Quem vê o pátio da escola durante o intervalo de aula ou a sala de aula do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual Newton Ferreira da Costa, em Curitiba não tem como supor que ali, entre aqueles adolescentes tem um com um dom especial. Ali, talvez Sabrina Koray Kuronuma seja apenas uma “japinha” entre tantos os descendentes e as gerações seguintes que começaram a chegar ao Brasil no início do século XX. Quando está na Escola, Sabrina é uma aluna como qualquer outro aluno que lá estuda... mas seus colegas sabem que ela é. Contudo, fora dos muros do colégio, Sabrina se transforma e o ar angelical da menina-moça, com recém completados 16 anos, nem de longe mostra que ela é uma das maiores promessas do automobilismo brasileiro... do kart, ela já é uma realidade! Conversamos com os pais de Sabrina durante algumas semanas e, antecipamo-nos ao assédio que apostamos esta jovem terá num futuro próximo com jornais, revistas, emissoras de TV e outros meios de mídia como a internet para apresentar ao mundo esta piloto curitibana que tem tudo brilhar – ainda mais – em sua carreira nas pistas do Brasil. NdG: Sabrina, como foi que você começou a se interessar por automobilismo? Ao contrário da propagada subserviência feminina da cultura oriental, Sabrina, quando veste o macacão, é uma guerreira! Sabrina Kuronuma: Meu pai sempre gostou de automobilismo e quando eu era criança eu comecei a assistir corridas com ele e eu sempre, desde que me lembro, gostei de assistir corridas. Quando eu tinha 9 anos nós passamos de carro por um kartódromo indoor que tinha lá no Marumbi (um bairro da cidade) e começamos a falar... ah, vamos lá, quem sabe a gente não pode se divertir um pouco, quem sabe a Sabrina pode andar lá... NdG: E deixaram você andar? Sabrina Kuronuma: Deixaram! Eu sou pequenininha e aos 9 anos, era muito pequena. Eles tiveram que colocar um monte de almofadas para eu conseguir alcançar os pedais, mas eu consegui e adorei. Daí eu não larguei mais! "Na primeira vez que sentei num kart, num kart indoor, precisei de umas almofadas para poder alcançar os pedais..." NdG: Apesar de muita gente “correr em kart indoor”, para quem corre pra valer, ali parece que é meio brincadeira, lazer. Em karts de pista, com motores mais fortes, como de deu a passagem para o lado de dentro das pistas, sentar pela primeira vez num kart de competição? Como aconteceu? Foi difícil convencer seus pais? Sabrina Kuronuma: Meu pais sempre gostou de corrida e ele viu que eu gostava também e muita gente via que era algo natural em mim e muita gente incentivou, dizia para ele e para mim que eu andava bem, que devia correr... e aí falaram para ele comprar um kart para mim e me colocar para correr... NdG: E quanto tempo foi isso depois do primeiro dia no kart indoor? Sabrina Kuronuma: Ah, foi coisa de um mês depois! (risos gerais). Aí meu pai comprou um kart e lá fui eu começar a correr atrás deste meu sonho de ser piloto. NdG: Quando foi e como foi sua primeira corrida? "Na minha primeira corrida eu conqistei de cara um 3º lugar. Foi apenas 1 mês depois da experiência no kart indoor". Sabrina Kuronuma: Minha primeira corrida foi em Joinville, era uma corrida de crianças da minha idade, na categoria cadete... eu nem sabia direito o que era isso das divisões. O meu preparador falou o que eu devia fazer, me explicou como era a largada, falou para eu ter cuidado para não bater... eu não bati. E foi legal porque eu cheguei em 3º lugar. Essa não dá para esquecer mesmo... principalmente porque eu fiquei sem freios no final da prova! (risos) Hoje dá pra rir, mas na época eu fiquei apavorada. Eu tentei parar no final da reta e nada. Fui reto na curva... minha mãe também ficou assustada, mas foi só um susto grande. O primeiro de muitos. NdG: Desde quando você começou a pensar em kart e em corrida como um caminho de futuro profissional? Em algum momento era só diversão? Como foi este processo? Sabrina Kuronuma: Olha, eu posso te dizer que sim! É algo que eu acho que nasci com isso em mim. Claro que, quando eu comecei, não tinha noção do que era realmente a vida de piloto, os sacrifícios, provações, dificuldades que um piloto passa, que tem que fazer, mas hoje, olhando para trás eu consigo ver que aquilo que, claro, começou como brincadeira, era na verdade coisa séria NdG: Você sabia que o Brasil teve, no passado, outras mulheres que fizeram muito sucesso nas pistas? Existe preconceito... Tem menino que não aceita perder para menina e pai que dá bronca nos finhos quando perdem pra mim. Sabrina Kuronuma: Eu lembro bem da Bia Figueiredo quando ela ainda corria de kart. A conheci quando era pequena e ela me incentivou muito, que mostrou que as meninas podiam ganhar corridas e dividir o pódio com os meninos. Eu também ouvi falar da Suzane Carvalho. NdG: Todo piloto costuma seguir um programa de preparação física e uma alimentação bem equilibrada. Como é que você cuida disso? Sabrina Kuronuma: Eu faço um trabalho na academia, eram 3 vezes por semana, agora é diário, para fortalecer a musculatura e também cuido muito da alimentação. Minha mãe me acompanha nisso e eu também não sou do tipo que foge da dieta e come “porcarias”. Eu me cuido bem. Eu sei que o preparo físico é importantíssimo para um piloto ter sucesso e no kart ele é muito exigido. NdG: Como sua vida não se resume às pistas, você tem outras atividades, claro. Como você organiza seu tempo para atender seus compromissos? "Eu adoro correr na chuva... quando a pista está molhada eu me sinto como se fosse invencível! ando até de slick em treino". Sabrina Kuronuma: Eu sou uma boa aluna, tiro boas notas. Eu sei que estudo é importante e, pela manhã eu estou no colégio, à tarde eu estudo e treino além de claro, ter meu tempo como pessoa, como menina, mulher... de fazer unha, ir ao cabelereiro... NdG: Sobra tempo para o lazer? Ir para o cinema, sair com as amigas, passear no shopping, paquerar, etc? Sabrina Kuronuma: Tem que ter também, né? Eu adoro cinema! Eu tenho um gás que parece que não acaba nunca... eu as vezes chego do treino, tomo um banho e já quero sair, ir num cinema, ficar com as amigas... quanto ao namorado... bom, namorado eu não tenho, mas rola umas paqueras (risos). NdG: ‘Seo’ Tchê, famoso preparador de motores e que trabalhou com alguns dos maiores kartistas do país ao longo de algumas décadas, entre eles, Ayrton Senna, disse que o bom kartista tem que ser curioso, tem que aprender como seu kart funciona, aprender mecânica. Você frequenta a oficina do seu preparador? Mete a mão na graxa? Sabrina Kuronuma: Eu faço tudo junto! Monto e desmonto o kart, abro e fecho motor, sei o que é cada coisa. O verdadeiro piloto de kart tem que meter a mão na graxa, tem que fazer as coisas para saber, para conhecer seu equipamento. É aí que ele vai encontrar meios de buscar tempo, de melhorar desempenho. NdG: Na preparação do kart para uma prova ou campeonato, o que você considera mais complexo e como você lida com isso? "O piloto de kart tem que aprender como fazer as coisas. Eu faço tudo com meu preparador, ele me ajuda bastante". Sabrina Kuronuma: Não adianta nada você ter um bom motor e não ter um chassi bem acertado, assim como, não adianta você ter um chassi bem acertado se não tiver um motor que empurre. O piloto tem que ter a sensibilidade para encontrar o melhor acerto possível para o kart e também tem que saber sentir o motor e – claro – ter um bom preparador para trabalhar com ele e conseguir tirar o máximo dele. O importante é ter uma equipe boa, que trabalhe bem junto. NdG: Entre as pistas em que você já correu, qual você mais gostou e porque? Qual a mais técnica e a mais difícil? Sabrina Kuronuma: A pista do kartódromo de Canasvieiras, Santa Catarina, onde foi disputado o campeonato brasileiro de kart deste ano é a pista mais técnica que eu conheci. Eu gosto muito da pista do kartódromo de Interlagos também, mas algo que eu nunca vou esquecer foi ter andado com um kart na pista do autódromo na abertura da Fórmula 1... meu Deus, fazer o “S” do Senna com um kart, um lugar por onde ele passou tantas vezes... é algo que eu nunca vou esquecer. NdG: Seus parentes e amigos costumam ir assistir suas corridas? O pessoal do colégio, da academia... quem costuma vir aqui torcer para você? Sabrina Kuronuma: Vem amigos, amigas, mas quem vem mais é a família mesmo. NdG: O automobilismo é um meio predominantemente composto por pessoas do sexo masculino. Como você fez para se inserir neste meio? Seus adversários te olham com que olhos? Sabrina Kuronuma: Ah, não é fácil. É uma relação muito dura e existe sim o preconceito. Na cabeça de um menino ele pode até chegar em último... mas nunca atrás de uma menina. Eu já vi muito menino levando bronca do pai porque chegou atrás de mim. É preconceito mesmo, mas eu to aqui para o que der e vier e encarar isso de frente e mostrar que eu posso andar na frente. NdG: Quando entrevistamos o piloto Marroquino Mehdi Bennami, ele disse que adorava correr na chuva, mesmo o país dele não tendo tantos dias de chuva por ano. E você, que mora numa cidade onde quase sempre parece que vai chover, gosta? "Meus pais acham que minha energia não acaba. As vezes eu chego em casa do treino, tomo banho, me troco e vou para o cinema". Sabrina Kuronuma: Com certeza! Eu sou fissurada por andar na chuva. Quando estou vindo para o treino e vejo que está chovendo eu já fico agitada dentro do carro, louca para ir para a pista. Quando a corrida é com chuva eu me sinto invencível; Desde que eu comecei foi sempre assim. Eu ando na chuva até de pneu slick para apurar os reflexos. Nas corridas, claro que não ajuda, o kart fica muito instável, mas para treinar eu gosto. NdG: Nestes tempos de tanta comunicação, com MSN, twitter, Orkut, facebook e outros tantos meios, vocês pilotos conversam entre si? Trocam idéias sobre coisas técnicas? Possuem algum grupo ou fórum de discussão? Sabrina Kuronuma: A gente se fala sim. Temos comunidades no Orkut, conversamos no MSN, tem o Twitter agora... o meu é @sabrinakuronuma. Tem coisa técnica sim, mas ninguém entrega seus segredos (risos) NdG: Assistindo uma prova de kart ou outra modalidade pela TV, dá para assimilar alguma coisa da guiada de um piloto, da dificuldade da pista ou só indo lá e andando para conferir? Sabrina Kuronuma: Dá sim, com certeza! Foi assim que eu aprendi. Eu nunca tinha sentado num kart, só via corridas pela televisão e, quando fui para o kart indoor, fiz tudo direitinho. Hoje, vendo corridas, a gente os erros e acertos de um piloto, o melhor traçado, os pontos de freada e aceleração, pontos de ultrapassagem... ver vídeos de corrida é um ótimo aprendizado também. NdG: Certamente você tem consciência de que o automobilismo é um esporte caro. Como é que você e os seus pais fazem para buscar patrocínios a fim de mantê-la na pista? "Eu nunca vou esquecer o dia em que andamos de kart na pista do autódromo de Interlagos... eu fiz o 'S' do Senna... uau!" Sabrina Kuronuma: Esta é uma luta que não é fácil. Este ano eu não tive como it para o brasileiro de kart porque não tinha como custear a competição. No momento, estou em busca de patrocínio. Temos enviado emails, procurado visitar possíveis patrocinadores para tentar conseguir alguma coisa. No Brasil, é muito difícil conseguir patrocínio, não se incentiva o esporte. Hoje eu estou na base do “paitrocínio”, mas quero mudar esta realidade. Meu antigo patrocinador, passou por uns problemas no ano passado e teve que cortar o patrocínio. NdG: O que você pensa em termos de futuro para você no automobilismo? Sabrina Kuronuma: É claro que eu quero ir longe. O mais longe possível. Eu quero chegar na Fórmula 1, com certeza! Sei que não é algo fácil de se conseguir, que é muito difícil, mas não posso pensar que é impossível. A Fórmula Indy também pode ser um caminho... eu quero me ver na televisão, quero ouvir as pessoas falando meu nome nos jornais, programas esportivos e, se eu tiver condições de correr de igual para igual com meus adversários, sei que posso vencer todos eles. NdG: Você atingiu a idade mínima para correr num monoposto, numa F3 sulamericana ou na Fórmula Future. Seus pais e você já tem pensado nessa sequência? Sabrina Kuronuma: A gente tem buscado uma oportunidade na Fórmula 3 para o ano que vem. Se eu quiser dar seguimento na carreira, eu preciso começar a andar de Fórmula, conhecer um carro mais complexo e tenho que pegar quilometragem, andar, treinar, aprender... é o caminho que eu tenho que fazer. A gente tem mantido contato com uma equipe para fazer um teste... eu vou dar tudo, vou fazer dar certo. NdG: Última pergunta: Preto ou Branco? Sabrina Kuronuma: Hã? Como é? NdG: Preto ou branco? Sabrina Kuronuma: Ai... sei lá... (risos) Branco? NdG: É que todo entrevistado do site dos Nobres do Grid ganha uma camisa e passa a ser parte do nosso grupo, o dos súditos, porque os Nobres são os pilotos que inspiraram o site, a geração dos anos 60. Agora você é uma de nós e, esperamos que no futuro, você venha a ser uma deles. Não temos muito como fazer para ajudar a sua carreira, o que podemos fazer é divulgar o esporte e mostrar, como estamos mostrando quem é você para todos que nos acessam e esperamos poder fazer ainda muitas matérias com você ao longo de sua trajetória. Sabrina Kuronuma: E eu espero que eu possa ter muitas matérias no site de vocês, obrigada por tudo. Nota dos NdG: O site dos Nobres do Grid trabalha para a preservação da história do automobilismo sem fins lucrativos. Não fazemos matérias pagas. |