O mineiro Cristiano da Matta, filho da lenda Toninho da Matta – nada menos do que doze vezes campeão brasileiro de automobilismo – tinha herdado mais do que o sangue do pai campeão: era o próprio campeão. Determinado, simpático, como bom mineiro falava poucas palavras, mas quando sentava num bólido de corridas, virava uma fera. Que diga o principal concorrente na Fórmula 3 Sul Americana, Hélio Castro Neves. Cristiano foi para a Europa, mas não deu sorte, não. Muitos problemas nas equipes e categorias em que esteve envolvido, não pode mostrar todo seu potencial. Partiu então para os EUA, onde, sentado em carros competitivos, venceu a Indy Lights e subiu para a Indy (na época CART). E foi ele que deu a Toyota a primeira vitória na categoria que ainda tinha Honda, Ford e Chevrolet também como fornecedores de motores. Por causa dos seus bons resultados, entrou para a equipe Newman-Hass e foi campeão. Assim, abriram-se finalmente as portas para a realização de seu sonho: a Fórmula 1, pois a Toyota tinha equipe recente lá. Foi para a Europa participar de uma seletiva no circuito francês de Paul Ricard com mais alguns convidados, entre eles, o próprio Hélio Castro Neves. E foi o escolhido, entrando na a principal categoria do automobilismo em 2003 para fazer dez pontos. Então, em 20 de julho daquele ano, fez história para a equipe japonesa ao liderar nada menos do que dezessete voltas no Grande Premio da Inglaterra (vencido por Barrichello) depois de ter largado numa excelente sexta colocação. Cristiano da Matta em vários momentos de sua vitóriosa carreira: do kart à F Ford no Brasil, na F3 inglesa e nos Estados Unidos, Da Matta chegou a estar na 15ª colocação no início da prova, mas foi se recuperando para, aproveitando-se de uma bandeira amarela e das primeiras paradas para reabastecimento e troca de pneus de seus adversários, assumir a ponta da corrida. Atrás dele, o companheiro de equipe Olivier Panis, que também optara por estratégia de parada diferente dos demais. Veio a bandeira verde e em três voltas Räikkönen ultrapassou a Panis, colando no brasileiro; assim, esperava-se que em poucas voltas o finlandês passasse o mineiro. Passasse? Ledo engano! Da Matta mostrou naquelas quatorze voltas a frente de Räikkönen o“por quê”de estar ali. Com o carro da equipe Newmann-Hass, o mesmo que um dia pilotou Mario Andretti, Cristiano foi campeão da Fórmula Indy. O mineiro deu um show, puxando forte o mais que pode, não permitindo que o ferrarista se aproximasse nem para ameaçar uma ultrapassagem. Bem ao seu estilo, limpo, mas agressivo, Da Matta manteve Räikkönen a uma distância segura, deslizando sua competência pelo circuito de Silvestone. Depois das paradas, Da Matta fechou a prova da sétima colocação, o máximo que aquele carro permitia (Panis fechara na décima primeira colocação). Recém chegado na Toyota, pelas mãos dos diretores da equipe que apostavam em seu sucesso, Cristiano realizava um sonho. No ano seguinte, ao testar pela primeira vez o modelo TF104, Da Matta avisou ao engenheiro Gascoyne que a suspensão dianteira não parecia funcionar adequadamente, oferecendo pouca aderência aos pneus, pois não ajudava no aquecimento dos mesmos. Gascoyne, julgando-se mais importante do que o piloto, passou a ignorar as informações do mineiro, que obviamente reclamou com Gary Anderson, o Diretor Técnico. No final das contas, Da Matta cansou de não ser ouvido e abandonou a equipe, que insistiu com Gascoyne por mais um tempo, até perceber que o brasileiro estava certo, mas era tarde demais. Silverstone, 2003: Cristiano lidera a prova depois da invasão da pista. Antes do pit stop, Raikkönen não teve chances. Cristiano da Matta, mineiro, simpático e super veloz. Mais um dos muitos talentos que o enorme ego que envolve a Fórmula 1 não soube aproveitar. Que digam também Antonio Pizzonia, Ricardo Zonta, Enrique Bernoldi, Nelsinho Piquet, Christian Fittipaldi, entre outros! Um abraço, Alexandre Vasconcellos |