No passado dia 22 de novembro, cumpriram-se 25 anos sobre o único campeonato do mundo vencido pelo escocês Colin McRae, um dos pilotos mais carismáticos da história dos ralis. Tão veloz como espectacular - mesmo quando se despistava! - ele ficou sinómino com a Prodrive e o seu modelo, o Subaru Impreza, que ajudou a divulgar pelo mundo fora. O mais espantoso nesse campeonato do mundo de 1995 é que ele não só bateu a concorrência externa de Toyota e Ford, como também a interna, especialmente Carlos Sainz, que pretendia alcançar o seu terceiro campeonato do mundo, depois de o ter conquistado em 1990 e 1992. Nesta ocasião em que recordamos McRae, essencialmente iremos falar de uma competição que teve de tudo, incluindo um escândalo que atingiu a Toyota, forçando-a a sair da competição. E claro, como ele conseguiu... não bater tanto e triunfar sobre uma forte concorrência. "COLIN McCRASH!" Nascido a 5 de agosto de 1968, Colin McRae tinha "pedegree" automobilistico na familia: seu pai, Jimmy McRae, tinha sido campeão britânico por cinco vezes, entre 1981 e 88, com carros como o Ford Escort MkII, o Opel Manta 400 e o MG Metro 6R4. Também correu em alguns ralis do campeonato do mundo, tendo como melhor resultado um terceiro lugar na edição de 1983 do RAC Rally, a bordo de um Opel Manta 400 oficial. Seu irmão mais novo, Alistair, seguiu os passos do pai e do irmão em equipas oficias como Hyundai e Mitsubishi, embora com menos sucesso. Começou a correr aos 18 anos, no campeonato local, a bordo de um Talbot Sunbeam, e depois exprimentou outros carros como o Sierra Cosworth 4x4, antes de ele ter sido contratado pela Subaru, em 1991, para correr no seu modelo, o Legacy. Ao lado de consagrados como Markku Alen, começou por mostrar resultados, mas o seu estilo de condução "louco", comparado a Ari Vatanen, granejou adeptos. E quando ele alcançou a sua primeira vitória, em 1993, no Rali da Nova Zelândia, ainda no Legacy, foi um triunfo popular. Duas vitórias em 1994, de novo na Nova Zelândia e no RAC, já com o Impreza, o colocaram no quarto lugar do campeonato do mundo, com 49 pontos. Para a temporada seguinte, a Prodrive, que preparava os Impreza, tinha colocado McRae a correr em todas as provas do campeonato, com Carlos Sainz a seu lado em todas as provas. Outros pilotos estavam nessa esquadra, como o italiano Piero Liatti, o neozelandês "Possum" Bourne, e um jovem britânico em ascensão, de seu nome Richard Burns. Contra eles, a grande concorrência era contra a Fors e os japoneses da Mitsubishi e sobretudo, da Toyota.
UM CAMPEONATO PEQUENO Se as pessoas dos ralis podem reparar que em 2020 temos um campeonato muito pequeno devido a pandemia, então imaginem quando há 25 anos a FIA decidira que, a pretexto de curtar custos, o Mundial teria apenas oito provas, fazendo rotação com outras oito. Nesse ano, o Mundial começava no Monte Carlo, para depois ir à Suécia, Portugal, Córsega, Nova Zelândia, Austrália, Catalunha e o RAC, na Grã-Bretanha.
Em paragens monegascas, entre os dias 22 e 26 de janeiro, McRae começava mal, desistindo, e Sainz aproveitou bem ao triunfar, na frente do Ford Escort de Francois Delecour e do Toyota Celica de Juha Kankunen. Duas semanas depois, na Suécia, os Mitsubishi Lancer dominam, com o local Kenneth Eriksson a ficar na frente do finlandês Tommi Makinen, com Thomas Radstrom a fechar o pódio, e os Subaru a não chegarem ao fim. McRae tinha zero pontos ao fim de duas provas, e parecia não ter muitas chances de recuperação. Na terceira prova, o Rali de Portugal, Sainz e Kankkunen andaram em duelo pela vítória, para no final, o piloto espanhol levar a melhor. Colin McRae conseguia os seus primeiros pontos, acabando a prova na terceira posição, na frente do Toyota do alemão Armin Schwartz. Parecia que o piloto espanhol estava consolidado no comando do campeonato, mesmo quando, dois meses depois, Didier Auriol venceu o Tour de Corse, na frente do seu compatriota Francois Delecour e do italiano Andrea Aghini. Sainz fora quarto, o melhor dos Subaru, na frente de McRae. Aqui, por esta altura, Sainz comandava com 50 pontos, contra... 20 do piloto escocês. Mas antes de competirem no Rali da Nova Zelândia, no final de julho, Sainz lesiona-se quando fazia uma corrida em mountain bike, que o impediu de participar nessa prova. McRae, vencedor nas suas edições anteriores, aproveita muito bem essa ausência e vence a prova, reduzindo a diferença para meros dez pontos. Kankkunen foi segundo e Auriol terceiro, nos seus Toyotas, e também recuperavam terreno. E na Austrália, apesar do vencedor ter sido o Mitsubishi de Kenneth Eriksson, McRae foi segundo, ficando na frente de Kankkunen. Sainz, já recuperado das lesões, não termina o rali, e os quinze pontos conseguidos são mais do que suficiente para alcançar o espanhol. Ms que liderava, era Kankkunen, no seu Toyota, e parecia que seriam estes japoneses os triunfadores do campeonato. Mas o que ninguém sabia era que... eles tinham um truque. E a FIA, quando soube, ficou muito, mas muito irritada. O TURBO QUE OS TRAMOU Deram-se muitas mudanças para a temporada de 1995 do Mundial de Ralis. O principal foi que os restritores de turbo tinham sido reduzidos de 38 milimetros de diâmetro para 34 milimetros, reduzindo a potência, os pneus slicks foram banidos e o formato dos pisos - fosse de terra ou asfalto - teve de ser homologado. Essas regras, á partida, foram seguidas por todas as equipas de fábrica: Toyota, Mitsubishi, Ford e Subaru (Prodrive). Tudo muito bem, mas aparentemente, a Toyota usava um truque para que não perdesse potência nos seus carros, que era de mexer nos seus turbos. E até ali, tinha tudo corrido bem, porque um dos seus pilotos estava a liderar. E esperavam ser os melhores na Catalunha, uma prova que Sainz queria vencer, pelos motivos mais óbvios: corria em casa. Ms quem foi para a frente tinha sido Kankkunen, e os Subaru iam loucos à sua procura quando este se despistou e abandonou no segundo dia. Sainz liderava, seguido de McRae, e a ideia na Prodrive era que mantivessem as posições. Mas a ordem de equipa aconteceu o mais tarde possivel, porque... McRae odiava isso. Pior: o escocês ficou com o comando a quatro especiais do fim. E quando deram a ordem, ele simplesmente... ignorou. Teve de ser o próprio David Richards a dizer que tinha de abdicar da vitória para que acontecesse, e ele estava fulo. Lá cedeu, e a dobradinha acontecia, com o espanhol na frente. E com isso, estava absolutamente igualados quando encarariam a última prova do campeonato, o Rally RAC, na Grã-Bretanha. MAS A DUAS SEMANAS DA PROVA, O ESCÂNDALO REBENTA
A FIA descobre irregularidades no turbocompressor de Didier Auriol e vai à inspeção, descobrindo a marosca da equipa. E não perde tempo em ser implacável: não só desqualifica o francês - tinha sido o Toyota sobrevivente na chegada do rali espanhol - como exclui a marca do campeonato. Os pilotos mantêm os pontos, mas são desqualificados na mesma na classificação geral, e essencialmente a disputa se torna num duelo entre Subaru e Mitsubishi. Os Toyota, inicialmente inscritos, não alinham na prova britânica. Mas o rali britânico não é isento de emoção. Sainz partiu na liderança, enquanto os carros de Tommi Makinen e de Kenneth Eriksson desistem devido a acidente, enquanto Colin McRae tem um furo e perde cerca de dois minutos a mudar o pneu. Contudo, em vez de baixar os braços, regressa à estrada com motivação extra. E a sua determinação foi tal que no final do segundo dia... bate numa pedra e danifica a suspensão. Mas as reparações foram feitas e ele pode continuar, dando tudo. No final do terceiro dia, McRae tirou o comando a Sainz e foi-se embora, chegando à meta com 36 segundos de vantagem sobre Sainz, o segundo, com o terceiro Subaru, o do jovem Richard Burns, a competar o pódio. Com esse resultado, o escocês torna-se campeão do mundo, o primeiro britânico a alcançar tal proeza. E tudo isto aos 27 anos. PODERIAM TER SIDO MAIS, MAS... A temporada de 1996 poderia também ter sido a de Colin McRae, mas por esta altura surgiu Tommi Makinen e uma Mitsubishi que já tinha lançado desde há algum tempo (desde 1992) o seu modelo Lancer. Agora na evolução IV, a quarta, o finlandês dominou o campeonato, vencendo com 123 pontos e cinco vitórias, contra as três de McRae e uma de Sainz, que tinha saído da Subaru e ido para a Ford. A partir de 1997, apareceram os World Rally Car, que continuam até hoje, mas apesar de McRae ter dado o seu melhor, e de no ano 2000 se ter transferido para a Ford, não mais chegou ao título mundial. Sua última temporada completa foi em 2003, pela Citroen, onde voltou a correr com Carlos Sainz, mas ambos foram superados por um jovem chamado Sebastien Loeb. Em 2004, aventurou-se noutras paragens, desde o Dakar até às 24 Horas de Le Mans, e pretendia desenvolver um protótipo automóvel, apresentado em 2006 quando sofreu o seu acidente fatal, a 15 de setembro de 2007, em Lanark, na Escócia. Tinha 39 anos. Saudações D’além Mar, Paulo Alexandre Teixeira Visite a página do nosso colunista no Facebook. |