Na semana do GP Brasil de F1, foi aprovado o projeto de lei para a concessão do Autódromo de Interlagos para exploração pela iniciativa privada. Algumas semanas depois foi lançado o edital que regulamenta como deve proceder o vencedor da concorrência, onde há a obrigação da manutenção da pista atual nos padrões FIA 1, melhorias de segurança para a motovelocidade e manutenção do kartódromo, priorizando o local como uma praça desportiva. O vencedor poderá construir nas áreas ociosas edificações como galpões, hotel, shopping, etc. A concessão tem o período de 35 anos e o vencedor deverá pagar a prefeitura 1 bilhão de reais. Ouvimos algumas pessoas como pilotos e chefes de equipe durante a etapa da Copa Truck, que envolveu o Mercedes Challenge e a Copa HB20 em Interlagos no mês de dezembro sobre a possibilidade da mudança da gestão pública para a privada. Vejam o que eles disseram: Beto Monteiro – Piloto na Copa Truck. O lado positivo é o fato de não perdermos o autódromo. Se Interlagos fosse simples vendido a gente não poderia ter nenhuma garantia do que aconteceria com Interlagos. Ao longo de todos estes anos da existência do autódromo, fossem nas condições de hoje, que são excelentes, fosse em outros tempos onde a condição não era boa, nós sempre tivemos nossas corridas lá. Espero que quem ganhar a concessão trate o automobilismo com o devido respeito. No mundo inteiro os autódromos tem diversas instalações, muitos tem hotéis e há espaço aqui para um aproveitamento de algumas áreas sem interferir com o automobilismo, que deve ser sempre colocado em primeiro lugar. Fazendo isso, é super válido. Quem estipulou esse valor deve ter analisado antes de apresentar e colocar no edital. É muito dinheiro quando a gente pensa no bolso da gente, mas quem está envolvido com o negócio deve estar sabendo como será possível fazer uma proposta e, como disse, mantendo o automobilismo, isso é o mais importante. Franz Schmidt – Chefe de Equipe na Copa Truck. Eu penso que a concessão de espaços públicos, não só do autódromo, mas outros para que passe de qualquer meio governamental, seja a prefeitura ou o governo do estado é algo que tem que ser muito bem planejado. O autódromo de Interlagos para nós, brasileiros, é um templo do automobilismo e tem uma importância mundial. Os custos de manutenção de uma autódromo com estes equipamentos, com este porte, devem ser altos e isso deve ser pesado na hora de se tomar uma decisão como esta. Um projeto deste tipo, de concessão, para a iniciativa privada, talvez possa permitir uma melhor conservação, um uso comercial mais racional e eficiente, com outros eventos em paralelo com o calendário do automobilismo, pode ser interessante para quem investir. Como há sempre o ponto positivo e o ponto negativo, se tudo for bem planejado, sem tirar datas do automobilismo, é possível termos algo muito bom. Fico preocupado com essa possibilidade de construções do edital. O autódromo é bem bacana do jeito que ele está. Se na podem mexer na pista, já é um ponto importante, mas se construírem coisas no meio, vai desconfigurar, né? Um hotel próximo é uma coisa, mas dentro é completamente diferente. Tem hotéis próximos daqui que estão desativados e um hotel próximo seria interessante. Quanto ao valor a ser pago, eu acho alto. Ter que pagar um bilhão de reais para a prefeitura e ainda encontrar formas para cobrir o investimento e ganhar dinheiro não vai ser algo fácil. Isso pode ser ruim, com o encarecimento dos valores de aluguel da pista ou de outros espaços para outros eventos, a FIA sempre vem com exigências e o novo operador vai ter que fazer as obras... a empresa que assumir vai ter que ter um planejamento muito bom para poder ter retorno. Se não funcionar, pode se tornar um “Aeroporto de Viracopos”, que é gigante, não dá retorno e o grupo que ganhou a concessão quer devolver. Se não der o retorno esperado, não vão ficar 35 anos tomando prejuízo. Felipe Toso – Piloto no Mercedes Challenge. Morando lá no interior de Santa Catarina eu não tenho acompanhado muito de perto esse processo que está acontecendo com o autódromo de Interlagos, exceto pelo que tenho lido na internet. Meu desejo é que a decisão que for tomada seja para a preservação do autódromo, para a continuidade de Interlagos, e que tudo seja em prol do automobilismo, que realmente aconteça o melhor para nós, seja na gestão pública ou privada. Não sei se quem ganhar a concessão, caso algum grupo investidor assuma, não sei se tem tanto espaço assim para se investir e construir coisas. Alguma coisa é possível, mas não sei se caberia, por exemplo, um shopping e um hotel. Como eu não vi projeto nenhum, o que me deixa mais tranquilo é que não vão poder mudar a pista e não vão destruir o kartódromo. Mesmo sem saber muitos detalhes sobre a forma como o autódromo vai poder ser explorado, um investimento de um bilhão de reais, mesmo com um prazo tão grande, de 35 anos de concessão, não vai ser fácil, no meu entender, o investimento ser recuperado, mesmo sendo em São Paulo, mesmo com eventos que não sejam só de automobilismo. José Cordova – Proprietário de Equipe no Mercedes Challenge. A meu ver, dependendo que quem vencer a concorrência dessa concessão, podemos ter melhoras. Na mão da iniciativa privada o autódromo será olhado como negócio e com isso eles vão querer fazer o melhor. O único receio é saber se quem ganhou ou ganhar gosta de corridas. Aqui se tem oportunidade de fazer muita coisa fora do automobilismo e o automobilismo tem que ser a prioridade. Para nós a gente vê a dificuldade de se correr em Interlagos. Quando o Chico Landi estava aqui, tínhamos mais datas, mais corridas do que temos hoje. As categorias todas vinham pra cá, treinavam durante a semana. Depois, com as coisas da prefeitura, as coisas só pioraram. Quem assumir Interlagos precisa dar mais prioridade para nós. Mas isso não impede que se tenha outro tipo de atividade, pelo contrário. Já fizemos corrida aqui com show acontecendo do outro lado do lago, com evento no kartódromo e tudo ao mesmo tempo. Tem lugar para tudo e todos. É possível se fazer essas coisas do projeto da concessão, com construção de hotel, outras coisas. Tem espaço, sim, mas tem que ser uma coisa bem pensada para não atrapalhar o autódromo e as competições. Mas quem ganhar vai ter que planejar muito bem como fazer as coias aqui para poder recuperar o dinheiro investido. Um bilhão é muito dinheiro, mas 35 anos também é muito tempo. Dependendo de como for o pagamento, pode dar certo pra quem ganhar. Marcelo Zebra – Piloto da Copa HB20. Se realmente for cumprido por quem ganhar a concessão todos os pontos colocados no edital, se for uma coisa feita com palavra, com honestidade, isso vai ser muito positivo para todos nós automobilistas, desde as categorias do regional até a Fórmula 1, mas eu tenho comigo essa dúvida, se tudo que está escrito será cumprido ou se vão tentar mudar as regras do jogo depois e vierem querer destruir o kartódromo, mudar traçado, encurtar a pista. Eu sou contra e a favor ao mesmo tempo. Há muitos anos existia em Interlagos uma escola de mecânica, que formava mão de obra especializada, não só pra corridas, mas uma profissão para muita gente e isso acabou. Antes de se pensar em construir hotel, shopping e outras coisas, tinham que refazer e investir na escola de mecânica novamente. Era uma escola gratuita e tem outra coisa: em Goiânia, todo dia, até nove da manhã, o autódromo é do povo, que vai lá caminhar, andar de bicicleta, o autódromo é do povo. Também podia ter escolas de pilotagem, mais escolas, para baratear o custo de quem faz curso pra ser piloto. Quanto ao retorno, se a F1 se mantiver em São Paulo, o que acho que vai acontecer, e o vencedor da concessão conseguir trazer outros eventos de grande porte, como o WEC que não veio, eu acho possível. Sabendo fazer, é um super espaço, pode ter muitas atividades, até em paralelo, mas tem que fazer dinheiro todo dia, com shows, com treinos, corridas, track days, tudo. Se eu tivesse grana eu faria. Renato Martins – Piloto e Proprietário de Equipe da Copa Truck. Acho que todo mundo me conhece, sou piloto de caminhões há 25 anos. Muitas vezes corri em Interlagos, muitas vezes assisti corridas na arquibancada e antes de ser um autódromo, Interlagos é um patrimônio histórico da cidade e o que eu vejo é muito desleixo, muito dinheiro jogado fora. Por isso que eu acho que Interlagos só tem a ganhar passando para as mãos da iniciativa privada. No Brasil todo o setor privado funciona e a iniciativa do governador estanca o rio de dinheiro que sai dos cofres público e muitas vezes vai pelo ralo, Todo ano tem obra em Interlagos, nunca acaba, mudaram coisas novas nesta última e eu vejo isso com um desperdício e a iniciativa privada não vai deixar isso acontecer. Construir coisas que venham agregar em Interlagos vai ser positivo se for com a iniciativa privada. Bem planejado tem como se instalar um hotel, que para nós seria ótimo, ter um shopping para a população da vizinhança e para podermos jantar a noite, ou até prédio residencial, porque não, mas se não reclamarem do barulho. O investimento é grande, mas eu acho que um bom planejamento pode gerar receitas com automobilismo e outros eventos como shows e festivais de música, encontros de carros e colecionadores. Nos autódromos pelo Brasil tem muito espaço e se pode fazer muita coisa. Eu acredito em um retorno tranquilo para o investidor. Roberval Andrade – Piloto e Proprietário de Equipe da Copa Truck. Pelas experiências que a gente tem pelo Brasil e em outros países de privatização, o que vemos é sempre uma melhoria na gestão, mas no caso de um autódromo, há uma perda sobre os custos que um autódromo gera. Como prefeitura e governo do estado estão juntos para buscar garantir a manutenção da pista tanto do autódromo como do kartódromo e isso é importante. A situação de Interlagos hoje é boa porque tem a F1 e isso garante investimentos, retornos, atualizações. Se a F1 sair de Interlagos vão ser perdidas oportunidades, obras e vão surgir dificuldades e Interlagos sempre foi um local de formação, de treinos e com esse Brasil novo que está caminhando, acontecendo, numa linha de mais seriedade depois de quase 16 anos de roubalheira, eu acho que pode ser bom, sim, desde que a manutenção da pista fique a encargo do poder municipal ou estadual, tanto do autódromo como kartódromo. Eu só não vejo muito espaço para todas essas coisas que tem gente pensando em construir aqui. Como a questão da especulação imobiliária é algo presente e com o país melhorando um investimento deste vai gerar retorno, mas tem que ser muito bem planejado. Se quem ganhar tentar recuperar este investimento apenas com o automobilismo ele não vai conseguir. Ele vai ter que criar formas de explorar bem a área e com isso conseguir. É algo que eu não consigo enxergar. Mas o mais importante é que o autódromo e o kartódromo serão mantidos. Wellington Cirino – Piloto da Copa Truck. Eu não tenho todas as informações sobre o processo como está tramitando, mas eu vou usar a referência de um autódromo privado, o de Curitiba, que tem problemas com algumas categorias. E a minha preocupação é que qualquer mudança não venha afetar de alguma forma a nossa realidade e coloque em risco o autódromo mais importante do país, e mais ainda, passando para a gestão privada que não sejam cobrados valores impraticáveis para promotores e categoria, algo que afetaria a todos nós. Sei que há um edital e que quem ganhar terá que cumprir o que está neste edital e que todos nós do meio do automobilismo estejam atentos para que o que lá está escrito seja cumprido. Se há a garantia da manutenção do kartódromo e do autódromo com estas configurações atuais isso vai ser positivo e nas mãos privadas pode melhorar, mas vale dizer que o autódromo tem sido nestes anos muito bem administrado. Eu só não vejo espaço para muitas construções como o edital diz que vai ser possível serem feitas. Um hotel aqui dentro vai ser muito bacana, muito importante para pilotos, equipes e todo final de semana tem atividades em Interlagos. Mas tem que ser muito bem planejado e o autódromo tem que priorizar sempre o automobilismo e seu público. Não pode acontecer aqui o que vem acontecendo em Curitiba e Brasília. Eu só não sei como comentar o valor da concessão. Isso para mim é difícil. |