A relação emtre a familia Schumacher e o país do Sol Nascente é mais frutuosa que muitos julgam. Palco de triunfos importantes – e no caso de Michael Schumacher, títulos mundiais como os de 2000 e 2003 – e também do facto de Ralf Schumacher ter sido piloto da Toyota entre 2005 e 2008, as boas recordações dos pilotos alemães não se limitam à Formula 1. Ambos tiveram passagem por outras categorias, com graus de sucesso que deixaram impressão nas competições onde se mostraram. No caso de Ralf, os seus triunfos foram na Formula 3000 local, hoje em dia, a SuperFormula. Mas também Michael mostrou-se e deixou boa impressão nas poucas ocasiões onde correu, não tendo tido tempo para mais. E é isso que falarei nas linhas mais abaixo. Começando pelo mais velho. 1 – O “ONE-OFF” DE MICHAEL SCHUMACHER EM SUGO Esta é uma história que poucos conhecem e muitos já tnham esquecido, mas é real: Michael Schumacher correu por uma ocasião na Formula 3000 japonesa, e aconteceu num verão onde ele experimentou de tudo, com bons resultados. Mas com aquilo que acabaria por fazer depois, isto passou despercebido na altura e hoje em dia, é um capitulo esquecido da sua ascensão para a Formula 1. Estamos a 28 de julho de 1991, ao autódromo de Sugo, no Japão. Depois da sua performance nas 24 Horas de Le Mans, no mês anterior, onde coloca o seu Sauber-Mercedes na quinta posição, após problemas no inicio da corrida, Michael Schumacher acede ao convite para correr na Formula 3000 japonesa, numa altura em que a competição era uma espécie de exílio dourado para os pilotos que aparentemente, não encontravam um bom lugar na Formula 1, e os ienes eram bem atraentes para os europeus. A equipa chama-se Team LeMans e ele tinha nas suas mãos um chassis Ralt, com motor Mugen-Honda e pneus Bridgestone. Nunca tinha andado numa corrida de Formula 3000 - não passara dos Formula 3, em 1990, e já corria nos Sport-Protótipos, sendo piloto da Junior Team da Mercedes, ao lado de Karl Wendlinger, Fritz Kreuzpointer e Heinz-Harald Frentzen, e alguns já começavam a afirmar que ele poderia ser o próximo alemão na Formula 1, a par de... Michael Bartels, que tinha conseguido a chance de participar em quatro corridas pela Lotus. Assim sendo, Schumacher foi correr no circuito de Sugo, do qual pouco ou nada sabia sobre ele. E muitos falaram que aquele chassis Ralt era inferior aos Reynard, por exemplo. Mas independentemente disso, o piloto alemão subiu ao carro – curiosamente, de cor vermelha... - e conseguiu o quarto melhor tempo, na sua primeira corrida naquele tipo de carro e naquela competição. E melhor ainda, durante a corrida, decidiu usar um ritmo calmo, com o objetivo de chegar ao fim. E conseguiu esse objetivo com grande sucesso, alcançando um digno segundo lugar. Contudo, isto acabaria por ser um "one-off". Quatro semanas depois, às pressas, e graças a meio milhão de dólares da Mercedes, arranjou um lugar na Formula 1, pela Jordan, perto da sua casa, em Spa-Francochamps... e o resto é história. 2 – RALF E OS ROQUEIROS PATROCINADORES A carreira de Ralf Schumacher, seis anos mais novo que Michael, especialmente a sua passagem pelas categorias de base, andou em paralelo com a ascensão do irmão na Formula 1 até ao seu primeiro título mundial. Mas isso não impediu de olharem para ele como um talento por ele mesmo. Em 1995, tinha ganho a Formula 3 alemã, mais o GP de Macau, e no final dessa temporada, foi aconselhado a ir para o Japão, correr na Formula 3000 local. Já não era o que tinha sido no inicio dessa década, um abrigo para pilotos estrangeiros sem lugar ou dinheiro na Europa, mas havia muita gente a correr por ali, como o espanhol Pedro de la Rosa, o argentino Norberto Fontana e o dinamarquês Tom Kristensen, a par de locais como Toshio Suzuki, "Tora" Takagi, Naoki Hattori e Shinji Nakano. A equipa escolhida foi a Team LeMans, a mesma onde o irmão correu cinco anos antes. E tinha uma coisa interessante: era patrocinada por uma das bandas de metal mais famosas do país, a X Japan. Existente entre 1977 e 2023, era o equivalente a correres na IndyCar e teres no chassis o patrocínio dos Iron Maiden, Metallica ou Sepultura. Ou, se andas por aqui em Portugal, os Xutos. O jovem Schumacher, então a caminho dos 21 anos, tinha como seu companheiro de equipa o veterano Hattori, então com 32, e claro, os carros eram os Formula 3000 semelhantes a aqueles que o irmão tinha andado em 1991. Ralf adaptou-se rapidamente à competição. Começou por ganhar em Mine, a segunda corrida do campeonato, depois de um pódio na sua estreia, em Suzuka. Uma segunda vitória aconteceu na pista de Tokachi, nas vésperas do seu 21º aniversário, e somente em setembro, na segunda passagem por Mine, é que ele triunfou pela terceira vez. Nessa altura, Ralf tinha dois pontos de vantagem sobre Hattori, e ainda faltava a corrida final, em Fuji, a 20 de outubro. A corrida aconteceu debaixo de imensa chuva, e foi, claro... uma corrida de sobrevivência. Nem os da frente escaparam. Quando Ralf perdeu o controlo do seu carro e acabou na gravilha, todos julgaram que ele tinha perdido o campeonato a favor de Hattori, porque assim, bastava cortar a meta nos pontos para conquistar o título. Contudo, quando foi passado por outro concorrente, ele despistou-se, tocou nesse carro e acabou na gravilha. O seu gesto de desespero, captado pelas câmaras, dizia tudo. E claro, os sorrisos de Schumacher, que assistia já nas boxes, era outro gesto que valia mais que mil palavras. Afinal de contas, também era campeão. Até hoje, Ralf Schumacher é o último "rookie" a conseguir um titulo, e aos 21 anos, é o campeão mais novo na competição. Em paralelo, Ralf também andou nos GT’s japoneses. Conseguiu um lugar na Team Lark, que tinha nessa temporada um McLaren F1 GTR, e em seis corridas, ganhou três, conseguiu cinco pole-positions, e quatro voltas mais rápidas, acabando na segunda posição do campeonato, com 60 pontos. E claro, esta temporada em terras nipónicas foi bem proveitosa: ele acaba por sair do país com um contrato firme para ser piloto de Formula 1, pela Jordan, em 1997. Iria estrear-se pela mesmo equipa que o seu irmão, seis anos antes, e claro, Eddie Jordan iria ter um Schumacher no seu carro, que certamente iria fazer mais que uma corrida na sua equipa. Aliás, acabaria por correr para ele nas suas duas primeiras temporadas da carreira, conseguindo três pódios e 27 pontos, antes de rumar para a Williams, em 1999. Saudações D’alem Mar, Paulo Alexandre Teixeira Visite a página do nosso colunista no Facebook Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid. |