Como continuamos sem ouvir o ronco dos motores e nem os silenciosos carros elétricos pelas pistas do mundo, o que me resta é contar algumas histórias - infelizmente esta não relacionada ao automobilismo - da minha longa carreira de jornalista. Em tempo: sou jornalista formado na faculdade, não como uns que criam um bloguinho xumbrega e se julgam capacitados a noticiar sem o mínimo de critério de apuração e outros pontos negativos. Claro que temos blogueiros bons e dignos de confiança, mas também temos os rotulados indevidamente como jornalistas, mas isso é assunto para outra oportunidade. Trabalhei durante décadas em vários jornais diários. Um deles foi O Globo, em São Paulo, onde tinha um amigo excepcional jornalista, tanto que ganhou alguns Prêmio Esso por reportagens excelentes. O cara é bom demais! O nome desse grande camarada e dono de um coração pra lá de generoso, a ponto de dar todo o dinheiro do bolso para um pedinte e depois me fazer pagar o almoço por estar sem grana. Ele é Amaury Ribeiro Jr. e tenho várias histórias dele que o próprio me contou ou os fotógrafos e motoristas que estavam com ele na luta pelas matérias, revelaram. Uma delas, talvez uma das mais divertidas aconteceu em Bauru, interior de São Paulo, e onde eles estavam cavando personagens para revelar fatos ocultos da época da ditadura militar que dominou o Brasil durante muito tempo. Ele, que sempre foi muito desligado, o fotógrafo Luiz Carlos Santos, que a gente conhecia como Ovão, e o motorista Carlos Batista, o Pé Vermelho, deram entrada num hotel na cidade e saíram para trabalhar. Na volta, saíram para jantar e depois de terminarem o Pé e o Luizão resolveram dormir, pois estava cansados, enquanto que o Amaury preferiu ficar mais um pouco ali no restaurante. Na manhã seguinte os dois que tinham ido dormir mais cedo se levantaram na hora combinada entre os três e foram para o café da manhã. Chegaram lá e não viram o Amaury. Normal, pois ele sempre era o último a chegar. Depois de algum tempo no local, resolveram ligar para o quarto do repórter, que tinha marcado outra entrevista para aquele dia. Ligaram da recepção e nada de ele atender. Bateram na porta do quarto e nada. Começaram a ficar preocupados e pediram para abrir o quarto dele. Aí a preocupação virou medo, pois o Amaury não estava ali e nem tinha desarrumado a cama. Imediatamente saíram do hotel para o lugar onde ele havia ficado. Na porta do hotel, a surpresa: Amaury estava chegando são e salvo! Ufa! Depois do alívio o próprio explicou, com seu jeito peculiar, o que tinha acontecido. Ele saiu do restaurante um pouco mais tarde e, sempre distraído, entrou no hotel que ficava ao lado daquele onde tinha feito o check in pediu a chave do quarto que estava no outro estabelecimento, recebeu, foi para o quarto, deitou e dormiu. Provavelmente com umas taças de vinho a mais na cachola. De manhã, levantou, foi tomar café e, só então, depois de saciada a fome e a sede, descobriu que o seu hotel era outro. Ninguém sabe como ele se lembrou do número do quarto e nem como - e aí está o pior - o atendente lhe entregou as chaves do quarto. Sorte de todos que estava vazio. Imaginem se estivesse ocupado por um marido ou namorado ciumento que chegaria depois e encontraria o sujeito ali na sua cama! Crime passional na certa!!! Esse é o Amaury, meu amigo e que hoje, afastado do jornalismo diário, faz matérias para um site e cuida de uma vinícola em Minas Gerais. Uma hora dessas conto outras que esse maravilhoso maluco aprontou! Milton Alves |