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Custo x Desenvolvimento PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 25 April 2011 21:58

 

Existe uma – digamos – equação no automobilismo que envolve duas coisas praticamente antagônicas: A busca da redução de custos sem que haja uma perda – ao menos significativa – na capacidade das equipes desenvolverem seus carros e da categoria como um todo evoluir. 

Existem meios para se equilibrar os dois lados desta balança?  

 

Rosinei Campos (Meinha) – Chefe da equipe RC Eurofarma na Stock Car. 

Reduzir custos sempre é possível, o importante é saber encontrar uma forma de não comprometer a qualidade do evento, da categoria. É difícil falar de uma forma geral. Cada categoria tem suas características próprias. No caso da Stock, especificamente, depende muito da participação da organizadora (VICAR) quando esta faz o regulamento onde são descritas as restrições visando esta redução de custos.  

 

De uma forma geral, é difícil, especialmente quando se parte para a área técnica como número de pneus, tempo de estada no autódromo, duração de treinos de treinos, trabalhar com fornecedores únicos de determinados componentes, de combus-tível... estas coisas ajudam a reduzir o custo de uma categoria e a criar uma diminuição do orçamento das equipes, mas é uma busca muito difícil por parte de todos que estão envolvidos. 

 

Augusto Cesário – Chefe da equipe Cesário Fórmula na Fórmula 3 Sulamericana. 

Esta busca é algo realmente complicado. A palavra antagônica que vocês usaram define bem isso. É algo que realmente é importante de se buscar... a redução de custos sem que se tire a qualidade de forma que mais pessoas possam ter acesso e assim possamos ter uma capacidade maior de desenvolver a categoria e de uma forma mais abrangente. 

 

Na Fórmula 3, não apenas a Sulamericana mas por todo o mundo é uma categoria onde é muito difícil de encontrar meios para uma redução de custos considerável por tratar-se de uma categoria essencialmente técnica. A F3 é a grande porta das principais categorias do mundo e o primeiro passo realmente a ser dado pelo piloto que pretende um dia chegar à Fórmula 1 ou outra categoria top como a Fórmula Indy, além de outras categorias de altíssimo nível como a World Series, a GP2 e a Indy Lights.  

 

Para que se tenha uma idéia do nível de investimento que envolve a F3, o chassi que nós usamos tem mais de 1.100 horas de túnel de vento, tem todas as regulagens pertinentes que o piloto vai encontrar nas categorias que já citei. Sendo assim, todos os componentes custam caro e que tem uma finalidade importantíssima, que é desenvolver a qualidade do piloto para que ele possa alcançar o nível de exigência destas categorias que serão a sequência da carreira dos pilotos. Então, quando se fala em redução de custos, há que se ter um enorme cuidado para que a categoria não perca esta característica que é a de desenvolver o piloto também. 

 

Aqui no Brasil existem empresas que trabalham em parceria com a F3 Sulamericana que tem trabalhado e desenvolvido equipamentos para nós e para outras categorias que tem buscado este compromisso em tentar fazer algo economicamente mais viável, mas a quantidade de coisas que podemos mexer ou reduzir é realmente muito pequena. 

 

Fabio Greco – Chefe da Equipe Greco no Itaipava GT Brasil. 

Essa coisa de redução de custos no automobilismo não existe! Não se a categoria ou a equipe quer trabalhar o carro e desenvolvê-lo. Eu vejo um monte de gente falar isso, mas na prática, todos sabem que sem investimento não há desenvolvi-mento.  

 

Quando a crise bateu na Fórmula 1 e a Honda teve que cortar custos, o que foi que aconteceu? Eles deixaram a categoria! Desde sempre foi assim e vai continuar sendo assim.  

 

Só quem anda na frente é quem tem dinheiro para investir... e isso é em qualquer categoria. Veja a Stock Cars, por exemplo: Quem é que anda na frente há anos? Tem gente que vai lá, que vence uma corrida ou outra, mas quem anda na frente é quem tem o melhor esquema, a maior verba. 

 

Outra coisa que falam é que dá pra reduzir custos proibindo treinos, diminuindo o tempo dos carros na pista... não é nada disso. Se você não tem tempo para treinar, tem que investir em equipamento, em pessoal, em estrutura para fazer no galpão, na garagem, aquilo que não fez na pista porque só podia dar 15 voltas, andar 30 minutos.Quem tem dinheiro tem dinamômetro de rolo, tem recursos dentro da sede que quem não tem acaba andando atrás. 

 

O meu pai já dizia: “Se não colocar dinheiro no tanque, não sai fumaça no cano de escape. Se você não tem dinheiro pra correr de carro, compra um par de tênis e vai correr a São Silvestre!” 

 

E tem mais: eu sei que teve equipe levando carro para andar na Itália, de gente que levou carro para Argentina, tudo isso porque aqui no Brasil era proibido andar. Claro que quem fez isso fez por que tinha dinheiro. Eu não posso ou não devo dizer quem fez isso, mas se alguém disser que é mentira, eu digo quem foi! 

 

Tome o exemplo da Fórmula 1, quem anda na frente é quem tem grana. Sem dinheiro, não há desenvolvimento. Esta regra vale para todas as categorias. 

 

Renato Martins – Chefe da equipe RM Competições na Fórmula Truck. 

Olha, a única forma que existe de se reduzir custos de uma categoria é restringindo o regulamento e quando se restringe o regulamento, proibindo que as equipes tenha acessos a materiais caros, a vantagens tecnológicas vai haver uma perda de capacidade de desenvolvimento. Neste caso, contudo, a perda vai ser de todas as equipes da categoria, sem que alguma equipe seja privilegiada.  

 

Quando uma equipe tem dinheiro, tem um orçamento onde ela possa investir em vantagens, ela pode fazer uso de recursos que certamente darão vantagem aos seus pilotos. Seja no uso de uma fibra de carbono, no uso de um freio de cerâmica ou, no caso que vimos no ano passado na Fórmula Truck, no uso de um bi-turbo que proporcionou ao Roberval Andrade uma vantagem. 

 

Se o regulamento tem como objetivo, além de equilibrar as disputas, restringir os custos, a categoria pode se beneficiar. No início deste ano nós proibimos o bi-turbo. Isso não teve o intuito de prejudicar o Roberval, mas sim de poupar as demais equipes que teriam que investir para desenvolver e utilizar do equipamento como a equipe dele. Isto reduziu o investimento, mas foi um freio no desenvolvimento da categoria... para o bem da competição. 

 

 

Luis Tedesco – Chefe da equipe de Rally TedRacing Sport. 

É... pois é... isso é muito relativo. A gente pode até tentar equalizar os carros de uma categoria para que haja uma competição. Agora, quanto vai custar esta equalização é que vai ser a diferença entre o quanto o carro vai andar. Se for para o carro andar mais, vai custar mais, evidentemente. Se for para andar menos, vai custar menos. Tudo depende do que se quer fazer e do como se vai fazer. 

 

Na minha opinião, automobilismo é caro e não tem como fugir disso. Se for para fazer uma coisa diferente, é melhor comprar uma bola de futebol. No automobilismo, ou se para no tempo e continua com as mesmas coisas ou se investe e se desenvolve um carro, uma categoria. Veja o exemplo da NASCAR: a maior categoria americana é uma categoria que, tecnologicamente, parou no tempo. Mas este talvez seja o segredo para eles terem uma categoria tão competitiva e tão equilibrada. Os carros são os mesmos há anos, o motor é o mesmo há anos, o sistema funciona há anos... e funciona bem. As pistas sempre estão cheias, o show, pelo menos para os americanos, é garantido. Ela não precisa mais crescer. 

 

Agora, tem um ponto que é a divulgação, a exposição do automobilismo, que poderia fazer com que o retorno para o esporte pudesse se converter diretamente em benefício para equipes e pilotos. A gente não vê uma etapa de rally ser transmitida na televisão, vê? E a plástica de uma prova de rally é belíssima, muito mais do que uma prova em um autódromo. Mas aqui se transmite corrida de rua, provas de skate até as provas da Stock, que pode ser considerada a categoria mais importante do país é transmitida daquele jeito que é, desrespeitosamente. Uma vez eu questionei isso e o que ouvi de resposta é que o povo se identifica mais com estes esportes que o custo para praticar é mais baixo. O telespectador consegue comprar um par de tênis!  

 

Tem outras categorias aí como a Mini, a Audi, a Línea... são todas categorias caras. São mais baratas que a Stock, mas são caras e o automobilismo está aí, ao léu. Nada acontece. 

 

 

Last Updated ( Sunday, 01 May 2011 22:42 )