Nas últimas semanas tivemos a oportunidade de ficar cientes sobre um caso de doping – ou ao menos um exame cujo resultado acusou positivo – no nosso automobilismo. O desenrolar do processo, desde a coleta das amostras para os exames de prova e contraprova até a divulgação do laudo, feita levou mais de um ano e meio. Contudo, a nota assinada pelo assessor de imprensa da Confederação Brasileira de Automobilismo, o jornalista Wagner Gonzalez, divulgada em 05 de maio de 2011, feita somente após o site Grande Prêmio divulgar o caso em sua “revista eletrônica” do mês anterior. É impossível não lamentarmos o fato de a Confederação Brasileira de Automobilismo ter levado tanto tempo para manifestar-se. Apenas para ilustrar, mas que venha a servir de exemplo e referência para como se deve tratar um assunto de tamanha complexidade e relevância, quando a ginasta brasileira Daiane dos Santos “acusou positivo” em um exame de rotina da Federação Internacional de Ginástica, em um período no qual a atleta nem sequer estava competindo, pois recuperava-se de uma lesão, a FIG tratou de informar o ocorrido, divulgando o nome da atleta, a substância detectada e quais procedimentos estava tomando junto a Confederação Brasileira e a WADA. A atleta ficou sob observação e, depois de todo o processo decorrer, a mesma foi isentada do doping e voltou a competir normalmente. O mais importante no caso acima foi a transparência de todo o processo, com os órgãos oficiais envolvidos e também a atleta mantendo a imprensa e a opinião pública informadas sobre todos os detalhes do episódio, todos os passos do processo e a sua conclusão. É muito “fácil” levantarmos nossos braços e esticarmos nossos dedos apontando culpados, omissos, detratores ou quem quer que seja. Contudo, aqueles que tem o poder da palavra devem tem por obrigação fazê-lo com lisura, imparcialidade e principalmente bom senso... ou ao menos deveriam agir desta forma. A imprensa precisa ser ética e diligente, mas isso não implica que ela não deva ser ágil. Pelo contrário, especialmente nos dias de hoje, a agilidade é vital. Porém há de se ter o devido cuidado com a ânsia de se gerar um “furo”. O mesmo pode se tornar um “rombo no próprio casco” e “mandar a embarcação à pique!” Talvez coubesse à Confederação Brasileira de Automobilismo ter deixado o meio e a opinião pública à par dos fatos e mantido a todos informados de cada etapa do processo. Caso isso fosse feito, o piloto Tarso Marques, que tem em seu currículo passagens nas principais categorias do automobilismo mundial, pudesse manifestar-se e expor os fatos segundo suas convicções e acima de tudo, haveria oportunidade para que a mídia e a opinião pública pudessem ter seus pontos de vista e suas próprias analises à luz dos fatos. Na nota oficial da Confederação Brasileira de Automobilismo foi informado que não havia sido impetrado nenhum recurso contra a decisão, contudo, na última sexta-feira, dia 03 de junho de 2011 (dois meses depois da divulgação na mídia e um mês depois da nota da CBA), a assessoria de imprensa do piloto, feita pela MS2, dirigida pela Glauce Schutz, distribuiu sua nota à mídia em geral, informando que um recurso havia, sim, sido impetrado junto ao STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) ainda em dezembro de 2010 (será que a CBA realmente não sabia disso?) e que no dia 26 de maio, exatas 3 semanas após a nota da CBA, a justiça acatava a petição do piloto por unanimidade. Assim, Tarso Marques está livre para participar de competições esportivas. Não teria sido melhor o piloto ter vindo a público logo que a notícia foi divulgada pelo site? No final disto tudo, que lições podemos tirar? Terá a CBA agido da melhor forma não divulgando o fato e – como a nota da assessoria do piloto informou – procurado “proteger um afiliado”? Não teria o Site que publicou a matéria sido mais contundente se tivesse esperado o julgamento do recurso impetrado pelo piloto para expor o caso por inteiro? Que lições sejam aprendidas por todos nós neste episódio. Que o direito à palavra nunca seja subtraído de quem o possui e assume a mister função de informar os fatos,sejam eles do agrado ou do desagrado de quem for, mas que o dever sobre os ombros daqueles que tem a palavra seja sempre preciso, correto e imparcial... por mais utópico que isso possa parecer. Flavio Pinheiro Editor |