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O final melancólico de Juan Pablo Montoya na Mclaren PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 24 June 2021 20:28

Julho é o mês onde, há quinze anos, acabava de forma melancólica a passagem de Juan Pablo Montoya pela McLaren, e claro, pela Formula 1. No inicio desse mês, em 2006, o piloto colombiano decidiu abandonar de forma abrupta a equipa de Woking e rumou aos Estados Unidos para tentar entrar e triunfar na NASCAR, uma competição que nunca foi benéfica para os estrangeiros.

 

Contudo, esta é uma altura para falar sobre a aventura do Montoya numa das maiores equipas da altura, correndo contra Kimi Raikkonen, e até tinha tudo para dar certo. Contudo, os conflitos de personalidade com Ron Dennis, bem como alguns acidentes e incidentes precipitaram o final da relação que nunca pareceu ser ideal, mas quando dava certo, era simplesmente magnifico. Uma relação que, se existir algum comparativo, pode ser feito a Carlos Reutemann quando passou na Ferrari, por exemplo.

 

Mas este mês falemos dela, e apesar de tudo, não houve ressentimentos, porque ele nesta temporada, andou num dos carros da Schmidt McLaren nas 500 Milhas de Indianápolis, algo que já não fazia desde 2017.

GRANDES ESPERANÇAS

Montoya chega à McLaren depois de quatro temporadas ao serviço da Williams-BMW. O colombiano, então com 29 anos, tinha atrás de si um caminho de sucesso nos monolugares que tinha começado a ser trilhado em 1994 na Barber Saab Pro Series, e teve o seu auge na vitória na Formula 3000, em 1998, antes de rumar para a CART e ganhar em 1999, pela Chip Ganassi, no lugar de Alex Zanardi, que tinha ido para a Formula 1. Depois de duas temporadas nas categorias americanas, onde pelo meio triunfou nas 500 Milhas de Indianápolis, foi chamado para a categoria máxima do automobilismo em 2001, construindo uma reputação de ser veloz e ousado, especialmente quando conseguiu ultrapassar de forma agressiva Michael Schumacher no inicio do GP do Brasil de 2001, numa passagem no S de Senna. E pouco meses depois, em Monza, conquistou a sua primeira vitória.

 

 Depois de não ter conseguido chegar à F1 após correr na F3000, consagrado nos EUA, Montoya voltou pra Europa em grande estilo.

 

O conjunto Williams-BMW era potente e veloz, e muitas das vezes lidava contra Ralf Schumacher, que estava no seu auge. E claro, ambos eram os maiores opositores de Michael Schumacher, que dominava na Formula 1 graças à Ferrari. Em 2003, lutou pelo título mundial até à penúltima prova, acabando no terceiro posto, com 82 pontos, menos onze que o do campeão, Michael Schumacher. E em 2004, na qualificação do GP de Itália, fez a volta mais rápida até então, a uma média horária de 262,242 km/hora, um recorde que demorou quinze anos a ser batido, e na altura foi por Lewis Hamilton, no seu Mercedes.

 

Mas nessa temporada, desenvolvimentos na Williams fizeram com que a relação entre piloto e equipa não estivesse tão harmoniosa assim. Primeiro, o nariz que a equipa usou, embora reconhecível, não era eficaz, e o colombiano nunca gostou, e depois, a decisão de assinar pela McLaren na segunda metade de 2003, fez com que ele não tivesse acesso aos melhores materiais, embora também o facto da BMW ter decidido que iria embora da equipa no final da temporada de 2005 – tinha feito uma proposta para comprar a Williams, algo que Frank Williams recusou – também tinha contribuído para isso.

 

 Após chegar perto do título pela Williams, Montoya mudou-se para a McLaren na busca de conquistar o título mundial.

 

Assim sendo, Montoya quis deitar tudo para trás quando partiu rumo a Woking, para a sua segunda equipa na Formula 1. E estava disposto a fazer disto um novo capitulo da sua carreira, uma de esperança... mas acabou sendo de pesadelo.

UMA FALSA PARTIDA

Juan Pablo Montoya podia saber guiar, mas não era o piloto em melhor forma do mundo. Muitos até acusavam que a sua atitude desleixada em relação à forma física o impedia de ser tão veloz quando devia, e assim sendo, começou a fazer dieta e exercício físico. Mas mesmo se a parte da forma fisica era cuidada, do lado do chassis, poderia ter a confiança de Adrian Newey, que desenhava desde 1997 os chassis da marca de Woking. Mas em 2005, o McLaren MP4-20 não parecia ser o melhor chassis que o mago aerodinâmico tinha desenhado, e para piorar as coisas, Montoya começou a queixar-se de problemas de direção. Ele achava que o volante “não estava ligado com o carro”.

 

 Naquele ano, em Montreal, era visível que o carro pecava em desempenho e Montoya cobrava isso da equipe.

 

Apesar de tudo, o começo da temporada nem foi mau de todo, com um sexto lugar em Melbourne e um quarto posto na corrida seguinte, em Sepang, na Malásia, resultados bem melhores que os alcançados por Kimi Raikkonen. Mas poucos dias depois, a equipa anunciou que Montoya se lesionara a jogar ténis e não poderia participar nas corridas do Bahrein e Imola. Contudo, a realidade parecia ser diferente, porque na realidade, ele estaria a andar de bicicleta e lesionara o tornozelo e não o ombro, como se tinha dito.

 

O problema é que isso tinha causado um enorme mal estar dentro da McLaren, uma equipa altamente profissional, e Ron Dennis, um patrão absolutamente exigente. O próprio Newey disse que "ele se desgraçou quando fraturou o tornozelo a jogar ténis depois da sua performance na Malásia"...

 

Quando regressou, em Barcelona, as coisas não ficaram muito melhores, porque o carro tinha tendência para subvirar, ainda mais quando corria nos tempos da Williams, e a meio da temporada, tinha apenas 16 pontos, contra os 45 que Raikkonen tinha alcançado até então. É certo que incidentes mecânicos e elementos externos o tinham impedido de conseguir mais - como por exemplo o infame incidente dos pneus Michelin em Indianápolis - mas quando a Formula 1 chegou a Silverstone, no GP da Grã-Bretanha, tudo deu certo.

 

 

Em Silverstone, Montoya consegui um lugar na segunda linha, embora pior que o seu companheiro Raikkonen. Mas naquele dia estava calor, e o colombiano conseguiu passar Jenson Button nos primeiros metros, para depois ir às boxes um pouco mais cedo, na volta 21, para no regresso, colocar voltas mais velozes no sentido de superar Fernando Alonso quando este foi às boxes para o seu primeiro reabastecimento. Depois, começou a distanciar do espanhol até ao seu segundo reabastecimento, na volta 45, onde regressou no comando e lá ficou até ao final, 2,7 segundos na frente de Alonso e numa das melhores demonstrações da sua condução.

 

Melhor ainda foi na Alemanha, onde por causa de um desposte, não conseguiu marcar um tempo e partia da última posição da grelha. Logo na primeira volta, ganhou nove lugares e ficou a marcar o seu ritmo até ao final do seu segundo reabastecimento, onde foi capaz de passar Jenson Button e ficar com o segundo lugar, o seu segundo pódio consecutivo. Depois conseguiu novo pódio, na Turquia, com um terceiro lugar, e em Monza, um lugar onde sempre gostou de acelerar, ajudou a colocar os carros da McLaren na primeira fila. E no dia da corrida, dominou os acontecimentos, ficando na frente dos Renault de Alonso e Giancarlo Fisichella.

 

 O temperamento pouco político de Mondoya conflitava com a "linha dura" de Ron Dennis e aquilo não iria muito longe.

 

Contudo, um novo pódio foi desperdiçado na prova seguinte, em Spa-Francochamps, quando na volta 40 se atrapalhou com o Williams do atrasado Antonio Pizzonia e acabou com ambos fora da pista. Ele era segundo, e tudo isso permitiu que Tiago Monteiro voltasse a pontuar!

 

Mas dos maus resultados, apareciam os melhores. E em Interlagos, o colombiano, que partia de segundo, atrás de Fernando Alonso, conseguiu levar o carro ate ao final, ficando novamente na frente de Kimi Raikkonen, na primeira dobradinha em cinco anos e meio.

 

E apesar das duas últimas corridas da temporada terem acabado em desistência - o abandono na China foi por uma razão inusitada: uma tampa de esgoto se soltou e danificou o motor - os 60 pontos conquistados deram-lhe o quarto lugar do campeonato, embora tenha ficado a muito pouco de arrebatar o título de Construtores, porque ficaram a nove pontos do primeiro lugar.

ENCURRALADO

Apesar dos bons resultados, cedo se soube que Fernando Alonso iria para a McLaren em 2007, e nada se sabia muito bem do destino de Kimi Raikkonen. Na realidade, o finlandês já estava bem encaminhado para ser piloto da Ferrari nessa temporada, logo, o colombiano até poderia ter uma chance de ficar, se desse uma boa temporada. Mas o seu temperamento não era muito apreciado em Woking, e não esqueceram do que acontecera com a história do seu acidente.

 

 

Os primeiros resultados do ano foram marginalmente melhores do que no ano anterior, e um terceiro lugar em Imola até deu algum alento, mas as suas performances mercuriais, aliados a problemas no MP4-21 não ajudaram muito nas performances do colombiano. E em maio, o segundo lugar no GP do Mónaco, atrás do vencedor Fernando Alonso, mostravam que até conseguia tirar o melhor do carro e das circunstâncias.

 

O que o resultado não contava era que Montoya tinha herdado a posição, pois Raikkonen e Webber tinham tido problemas de motor na segunda parte da corrida. Claro, os 23 pontos alcançados o deixavam no quinto posto, a quatro de Raikkonen, mas ele já caminhava em fio muito fino. E as corridas americanas foram um desastre para ele.

 

Primeiro, em Montreal, onde de sétimo, partiu muito bem e fez uma excelente manobra para superar Michael Schumacher, para logo a seguir, colidir contra o Williams de Nico Rosberg, terminando ali a sua corrida e ser chamado o Safety Car para recolher os pedaços. E o pior veio em Indianápolis, quando nem andou pouco mais de duas curvas até se envolver na carambola que eliminou o seu companheiro de equipa, mais o BMW Sauber de Nick Heidfeld. A razão foi simples: queria fazer uma ultrapassagem arrijada para conseguir superar o seu companheiro de equipa e subir mais alguns lugares. O que conseguiu foi mais uma conta gigante para Ron Dennis pagar e o fim da paciência.

 

 Ao ver que não tinha chances de ir para uma equipe capaz de permitir que ele pudesse disputar o título, Montoya voltou aos EUA.

 

Por esta altura, Montoya já negociava o seu futuro: a partir de 2007, iria regressar aos Estados Unidos, para a NASCAR, a bordo da Chip Ganassi. A assinatura já tinha sido feita, mas o anuncio oficial iria ser feito tempos mais tarde. Mas algo dentro da estrutura deve ter-lhe dito que a partir daquele ano, não teria mais chance de correr por ali, porque a 9 de julho, ele anunciava que correria em 2007 na NASCAR, e dois dias depois, a McLaren anunciava a saída do colombiano, com efeito imediato. Para o seu lugar foi o espanhol Pedro de la Rosa, mas chegou-se a falar que Ron Dennis queria meter de imediato o piloto que estava na GP2, Lewis Hamilton, que já se sabia que teria lugar a partir da temporada seguinte.

 

Anos depois, no podcast "Beyond the Grid", falou sobre esse período da seguinte forma:

“Honestamente, não tinha a certeza do que ia acontecer e onde estaria no ano seguinte. Apareceu a possibilidade da NASCAR e era um contrato de cinco anos e pensei ‘por que não?’ Quando fiz isso, estava a caminho da próxima corrida e o Ron Dennis disse-me que a minha cabeça estava noutro lugar e que eles não queriam que continuasse, eu disse ‘OK’”, explicou o piloto.

 

E até Bernie Ecclestone o tentou persuadir a voltar atrás.

“O Bernie chamou-me uma vez. Perguntou por que estava a sair, ele disse que me queria de volta. Eu disse-lhe que tinha assinado um contrato de cinco anos, que sentia muito. Disse-lhe que o único lugar que poderia ir era para a Ferrari, mas com o Michael [Schumacher] lá, eu não queria ser segundo piloto”, comentou no mesmo poscast.

 

Uma coisa é certa: a sua carreira na Formula 1 tinha acabado, depois de seis temporadas, sete vitórias, 13 pole-positions, 12 voltas mais rápidas e 30 pódios.

 

 Contratado por Roger Penske, em 2015 Montoya venceu as 500 Milhas de Indianápolis.

 

Quinze anos depois da sua passagem, depois de uma aventura relativamente bem sucedida na NASCAR, um regresso à IndyCar onde venceu as 500 Milhas de Indianápolis em 2015, e uma carreira na IMSA, Montoya não sente ressentimento pela primeira passagem pela McLaren. Em 2021, voltou à equipa para as corridas em Indianápolis, e dá-se bem com Zak Brown, o novo homem forte da equipa. No final, tale pode até não ter sido a equipa, mas sim certas pessoas que não conseguiam lidar com o seu estilo... mercurial. Talvez. 

 

Saudações D’além Mar,

 

Paulo Alexandre Teixeira

 

 

 

 

Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid.