Um dos maiores kartistas de sua geração, um piloto que tem a dosagem certa entre arrojo e sensibilidade e um verdadeiro multitarefas, capaz de pilotar com a mesma competência carros com rodas abertas ou não, fórmulas, Turismo e Gran Turismo, incluindo neste rol de categorias os carros elétricos, onde sagrou-se em 2019 campeão mundial. O paulista Sergio Jimenez divide seu tempo entre os negócios em Piedade, cidade no interior de São Paulo, mas próxima da capital e as pistas pelo Brasil e pelo mundo há mais de 20 anos. Coach de pilotos, ex-promotor de categoria de kart e neste ano voltando a disputar a principal categoria do automobilismo brasileiro, a Stock Car, ele fez um “pit stop” e nos deu essa entrevista exclusiva, que já deveria ter acontecido há muito tempo e que estamos, literalmente, saldando uma dívida. NdG: Como foi que o menino de Piedade (uma cidade pequena que fica na região metropolitana de Sorocaba) foi parar nas pistas? Sérgio Jimenez: Eu tinha 10 anos e fui ver a inauguração do kartódromo de Itu e com isso são 25 anos de velocidade, minha vida é isso. Meu pai e meu tio sempre gostaram de automobilismo e me levaram. Eles sempre iam na F1 e eu fui muitas vezes com eles lá em Itu ele conheceu alguns pais de pilotos e decidiu comprar um kart. E aí deu no que deu (risos) 25 anos depois estou eu aqui sendo entrevistados por vocês. NdG: Todos falam que o kart é a categoria escola. O que você tirou do kart não só para desenvolver a sua técnica, mas também, indo além da pista, para tua formação como pessoa? Quando eu comecei o kart era o caminho para se começar. Hoje temos pilotos que começam no turismo. Sérgio Jimenez: Para quem consegue começar no kart hoje em dia, e isso não é regra, quando eu comecei a correr era aquilo de “você tem que começar no kart” e hoje tem muita gente que começa pelas categorias de turismo, fazendo escolas de pilotagem e indo direto para os carros, mas o kart é bom porque te ensina desde cedo a lidar com a vitória e com a derrota e nosso esporte é um esporte onde você muito mais perde do que ganha e você tem que entender isso, aprender a lidar com isso o tempo inteiro e isso te dá uma maturidade muito grande por estar num esporte de alta competitividade, contra pilotos as vezes mais velhos, as vezes mais novos, e isso se reflete fora das pistas, na escola, entre os colegas da classe, muito por ali, na pista, a gente tem que tomar decisões importantes, lidar com riscos, definições sobre que motor, que carburador, que coroa usar no treino e na corrida, escolher chassi, a equipe... isso acelera o processo. NdG: Você falou sobre os pilotos que não passaram pelo kartismo como escola, mas você é de uma geração onde começaram a surgir os simuladores, que vem evoluindo cada vez mais. Até onde os simuladores são capazes de formar um piloto de competição? Sérgio Jimenez: Os simuladores estão cada vez melhores, é verdade. Eu tenho um em casa com uma capacidade de realidade excelente. Eles servem como entendimento para buscar pontos de freada e reaceleração, de tomada de curva, aprender um traçado, principalmente. Mas ele não tem a força G, que interfere na sua condição física, também não tem o calor de dentro de um carro, que desgasta você. É muito útil pra conhecer um carro que você não conhece, uma pista que você nunca andou. Eu tive essa experiência de um simulador de ultima geração recentemente quando testei com um Fórmula E. era um carro que eu não conhecia e eu tive a chance de andar no simulador que eles usam, que fica na sede da equipe Williams, em Grove – UK, e ali eu consegui “tirar o grosso”, aprendendo como funciona o carro, os pneus que são praticamente pneus de rua, o traçado onde eu ia andar... daí na pista eu já cheguei virando tempos competitivos e fui “tirar o fino”. Nós vemos hoje em dia muitos pilotos fazendo simulador, que nunca andaram de kart e nem tem carteira de motorista tem sentado em carros de corrida e andado bem. Ainda não teve um piloto pra ser “o top do top”, mas tem pilotos andando muito bem. Eu penso que a vida dentro do automobilismo ainda faz a diferença. NdG: A Nissan, alguns anos atrás, chegou a fazer um programa de formação de pilotos apenas com o uso de simulador você viu isso? Os simuladores estão cada vez mais reais, mas eles ainda não dão o sentimento que se tem na pista. Sérgio Jimenez: Sim, um deles até correu conosco no campeonato de GT quando corríamos com o time brasileiro da BMW. Ele era um piloto talentoso, andava bem, mas faltava alguma coisa, aquilo que eu digo que quem cresceu na pista tem, acumula como experiência. Mas continua achando que vai ser difícil termos um campeão em uma categoria top de um piloto que não tenha passado por categorias de base e pelo kart. NdG: Quando ouvimos você falar em categoria de base, não conseguimos não lembrar da sua ida para a Inglaterra correr na F. Renault e tendo como companheiro de equipe o Lewis Hamilton. Como você analisa hoje aquela temporada? Sérgio Jimenez: Eram duas realidades diferentes. Para ele, era mais uma etapa que ele iria cumprir no caminho até a F1. Para mim era como foi na maioria das vezes na minha vida de piloto, a chance da vida e o único tiro, ter um único jogo de pneus, não poder bater... e eu vinha do título da F. Renault no Brasil e foi isso que me deu a chance de disputar uma etapa na Europa em 2003, na Inglaterra. A gente sabia que ele tinha uma super equipe por trás dele e tinha a McLaren e a Mercedes acompanhando seus passos e, claro, ele tinha e tem um talento diferenciado. Ele é um super piloto, um fora de série, mas não é imbatível. E tudo estava lá para que ele seguisse seu caminho para a F1. Eu tive muitas dificuldades porque eu não tinha ninguém comigo na Inglaterra e não tinha ninguém nos boxes, ninguém acompanhando o que a equipe falava enquanto eu estava na pista e isso foi algo que faltou na minha carreira, alguém pra me acompanhar na pista. A gente é só um garoto quando vai pra fora do país. Precisa de um suporte. Eu tinha 18 anos e o que a gente sabe da vida nessa idade? E ali você tinha duas opções: andar bem ou andar bem! Quem acompanhou viu que eu fui um pouco sabotado. Eu comecei bem a pré-temporada e depois eu passei a tomar 1 segundo em toda corrida. Eles me seguraram. Eu andei melhor que ele em 2 treinos e apesar de isso não querer dizer que eu ia ganhar o campeonato, significava que eu era competitivo o suficiente para andar na frente e, quem sabe, brigar pelo título. Depois disso nunca mais meu carro funcionou. No final do ano eu recebi o apoio do Paulo Carcassi, um cara super experiente e que estava morando na Inglaterra na época. Ele foi me ajudar e eu toquei meu engenheiro fora e ele virou meu engenheiro. Naquele final de semana eu saí do que eu vinha fazendo, estando em 8°, em 10°, e fui pra primeira fila com o 2° melhor tempo, logo atrás do Hamilton. Era final de temporada, penúltima etapa e eu estava super contente porque eu vi que era só achar a linha novamente, que o problema não era eu. No dia seguinte tinha uns mecânicos mexendo no meu carro e nós perguntamos o que eles estavam fazendo e o dono da equipe virou pra nós e disse que ele era o dono da equipe, que ele é que mandava e que eu iria andar com o acerto que ele quisesse. Ou seja, ninguém podia andar perto do Hamilton, pelo menos na equipe. Foi difícil, mas foi também um ano de crescimento. Eu tenho na minha vida inteira que nada nunca foi fácil, que mesmo passando por situações difíceis, a gente tem que continuar tentando, e essa resiliência é cada vez mais importante. Podia ter sido diferente, mas não foi. No automobilismo hoje tem muita gente com talento e muita gente com dinheiro e isso tem sido algo difícil como foi para mim para muitos outros pilotos que estão buscando seus sonhos. NdG: Seu exemplo com o Hamilton mostrou como pode ser difícil enfrentar um adversário em condições desiguais. Hoje, quais são as maiores dificuldades que os pilotos brasileiros que vão tentar a carreira no exterior estão enfrentando? O dinheiro (ou a falta dele) e o suporte fazem toda a diferença. O Hamilton tinha coisas que eu não tinha na F. Renault. Sérgio Jimenez: Dinheiro! Na verdade, a falta dele. O automobilismo é um esporte caro e não adianta a gente ficar reclamando. É caro, requer muito investimento e no Brasil a gente não tem nenhum programa de desenvolvimento como a gente tem na Europa, EUA ou Ásia. Então isso deixa o brasileiro em desvantagem e ele tem que ter muito talento, muita força de vontade e conseguir uma boa rede de relacionamento para tentar conseguir um espaço e isso também exige patrocinadores, mas mesmo com relacionamentos, patrocinadores, talento, o piloto consegue chegar, talvez, na F2, mas para dar o salto para a F1 é preciso ter um “algo a mais”, que é aquele empresário ou ter conseguido entrar para um programa de jovens pilotos para conseguir dar este salto. Talvez seja mais fácil ganhar na megasena (risos). É um funil muito difícil, mas eu vejo o automobilismo no Brasil nos dias atuais muito forte e mesmo tendo passado por uma crise recente, há uma atmosfera positiva e perspectivas de crescimento. Já há algum tempo é possível se profissionalizar e viver de automobilismo no Brasil e quem consegue se destacar tem uma renda considerável. Talvez não dê para viver a 100% do que se ganha na pista, mas já se faz uma boa remuneração. Você pode fazer um coaching de algum piloto em uma categoria, trabalhar como chefe de equipe em uma outra, pode correr em mais de uma categoria. Eu não sou tão velho, mas nos meus tempos de kart a gente só pensava em F1. Hoje temos uma categoria como a Stock Car que permite que um piloto nem passe pelo automobilismo internacional e vá direto tentar se profissionalizar no Brasil. O grid da Stock Car tem alguns pilotos com menos de 21 anos que não passaram pelas categorias de fórmula e estão fazendo suas carreiras aqui no Brasil e temos outras categorias potencialmente seguindo esse caminho. NdG: Você é um profissional das pistas que faz o “coach” para jovens pilotos e gentleman drivers. 50 anos atrás, um cidadão que não era piloto, mas estava fortemente ligado ao automobilismo, Chico Rosa, foi com Emerson Fittipaldi para a Inglaterra, talvez um “embrião” do que seria o “coaching”. Como você vê a evolução deste trabalho? Sérgio Jimenez: O trabalho do “coach” é muito interessante, tanto para o trabalho de pista como para um outro fora dela. Mesmo você sendo um piloto experiente, vai ter sempre alguma coisa que alguém de fora vai ver e você não está vendo, especialmente se ele for um piloto experiente. Tenho certeza que o Chico Rosa tenha sido muito mais que uma companhia e quando eu fui para a Inglaterra, faltou isso para mim. Uma pessoa do meu lado, que fosse do meio, que entendesse minhas necessidades, pra me orientar a tomar decisões certas e quando eu estivesse na pista, estar escutando o que a equipe estava fazendo. O “coach” é mais que um cara para te dar assessoria de pista, ver o cara pilotar e analisar a “on board do cara, mas é também alguém para te orientar com sua experiência dentro do meio. Hoje eu tenho 25 anos de automobilismo. Se um piloto estiver começando no kart e/ou, estiver saindo do kart e quer uma orientação, modéstia à parte, é muito melhor ele vir buscar isso comigo, que já vivi aquilo que ele está vivendo porque eu passei por aquilo também e aprendi lições de uma forma que ele pode não ter que passar pelas minhas dificuldades para aprender. Posso encurtar os caminhos pra ele. O “coach” deve ser um orientador como um todo. NdG: Você falou desse caminho para o piloto se profissionalizar no Brasil usando como exemplo a Stock Car. Fora do Brasil, você e outros vem se destacando em provas de GT. Este pode ser um novo mercado, um caminho para a profissionalização como piloto internacional, deixando de lado a F1? O trabalho do "coach" deve ir além da pista. Se você vai fazer esse trabalho, precisa cuidar do seu piloto em tudo. Sérgio Jimenez: Sim, claro. Atualmente existem muitas categorias que o piloto pode se profissionalizar. O WTCR é uma categoria extremamente competitiva, com um grande grid e muito interessante, com apoio das montadoras, o que é importante, com um custo mais baixo por ser um carro de rua, com tração dianteira e tem aquela coisa de ver o carro que você tem em casa na pista. Isso atrai publicidade, patrocínio. As categorias de GT seguem nesse caminho, mas num outro platamar, sendo carros de luxo que foram para a pista e daí começaram a surgir as competições e os GT são também carros de rua. Foi um mercado que teve um momento bom aqui no Brasil e que agora está voltando e que tem crescido no exterior. Ainda temos a questão da dificuldade por morarmos longe. O europeu mora a uma, duas horas de outro país enquanto nós estamos do outro lado do oceano. E eu posso dizer que não é fácil entrar nesse mercado. Tem muitos pilotos europeus muito bons, americanos também e a competição é dura. Mas temos gente se dando bem, conquistando espaço como o Felipe Fraga e o Daniel Serra, por exemplo. Nos EUA o Pipo Derani e o Felipe Nasr. Até como equipe, quando o Antônio [Hermann] e o Washington [Bezerra] montaram a equipe e disputamos aquele que era o mundial de GT, que foi um grande projeto e agora eu estou no mundial de carros de turismo elétricos, com o Jaguar I-Pace. NdG: Quando você começou a correr já existia alguma coisa de eletrônica nos carros. Emerson Fittipaldi foi apelidado de “velvet ass” (bunda de veludo) por sua sensibilidade para acertar os carros. Hoje a eletrônica está em tudo, tem sensor até de temperatura e pressão de pneu. Até onde isso pode ajudar ou atrapalhar o desenvolvimento de um piloto? Sérgio Jimenez: Depende muito da categoria. A gente tem que sentar e se adaptar ao que está ali no momento. A F1 está aí, cada vez mais tecnológica. A F-E, que considero a segunda maior categoria do mundo é uma categoria 100% elétrica, não tem nada. O grip do carro é baixo, não tem aerodinâmica quase nenhuma e corre nas ruas, o que exige muito mais sensibilidade do piloto do que um F1. Quando eu comecei a andar de Fórmula, o câmbio era em “H”. Depois veio o sequencial e logo depois o câmbio com borboletas. Você tem que entender como guiar e fazer funcionar. Aquele que se adapta, melhor e mais rápido, vai levar vantagem sobre os demais. NdG: Nisso de se “adaptar mais rápido”, onde e como o piloto “vira a chave” para andar de Stock, de Porsche, de GT, de Elétrico... O piloto precisa ter a capacidade de se adaptar o mais rapidamente possível ao carro que vai pilotar. Isso é fundamental. Sérgio Jimenez: É o que eu disse. O piloto tem que sentar e se adaptar o mais rápido possível. Todo carro é diferente. Peso, relação de câmbio, visibilidade, aderência, tração, freio, aceleração. Quem consegue assimilar isso mais rápido leva vantagem. Não tem muito segredo. É sensibilidade pura. Ou você tem ou não. NdG: Além de piloto você é empresário em outro seguimento, mas você vivenciou há alguns anos a experiência de ser empresário e promotor de automobilismo com o Super Kart Brasil. Como foi essa experiência para você? Sérgio Jimenez: O SKB nasceu por conta do nosso descontentamento com a forma como o kartismo vinha sendo tratado nos anos 2009/2010 e nós sete [Sergio Jimenez, Rubem Carrapatoso, Paulo Carcasci, Danilo Dirani, Denis Dirani, André Nicastro e Renato Russo] criamos o SKB, por sermos apaixonados antes de tudo e juntos temos mais títulos de kart talvez que todos os outros grandes vencedores juntos e do nosso descontentamento, porque é muito difícil ver aquilo que a gente ama não indo pra frente. Existem umas patotas aí no automobilismo que dificultam pra você entrar e fazer um evento, mas a gente acreditou que podia fazer um negócio melhor e conseguimos. Tivemos o apoio de várias pessoas de fora, patrocinadores, as fábricas de kart que nos apoiaram em 100% e que também estavam descontentes e com isso a gente conseguiu se impor e fazer. E a gente recriou o kart, de uma forma que a gente acreditava que funcionaria melhor pra todo mundo e funcionou. O que a gente buscou foi maximizar o tempo de pista do piloto. O esquema que existia era uma classificação, uma corrida e custando muito caro. A gente conseguia fazer quatro classificações, quatro corridas e oito treinos tudo no mesmo final de semana. O piloto que vinha do interior, de outros estados vinha e ficava na pista o final de semana todo. O custo que ele tinha era bem investido porque ele andava, treinava, competia. Tudo que a gente recebia de promoção, de prêmio e investimento das fábricas, era alocado no evento. Chegamos a dar num evento 80 mil reais em prêmios. Para o kart, isso só não é mais do que a Seletiva Petrobras, que premiou pilotos por muitos anos com o Binho Carcasci. Conseguimos mudar a cara do kart no Brasil com o SKB em seus 5 anos de existência e se não conseguimos ir mais adiante, pelo menos mudamos algumas coisas no Brasil. Hoje tem transmissão de kart na TV, coisa que quando eu corria não existia. NdG: Colhe-se frutos disso ainda hoje? Quando fizemos o SKB foi uma forma de mostrar nosso descontentamento com o que havia e mostramos outro caminho. Sérgio Jimenez: Eu ando meio afastado do kart por diversas coisas que aconteceram, coisas de politicagem que não me agradaram e eu preferi me afastar. O kart sempre tem seus altos e baixos. Sempre vai ter. A gente sabe que muitos do equipamentos são importados e que as pessoas tem trabalhado duro para se manter. Com esse dólar e euro caro é uma dificuldade a mais, especialmente sendo um esporte de entrada, não poderia ser tão caro, mesmo assim, continuamos produzindo bons kartistas e pilotos para poder se estabelecer no automobilismo profissionalmente. NdG: Esse projeto que a CBA trouxe, que são escolas de kart inspiradas em projetos que existem na Europa, com equipamentos subsidiados e aberto para quem não tem recursos para comprar um equipamento você está a par? Cha que pode ser positivo? Sérgio Jimenez: Não conheço o projeto, não tenho como opinar. NdG: Uma pergunta para o empresário: no nosso automobilismo nós temos um modelo de negócio como o da Vicar, com a Stock Car, com equipes independentes e um outro modelo que também é do seu conhecimento, é o da Porsche Cup, que é um modelo “one team”. Como o empresário analisa estes dois modelos? Sérgio Jimenez: Basicamente a diferença está nisso que a pergunta apresentou. A Stock Car são várias equipes que tem diferentes donos, que tem carros iguais, mas que cada equipe, dentro do regulamento, pode trabalhar de diferentes formas, com os pilotos trabalhando com seus engenheiros. A Porsche é uma equipe única, onde é disponibilizado para o piloto um mecânico e você pode fazer pouquíssima coisa dentro do carro, com poucos recursos e que são basicamente barra de suspensão, calibragem de pneu e asa e ambos são modelos de sucesso. Sabemos que a Stock Car está um pouco cara e eu vejo todos os chefes, donos de equipe tentando reduzir esse custo. Para mim, como piloto, podendo estar nos dois eventos como eu projeto para essa temporada, além do Jaguar e-trophy eu vou procurar fazer uma grande temporada. A Stock Car, a Porsche e a Copa Truck são as maiores categorias do país e estar em duas delas é um grande prazer e espero ver nossas categorias cada vez mais fortes. NdG: Agora que você falou dos caminhões, já experimentou? Tem vontade? Temos três grandes categorias hoje no Brasil: a Stock Car, a Truck e a Porsche. O endurance Brasil está crescendo também. Sérgio Jimenez: Eu nunca andei. Já estive uma vez ou outra perto de dar umas voltas, mas acabou que não deu certo e, sei lá, um dia, quem sabe. Temos que estar sempre abertos ao que é novo. Veja essa experiência dos carros elétricos da Jaguar. Foi algo que deu muito certo para mim. NdG: Já que você falou dos carros elétricos, como você vê essa nova tecnologia, nas pistas e fora delas? O motor de combustão interna está com os dias contados? Sérgio Jimenez: Não vejo como algo assim, de dias contados, que vai acabar. Penso que os carros elétricos são mais uma possibilidade em um leque de possibilidades que se apresenta no meio do esporte, é mais uma categoria que está se abrindo e com certeza teremos mais. É uma questão de desenvolvimento. O automobilismo é um acelerador de desenvolvimento para a indústria automotiva. O carro com o qual corro, o I-Pace da Jaguar, ele poderia ser lançado com uma determinada autonomia e depois de tantos testes e trabalho de pista o carro chegou a 474 km de autonomia, uma das maiores do mercado e com alta performance. Inclusive saiu recentemente uma pesquisa da Jaguar mostrando que depois da nossa primeira temporada, a eficiência da bateria aumentou em 20%, fruto dos dados que eles colheram na categoria, como competição, e aplicaram nos modelos de rua. É mais um dos muitos desenvolvimentos que saíram das pistas para as ruas, em diversas categorias. Ainda falta infraestrutura para se atender uma frota considerável de carros elétricos fazendo, por exemplo, grandes viagens, mesmo em lugares mais desenvolvidos que o Brasil. Talvez leve algumas décadas, uns 30 anos ou mais para termos algo em termos de estrutura para suportar uma frota de veículos elétricos. NdG: Você hoje talvez esteja vivendo o melhor momento da sua carreira como piloto. Campeão do mundo, requisitado, reconhecido fora do país... o que seria ainda nos dias de hoje uma ambição para Sergio Jimenez? Sérgio Jimenez: Uma ambição que nunca vai sair da cabeça de um piloto é a de estar em um carro competitivo, em um campeonato forte e poder lutar por vitórias e pelo título. Andar por andar nunca vai ser o foco de um piloto. Ele quer, precisa estar competitivo para poder vencer. Acho que é esse o combustível, a ambição e que não é fácil, é uma luta grande e nada é certo. As vezes você vence uma corrida numa pista e, voltando lá no ano seguinte, com o mesmo equipamento, as mesmas condições e simplesmente não vira tempo. Isso é o automobilismo. Você sempre tentar estar na vanguarda, buscando, trabalhando, mexendo, fuçando para estar na frente. NdG: Você se enxerga, em algum momento, fora do cockpit e sentado na ilha do pit wall como chefe ou dono de uma equipe? O desenvolvimento que o esporte a motor faz pela indústria automotiva é enorme. o I-Pace deu um salto de qualidade. Sérgio Jimenez: Eu já estou fazendo um pouco isso, numa parceria com o Carlos Chiarelli, trabalhando no Endurance Brasil, na equipe de GT4 e ajudando ele como um chefe de equipe, com a vantagem de poder sentar e acertar os carros, estive em Daytona, na mesma categoria este ano, para dois pilotos e estou dando uns passinhos nessa direção. É algo que tem me dado prazer, estou gostando e por enquanto ainda estou dos dois lados do muro. Quando eu parar de correr vai ser algo que deverá fazer parte da minha vida, certamente. NdG: Com seus 25 anos de pista, que conselho você daria para um menino que um dia desejar começar como você? Sérgio Jimenez: Eu diria e estou dizendo por vocês, agora, que o automobilismo não é um esporte fácil, que você vai perder mais do que ganhar, mas se você gosta e quer, tem que ter resiliência, paciência, persistência, foco e ter a mente bastante aberta para as oportunidades e não ficar preso a uma coisa apenas. Fique ligado para o que está acontecendo à sua volta e agarre as oportunidades. As vezes não é aquele caminho que nós queríamos, mas que vai nos realizar como pilotos, que é nosso objetivo final: ser um piloto realizado. Isso pode levar mais tempo do que a gente gostaria, mas é o que é. |