O mundo dos esportes a motor recebeu, entre surpreso e incrédulo, a triste notícia da morte do ex-piloto brasileiro Gil de Ferran, prematura, aos 56 anos de idade, um dos melhores pilotos da história do automobilismo. Nascido em Paris, em 11 de novembro de 1967, chegou ao Brasil com quatro anos de idade, junto com a família. Seu pai, Luc de Ferran, engenheiro mecânico francês, assumiu um cargo na diretoria da Ford brasileira. Seguindo o exemplo do pai, Gil cursou engenharia até o terceiro ano, só desistindo quando decidiu se dedicar à carreira de piloto profissional de automobilismo. Começou sua jornada nas corridas na década de 1980, no kart. Seu principal título foi o de campeão brasileiro de 1987. Nesse mesmo ano estreou na Fórmula Ford, categoria em que foi campeão nacional de 1988. Viajou sozinho para a Europa, disposto a vencer no centro mundial do automobilismo, a Inglaterra. Competiu nas temporadas de 1991 e 1992, onde foi campeão nesse último ano, com sete vitórias conquistadas. Progrediu de categoria em 1993, quando passou a competir na Fórmula 3.000, pela equipe de Paul Stewart. Foi quarto colocado em 93 e terceiro colocado em 94. Encerrou seus anos de preparação para chegar a uma categoria top em excelentes condições. Planejador ao extremo, correu dois anos em cada categoria. Preparava no primeiro ano todo o seu potencial para se campeão no segundo. Quase sempre dava certo. Tinha plena consciência de como se conduzir. Metódico, Gil de Ferran é o piloto brasileiro que melhor administrou sua carreira profissional. Desde que estreou nos carros de corridas, competiu sempre de forma organizada. Com essa dedicação de foco total chegou ao final de 1994 sendo considerado um dos mais bem cotados a assumir um cockpit de uma categoria. Gil atingiu um nível alto de eficiência, tanto que equipes da Fórmula 1 e Fórmula Indy já o conheciam e algumas fizeram propostas. Calculista, chegou à conclusão de que teria aumentadas suas chances de sucesso na Fórmula Indy. Aceitou o convite do famoso engenheiro Jim Hall para integrar sua equipe. Na temporada de 1995, período de aprendizado, foi o 14º do ano. Em 1996 venceu sua primeira corrida, em Cleveland, subindo ao pódio mais quatro vezes. Chegou ao sexto lugar no campeonato. No ano de 1997 de transferiu para a Walker Racing. No mesmo ano ficou com o vice-campeonato, não vencendo corrida, mas chegando ao pódio dez vezes. 1998 aconteceu uma temporada para ser esquecida, quando terminou e, 12º lugar. Mesmo assim foi ao pódio três vezes. Em 1999 melhorou um pouco, ficando na oitava colocação, com uma vitória, em Portland, e dois pódios. O piloto brasileiro demonstrava que se tivesse à sua disposição uma estrutura melhor poderia vencer corridas e até campeonatos. A grande chance veio através do convite da Penske, uma das melhores da Fórmula Indy. Finalmente, Gil de Ferran podia contar com uma estrutura vencedora. E ele aproveitou muito bem a chance. Na temporada de 2000 foi campeão, com vitórias em Nazare e Portland e outras sete posições no pódio. O brasileiro conquistava seu primeiro título mundial. Nova conquista viria em 2001, com o segundo título consecutivo. Somando duas vitórias e mais oito pódios, com destaque para o segundo lugar em Indianapolis, foi campeão. Em 2002, novo bom ano para Ferran. Terminou o campeonato na terceira colocação, somando duas vitórias e outros oito lugares no pódio. A vitória mais significativa da carreira de Gil aconteceria nas 500 Milhas de Indianapolis de 2003. Venceu no ano mais duas vezes, em Nashville e no Texas. Foi ao pódio mais seis vezes. No final desse ano o piloto resolve encerrar a carreira de piloto. Gil de Ferran continuou ligado ao esporte que sempre foi sua paixão. Ocupou cargos de direção em equipes de Fórmula 1, com destaque para a McLaren, onde em 2023 ocupava a função de consultor. Foi um dos maiores conhecedores de automobilismo, nas áreas técnica e esportiva. Participava de um evento promocional em Opa Locka, Florida, quando sentiu dores no peito. Socorrido rapidamente foi transportado para um hospital, mas nada pode ser feito para salvar a vida do ex-piloto. Por todas as conquistas descritas, pela dedicação e concentração, Gil de Ferran merece destaque e deve ser considerado entre os melhores da história. Luiz Carlos Lima Visite o site do nosso colunista Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid. |