Olá pessoal que acompanha o site dos Nobres do Grid, Peço licença para fazer um desabafo. Sou mulher, negra, latina, brasileira e nordestina. Nasci no Brasil, no estado da Bahia, mas minhas origens são africanas e tenho muito orgulho da minha origem e minha cor. Sou de família pobre, trabalho desde os 12 anos de idade, começando como auxiliar de mecânico numa oficina em Camaçari (onde nem sei se eu auxiliava em muita coisa, mas lavei muita peça com Diesel). Estudei toda a vida em escola pública, indo estudar em bibliotecas por não ter livros e me formei na UFBA, também uma escola pública. Estamos vivendo um movimento mundial desencadeado por uma (mais uma entre milhares, milhões) morte de um negro, que já estava rendido e algemado, que não estava armado. Estou obrigada a cumprir quarentena em casa pela empresa onde trabalho, mas a minha alma está nas ruas. Vidas Negras Importam! Retomando o assunto da coluna do mês passado, vimos que o enxofre nos combustíveis fósseis são um problema no que sai do cano de descarga e nos seus efeitos na atmosfera, indo do ataque à camada de ozônio até a precipitação de chuva ácida, que leva danos as lavouras e há algumas décadas foi diagnosticado como causa do desgaste de estátuas e monumentos pelo mundo. Reduzir o teor de enxofre dos combustíveis. No caso dos combustíveis no Brasil, eu que trabalhei em oficinas mecânicas sei bem o que é isso, a nossa gasolina era de uma qualidade inferior ao que via produzido e comercializado pelo mundo, apesar da Petrobras ser uma gigante a indústria de petróleo e derivados. Eu lembro que os carburadores eram uma dor de cabeça pra gente e meus chefes diziam que nossa gasolina não servia nem para lavar os tanques. Eu não sabia bem o que isso significava naquela época, mas havia um certo exagero, apesar da má qualidade do combustível. No passado, carros importados para o Brasil eram “tropicalizados”: as fábricas reduziam a taxa de compressão para permitir a convivência dos motores com a gasolina brasileira, reduzindo desempenho e aumentando o consumo. Os carros fabricados no Brasil já saiam das linhas de montagem com seus motores preparados para o combustível de baixa qualidade, enquanto os que eram exportados tinham sua regulagem apropriada para o uso de um combustível de melhor qualidade. Não bastasse o problema da gasolina (principalmente) e posteriormente o Álcool (hoje chamado nos postos de Etanol – é quase isso, mas vamos deixar assim por enquanto), o produto que saía da refinaria por vezes não era o mesmo que chegava no tanque de combustível dos nossos carros. Não é raro neste trajeto ela sofrer “batismos”, com a facilidade da fiscalização ineficiente e o resultado é um produto adulterado com mais álcool, misturando solventes ou outros compostos orgânicos, prejudiciais ao rendimento e durabilidade do motor. A Octanagem não responde por tudo. Em sua resolução 807 (de 23/01) ela reclassifica a octanagem, que é seu poder de resistir à compressão antes (e durante) da combustão. A octanagem tem dois padrões de medição, o método de pesquisa (RON) ou método motor (MON). O método RON é utilizado na Europa. No Brasil adota-se hoje o mesmo que nos EUA, média entre RON e MON chamado IAD (Índice AntiDetonante). Nossa gasolina comum, por exemplo, tem octanagem 82 pelo índice MON e 93 pelo RON. A média entre as duas (MON+RON)/2 = 87, que corresponde ao índice IAD utilizado nos EUA e no Brasil. Sim, essa é a gasolina que atualmente é produzida nas refinarias brasileiras. Tem o mesmo padrão das gasolinas produzidas nos Estados Unidos. A octanagem (ou poder antidetonante) da gasolina era obtida com a adição de chumbo tetraetila, um aditivo que provoca lesões no organismo e proibido, hoje, em quase todos os países. No Brasil, foi substituído pela adição de álcool. No caso da octanagem, não houve exigência de mudança, apenas do padrão de classificação, porque nossa gasolina já tem elevados níveis (em função da adição de etanol): nossa comum, de 93 RON já está próxima da Super na Europa (95 RON) e a Premium corresponde à Super Plus europeia, ambas com 98 RON. Vale observar que nossas especiais (Podium, Octapro e Shell R) são as gasolinas comerciais com maior teor de octanagem do mundo, acima de 100 RON. Existem ainda as gasolinas especiais, com IAD de cerca de 95, o que corresponde a RON 102, mas não são encontradas em todos os postos. Outra conquista que contribuiu para um salto de qualidade da gasolina nacional foi a recente redução do teor de enxofre, de 800 para 50 ppm. Com isso ela subiu de patamar, mesmo com a exagerada proporção de álcool (começou com 12% em 1982, mas já atingiu hoje absurdos 27,5% – só para esclarecimentos, hoje nos Estados Unidos já temos estados que usam até 10% de etanol na gasolina) que aumenta o consumo por ter menor poder energético. A questão da densidade. Hoje, a gasolina brasileira tem octanagem é alta e o teor de enxofre é baixo, mas ela ainda tem o problema da densidade (relação entre massa e volume) variável. Está no entorno de 0,75 kg por litro, mas não existe a obrigatoriedade de um valor mínimo. A densidade de um combustível é determinante no rendimento de um motor: quanto maior, mais energia liberada em sua combustão. A ANP estabeleceu octanagem mínima e teor máximo de enxofre, mas enfrentava dificuldades para padronizar a densidade pois a Petrobras reagia, alegando variações no petróleo e na tecnologia de suas refinarias. Apesar de estar no padrão internacional, a gasolina brasileira ainda é taxada como ruim por causa da densidade. Para ter padrão internacional, faltava uma regulamentação específica para sua densidade. A da gasolina gira no entorno de 700 gramas por dm³. A do etanol em cerca de 750 g/dm³ (a da água é de 1 kg por dm³, ou 1 kg por litro). No caso do Brasil, com os exemplos de adulterações e baixa fiscalização, esse é um exercício é quase incontrolável. A eficiência de um motor depende da densidade do combustível: quanto maior, mais potência e menos consumo. Entretanto, à falta de uma regulamentação, nossa gasolina podia variar de densidade, embora quase toda fornecida pela Petrobrás. Com a possibilidade de ser importada e formulada por outras refinarias, parte da gasolina comercializada nos postos poderia ser formulada com densidade inferior, interferindo na potência e consumo. Nesse caso, o que se vê é uma guerra de lobbies nos corredores do congresso nacional com pessoas eleitas pelo povo nem sempre trabalhando pelos interesses deste povo. Neste artigo eu mencionei um outro elemento químico – o chumbo – que por décadas foi usado na gasolina, no composto chumbo tetraetila, para elevar a octanagem. Falaremos sobre ele no próximo mês. Muito axé pra todo mundo, Maria da Graça |