No final de 2020 encerra-se o mandato de Valdner Bernardo Oliveira à frente da Confederação Brasileira de Automobilismo. Após estes quatro anos, o Site dos Nobres do Grid foi buscar em diversos seguimentos ligados ao esporte a motor opiniões, avaliações do que teria sido o trabalho do mandatário do automobilismo brasileiro nos últimos quatro anos. Nessa primeira “rodada” , ouvimos profissionais de imprensa. Dinho Leme – Ex-Assessor de Imprensa da CBA Eu conheci bem o Dadai do tempo em que trabalhei com assessor de imprensa da CBA e ele era vice presidente da federação pernambucana, quando Cleyton Pinteiro assumiu e depois ele veio ser presidente de uma das comissões dentro da CBA antes de ser candidato à presidência. Depois que ele assumiu a presidência, eu deixei de ser assessor da CBA e acompanhei muito pouco do trabalho dele. Ele chegou a me pedir um projeto sobre as competições de Rally e eu me reuni com o pessoal do site “rally.br” e fizemos um trabalho muito grande que eles tentaram colocar em funcionamento, mas eu acho que não funcionou e o rally continua mais ou menos do mesmo jeito. Para mim, vendo de fora, eu não vi nada. Acho que a CBA não faz nada e não é só com o Dadai. Não fez com ele, não fez com o Cleyton [Pinteiro], não fez com o Paulo [Scaglione] esse pessoal são sempre os mesmos. Depois do Paulo o presidente se elege por causa das federações do norte e nordeste e os caras viajam para a F1, para eventos fora do Brasil, e tudo fica no mesmo. O pessoal aqui no sul e sudeste, onde tem automobilismo, não consegue fazer nada. Eu até ouvi que ele nem quer ser candidato à reeleição e nem tem hoje um candidato ao cargo, falam do Paulão [Paulo Gomes], Milton Sperafico, mas se sabe se tem. Tomara que venha alguma mudança, mas também estão falando desse cara lá de São Luis que está ligado ao kart [Giovanni Guerra] que é boa pessoa, mas o que tem lá? Um kartódromo? O automobilismo brasileiro vai ficar fora, continuar for, do automobilismo brasileiro? Não dá, né? Wagner Gonzalez – Assessor de Imprensa da FASP e Ex-CBA Eu diria que, comparando com o trabalho do seu antecessor, Cleyton Pinteiro, o trabalho do Dadai foi mais intenso. O Cleyton foi uma nulidade. Houve um trabalho muito interessante no kartismo, muito em parte devido ao trabalho do Pedro Sereno, Presidente da Comissão Nacional de Kart e o esforço isolado do pessoal da velocidade na terra. Eu não me lembro em particular de alguma atividade desenvolvida neste período que tenha sido marcada pela atuação do Dadai como presidente da Confederação nesses três anos e meio que se passaram. Diante do que foi o período pré-eleitoral, que foi bastante polarizado, nada de relevante aconteceu depois da eleição. Nenhum campeonato brasileiro de automobilismo cresceu neste período e nenhum dos problemas que ele herdou foram sanados. Não existe uma diretriz na CBA que seja plenamente conhecida ou divulgada, extremamente profícua. A gente não lembra de alguma coisa nova que aconteceu nesse tempo todo. Houve tentativas de se fazer um trabalho, mas foi muito mais da parte de iniciativas isoladas do que de uma ação da CBA. Essa escola de kart que se fala tanto, eu não vejo assim nenhum resultado relevante. Literalmente, não vejo nenhuma melhoria em relação ao que foram os anos do Cleyton [Pinteiro] à frente da CBA. Américo Teixeira – Portal motorsport.com O Dadai é uma pessoa de bastante cultura, bastante boa vontade, que procurou fazer alterações que ele considerou necessárias, mas eu creio que ele próprio não está satisfeito com sua gestão por ter como objetivo fazer muitas coisas, tentou fazer muitas delas, mas acabou não conseguindo por fatores que se somam. Eu elencaria três fatores como obstáculos no seu planejamento: Primeiro, a dificuldade que o “golpe civil” que o Brasil sofreu em 2016, que bagunçou por demais a economia, somado aos obstáculos enormes na economia mundial, aos rumos econômicos do então governo e afetado pela a queda brutal das comoditties além do boicote ao governo liderado por Aécio Neves. Isso mexeu na economia e isso interferiu diretamente no automobilismo e na gestão da CBA. Os números provam isso e pode parecer petulância da minha parte dizer isso e pode ofender a quem é de direita, mas não é uma questão política. É o efeito prático sob uma análise objetiva. O segundo é a dificuldade de se conseguir que as federações trabalhem em uma única direção. Não vai aqui crítica a A ou B, mas apenas uma constatação. A CBA não é um grupo de pessoas, profissionais. que trabalham pelo automobilismo, mas um grupo de pessoas, profissionais, que fazem da CBA uma ferramenta a adicionar ao esforço que ele tem pra sobreviver e ganhar dinheiro. Não é errado ganhar dinheiro com automobilismo, muito pelo contrário. Mas quando você é membro de uma federação e com voz numa confederação, você está trabalhando e usando isso para cuidar dos seus interesses particulares, você está no lugar errado. Monte seu escritório, preste serviços, seja promotor, mas não use a CBA ou a federação em causa própria. Isso é algo que reflete o todo que é a sociedade brasileira. E o terceiro ponto é a pouca ou quase nenhuma credibilidade da CBA no sentido de ser um parceiro técnico e/ou econômico de grandes eventos por parte de grandes empresas. A CBA perdeu credibilidade na gestão do Cleyton Pinteiro por esta passar por algumas situações pouco confortáveis, com o presidente aparecendo na mídia como participante de negócios pouco transparentes e na sua gestão perdeu-se Jacarepaguá. Não é uma questão pessoal, é um fato. O nível de credibilidade que havia em relação à CBA até a saída do Paulo Scaglione era um, depois, foi outro. Os esforços do Dadai não foi suficiente para recuperar essa credibilidade. Essa gestão ainda teve contra ela um ano como este onde estamos enfrentando uma situação como a que estamos vivendo que pode ser considerado como uma no praticamente perdido. Então eu posso dizer que é uma gestão com resultados medianos. Aquém da expectativa, sem culpa de A ou B, mas sofrendo as dificuldades que o Dadai, como dirigente inexperiente no âmbito do automobilismo nacional também sentiu dificuldades em alguns momentos. Se for para dar um conceito, eu diria que foi regular. Não foi boa ou ótima, mas não foi nenhuma porcaria. Seria preciso uma reorganização da CBA e ele ter outro mandato para fazer o que ele gostaria de fazer, mas não me parece que ele esteja disposto a empenhar mais 4 anos em um novo mandato. Claudio Carsughi – Dispensa apresentações Eu costumo usar de um raciocínio que é: quando alguém começa um trabalho, as expectativas eu deixo para depois deste ter sido concluído para poder fazer um melhor julgamento. É clero que o trabalho de Waldner Bernardo à frente da Confederação Brasileira de Automobilismo teve fatos positivos e negativos. A meu ver, no todo, os fatos positivos foram superiores aos negativos. Mas gostaria de salientar que esta visão é uma visão muito à distancia, uma vez que no automobilismo eu tenho me concentrado sobretudo na Fórmula 1. Nas outras competições, eu procuro acompanhar algo, tanto aqui como no exterior, mas sem seguir o dia a dia, seguir corrida por corrida. Tenho observado competições como a Stock Car no Brasil e DTM na Europa, mas sem o mesmo envolvimento, sem a mesma profundidade. Assim, não creio que meu ponto de vista seja algo tão profundo, mesmo não sendo algo aleatório. Julgamentos sempre apresentam particularidades que apenas com um acompanhamento profundo pode se fazer uma avaliação correta. Daniel Betting – Redator do Portal Motorsport.com.br O que eu sinto mais falta não só no mandato dele, mas de todos os outros que o antecederam, é a falta de preocupação na base. Falta um incentivo na base do automobilismo do Brasil. Acho que faltou empenho nisso. Quando eu falo em base, não é só o kart. É um degrauzinho acima, uma categoria para quando o pessoal sai do kart ficar por aqui para aprender algo nos monopostos, como foi com a Fórmula Futuro alguns anos atrás. Categorias como essa, a um custo possível, faz falta. Fazer a base aqui no Brasil e não ter que ir para a Europa ou os Estados Unidos. O automobilismo fora do Brasil, com a cotação do Dolar como está tem tornado a possibilidade dos pilotos irem para o exterior mais difícil e se tiver como fazer um ou dois anos de aprendizado por aqui, fica mais barato e o piloto pode se desenvolver antes de ir buscar uma carreira internacional. Luc Monteiro – Narrador de corridas em várias categorias Eu vi uma gestão bastante empenhada de uma forma especial em relação ao kart, conseguindo por algumas competições de kart na televisão, o que foi muito importante e que merece destaque. Tivemos também, não por obra e graça da CBA, mas com uma ação importante da confederação, o estabelecimento da categoria Turismo Nacional, uma categoria que precisava acontecer e com o empenho do Ângelo [Corrêa], o promotor da categoria, com o apoio da CBA essa lacuna que estava vaga no cenário do automobilismo nacional, e eu vi isso bem de perto porque participei de algumas coisas. A velocidade na terra também foi um seguimento que recebeu uma atenção muito grande da CBA nos últimos 4 anos, que também teve suas corridas indo para a televisão, atendendo a um público que tem tudo a ver com a modalidade. Mas é uma gestão que ficou devendo um pouco em algumas questões, como o seguimento de arrancadas, que era uma grande força no automobilismo e ele deu uma encolhida, em parte pelos acontecimentos relativos a Curitiba nos últimos anos, o que concentrou este tipo de competição basicamente ao Rio Grande do Sul. Mas essa perda é mais responsabilidade dos promotores do que da CBA. Como jornalista e automobilista, eu não faria críticas à gestão do Dadai, eu faria elogios. Teve campeonato que cresceu, teve campeonato que sumiu, mas isso não é algo que seja responsabilidade exatamente do presidente da CBA, nos mandatos anteriores isso também aconteceu. Ninguém vai conseguir acertar todas e ter só crescimento. É uma gestão que vi com simpatia. O Dadai é uma pessoa que me causa boa impressão e qualquer um que estivesse no seu lugar ia ouvir críticas. Leonardo Marson – Editor da Revista Racing De positivo eu vi que a CBA fez com que os campeonatos de kart ganhassem visibilidade, com as competições tendo bastante pilotos inscritos, sendo transmitidos pela televisão e também pela internet, algo que não havia antes. Isso facilitou muito também o trabalho dos jornalistas, expôs marcas e patrocinadores além dos pilotos. O que vi como negativo foram os processos e protestos em e pós-corrida. Esses precisam melhorar para que tenhamos um pouco menos de confusão nas questões de resultados. Sabemos que a CBA vem trabalhando nisso, no treinamento de pessoal, mas ainda estamos tendo problemas. A demora em decidir penalidades em um caso saiu dois dias depois. Casos de mudanças horas depois são até frequentes. Um outro ponto que também deixa a desejar é que depois do kartismo não há nenhuma passagem para o piloto interessado em correr no exterior ganhar alguma experiência, especificamente no casso das categorias de Fórmula, que não temos mais no país. A F4 não saiu do papel, a F3 não conseguiu grid, e mesmo com a situação atual, de termos uma geração de pilotos “batendo na porta” da F1, tem sido uma coisa que é mais fruto de esforço próprio e de empresários dos pilotos do que da CBA. Luca Bassani – Sócio proprietário da Car Magazine Eu me sinto muito à vontade pra falar por ser amigo do Dadai e de várias pessoas no automobilismo. Eu considero que sempre a intenção é muito boa e tal, mas a gente não pode uma avaliação muito simplista porque a gente sabe que o Brasil vem passando por um período de crise desde antes do coronavírus. São 3 ou 4 anos de dificuldades e eu sei da dificuldade de empreender nessa área de automobilismo onde tudo é muito caro e eu, por exemplo, não posso fazer julgamento de valor a respeito do kart, de onde eu estou longe há mais ou menos 10 anos e aí não tem como falar com critério. O que posso dizer é que sinto falta de uma categoria de Fórmula que coloque o piloto em atividade aqui antes dele ir tentar uma carreira fora do Brasil. Isso é o que mais falta no nosso automobilismo. Houve um fortalecimento do automobilismo regional, algo que acompanhamos porque o nacional está muito caro. Não vou comentar aqui de Stock Car nem de Porsche Cup, essa então, é algo bem diferente, mas eu sinto falta daquela época maravilhosa da Fórmula Renault, de 2002 a 2006 e depois ainda tivemos umas três temporadas boas de Fórmula 3, com os pilotos que fizeram a Fórmula Renault fizeram uma excursão na Europa e se saíram muito bem, alguns estão lá até hoje, como o Lucas Di Grassi. Falta essa categoria de base aqui no Brasil, uma F4 e ou uma F3. A gente torna a vida do piloto que sonha com a F1 impossível. Ele tem que sonhar com Stock Car, com alguma coisa diferente. Essa, a meu ver, deve ser a principal missão da CBA no próximo mandato: criar as condições que estão faltando para o piloto brasileiro permanecer mais uma ou duas temporadas no Brasil e chegar mais preparado na Europa. Acho que o Dadai trabalhou com foco, mas também com limitações. Como estou mais tempo focado com a Car Magazine e agora com o site (www.carmagazine.com.br), tenho como dizer que espero agora, do próximo presidente ou do próximo mandato, que busquem fazer essa categoria de monopostos no Brasil. |