu pai chegou pra mim e falou: "Você quer correr? Então vai correr no meio de quem sabe!" Daí me comprou um kart.

 

Toninho da Matta: Era bem pelado mesmo. A gente usava uns motores nacionais, feitos pela Riomar, que ainda existe até hoje, de 125cc. Eram até valentes, mas quebravam muito. Aí nós trouxemos uns motores americanos que chamavam McCulloch, que eram bem mais desenvolvidos. Na verdade, nem andavam mais do que os da Riomar... a vantagem é que não quebravam! Estes motores eram de 100cc. Assim, eu corri de 100cc, de 125cc e de 200cc, que eram dois motores de 100cc acoplados no mesmo eixo traseiro e que andava uma enormidade. 

 

NdG: Os “superkarts” dos anos 80 tinham este princípio e o final de reta destes foguetes era uma coisa absurda. Como é que fazia pra parar um kart desses nos anos 60/70? 

 

Toninho da Matta: Tinha um freio a disco... mecânico, é verdade, só depois é que veio o freio com pressão de óleo. Mas aí também vieram pneus melhores, componentes mecânicos melhores e a coisa foi evoluindo até chegar onde está hoje. 

 

NdG: O senhor falou há pouco sobre esta experiência fantástica que o senhor teve com o Opala 21 nos tempos em que começou a correr de carros, em seguida o senhor foi correr com os Passats ou estamos esquecendo de alguma passagem? 

 

Toninho da Matta: Antes de correr com os passats eu tive uma experiência com um grande parceiro, o Clovis Ferreira, que no meio era conhecido como Clovis banana, por sua baixa estatura, mas que de banana não tinha nada, que foi nos 1000 Km de Brasília em que nós batemos um monte de carros importados, protótipos preparados e nós ganhamos esta corrida com um Puma equipado com um motor de 2 litros, roletado, com dois carburadores Webber 48, câmbio escalonado... uma beleza de carro. Era uma das corridas mais importantes do país. Naquela época não tinha corrida separada por categoria, tinha corrida. Se você tivesse um carro, ia lá e corria. Tinha divisão lá dentro, mas largavam e corriam todos juntos. Esse carro foi preparado lá em Belo Horizonte, tinha uma concessionária e que o dono trouxe da Alemanha umas peças como cabeçotes, virabrequins, e a gente montou o carro por lá. Claro que depois nós fomos atrás de uma assessoria. Tinha o [Miguel] Crispim que era um baita dum preparador e nos ajudou bastante... assim, a gente conseguiu chegar em Brasília e vencer aquela corrida que foi duríssima, debaixo de chuva o tempo todo e contra os melhores carros e pilotos do país.  

 

NdG: Esta vitória trouxe uma grande visibilidade para o senhor e para o automobilismo de Minas, não? 

 

Foi nos 1000 Km de Brasília que nós vencemos um monte de feras com um Puma 2.0 que nos projetamos para o Brasil.

 

Toninho da Matta: Deu para aparecer sim, tanto que depois veio a Copa Brasil, que era uma competição importante e que eu corri de Alfa Romeo. Na primeira prova fui terceiro, chegando atrás de 2 Porsches. Na segunda prova eu bati na classificação... muito jovem, muito impetuoso e zero de experiência para andar com um carro que chegava a 300 Km/h. Nem foi no retão, foi na reta de chegada pra ferradura, onde eu peguei um vento por trás e cheguei no ponto de tomada uns 30Km/h mais rápido do que deveria. Aí nem tinha como fazer a curva. Passei reto, bati forte, quebrei o pé, o calcanhar... fiquei dois anos fora das competições. 

 

NdG: Depois deste acidente, como foi a volta? 

 

Toninho da Matta: Bom, fui voltando aos poucos, de kart, até que apareceu um torneio interestadual, Goiás – Minas, com carros de passeio com preparação. Daí eu entrei nessa, pilotando um Passat, e ganhei este torneio. Aí uma revenda de Belo Horizonte me chamou para fazermos um Passat para correr o brasileiro. Haviam 3 torneios nesta época. Um com Chevrolet, um com Fiats e um com Volkswagen e eu corri no com carros da Volks, o Passat, e fui tricampeão brasileiro. 

 

NdG: Mas isso já era no tempo dos “Hot Cars”? 

 

Toninho da Matta: Não, os “Hots” foram depois. Quando começou, o Jaime Figueiredo montou uma equipe e me chamou para correr. Os carros tinham uma baita preparação, rodas especiais... eu virei 1.09 em Tarumã, que era um temporal para aquele carro. Eu até tenho notícias de que este carro está num museu de automobilismo lá no Rio Grande do Sul (Nota dos NdG: Este carro faz parte do acervo de Paulo Trevisan, em Passo Fundo-RS) e com ele eu também fui tricampeão brasileiro, de Hot Car.  

 

NdG: O senhor teve toda uma vida, uma história, com carros da Volkswagen, numa época em que surgiu no Brasil a categoria Super Vê. O senhor nunca se interessou em correr nos monopostos? 

 

Toninho da Matta: Não. Eu morava em Belo Horizonte e lá, sem ter um autódromo para treinar, não tinha como poder ser competitivo. Um carro de turismo, você tem como adaptar, é mais ou menos fácil de se achar o caminho para o acerto. O monoposto é diferente. Requer muito treino, tem muita coisa para se acertar e sem um local próprio, que não tem até hoje, fica muito difícil e por isso eu nem me interessei em conhecer mais da categoria. 

 

NdG: O senhor foi uma das maiores estrelas do nosso automobilismo nos anos 80. Como era “fazer automobilismo” num período que, economicamente, ficou conhecido como “a década perdida”, devido aos praticamente 10 anos de estagnação econômica do país? Foi nesta época que o Brasileiro de Marcas e Pilotos teve seus melhores anos, não? 

 

"A década de 80 foi muito boa para competir. A indústria não vendia automóveis e nada como a 'vitrine das pistas'". 

 

Toninho da Matta: Por um lado foi bom para o automobilismo local. Como estávamos nessa “década perdida”, não havia dinheiro em circulação e com isso não se vendia carro. Daí as montadoras passaram a ver nas corridas sua melhor vitrine e investiam nos torneios e o maior deles foi o campeonato brasileiro de marcas e pilotos, que envolvia todas as montadoras. Nesta época eu fui convidado para correr pela Fiat. Mineiro, a Fiat instalada em Betim, e lá fui eu correr em dupla com o Giuseppe Marinelli, um cara sensacional, competentíssimo como preparador, como “fazedor” de carros, mas que pra guiar não conseguia andar no mesmo ritmo. Fizemos a primeira etapa do campeonato em Interlagos, acho que até ganhamos, mas antes da segunda corrida eu fui até a Fiat e abri o jogo dizendo que o Marinelli era um fantástico preparador, mas que com ele no volante, dividindo o carro comigo, a gente não ia chegar a lugar nenhum. Daí, para a segunda prova, trouxeram o Jorge Freitas (hoje dono da JF Racing, equipe da Stock Cars) e no final da temporada eu fui campeão e ele vice apenas por não ter uma corrida, que foi a primeira. Para o segundo ano começou a valer a regra do “peso de ouro” e o pessoal da Volkswagen me procurou e falou “você vai correr prá gente”. E nisso começou em toda a aparecer pacotes atrativos, salários atrativos e eu fui correr pra eles.  

 

NdG: Foi aí que o senhor foi correr também de Rally? 

 

Toninho da Matta: Foi no segundo ano de contrato. Foi aí que o Bob Sharp, que era o gerente de competições da Volkswagen me chamou para correr rally. Eu falei que não era a minha, que eu não era um cara de correr na terra, que nunca tinha feito isso, que nem sitio eu tinha, que era um cara totalmente urbano... mas não teve jeito. Ele insistiu e eu acabei cedendo. A equipe tinha 4 carros e eu ia guiar um! Assim, naquele ano eu corri de marcas e de rally para eles... e assim foi por mais 2 anos. 

 

NdG: Como foi para se adaptar a duas realidades tão distintas? 

 

Toninho da Matta: Olha, no início foi difícil... muito difícil. Mas eu tenho uma coisa comigo que é ser muito observador. Aí eu comecei a olhar os carros dos companheiros, do Jorge Fleck, Paulo Lemos, do Claudio (Coruja) Antunes e eu fui vendo que eu estava fazendo alguma coisa errada... eu era o Toninho da Matta, chegando para correr de rally. Auxílio tinha, tinha dicas, mas aquele “pulo do gato” ninguém te ensina, né? Aí numa etapa em Santa Catarina que era subida e descida o tempo todo, uma pirambeira desgraçada, e a gente estava mapeando a prova... só que aquilo estava “emocionante demais” pra mim e de vez em quando a gente parava, estávamos andando próximos e aí tomava uma água, trocava uma idéia e eu vi as rodas dianteiras deles e só aquele pozinho preto da pastinha de freio... e a minha nada, limpinha, só poeira. Nesses levantamentos a gente usava o carro-mula, que era um carro de treino, e eu fiquei ali pensando no que era que eu estava fazendo diferente dos caras. Daí quando voltamos a andar logo depois tinha uma descida com uma curva e uma pontezinha e eu resolvi testar uma coisa. Pus o pé no freio e dei uma virada na direção e o carro se alinhou com a ponte. Na curva seguinte fiz a mesma coisa e me alinhei com a saída... e eu fui fazendo isso usando o pé esquerdo prá frear. Aí eu perguntei ao meu navegador se era comum os caras usarem o pé esquerdo prá frear... ele falou que sim! A gente já ia na 2ª ou 3ª prova do campeonato e eu reclamei “Pô, mas tu só me fala isso agora” (risos) e ele, um grande cara, o Gilberto Schury, falou que para o navegador, não dá pra tirar o olho da planilha. Aí quando chegamos no posto de apoio da equipe, que eu fui ver as minhas rodas, estavam iguais as deles. Nisso eu cheguei no Fleck e falei: “Fleck, e o pé esquerdo no freio?” ele respondeu: “tem que usar, né?” E aí eu fui melhorando e acabei não fazendo feio no rally. Não cheguei a ganhar prova, afinal, eu “carregava” o Schury, que tinha quase 100 Kg, mas era um baita navegador e me ajudou muito. Depois de dois anos a Volkswagen acabou com a equipe de rally. 

 

NdG: Aí o senhor voltou a se concentrar nas pistas... 

 

 

"Eu já tinha 40 anos e a Volkswagen achou que eu estava velho... venci mais dois brasileiros correndo contra eles!" 

 

Toninho da Matta: Mas não pela Volkswagen. Eles meio que deixaram no ar que eu estava meio velho e eu fui dispensado. Passaram-se 10 dias e me liga um cara chamado Gunnar Vollmer, um catarinense, empresário e que corria em velocidade na terra, em SC. Ele disse ter ficado sabendo pelo Bob [Sharp] que eu não estava mais na equipe e ele estava querendo correr no asfalto. Ele até foi muito modesto, disse que queria aprender, que buscava uma pessoa experiente que pudesse lhe ensinar. Ele falou que precisava de um parceiro e um mestre, e me convidou a ir a Blumenau e nós nos acertamos, assinamos um contrato e fomos correr juntos... e fomos campeões brasileiros duas vezes, sem o apoio da fábrica! Aí chegou 1993 e isso que vou te falar eu nunca falei. Eu parei a minha carreira para acompanhar o Cristiano. Eu já estava cansado daquela rotina e minha carreira era uma manutenção enquanto o Cristiano era uma carreira promissora que despontava e então eu fiz esta opção de passar a cuidar da carreira dele. 

 

NdG: O senhor fala que sua vida nas pistas não foi um trabalho, foi uma diversão. O senhor acha que os pilotos de hoje conseguem ver a vida deles de uma forma ao menos parecida diante de tanta cobrança que eles sofrem desde garotos ainda no kart? 

 

Toninho da Matta: Eu acho que não. Nos EUA eles tem aquela expressão: “we’ll have fun!” (Vamos nos divertir) e lá talvez eles ainda consigam um pouco. Na Europa, dependendo no nível de competição, da categoria que se está, nem isso. Na Fórmula 1 então é só trabalho, cobrança, resultado... a gente ainda se divertia e ganhava algum dinheiro. Não era muito, mas ganhava algo. Hoje é cobrança, alguns ganham dinheiro e outros pagam pra correr. 

 

NdG: Quando o senhor fez esta transição, em que sua carreira passou a ser acompanhar a carreira do Cristiano, o senhor sempre fez isso ‘em loco’ ou teve períodos de fazer à distância?  

 

Toninho da Matta: Até a chegada dele na Fórmula 1 eu acompanhei de perto. Depois, na F1 foi que eu fiquei mais longe. As demais categorias eu acompanhei bem de perto e de perto foi que vi, por exemplo, ele tomar a decisão de ir tentar o automobilismo americano e largar a Europa. Nós sempre o apoiamos e ele foi e foi um sucesso por lá, foi campeão com um carro com motor Toyota e a fábrica entrando na Fórmula 1... daí chamaram a gente, fomos lá e nos acertamos. Daí os caras vieram falar que ali não era como nos EUA, que eu era pai, mas que ali na F1 o esquema tinha que ser mais profissional e que o Cristiano precisava de um manager profissional. Esse cara foi o Fernando Paiva, que é um cara super competente, mas não era um cara de muito conhecimento na F1. Ele tinha trabalhado na Minardi, mas não como manager. Ele até que deu certo na função, mas aí eu virei só pai. Da temporada completa que ele fez, eu fui só a 4 corridas, assisti as outras pela TV. 

 

NdG: O senhor foi um piloto em atividade por mais de duas décadas e, como o senhor diz, com olhos muito observadores, e depois acompanhando o Cristiano, quase outras duas. Assim, com estes olhos observadores que ainda estão bem aguçados, como o senhor vê a evolução do esporte a motor ao longo destes anos todos, dentro e fora das pistas, seja aqui no Brasil ou no exterior. Onde se acertou e onde se errou neste caminho? 

 

Toninho da Matta: Tudo gira muito em função do dinheiro. Lá na Europa, desenvolvimento, regulamento, tudo tem um peso financeiro muito grande. No Brasil eu temo até ser um pouco injusto, pois eu deixei de acompanhar o automobilismo daqui, de perto, quando o Cristiano foi correr no exterior, mas hoje eu vejo o automobilismo do Brasil como um lugar sem opção para os pilotos. Na época que o Cristiano correu aqui tinha F. Ford, tinha vários campeonatos de carros com custo acessível e hoje tem o que? Tem a Stock. Que por mais organizada que seja, é um fim. É uma categoria de onde você não vai da seguimento para nenhum lugar. Ou seja, hoje, o garoto que quer seguir carreira, tem que ir embora logo. Seja para a Europa, seja para os EUA.  

 

NdG: Mas a Stock não poderia ser um caminho para se correr de turismo, por exemplo, nos EUA, na Nascar? 

 

 

"Estão fafendo as coisas erradas no automobilismo por aqui. A Stock é uma categoria fim e são precisas categorias escola". 

 

Toninho da Matta: Eu acompanhei a Nascar de perto e não vejo nada que possa ligar uma categoria a outra. Não é um caminho natural. Claro que nada impede que um piloto daqui consiga ir para lá, mas é totalmente diferente, apesar de eu ver os pilotos que correm na Stock aqui no Brasil com uma grande capacidade, é um time de pilotos muito bons. Ela é um ponto final, para muitos que rodaram o mundo e acabaram vindo correr aqui. Categoria para formar, para desenvolver, só tem hoje uma ou outra categoria regional. Agora é que vai vir essa categoria que o Felipe e o Titônio [Massa] estão trazendo para o Brasil com a Fiat, e tomara que dê certo. Se a gente for ver como é o desenvolvimento do automobilismo, em lugar nenhum um piloto sai do kart para o turismo, ele vai correr de monoposto, de “fórmula alguma coisa”.  

 

NdG: Já faz algum tempo que começou a surgir uma geração de filhos de pilotos famosos e estes filhos tem “carregado uma cruz” que é a comparação com os feitos dos pais e na grande maioria dos casos eles não tem conseguido atingir as expectativas, muitas vezes mais dos fãs dos pais deles do que as deles mesmos. O senhor que foi um piloto bem sucedido e que é pai de um piloto bem sucedido, aonde vai o âmago desta questão? Qual a real fronteira entre a técnica e a psicologia? 

 

Toninho da Matta: É muito injusto querer cobrar de uma pessoas fazer o que a outra pessoa fez só porque é parente, é pai... tem muita gente que viu minha carreira e viu a do Cristiano que chega e fala para mim que eu fui um piloto melhor que ele. Eu, particularmente, não concordo. Ele chegou no topo, correu nas maiores categorias do mundo. É como comparar um jogador de pelada com um da seleção. Eu fui jogador de pelada, ele foi de seleção. Mas esta cobrança que se faz sobre os filhos dos pilotos é algo sem sentido. De um para o outro o automobilismo mudou tanto que nem parece ser a mesma coisa. 

 

NdG: Por este caminho, o senhor que acompanhou o Cristiano em dois caminhos distintos até o topo das categorias mais importantes no mundo, o que o foi que o senhor viu de dentro, nos bastidores, o que foi que o senhor viu assim de semelhanças e diferenças entre elas? 

 

"A gente via o Schumacher caminhando nos boxes e ele não parecia 'achar que era Deus'... ele tinha certeza que era!" 

 

Toninho da Matta: De semelhança, quatro rodas! (risos gerais) entendeu? Agora de diferenças a gente vê coisas absurdas. De filosofia de trabalho, de linha de pensamento, de desenvolvimento técnico, de mentalidade... tem gente que acha que, “quem pode mais, chora menos” e não é só por aí que se vê diferenças, por exemplo entre a Fórmula Indy e a Fórmula 1. Nos EUA eles buscam fazer a coisa para que todos tenham chances. Seja na Indy, na Nascar, em qualquer categoria. A nível de diferenças, a diferença de filosofia entre as categorias vai muito das pessoas que as dirige.  

 

NdG: E sobre pessoas, como é que as pessoas agem ou agiam nestes dois meios que o senhor freqüentou? 

 

Toninho da Matta: O Ambiente da Fórmula Cart, onde o Cristiano corria era muito tranqüilo. Todos se falavam, era uma coisa com cobrança, mas sem aquela pressão desmedida. Nós sentimos a diferença disso na Fórmula 1. Vínhamos de um campeonato onde havia um equilíbrio, onde vários tinham chance de vencer e chegamos num lugar onde eu via O Cristiano e o Panis andar a manhã inteira e superando limites para depois o Schumacher chegar, dar 2 voltas e virar 1,5s abaixo praticamente aquecendo o carro. Era uma discrepância. Vir de uma categoria onde metade do grid briga pela vitória e chegar numa onde no máximo dois podem vencer não é fácil... isso fora o ego das pessoas. O Schumacher andando pelos boxes era uma coisa impressionante. Ele não achava que era Deus... ele tinha certeza que era! Mas ele tinha consciência do tanto de dinheiro que a presença dele gerava e vai gerar este ano com sua volta. Lá nos EUA nós convivíamos com um dos maiores atores do mundo o Paul Newman e ele era o oposto. 

 

NdG: A sua geração teve como inspiradores a mais brilhante geração de pilotos da nossa história, com Ciro Cayres, Bino Heins, Luiz Pereira Bueno, Bird Clemente, Chico Lameirão, Jayme Silva, Camilo Christófaro e tantos outros. Algo que era não só qualidade, mas quantidade. A sua também foi assim. Hoje em dia para sair um talento como aqueles é uma dificuldade. O que estaria havendo? A fonte secou? 

 

Toninho da Matta: Isto é o fruto da falta de categoria escola. É o kartismo com orçamentos altíssimos, é a falta de categorias de monopostos, é o fato de se o garoto quiser continuar, tem que ir para a Europa muito cedo. Estamos fazendo a coisa errada e isso vai acabar matando uma tradição que consolidamos em décadas. 

 

NdG: Com a volta do Cristiano à atividade, o senhor vai voltar a peregrinar acompanhando-o pelo país? 

 

Toninho da Matta: Sim. Vamos voltar a fazer isso e acompanhar esta volta, que não vai ser fácil, uma vez que ele andou de monoposto a vida toda e agora vai ter que se adaptar a essa coisa imensa. Fora isso que ele tem um tempo parado e vai ter que entrar novamente no ritmo de corrida... mas está sendo muito positivo para ele. 

 

NdG: E a vida fora do meio automobilismo, como vai a vida lá em Minas? 

 

Para um mineiro, que é um povo com fama de desconfiado, 'seu' Toninho abriu o coração e a voz... foi quase 1 hora de gravação! 

 

Toninho da Matta: Vai daquele jeitinho, mineiramente (risos) vamos curtindo a família (Toninho tem outros dois filhos e a família tem uma linha de produtos esportivos), eu dou minhas voltas de moto com os amigos... vamos vivendo. 

 

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Last Updated ( Sunday, 10 October 2010 10:35 )