Nos anos 70/80 os grandes karts de fabricação nacional eram os Mini e os Silpo, pertencentes a Mario de Carvalho e Silvano Pozzi, mas a história iria mudar... e mudou. Tendo como base o chassis do kart italiano DAP, de Ayrton Senna, estabeleci uma parceria com ele e, em 1979, construí no Brasil o ZAP. Um projeto novo no país, baseado no DAP que o Ayrton usava em provas quando corria no exterior. O ZAP veio trazer para o kart um outro conceito de construção para os modelos nacionais por seu processo de confecção e perfeição no acabamento. A maior parte de suas peças, foram feitas em Porto Alegre, na Aero Moto, a mesma companhia que fabricava componentes para os aviões da VARIG e que chegou a fazer peças para o F1 Brasileiro dos irmãos Fittipaldi. O Aço do qual foi feito o chassi passou por diversas análises, sendo as amostras de tubos sujeitas a todo o tipo de teste de resistência, torção e flexão, até se chegar na composição ideal entre cromo, níquel e molibdênio (em proporções nunca reveladas). Os tubos, depois de conformados e soldados eletricamente, possuíam um acabamento como nenhum outro kart possuía no país. Não havia cantos vivos, rebarbas ou saliências. No kartódromo de Monte Verde, Ângelo Alonso e Ayrton Senna trabalham no kart ZAP. Um parceria que rendeu sucesso. As dimensões eram as mesmas dos DAP, sendo ligeiramente mais curto e mais largo que os Mini. A diferença mais significativa estava na traseira, mais curta do que todos os karts conhecidos. A disposição dos tubos era singular, a barra transversal estava enviesada e os suportes do banco tinha duas hastes a mais. A travessa central, no meio do kart, também tinha dois tubos removíveis suplementares, formando dois triângulos com o corpo do chassis, enrijecendo todo o conjunto ou – se retirados – amolecia o chassis. Era um recurso a mais a se usar para adaptar o kart ao tipo de pista em que se ia correr. Hoje é um recurso usado em todos os chassis de fabricação nacional. Na frente, além de uma bitola maior, os canos tinham uma inclinação especial, que deixava as mangas um pouco mais elevadas e que impediam o choque contra o chassis em situações de esterça mento máximo, permitindo uma gama maior de ajustes e de pilotagem. Falar em detalhes de construção é uma coisa, colocar na prática e ver funcionar é outra. Os fabricantes chamaram para o “teste de fogo” do seu produto um super campeão de kart: Toninho da Matta. Depois dos testes, Toninho mostrava-se surpreso e entusiasmado com o novo chassi, considerando-o dócil e estável, com grande dirigibilidade e que com isso permitia uma pilotagem mais agressiva e vigorosa. Nas frenagens, a estabilidade era surpreendente, com o kart mantendo a trajetória sem grandes esforços. Parte do segredo estava na construção dos freios, que permitiam a regulagem das pastilhas sem necessidade desmontagem das pinças, que podiam ser aproximadas ou afastadas com uma chave de fenda. Toninho da Matta, um dos maiores campeões de kart de todos os tempos foi só elogios ao ZAP: Com ele foi campeão. A prova maior da qualidade do produto – para os fabricantes – não estava no tempo de volta obtido por Toninho (43,9s, recorde oficial do (kartódromo), obtido com um motor pouco potente, mas sim no fato do kart ter ido “cru” para o teste, sem nenhum ajuste inicial. Ou seja, a evolução do conjunto seria muito grande. Em corrida, posteriormente, Toninho marcou 43,85 segundos, vencendo sua primeira corrida com o novo chassi e promovendo o kart ZAP, que passou a receber diversas encomendas e levou o multicampeão mineiro a conquistar mais um título naquele ano. Como se não bastasse o nome de Toninho da Matta para referendar a eficiência dos karts ZAP, eu ainda podia contar com o bicampeão sulamericano e duas vezes vicecampeão mundial de kart, Ayrton Senna, que nos testes finais do kart no kartódromo de Rio Verde e bateu o recorde da pista, com 42 segundos cravados. Como esperado, o ZAP foi um projeto vencedor, tendo dominado os principais campeonatos no Brasil, sendo campeão brasileiro naquele ano. A partir de 1982 o ZAP passou a ser fabricado por Ademar Moro e a chamar-se Kart Moro, vindo a obter vários campeonatos paulistas, brasileiros e sulamericanos. Um abraço a todos, Ângelo Alonso |