José Carlos Pace nasceu em 06 de Outubro de 1944, no bairro do Belém, em São Paulo. Veio ao mundo, para susto da mãe, com mais de cinco quilos. Filho mais novo do casal Ângelo e Amélia Pace, seus irmãos eram Ângelo, Vitor e Maria Amélia. ‘Seu’ Ângelo era um imigrante italiano bonachão que, ao chegar ao Brasil, fixou-se no Rio Grande do Sul, comprando matéria prima para o Moinho Santista, empresa de São Paulo. Conhecia bem o ramo, herança da família, prosperou e já como gerente na Paulicéia conheceu e casou-se com Amélia. Montou duas tecelagens - Andes e Abaeté - e mudou-se mais tarde com a família do Belém para Perdizes, onde viveriam por 18 anos. Mas foi no bairro do Pacaembu que o nosso futuro campeão mostrava suas aptidões para a velocidade... descendo as ladeiras em carrinhos de rolimã. E tendo entre seus adversários uma dupla de irmãos que juntamente com ele, fizeram história: Wilson e Emerson Fittipaldi. O Bom rapaz, Carlos, ou Carlinhos era um bom aluno (apesar de matar aulas para ir nadar no Palmeiras – foi recordista juvenil dos 100 metros livres) e, ao concluir o segundo grau já havia sido o escolhido pela família para tocar adiante os negócios do pai, na tecelagem... contudo, o rapaz já havia traçado seu destino (eles esqueceram de uma certa viagem à Itália onde, ao ver a miniatura de uma Ferrari, o pequeno Carlinhos disse: “Ainda vou voltar aqui, correndo com um carro destes”. Ele tinha apenas 5 anos de idade!) e deu um enorme susto nos pais quando teve seu nome completo narrado durante uma transmissão de rádio de uma prova em Interlagos – ele usava um pseudônimo para correr – Moco! José Carlos Pace não era apenas um grande piloto... era também um "piloto grande". Sem lastros, andar de kart era complicado. Apesar de frequentar as rodas da juventude da alta classe média, Pace se sentia realmente à vontade era em uma oficina. Gostava muito de carros e, é claro, com os mecânicos aprendia muito das mágicas que um dia iriam ajudá-lo. Mas não tinha aptidão para "meter a mão na graxa". Foi certamente do "pessoal da graxa" que ganhou o primeiro e pouco sutil apelido de "Mão-de-Vaca". Dizem que era rico, tinha pinta de rico, amizades de um jovem rico, mas não passava de um tremendo pão-duro. Carol Figueiredo, companheiro da primeira fase, não abona a fama: "Não sei de onde veio este apelido. Ele era um gastador, enfiava a mão no bolso sem dó. Só se foi coisa dos mecânicos", garante com conhecimento. Existe uma controvérsia quanto a real origem do apelido de Moco. Na época, em São Paulo, significava 'meleca'. “Ele era bem ‘esculhambado’, não estava nem aí. Mas daí a tirar meleca... sei lá. Apelidaram e ficou", imagina Sérgio Arouche, outro amigo das pistas e fora delas. Foi difícil tomar jeito, mas o charme e beleza da jovem Elda acabou resultando em um coração fisgado.Aliás, esta era uma das facetas do nosso herói, que, segundo narra o livro “O Campeão Mundial sem Título”, de Luiz Carlos Lima, eram quatro! Luiz Antônio Greco levou José Carlos Pace para fazer parte da famosa e poderosa equipe Willys, mesmo sendo ele uma jovem aposta. Para Elda, a mulher de sua vida, ele era o Zé, romântico e brincalhão. Para a família, era o Carlos, ou Carlinhos. Rapaz bem comportado e futuro gestor dos negócios da família. Tinha o Pace, o arrojado piloto de corridas, mas – sem dúvidas – sua favorita parecia ser a do “Moco” (que na outra “versão” do apelido, era exatamente o que conhecemos hoje. Ele fazia-se de surdo quando bem lhe entendia, só “ouvindo o que lhe interessava”.A primeira visão aconteceu em plena rua Augusta quando Moco, então com 17 anos, passeava com o Simca Chambord do pai. Já corria de kart e tanto Elda quanto o futuro sogro da garota odiavam aquela novidade. Capacete, luvas e macacão ficavam muito bem escondidos na casa da namorada e o primeiro troféu foi ela quem ganhou de presente. Apesar de ter corrido de kart durante algum tempo, o copanzil de 1,80 e pesado (apenas quando foi para a Europa é que o Moco começou realmente a se preocupar com o peso) tinha no currículo o título de campeão brasileiro de Marcas dividido com Luiz Pereira Bueno, pilotando um Renault-Gordini e os anos como piloto da equipe Dacon e seus Karman-Guia / Porsche.Preparação física? Pouca gente tinha idéia do que fosse. Principalmente no automobilismo que coroara pilotos robustos como Juan Manuel Fangio e Froilan Gonzalez. Foi correndo pela Dacon, do amigo Paulo Goulart (aqui, como o famoso "Fusca pé de boi") que Moco se consolidou no cenário nacional. Talvez por isso o menino José Carlos Pace não se preocupasse muito com isso. Queria pilotar e vencer. Foi assim, desde os pegas com carrinhos de rolimã, quando solidificou a amizade e rivalidade nas pistas com os irmãos Fittipaldi, até seu último GP. Para o kart foi um pulo. Mas o excesso de peso influiu nos parcos resultados. Mesmo assim, o estilo atirado garantiu o incentivo de kartistas como Maneco Combacau, Carol Figueiredo e o próprio Wilsinho Fittipaldi. Sem nenhum incentivo paterno, Moco continuava à margem. Andava forte nas ruas e era estimulado, mas nem pensar em passar para os automóveis. Aí aconteceu a revolução. A Willys lançou a Berlineta Interlagos, derivada do Alpine francês. Christian Heins, ídolo da rapaziada, foi convidado para correr na Europa - onde morreria em Le Mans, em 1963, quando liderava na categoria. Os jovens paulistas queriam correr de carro, numa forte identificação com a tragédia romântica de Christian Heins, o Bino. Com o Karmann Ghia – Porsche, José Carlos Pace sempre andou bem, mas as quebras eram um problema... e os "2º lugares do carro #2", idem! Aos 19 anos, Moco teve a primeira chance em Interlagos. Anísio Campos, o mais festejado projetista de automóveis do Brasil, foi responsável pelo seu batismo. "Era gordinho, usava camisa listrada e marcou pela docilidade. Era só um teste, ele correria com aquele DKW numa prova de estreantes. Mandei que sentasse ao meu lado e baixei a bota. Dei algumas voltas e ele não disse uma palavra. Aí, passei-lhe o volante. Sem medo, pegou a mão bem rápido, ficou a vontade, traçado perfeito, freava no limite. O garoto levava jeito. Era naturalmente rápido. Podia ficar bom, muito bom", Anísio suspira. O bom desempenho chegou aos ouvidos de Luiz Antônio Greco, o grande chefe da equipe Willys. Com o vozeirão peculiar, propôs ceder um Gordini preparado pelo "mago" Roger Resny e Moco, que sequer estreara, encostaria o DKW. Esta atitude do Greco deu muito o que falar, com muitos pilotos morrendo de dor de cotovelo. José Carlos Pace – em parceria com Totó Porto – quase venceu as Mil Milhas Brasileiras de 1966. A vitória veio, finalmente, no polêmico GP Faria Lima. Moco não pilotou o tal Gordini, que acabou desclassificado, mas chegou em 2° na vitória de Carol Figueiredo na classe até 850cc. A prova seguinte foi em Araraquara e a Willys não tinha carros para todos os seus pilotos - entre eles Luis Pereira Bueno e Wilsinho Fittipaldi. Empolgado, Moco decidiu correr com seu carro de rua, um Interlagos conversível. Greco cedeu-lhe um motor e assistência de boxe e não deu outra. Venceu no Grupo 1 de ponta a ponta. Em 1964, a Willys tinha seis carros e disposição para tornar-se imbatível. Três Berlinetas – Luiz Pereira Bueno, Wilsinho Fittipaldi e Bird Clemente, que abandonara a DKW – e três 1093 – Moco, Carol Figueiredo e Chico Lameirão. Pace venceu várias provas na categoria e em 1965, já no primeiro grupo de pilotos, fez parceria e foi vencedor com Luiz Pereira Bueno na prova 1600 Km de Interlagos. Habilíssimos, os dois seriam campeões brasileiros em 1968, consagrando outro carro histórico, o Bino Mark II. “O limite dele era muito alto e o Moco era muito arrojado. Era o supra-sumo do piloto. Que eu lembre, jamais me entregou o carro danificado nem quebrou sem justificativa. Era duro acompanhá-lo”, afirmou Luiz Pereira Bueno, ele mesmo uma das maiores glórias do nosso automobilismo. Moco estava consagrado. A amizade que havia entre os pilotos daquela época era algo sensacional. Pace e Anísio Campos são carregados nos ombros pelos "rivais" Fittipaldi. Naquela prova de 1600 Km de Interlagos, Francisco Rosa, o legendário Chico Rosa, estreava na equipe Willys dando suporte na organização dos boxes. Fundamental na carreira internacional dos Fittipaldi e também na de Pace, sua memória é documento decisivo. “Conheci o Moco quando trabalhei para a equipe Willys, o Christian havia morrido e o Greco assumira. O Wilsinho era o melhor piloto do Brasil, mas já se falava muito no Moco. O Greco era fantástico, sabia garimpar os kartistas de melhor potencial e, com isso, renovou e rejuvenesceu nossas pistas. Ficou claro que ele era um talento nato, excepcional. Sem dúvida, vi muitos outros de perto, mas guiar como ele, quase não me lembro”. Existe uma lenda. A de que Moco era super, só que era burro. “Burro? Eu não diria isso! Era desligado, tinha um mundo dele, todo particular”. Quando a Fórmula Vê chegou ao Brasil, José Carlos Pace foi, com toda a nova geração, correr de monopostos. Acima, disputa com Ricardo Achcar. “Um dia eu estava almoçando em Fiorano, na Itália, casa da Ferrari, com o comendador Enzo Ferrari. Falávamos sobre o Jacky Ickx e ele fez um comentário que se encaixava perfeitamente no perfil do Moco. Ele disse: ‘o Ickx é o maior piloto amador do mundo’. Era como eu via o Moco. Era um piloto supremo, mas que jamais seria um grande profissional como o Emerson ou o Jackie Stewart. O foco dele não era somente corridas de automóvel, como o dos outros. Para efeitos profissionais, poderia ser um defeito, mas daí a ser burro...” Já na equipe Dacon, Moco passou a rivalizar com a equipe Willys. Em parceria com Totó Porto, o VW da Dacon estreou em 1965 com um 4° nas 250 Milhas de Interlagos, atrás das potentes carreteiras de Camilo Christófaro e de Caetano Damiani e da Alfa Zagato de Piero Gancia e Marivaldo Fernandes. Uma enorme discussão para que fossem liberadas as importações mudou o rumo do nosso automobilismo, enfraquecendo e determinando o início do fim das equipes de fábrica como a Willys, DKW, Simca, FNM. Em 1968, José Carlos Pace recebeu o famoso "Prêmio Victor". Na foto, os outros premiados do ano: Luiz Pereira Bueno e Ricardo Achcar. Moco, enquanto isso na Dacon, liderou 10 provas que participou com o Karmann-Ghia Porsche, mas só venceu três, sempre refém das quebras mecânicas. Já na Fórmula 1, reconhecia que aquele carro lhe dera mais satisfação na carreira. Em 1969, Moco foi novamente campeão brasileiro, agora na Jolly Gancia. Antes, em uma prova Mil Quilômetros, Brasília assistiu a um momento histórico. Pela primeira e única vez, Carlos Pace e Emerson Fittipaldi correram em dupla, com Alfa Zagato. Dois quase moleques, repletos de ímpeto, que perderam a corrida que tinha tudo para ser deles. A fase das corridas longas no Brasil diminuiu com o desmantelamento das equipes de fábrica e isso acabu abrindo espaço para os monopostos mais competitivos, começando com a Fórmula Vê. Wilson Fittipaldi construiu o Fitti. Havia os Aranae. Era uma nova fronteira se abrindo. Moco, mais esbelto, encarou a novidade e como se supunha, adaptou-se. Moco já era um dos grandes que integravam o imaginário dos fãs. Bel Camilo, pai do piloto da Stock Car Thiago Camilo, lembra bem deste momento. “Eu era muito moleque e não me esqueço de ver o carro do Moco. Não tiro da memória aquele capacete com a pintura de uma seta, apontada para baixo. Ele era um bravo e a meninada o adorava”. O sucesso de Emerson Fittipaldi na Europa foi o que faltava para os outros brasileiros buscarem o mesmo caminho. Pace correu de F3 e foi campeão em 1970. Seguindo as vitoriosas pegadas deixadas por Emerson Fittipaldi, foi para a Inglaterra em 1970, já casado com Elda. Instalaram-se em Attleborough, vilarejo onde ficava a sede da famosa escola de pilotagem de Jim Russell (que depois daquele ano já devia estar meio traumatizado... dois Brasileiros chegaram à sua escola, deram “aula de pilotagem” e conquistaram a F3). Num sobrado pequeno, dividido ainda com o “aspirante a campeão” Fritz Jordan e Chico Rosa, que já assessorara Emerson Fittipaldi no ano anterior, não tiveram vida fácil... mas venceram! Na Europa, em 33 largadas, Moco obteve seis vitórias e sete segundos lugares. Foi o campeão inglês de Fórmula 3 em 1970, batendo seis recordes. Deixou muitos chefes de equipe atentos ao seu trabalho quando foi campeão inglês do Forward Trust e vice do Lombank Trophy, onde a nata corria, logo na temporada de estréia em 1970. Muitos não consideravam Pace um piloto à altura dos grandes mestres de sua época (Fittipaldi e Stewart), mas seu ex-chefe de equipe, Luiz Antônio Greco dizia que ele era um “extra-terrestre”. Termo que o experiente chefe de equipe só utilizou para definir dois pilotos: Jim Clark e Ayrton Senna! Com muitas dificuldades técnicas na Fórmula 2, Pace não conseguiu repetir o feito do ano anterior. Mesmo assim, conseguiu um lugar na Fórmula 1. Para o jornalista Luís Carlos Secco – testemunha fiel desta fase quando editava o Jornal da Tarde, de São Paulo – “O Moco era completamente diferente do Emerson. Era uma emoção só, às vezes quase incontrolável. Sua personalidade era complicada, mas ele era afável, até dócil e gentil no trato. Os europeus gostaram daquele estilo, que era novo, e ficou claro que iria parar na Fórmula 1, depois do título na Fórmula 3. Sempre que eu via o Ayrton Senna eu me lembrava dele. Tinham muito em comum, eram enebriados pela velocidade e extremamente habilidosos em qualquer carro. Só não aposto que ele seria também um campeão na Fórmula 1 devido a esta faceta emocional. Não sei se ele seria capaz de administrar as pressões que a disputa de um título na Fórmula 1 exige”. Um único êxito na Fórmula 2 – a vitória em Imola, na Itália – favoreceu sua entrada na Fórmula 1. José Carlos Pace estreou na Fórmula 1 na prova extra oficial do Brasil, com um carro da equipe de "um tal de Frank Williams", para quem correu no ano. Aquela temporada de 1971 seria definitiva. Não havia suporte financeiro para assinar com Frank Williams na Fórmula 2. Moco chegou a declarar a amigos que iria parar. A salvação veio través dos irmãos Abílio e Alcides Diniz, que conseguiram o suporte do Banco Português do Brasil. Virou “profissional” e por duas temporadas seguidas carregou no macacão e nos carros o logotipo do banco. Os resultados não foram bons, cumpriu parte do calendário da Fórmula 2 em 1971 mas entrava ao mesmo tempo numa fase quase interminável de problemas com carros, foram um drama ao longo do ano. Apesar disso, pode voltar a exibir suas grandes virtudes – e alguns defeitos básicos. O apego à velocidade, decisivo em momentos críticos da corrida, era muitas vezes anulado pelo desprezo e desatenção a detalhes como o perigo das curvas, das pistas molhadas, e nas quais o piloto ignorava as necessárias reduções de marcha. Se na Fórmula 1 as coisas não eram um “mar de Rosas” para José Carlos Pace, no mundial de protótipos ele era piloto da poderosa equipe Ferrari. Já com o patrocínio do Banco Português do Brasil, cumpriu parte do calendário da Fórmula 2 em 1971 mas entrava ao mesmo tempo numa fase quase interminável de problemas com carros, um drama em sua carreira. Muitos não consideravam Pace um piloto à altura dos grandes mestres de sua época (Fittipaldi e Stewart) mas seu ex-chefe de equipe, Luis Antônio Greco dizia que ele era um “extra-terrestre”. Termo que o experiente chefe de equipe só utilizou para definir dois pilotos: Jim Clark e Ayrton Senna! Um único êxito na Fórmula 2 – a vitória em Imola, na Itália – favoreceu sua entrada na Fórmula 1, onde estreou na temporada seguinte, correndo para Frank Williams e voltando a exibir grandes virtudes e alguns defeitos básicos. Frank Williams ainda não era o “Frank Williams das vitórias”, e com isso, os bons resultados eram suados, Pace compensava "no braço". Frank Williams, em dificuldades financeiras, foi mais que um chefe de equipe: "Foi um amigo que fazia tudo pelo Moco", relembra Chico Rosa. A vitória em Ímola abriu as portas da Itália para Moco, que foi convidado para testar - e depois correr - com uma Ferrari 312 no Mundial de Marcas de 1972 (Pace iria cumprir a promessa que fez à família quando passava, aos cinco anos, férias na terra do pai). Ele andava triste com a improvisação na equipe de Williams. Na cartola, porém, tinha alguns trunfos. Um deles era o convite para guiar na Fórmula 1 do próprio Frank Williams. Além disso, estava sendo sondado pela Brabham, já sob o comando de Bernie Ecclestone, e pela March, que tinha Ronnie Peterson como primeiro piloto. John Surtees também queria levá-lo. Depois de uma visita surpresa a São Paulo e muitas juras de amor, Frank venceu a parada e assinou com Moco para a sua equipe de Fórmula 1, em 1972, quando disputou paralelamente a Fórmula 2. Em 1973 Pace mudou de equipe, indo correr para Johnny Surtees... A estrutura era um pouco melhor, mas ainda longe das vitórias. Moco oficializou seu casamento com Elda e parecia disposto a grandes passos em 1972. Na Fórmula 2, agora na equipe Surtees, seu companheiro e primeiro piloto Mike Hailwood faturou o título europeu e Moco venceu uma das etapas do II Torneio Brasileiro, em Interlagos. Ele ainda correu na Can-Am e para 1973 tinha convites da Gulf Mirage, Matra e Alfa Romeo nos Protótipos. E da Surtees, Shadow, BRM, March, Tecno e Rondel para a Fórmula 1. Já ganhava muito bem para o nível de contratos da época, era adulado por jornalistas e vítima do assédio dos fãs. Moco chegara ao olho do furacão mais rápido do que um dia sonhara. Neste ano ele foi convidado pelo comendador para pilotar a Ferrari na Fórmula 1 (Ele poderia estar a bordo da 312 em 1974!!!) mas gentilmente recusou o convite, afirmando precisar ser fiel a amizade estabelecida com Surtees. Contudo, os resultados continuaram aquém do seu potencial e em 1974 aceitou o convite de Bernie Ecclestone para ingressar na Brabham. Os resultados melhoraram, mas ele demorou a se adaptar ao carro e – pelo seu lado místico – a tirar o peso que arrastava (seu capacete tinha uma seta para baixo e, num sonho – segundo o próprio Moco – seu pai, já falecido, disse ser um peso demasiado, que ele deveria tirar. Isso foi na véspera do GP dos EUA, em 1974, e ele pulou da cama, empunhou uma lâmina de barbear e raspou as pontas das flecha). Na metade da temporada de 1974, a ida para a Brabham davam a José Carlos Pace, finalmente, a chance de lutar por vitórias. Os ventos pareciam mudar de direção. Foi segundo, fazendo dobradinha com o Argentino Carlos Reutemann (estava indo para cima, mas a equipe pediu que garantissem o resultado), apesar das duas costelas fraturadas ainda na segunda volta quando o cinto se soltara em um dos pontos e ele batera violentamente contra a lateral do carro. Na terceira prova da temporada de 1975, no ainda chamado Interlagos, ganhou seu único Grande Prêmio. “Correu como um campeão”, diziam os jornais da época. Foi uma festa brasileira, com Emerson chegando em segundo. A torcida estava tão entusiasmada com a primeira vitória da carreira de Pace, assim como com a primeira dobradinha brasileira na história da F-1, que ele não conseguiu levar seu carro de volta até os boxes. Com isso, teve de ser levado nos ombros. A chance para vencer veio justamente em casa, diante da torcida brasileira (com uma “ajudinha do Jarier”). Dobradinha em Interlagos! Com fortes dores de cabeça, ele apenas entrou na garagem, sentou no chão e chorou copiosamente. Sem parecer saber o que realmente estava se passando, subiu no pódio errado, sendo o último a chegar para a comemoração regada a champanhe. Depois de receber a tradicional (na época) coroa de louros, Moco pegou uma bandeira do Brasil entregue por Emerson e balançou-a para o público. Delírio total em Interlagos! Aquele ano terminava como o melhor ano de sua carreira, com um sexto lugar ao final do campeonato, mas o ano seguinte mostrou-se difícil. Seu patrão, Bernie Ecclestone, resolvera investir nos motores de 12 cilíndros da Alfa-Romeo. Pesados e beberrões, fizeram os pilotos sofrea ao longo da temporada, mas Pace mostrou uma enorme capacidade de desenvolvimento e o carro mostrava-se competitivo para 1977. Muito trabalho ao longo do ano e suas virtudes de grande acertador fizeram do Brabham BT 45 o carro mais rápido dos testes de inverno. Neste ponto, cabe um parênteses: Bernie Eclestone dizia que o carro de Moco terminava as corridas em melhor estado que o de Reutemann. Era, como Piquet, um grande acertador de carros. Uma foto para a eternidade: ao lado da amada e sempre companheira Elda, com o amigo Emerson e vencendo no Brasil. Os mecânicos da Brabham em geral, e Gordon Murray, em particular, sempre declararam que Jose Carlos Pace iniciou um caminho que logo depois foi trilhado por Nelson Piquet. Pelo que disseram Luis Antônio Greco e Bernie Ecclestone, dois de seus mais conceituados chefes de equipe, Moco reunia o melhor das qualidades dos nossos futuros campeões de Fórmula 1!Nas primeiras provas, via-se que ele era um sério candidato ao título. Teve um segundo lugar e uma quebra mas o destino não permitiu que aquilo que todos sabiam (Pace seria sim, campeão mundial de F1), viesse a acontecer. No dia 18 de março de 1977, longe das pistas, voando em um monomotor, durante uma chuva torrencial o PP-EHR caia e nos tirava dos grids este grande piloto, que foi chamado por todos de “O Campeão Mundial sem Título”. Seu velório, na sede do Automóvel Clube Paulista, teve a marca da simplicidade, da ‘sua’ simplicidade. Emerson e Wilsinho Fittipaldi, na época, talvez, injustamente apontados como seus maiores rivais e adversários mais duros, choraram a perda em público sem o menor resquício de pudor. O pranto de homens duros como Bernie Ecclestone e Frank Williams, quando comunicados de sua morte, talvez explique o quanto Pace, como piloto e como pessoa, foi marcante no meio da F1, apesar de ter ficado por tão pouco tempo. Foi de emocionar. Pace sofreu para ajustar a Brabham com motor Alfa Romeo. Em 1977, o carro estava voando e as chances de ser campeão eram reais. São Paulo chorou, o Brasil assustou-se e as corridas novamente iriam ganhar contornos de esporte popular e desafio talhado para quem tem sangue nobre, mas fisionomia de guerreiro: Descrição precisa de quem conheceu José Carlos Pace. Afinal, é sempre da natureza do homem a tristeza calar mais fundo do que a talvez fugaz lembrança das alegrias. Em sua homenagem, o Autódromo de Interlagos – o mais importante do país – recebeu o seu nome e sua história será sempre lembrada por aqueles que amam o automobilismo. Fontes: Site Obvio; Livro "O Campeão sem Título", de Luiz Carlos Lima; CDO; Site Museu do Kart; Fotos de Rogério da Luz e CDO. |