Quando escreveu “Os Sertões”, o carioca (na verdade, fluminense, já que nasceu em Cantagalo-RJ) Euclides da Cunha registrou uma frase que traduz bem o que é o espírito deste povo que luta contra todo tipo de adversidade para seguir em frente, vivendo e enfrentando os desafios do dia a dia. Realmente, “O nordestino é, antes de tudo, um forte”. No automobilismo, os nordestinos lutam contra a distância geográfica e o isolamento da mídia do “Brasil” que não mostra nada dos que se faz em termos de automobilismo nos principais veículos de comunicação e – pior – nem nos sites dos grandes jornalistas especializados os irmãos do nordeste costumam ser sequer citados. Os Nobres do Grid, no seu voluntário trabalho para trazer o que é o automobilismo em todas as partes do país que não são mostradas pelos meios convencionais e suas estrelas do meio jornalístico esportivo, foram ao Ceará, estado com um automobilismo forte... e quase anônimo. Mas bem feito e acessível para quem quiser, não apenas correr por lá, mas para ser o esteio de algumas categorias que podem se tornar facilmente, sucesso em todo o país. Possuidor de um autódromo, o Autódromo Internacional Virgílio Távora, de um kartódromo, o Kartódromo Julio Ventura, O automobilismo cearense vive – ou sobrevive – da perseverança (ou teimosia, para alguns), da criatividade e da inteligência dos pilotos, projetistas, construtores e apaixonados que não o deixam ficar à míngua como é na maior parte do Brasil. Na verdade, o automobilismo cearense tem uma vida própria e uma vida ativa, com categorias originais, independentes do que se faz no restante do país e com grids cheios, sendo um exemplo de como se é possível fazer automobilismo bom, competitivo e financeiramente acessível. A Força da Super Turismo. Em 1994 a Confederação Brasileira de Automobilismo(CBA), em parceria com a General Motores do Brasil, decidiu promover nacionalmente, um campeonato para divulgação dos veículos recém lançados. Nascia a Copa Corsa. O Grid da caregoria Super Turismo é compsto por mais de 20 carros a cada etapa... todos da mesma categoria! Além do campeonato nacional. Diversos campeonatos regionais foram iniciados também com o apoio da montadora. No Ceará, a Federação Cearense de Automobilismo mobilizou os pilotos e formou um grid de 25 carros que seriam, por regulamento, obrigados a correr dois anos seguidos com o custo subsidiado pela GM. Em 1995 e 1996, o Autódromo Virgílio Távora foi palco de disputas memoráveis. Em 1997, o automobilismo cearense entrou em recesso para a reforma do autódromo. No ano seguinte, a Copa Corsa reiniciou as atividades com um número menor de carros, por causa dos altos custos de preparação dos carros. Por regulamento, os motores teriam que ser originais, mas não limitava a quantidade de motores que cada carro poderia ter. Esse fato desmotivou os pilotos com baixo poder aquisitivo e a competição na Copa Corsa, que em 98, terminou de forma lamentável: Apenas um piloto venceu todas as provas. Um adversário poderoso – o orçamento – ameaçava acabar com mais um campeonato de automobilismo no Brasil... como fez com tantos e tantos. Em 1999, alguns pilotos se uniram e criaram a Associação de Pilotos de Turismo do Ceará, a APT. A principal idéia da APT era fazer com que fosse possível correr no estado, limitando os custos através de um regulamento, adaptado à realidade de um estado onde o dinheiro não abunda. que alavancasse o automobilismo no Ceará. A iniciativa deu certo e a competição manteve-se em bom número até o ano de 2003. A solução de fazer um carro dentro das possibilidades dos aficcionados é o segredo do sucesso da categoria. Em 2004, a Copa Corsa, sem contar com o apoio da GM, começou a transformar-se na Super Turismo. Todos os carros foram reestilizados e passaram a utilizar aerofólios e pára-choques modificados. As disputas continuaram a fazer parte daquela que já era a principal categoria monomarcas do Norte e Nordeste. O dinamismo e a inventividade dos cearenses não deixaram a categoria estática. Além do mais, com tecnologia local e de baixo custo, era possível para os pilotos locais sonhar com uma categoria de turismo que unisse desempenho e sofisticação. Assim sendo, no final de 2007 a categoria despediu-se dos antigos corsas e criou um carro novo, o ST2008, veículo moderno, mais potente e com mais segurança para os pilotos. Feito em um chassi tubular, com uma bolha de fibra de vidro e com mecânica praticamente toda da GM (O bloco do motor é o MPFI 1.4, mas com os cabeçotes trabalhados para receber os pistões 1.6. É claro que não havia apoio da fábrica, mas o carro da Super Turismo vinha a atender os anseios dos pilotos e preparadores da região. Além de fazer um calendário bem feito, existe a proposta do Racing Day: Todas as categorias correm no mesmo fim de semana. Um regulamento bem escrito e estudado foi criado para limitar os custos, procurando equilíbrio, sem comprometer a competição. O resultado são grids com mais de 20 carros em todas as etapas, mantendo-se como a mais prestigiada categoria do estado. A Evolução dos Carros Cearenses. Como desenvolvimento das possibilidades de competição, a Proton Design (a mesma empresa que fabricou o ESPRON, categoria que fez sucesso por anos no automobilismo brasileiro) apresentou recentemente ao automobilismo brasileiro o ST 2.0. Que também veio a servir de base para um protótipo que foi batizado como CTM 2000. Com capacidade para fornecer o modelo para campeonatos em todo o território brasileiro, seja vendendo o carro montado, seja vendendo o kit para montagem, a Proton Design buscou aliar aqueles que devem ser fatores preponderantes para um carro de corrida tornar-se um sucesso como categoria, encher os grids e fazer surgir gerações de pilotos: Baixo custo de manutenção, resistência, durabilidade, confiabilidade e ótimas soluções técnicas. O ST 2.0 e o CTM 2000 são equipados com motor Duratec 2 litros da Ford, mas pode receber motorização de qualquer outra montadora. Desvendando um carro da Super Turismo. Um carro robusto, bonito e rápido... do jeito que todo piloto gostaria! O ST 2.0, tendo como base no modelo anterior, o carro apresenta novo visual, principalmente na parte traseira, onde é possível perceber um prolongamento da carenagem, além de novo desenho de lanternas (duas em cada lado) e nova asa, deixando-o com um visual mais “agressivo”. A adoção dos motores Duratec 2.0 da Ford, deram ao modelo um ganho de 18 a 25 Km/h, chegando a velocidade final próxima aos 220 Km/h. No entanto, a maior novidade ficou por conta da suspensão traseira. Ela foi completamente redesenhada ganhando braços independentes nas duas rodas, possibilitando tomadas de curvas mais rápidas e estáveis, o que acarretou em um melhor comportamento nas curvas por conta do trabalho independente de cada braço da suspensão. Os cearenses são extremamente competentes e cirativos. Tanto que são capazes de desenvolver diferentes projetos. Essa inovação deixou o carro bem mais estável e confiável. Hoje o modelo é um dos melhores carros de competição do país e de menor custo/benefício... mas ao invés de se usar um carro “made in Ceará”, tem categoria usando carro importado e chamando-a de categoria de base. O CTM 2000 é um carro mais sofisticado, pelo menos aerodinamicamente. Segundo o projetista, Pedro Virginio, a “inspiração foram os carros do DTM, categoria de sucesso da Alemanha que corre em diversos circuitos na Europa. Assim como o ST 2.0, o custo de produção e manutenção é baixo e existe a facilidade de se comprar o carro na forma de kit. Fórmula Vê 1.8: Custo? R$ 2.000 (dois mil reais) por prova! Além das categorias de turismo, o automobilismo cearense desenvolveu uma categoria de monopostos que pode – desde que haja boa vontade – ser a redenção e a solução para o automobilismo brasileiro. Um monoposto que custa 2.000 reais por prova tem muito mais a ver com "futuro" do que um que custa 200 mil por temporada. Com uma estória de tradição com os seus campeonatos locais de Fórmula Ford (que chegou a receber uma etapa do Torneio BUA, em 1969, com a presença dos maiores pilotos do país e diversas estrelas do continente europeu) e de Fórmula Vê, recentemente passou por uma revolução. Construído com um chassi tubular, com o eixo dianteiro e suspensões do antigo Fusca, motores AP 1.8 injetado de fábrica, pneus radiais e caixa de câmbio original VW e altamente resistente, com uma carenagem muito bem projetada e resistente a Fórmula Vê cearense é uma solução tecnológica de baixo custo, mesmo com os projetistas e construtores, Alexandre Roncy e Pedro Virgínio, trabalhando para que os pilotos tenham um carro cada vez melhor. Para a temporada de 2010 foram feitas algumas modificações nos carros da Fórmula Vê 1.8. As alterações passam desde um novo desenho nas tomadas de ar das laterais do carro à inclusão de novos elementos para dar maior estabilidade e segurança. A criatividade e a irreverência dos cearenses se mostrou mais uma vez na Fórmula Vê: os carros tem a pintura dos F1! Além disso as alterações feitas em relação ao modelo anterior tornaram o carro mais leve e com menor arrasto aerodinâmico. Segundo o construtor Alexandre Roncy, projetista dos carros, as modificações trarão melhoras no desempenho, tendo em vista as projeções que vem sendo constatadas nas simulações. A categoria ainda trás uma outra vantagem: o cockpit é bem mais largo que o de um monoposto comum, com 60cm, os Fórmula Vê 1.8 atendem não só os pilotos mais novos mas também os mais “fortinhos” e também os mais “experientes”. Para isso, existem duas categorias no Ceará: a Fórmula Vê 1.8 Master (acima de 40 anos) e a Fórmula Vê 1.8 para os jovens pilotos. Um bom grid, disputas acirradas e oportunidades para jovens pilotos mostrarem seu talento (e bom humor, no caso) é como tem que ser. O custo de cada piloto por corrida é de apenas dois mil reais, muito mais barato do que se gasta hoje, por exemplo, para se correr nos principais campeonatos de kart do país. O Mago Pedro Virgínio. A Proton Design nasceu em 1980 do sonho de um engenheiro, projetista e piloto. Irrequieto, Pedro Virgínio Onofre Barbosa. Sua primeira criação foi o Búzio – um buggy com mecânica Volkswagen. O carro ganhou rapidamente o reconhecimento de todos e teve até participação em novela da TV Globo. Depois veio o primeiro carro esportivo: o Cucaracha, um sonho naqueles tempos onde era raro um importado em nossas ruas. Pedro continuou criando seus buggys e surgiram o Tatuí e o Tatuí 2 e o novo P2 com motor AP 1.8 turbo. Pedro Virgínio é um dos maiores - se não o maior - nome do automobilismo cearense... dentro e fora das pistas. Acima, passagens de sua brilhante carreria e a parceria com Nelson Piquet para a criação da ESPRON, um sucesso de muitos anos nas pistas do país. Além dos carros de rua, a Proton criou carros para competição como Protótipo 1600 Proton, em fibra de vidro, chassis treliçados, motor VW 1600 refrigerado a ar e sem turbina. Depois veio o Protótipo 2000 Proton, que recebeu motor AP 2000, vencedor 1000 km de Brasília. Na linha de carros protótipos, a Proton Design criou o Espron BMW Proton, carro adaptado para provas longas. Foi com um desses que Nelson Piquet, tricampeão mundial de Fórmula 1, venceu diversas corridas de longa duração. Como reconhecimento, Piquet transformou o carro em uma das atrações da abertura do GP do Brasil de Fórmula 1, em 1999. O CTM 2000 tem muito mais a ver com uma categoria para ser um Stock Jr do que qualquer outro carro do país. São criações da Proton os carros de competições da CTM 2000, e os da Super Turismo, o ST 1.6 e ST 2.0. Hoje a Proton está pronta para atender a demanda de qualquer interessado em montar uma categoria com esses modelos. Além dos carros de turismo e de carros de passeio, a inventividade deste incansável das pistas e dos boxes e oficinas não tem limites. Depois do sucesso do ESPRON no final dos anos 90 e anos seguintes, Pedro criou um novo protótipo. O “JB” foi desenvolvido pelo engenheiro e projetista e conhecimentos de aerodinâmica foram aplicados tanto na carroceria como nos dutos de ar interior do veículo. A mecânica usa câmbio Hewland e motor AP 2000 com álcool combustível. A suspensão é do tipo link push Road, os radiadores laterais e fundo tipo asa. O “JB” é considerado o projeto mais completo de Pedro, uma verdadeira obra prima! O Track Day é um sucesso no Ceará. O Track Day é um evento que conta com o reconhecimento e apoio direto das federações de automobilismo, acompanhando o calendário oficial de eventos regionais destas entidades. Os participantes previamente inscritos podem dirigir seus carros com total segurança em um circuito de prestígio internacional. Essa prática já comum e bem difundida na Europa e Estados Unidos, e já é destaque no Brasil em alguns autódromos, de maneira totalmente profissional, com risco controlado. O evento não configura corrida. As ultrapassagens somente são permitidas nas retas. É, portanto, proibido disputar posições, dar fechadas, efetuar manobras bruscas, bem como colocar qualquer participante em situação de risco. Tudo orientado através de bandeirinhas, mesmo esquema de uma corrida profissional. Trata-se, portanto, de uma oportunidade única dos motoristas andarem forte acima do limite de velocidade permitido nas estradas, avenidas e ruas, e testarem suas habilidades, aprimorando suas técnicas de pilotagem, desfrutando de uma consagrada pista de corrida, com infra-estrutura e segurança dignos de uma corrida oficial. Associação Cearense de Arrancada de Veículos. Em 1996, o atual presidente da ACAV, Fred Correia, chegava a Fortaleza trazendo do Rio de Janeiro a idéia de organizar uma arrancada. Logo fundou a Associação Cearense de Arrancada de Veículos, a ACAV, e deu inicio ao 1º Campeonato Cearense de Arrancada. Desde lá a arrancada foi sempre sucesso. As arrancadas feitas na reta do Autódromo Internacional Virgílio Távora são um sucesso de público a cada evento realizado. Sempre preocupado com os níveis de seu evento, Fred nunca deixou de se informar sobre as performances dos carros e das provas de arrancada do sul do país (atual centro de referência em provas de automobilismo), assim a evolução da categoria aqui no Ceará foi surpreendente, em apenas 10 anos de existência o Ceará tornou-se o centro de referência para os outros estados do Norte-nordeste. Em 2004, o Ceará foi palco do 1º Festival ACAV de Arrancada, evento que reuniu pilotos de todo o Brasil num clima de festa e integração. Hoje em dia o Festival ACAV de Arrancada é um dos melhores eventos de arrancada do país, ficando atrás apenas do Festival Força Livre de Arrancada, organizado em Curitiba e com mais de 25 anos de existência. Os cearenses sabem que não tem o melhor local se comparado com outras praças do país... mas esmeram-se na qualidade. Já em 2005, o certame cearense de arrancadas e os principais certames do Brasil passaram a ser regidos pelo regulamento técnico e desportivo da Confederação Brasileira de Automobilismo. Com isso os carros e pilotos de todo o país passaram a ter regulamentos iguais facilitando a comparação do nível dos carros e dos pilotos. Essa unificação de regulamentos originou o Campeonato Brasileiro de Arrancada, fazendo com que pilotos e equipes viajassem todo o Brasil atrás do tão cobiçado título de Campeão Brasileiro. Todos os grandes centros de arrancada do país realizaram suas etapas e a ACAV logo se destacou sendo elogiada pelo alto nível de organização, e forma com que trata pilotos e equipes. No segundo semestre de 2010, em outubro, o Ceará sediará uma etapa do brasileiro de arrancada... uma vitória da ACAV. A ACAV é ambiciosa, quer fazer do Ceará um centro de referência para arrancadas em todo o Brasil. Desde 2006 a equipe de trabalho vem sendo aumentada e o investimento no desenvolvimento profissional de cada integrante vem sendo feito. Além disso, a ACAV faz com que todos os colaboradores passem por um curso informativo sobre o regulamento técnico e desportivo da Confederação Brasileira de Automobilismo. Pelas trilhas do sertão. Assim se pode definir o Piocerá/Cerapió, um evento nascido pela vontade de se fazer algo de diferente, mas que ao mesmo tempo fosse prazeroso e empolgante, em uma região com poucas oportunidades para a prática de esportes, mas repleta de paisagens que nos fazem parar para admirar as belezas desse Brasil tão desconhecido e conhecer um povo acolhedor, carinhoso, que tem na sua fé a razão para sobreviver em uma região do país lembrada por miséria, pobreza e seca. Mais do que andar pelas entranhas do nordeste brasileiro, o Piocerá/Cerapió é também uma viagem ao interior de cada um de nós, testando nossos próprios limites, muito mais que os limites das máquinas, é um teste pessoal e indescritível, uma sensação vivida somente por aqueles que já participaram ao longo desses anos de muita poeira, terra e lama. São mais de duas décadas de muita aventura, de muito trabalho, amor e dedicação a uma prova que acontece no nordeste brasileiro e que hoje é considerada pela imprensa especializada, por pilotos e equipes, como uma das maiores prova off road do Brasil!Tudo começou em Abril de 1987, num bate papo informal entre Ehrlich Cordão e Galdino Gabriel. O Enduro era para ser chamado de Enduro da Integração, na idéia de unir os pilotos dos dois estados pioneiros na prática de enduro de regularidade na região norte e nordeste do país. O papo amadureceu Ehrlich Cordão, cuidaria da parte de marketing e divulgação e Galdino Gabriel, da parte técnica da prova. Os caminhos do Cerapió/Piocerá fazem do raid nordestino um dos mais difíceis do país, por tudo que envolve o evento. O primeiro levantamento aconteceu no feriado de 7 de Setembro de 1987 feito por Gabriel e Alfio, um italiano recém chegado a Fortaleza . A conferência da planilha foi realizada no feriado do dia de finados, por Ehrlich Cordão, Gabriel e Franz George.Durante o levantamento, os três desbravadores das trilhas descobriram uma área de terra em litígio entre os estados do Ceará e Piauí e numa conversa com um caboclo da região prá saber onde os três estavam, o mesmo falou que lá era o Cerapió-Piocerá! Foi então que a prova passou a ser chamada de Cerapió – quando sai do Ceará para o Piauí e Piocerá – quando o roteiro é inverso. O primeiro Cerapió, aconteceu nos dias 5, 6 e 7 de Dezembro de 1987 com a participação de 36 duplas já oriundos dos principais estados brasileiros e com a presença da Imprensa nacional especializada; “Revista Motosport e Duas Rodas”.Naquela época participavam DT 180 Yamaha, XLX 250 Honda e as Agrales 27.5, computadores de bordo nem pensar! A navegação, era feita por máquinas de calcular adaptadas, tipo " RallyControl " e tabelas pregadas nos tanques das motos, que auxiliava o piloto. No início, só haviam duas categorias: graduados e novatos. Hoje, mais de 20 anos depois, o Cerapió/Piocerá tem a participação de dezenas de inscritos entre carros, motos, quadricículos... dá para acreditar? Acredite. Eles fizeram um “oásis” no sertão! Com a palavra, o Presidente. Como estamos fazendo uma matéria que vai a fundo no que é o automobilismo do estado do Ceará, nada mais justo do que apresentar e também ouvir o presidente da Federação Cearense de Automobilismo, José Haroldo Scipião Borges. A Federação Cearense de Automobilismo é presidida atualmente por José Haroldo Scipião Borges. Natural de Fortaleza – CE, nascido em 05 de setembro de 1957, piloto federado e filiado a CBA, com um largo histórico nas pistas, que data desde 1982, ano de sua estréia. No ano seguinte, foi campeão estadual, fazendo pódio em 7 das 8 etapas, sendo vencedor em duas. Correu de kart por apenas mais um ano, indo para a Fórmula Ford, participando dos campeonatos cearense e norte/nordeste da categoria. Nos monopostos, esteve sempre entre os primeiros, vencendo o campeonato da região por duas vezes, 1986 e 1988, além de alguns vice campeonatos e em 1991, despediu-se das pistas vencendo o campeonato cearense de F.Ford de forma incontestável, conquistando quase todas as provas. Casado com a Sra. Vera Lucia Coelho Scipião e pai de duas filhas, é empresário do ramo chassis e carrocerias na cidade de Fortaleza. Militando no automobilismo como administrador há 16 anos e tendo assumido a presidência da FCA em 1998, estando em seu terceiro mandato, é o Sr. Haroldo Scipião que vai nos falar de como anda o automobilismo cearense hoje: NdG: Como foi o processo de criação da FCA? Haroldo Scipião: A Federação Cearense de Automobilismo iniciou suas atividades como uma associação, a Associação Cearense dos Volantes de Competição, datando do início dos anos 60. apenas em 23 de junho de 1965 é que foi criada a federação. NdG: O senhor tem registro, memórias, fotos, recortes de jornal das primeiras corridas no estado? Haroldo Scipião: Algum descuido no passado fez com que parte do que seria o acervo da federação, inclusive parte da documentação dos primeiros anos, foi perdida. A federação possui um pequeno acervo de fotos, jornais da época e documentos desde a época da ciração do autódromo. NdG: Atualmente a FCA organiza que eventos? Haroldo Scipião: A nossa federação tem um calendário de atividades que vai do Kart ao Rally, tanto de velocidade como o de regularidade. Na pista, temos as categorias de Marcas, com carros de motores 1.6; Fórmula Vê, com motores 1.8; Superturismo; e o CTM 2000. NdG: Quantos pilotos estão hoje federados à FCA? Este número vem crescendo? Diminuindo? Haroldo Scipião: A federação possui atualmente 1303 filiados, sendo 276 na velocidade, 140 no kart, 672 no rally, 98 na arrancada e 17 no offroad. É importante salientar que o nosso número de afiliados vem crescendo nos últimos dois anos, em especial no kart e nas categorias de velocidade. NdG: Quantos autódromos entre asfalto e terra existem no estado? Haroldo Scipião: No momento, temos apenas um kartódromo e um autódromo asfaltado em funcionamento, ambos no município de Eusébio, na região metropolitana de Fortaleza. NdG: Qual a situação do kartismo atualmente? Haroldo Scipião: O nosso kartismo vem crescendo. No momento temos três categorias com campeonatos regulares: a Cadete, a 400 e a super 400. NdG: São feitas corridas de rua? Haroldo Scipião: Não. Nem na capital e nem em nenhuma cidade do interior. Todas as provas de velocidade são no Autódromo Internacional Virgílio Távora. NdG: Como se encontra a situação dos Rallys no Ceará? Haroldo Scipião: A tradição de Rally do Ceará é muito forte. Além do campeonato estadual de regularidade temos no estado etapas da Copa Troller e do Mitsubishi Cup. Há alguns anos recebemos etapas do Rally dos Sertões, como será este ano. Além disso temos os tradicionais “Cerapió/Piocerá”, Rally que percorre o sertão do nosso estado e do Piauí. NdG: Onde acontecem as competições de arrancada aqui no Ceará? Haroldo Scipião: As competições são realizadas no Autódromo Internacional Virgílio Távora. Recebemos inclusive etapas do brasileiro da categoria. NdG: Como é feita a estruturação do calendário da FCA? Haroldo Scipião: É um grande arranjo que envolve o calendário da CBA, de acordo com a sua disponibilidade de vagas. Temos também os pleitos das associações e clubes organizadores. Uma coisa que sempre procuramos fazer é evitar etapas em finais de semana com feriados e datas comemorativas. Procuramos também adequar nosso calendário para que pilotos de outros estados possam vir aqui competir. NdG: Quais os maiores desafios que a FCA enfrenta? Haroldo Scipião: A maior dificuldade é, sem dúvidas, manter tantas categorias automobilísticas em atividade sem apoio financeiro para os competidores. Os pilotos, em geral, bancam seus custos do próprio bolso. Outro grande desafio é atrair o público para o autódromo para prestigiar os eventos que realizamos. Este nós temos procurado minimizar realizando os festivais de velocidade, com todas as categorias correndo no mesmo dia. Como o autódromo é do estado, o governo tem investido uma pequena verba de patrocínio e isso tem ajudado a levar um público maior aos eventos. NdG: A FCA está com que projetos (se tiver) em andamento? Haroldo Scipião: Temos o projeto da reforma do autódromo, com o fechamento do trioval e o alargamento da pista para 14 metros (no momento tem 12 metros). No momento estamos com o projeto de engenharia pronto e estamos buscando garantias financeiras para executar a obra. Receber a Stock Cars neste novo traçado ajudaria bastante a viabilizar o projeto. NdG: Quantas pessoas trabalham na FCA? Quem é funcionário e quem é voluntário? Haroldo Scipião: Temos apenas 1 funcionário, a Sra. Vanda Linhares, que dá expediente na sede da federação. NdG: A FCA é “situação” ou “oposição” à CBA? Haroldo Scipião: Apoiamos a atual gestão da Confederação Brasileira de Automobilismo. NdG: Como o senhor avalia a gestão atual da CBA? Haroldo Scipião: Achamos que estamos no caminho certo e temos uma excelente relação com a administração, além de uma relação pessoal de respeito e amizade com o presidente Cleyton Pinteiro de cerca de 20 anos. Às armas! Este é o primeiro de um trabalho feito junto com uma Federação. Pretendemos seguir esta linha, de parceria, compromisso, cumplicidade, mas também de cobrança. Um órgão oficial é que tem o dever de fazer com que o seu trabalho seja o mais correto, o mais honesto, o mais sério e o mais responsável para que o automobilismo do seu estado e da região com um todo cresça e se fortaleça. Agora, cabe também aos dirigentes nacionais, organizadores de categoria, promotores e patrocinadores, voltarem seus olhos para as outras regiões do país e ver que o automobilismo não se resume a três ou quatro estados da federação. E por fim, cabe aos profissionais de imprensa, agências, donos de sites e blogs usarem dos seus instrumentos de comunicação para fazer das suas vozes, artigos e palavras, das suas capacidades como formadores de opinião – que dizem ser – para incomodar, tirar da inércia, mover sua massa de seguidores a cobrar, dos que dirigem o automobilismo no Brasil a tomar uma atitude, a sair da mesmice que está aí há décadas. Ao invés de ficar arrotando ter milhões de seguidores em seus sites, blogs, portais e twiters, trabalhem! Deixem de lado as briguinhas politiqueiras e façam algo construtivo. Escrevam, pesquisem, façam valer a força que a mídia tem. Querem fazer algo positivo? Não é tarde para começar! Felicidades e velocidade, Paulo Alencar Agradecimentos: À diretoria da FCA; à Robério Lessa, Pedro Virgínio, Alenxandre Roncy e as equipes do Superturismo, ACAV e do Cerapió. |