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WRC 2024 e o futuro dos Ralis PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 27 January 2024 22:33

No momento que estiver a ler estas linhas, o Mundial de Ralis, o WRC, já começou, nas estradas nevadas de Monte Carlo. Entre os dias 25 e 28 de janeiro, máquinas e pilotos andarão o mais rapidamente possível, tentando evitar as armadilhas da neve e gelo, e tentando chegar inteiros a Monte Carlo, para receber o troféu de Albert II e inscrever o nome na lista de vencedores de um rali que existe desde 1911, um dos mais antigos do mundo.

 

Contudo, nesta nova temporada, as coisas parecem estar agitadas. Parece que o WRC se encontra numa encruzilhada, de uma modalidade popular na Europa, mas do qual imensas pessoas acreditam que está a perder fãs para a Formula 1, a Endurance e até a Formula E. E a FIA acredita que se calhar está na hora de dar uma chicotada psicológica no sentido de mexer nas coisas, no sentido de embaratecer os custos e atrair construtores e pilotos. Já mexeram no sistema de pontuação e prometem ainda mais, mas esta é uma temporada onde, curiosamente, Kalle Rovanpera, o campeão, decidiu fazer uma pausa na carreira e deixar o plantel sem um “super-homem”, dando à competição o campeonato mais aberto em mais de duas décadas. 

 

AS FORÇAS EM PRESENÇA

 

No final de 2023, um dia depois de acabar o Rali do Japão e Kalle Rovanpera ter comemorado o seu segundo título mundial seguido com a Toyota, veio a público anunciar que iria apenas competir a tempo parcial, dividindo o carro com Sebastien Ogier. Se o francês tem oito títulos e 40 anos de idade, o filho de Harri Rovanpera tem dois e comemorou recentemente o seu... 23º aniversário.

 

Falei recentemente neste espaço sobre a sua decisão e como as questões de saúde mental são cada vez mais importantes para o ser humano. Alguém como Kalle Rovanpera, que está ao volante desde os... nove anos e compete desde os 15, usando licenças especiais para aprender a andar depressa num carro de ralis, chegando ao WRC mal completou o seu 18º aniversário,

 

 

Contudo, o seu afastamento parcial deixou o panorama... bem competitivo. E poderemos estar a caminho de um dos campeonatos mais emocionantes de sempre. Se calhar em mais de duas décadas. O galês Elfyn Evans, na Toyota; o belga Thierry Neuville e o estónio Ott Tanak, ambos na Hyundai, são três pilotos que competirão fortemente pela vitória, e ainda por cima serão pilotos que farão a temporada a tempo inteiro. Outros pilotos também farão a competição a tempo inteiro, como o japonês Takamoto Katsuta, o luxemburguês Gregoire Munster e o francês Adrien Formaux, estes últimos pela Ford, mas eles tem muito menos chances de triunfo.

 

Entre os que farão programas parciais estão, na Toyota, o finlandês Teemu Suninen, e na Hyundai, o norueguês Andreas Mikkelsen, o espanhol Dani Sordo e outro finlandês, Esapekka Lappi. Mas estes não tem chance de triunfo, embora possam lutar por pódios, por exemplo. 

 

Ainda há outra razão porque estes ralis podem ser ainda mais competitivos. Os pilotos que farão programa parcial são alguns dos “super-humanos” que os ralis tiveram nos últimos 20 anos. Poderemos não ter Sebastien Loeb, que fará 50 anos em 2024, e que ganhou ralis com um Puma Rally1, mas teremos Sebastien Ogier, que ganhou três ralis em 2023, e claro, o próprio Rovanpera. Mas o francês é muito bom no asfalto de Monte Carlo e Kalle adora o rali da Finlândia e irá querer fazer um brilharete na Letónia, prova que se estreia no Mundial de ralis e onde começou a sua carreira, bem como mais algumas provas. Isto quererá afirmar que a regularidade será a chave para ser o campeão. É que muito provavelmente, ninguém ganhará mais que três ralis neste campeonato. E com cada um deles a conseguir até 90 pontos só nestas três provas – em 13 ralis – isto poderá significar que para ser campeão, terá de alcançar até 200 pontos.

 

 

Isto... se cumprir os novos critérios de pontuação do Mundial de ralis, que aparentemente, poderá confundir, em vez de simplificar o fã. E é sobre isso que falaremos nas linhas seguintes, porque em 2024, teremos um sistema de pontuação que está dividido em duas partes. 

 

A PONTUAÇÃO: SÓ PARA ATRAPALHAR?

 

Em 2024, teremos um novo sistema de pontuação dividido em dois. Continuarão a estar 30 pontos em jogo para o vencedor, se triunfar quer na prova, quer na Power Stage, mas agora a pontuação estará dividida em dois. E se desistir no dia final, tudo o que alcançou antes… não contará.

Estranho? Mas verdadeiro. 

Se antes, o sistema de pontuação era como nas restantes modalidades da FIA, como a Formula 1, Formula E e outros – 25-18-15-12-10… etc, até ao décimo lugar, onde ali, alcança-se um ponto, a partir de agora, tudo será diferente, mais tripartido. Agora,  serão atribuídos pontos na noite de sábado, após dois dias de rali, com mais pontos a poder ser obtidos nos troços de domingo, e ainda na PowerStage.

 

 

Na primeira parte do rali, que acaba no final de sábado, serão atribuídos 18 pontos para o ‘vencedor’, 15 para o segundo colocado, 13 para o terceiro, depois 10-8-6-4-3-2-1, com uma nuance: para ‘registar’ os pontos de sábado, o concorrente tem que terminar o rali no domingo. Sem isso, nada feito. O resto dos pontos serão atribuídos no domingo, antes da Power Stage, onde ali, serão dados pontos para os cinco melhores tempos: 5-4-3-2-1.

 

A ideia desta pontuação dividida ao meio é evitar que os pilotos “passeassem” no domingo, para que poupassem mecânicas e pneus para a Power Stage, ou seja, têm de se aplicar a fundo da primeira à última especial. Por outro lado – e foi daí que surgiram a maior parte das críticas – o vencedor do rali poderá não ser quem soma mais pontos, esvaziando o triunfo.

 

 

E ainda tem mais: quem tiver o azar de desistir no sábado, e regressar – no WRC, pode regressar à prova, com penalizações de cinco minutos por cada especial não cumprida – pode conseguir bons pontos no domingo, como faz no Power Stage. Mas se desistir no domingo, não leva nada, portanto o piloto que liderar o rali no sábado à noite tem que pensar cuidadosamente sobre a sua tática, porque no domingo tem que terminar o rali, dê por onde der.

 

Se a ideia fará com que os pilotos passem ao ataque – ou à defesa… – ao longo de todo o rali, é algo que teremos de ver ao longo da temporada, mas agora os pilotos terão de encarar tudo de maneira diferente ao que encaravam até agora. Não existirá “momentos mortos”, todos se aplicarão, aparecerão duelos dos quais os espetadores ficarão agarrados às televisões, notebooks, ou aos seus celulares.

 

 

Contudo, há quem jure que esta mudança poderá ser apenas o começo de uma série de  mexidas que poderão revolucionar ainda mais os ralis a partir de 2025, dos quais explico mais abaixo, e que a FIA decidiu fazer para atrair a atenção de pilotos, marcas e outras entidades, como as televisões, para melhorar o produto nas redes sociais. 

E essa mudança poderá passar.. pelos próprios carros.  

 

UMA MUDANÇA À CAMINHO

 

Em meados de 1986, os ralis lidavam com carros crescentemente leves e potentes. Os Grupos B, apesar de estar cheio com construtores - Lancia, Audi, Peugeot, MG, Ford, Toyota... - estavam nas mãos de pilotos que cada vez mais se queixavam de não ter capacidade para controlá-los. E os acidentes de Joaquim Santos, no Rali de Portugal, e sobretudo, de Henri Toivonen, no rali da Córsega, levaram a que a FISA tomasse uma decisão radical, que foi a de abolir o grupo B, e deitar fora o Grupo S, com carros ainda mais velozes e potentes, a favor do Grupo A, mais lentos, mas mais baratos. O Grupo A entrou em vigor em 1987 e ficou por uma década até aparecer o WRC, e ficou marcado pelo domínio dos Lancia, a principio, e depois surgiram os Toyotas, Fords e Subarus.

 

 

Agora, mais de 35 anos depois, a FIA poderá estar a tomar uma decisão tão ou mais radical que tomou em 1986. E não tem a ver com o excesso de potência ou os problemas de segurança. Tem a ver com a ideia de atrair mais construtores para os ralis, embaratecendo os custos. No próximo dia 28 de fevereiro, está marcado uma reunião do Conselho Mundial da FIA, e o que se anda a falar é a extinção, pura e simples, dos Rally1 no final desta temporada e passar, a partir de 2025, para os Rally2, sob outro nome, que poderá ser o de... WRC.

 

É certo que os sinais de alarme estão a ser tocados desde há algum tempo, e as alterações no sistema de pontuação neste ano são um primeiro sinal de que querem mexer nas coisas. Mas um grupo de trabalho dentro da comissão de ralis do WRC, chefiado pelo fundador da Prodrive, David Richards, e pelo ex-navegador de Colin McRae, Robert Reid, estão a chegar à conclusão de que este WRC como está, poderá levar à competição a uma decadência irreversível. Os Rally2 Plus - no qual estariam à partida Citroen e Skoda, para além de Toyota, Ford e Hyundai - tem o potencial de serem competitivos, mas os construtores que lá estão tem de ser convencidos de que esta decisão, radical, tem de ser feita, a bem da competição, porque isso significaria o fim prematuro destes Rally1 na estrada, que entraram em ação em 2021. Só que quase ninguém, para além das equipas oficiais, os usa, por causa dos elevados custos. As equipas oficiais preferem construir carros para a classe Rally2, que serão comprados por pilotos um pouco por todo o mundo para os seus campeonatos locais e regionais.

 

E é isso que eles pretendem mudar radicalmente.

É que entre oito Rally1 na lista de inscritos e – potencialmente – 25 ou 30 Rally2 Plus, provavelmente a FIA tem de convencer os construtores de que a troca valerá a pena no médio prazo.

 

 

Entende-se o propósito aparentemente radical. O WRC é uma competição mais acessível do automobilismo, em termos de espetadores. Não pagas bilhete para ver os teus ídolos a correrem, à beira da estrada, e embora seja, em muitos aspetos, uma atividade localizada à Europa, com alguns núcleos aqui e ali no resto do mundo, está numa situação de decadência, longe do auge de há quatro décadas. E a ideia é essa mesma: recuperar isso, provavelmente colocando limites nos custos, embaratecendo o material e vendendo chassis a privados, ganhando em termos de qualidade nas listas de inscritos e fazendo despertar talento local. E claro, atrair mais construtores.

 

Resta saber se esta abordagem resultará... isto, se os construtores que lá estão – Toyota, Hyundai e Ford, no WRC Rally1, e Citroen e Skoda, no Rally2, aceitarem.

 

Saudações D’Além Mar!

 

Paulo Alexandre Teixeira

 

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Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid.