Como estamos no mês em que se comemora o dia dos namorados, estou de volta para contar uma verdadeira estória de amor entre duas pessoas... Ron Dennis e Nelson Piquet. Em 1978, depois de um ano rodando pela Europa com um “carro nas costas” e pilotando o próprio caminhão de circuito em circuito no ano anterior, Nelson Piquet desembarcou de “mala e cuia” na Inglaterra, onde a Fórmula 3 eram uma grande vitrine – mais até que a europeia – para os chefes de equipe da Fórmula 1. Com os parcos recursos que tinha, comprou um Ralt, contratou dois mecânicos (com ele, três... a cada prova, arranjava mais dois "frila" pra compor o time) e partiu para enfrentar as equipes bem montadas, entre elas a Project 4, cujo dono era um exmecânico da F1, um cara metódico e “bem British” chamado Ron Dennis. Um de seus pilotos era o brasileiro Chico Serra, um grande kartista e que chegava à categoria com um grande retorno de mídia, uma competição extra para Piquet. Piquet foi soberano no campeonato inglês de F3 em 1978. Venceu 11 das 15 provas que disputou e igualou o recorde de Stewart. Na época o campeonato da F3 eram na realidade dois: um maior, o BP, patrocinado pela petrolífera que caiu em desgraça depois do recente acidente no Golfo do México, e o Vanderwell, que tinha algumas poucas provas e a equipe de Ron Dennis era uma das favoritas ao título. Mas Nelson Piquet venceu o BP e o Vanderwell ficou nas mãos do inglês Derek Warwick (Piquet venceu 11 corridas, igualando o recorde de vitórias da categoria que pertencia a Jackie Stewart). Chico Serra, piloto da Project4 teve que esperar mais um ano para sagrar-se campeão na categoria, ainda correndo com Dennis. Ao longo do ano, a disputa foi acirrada, dentro e fora das pistas e o “moleque” Nelson Piquet além das inovações que criou para a categoria e das “peças”que pregou, fez diversas vítimas, mas uma delas foi com um sabor especial... o próprio Ron Dennis! Naquela época já existia a “superglue”, a famosa cola de secagem rápida que chegou ao Brasil anos depois com o nome de “superbonder”. Munido de um tubo da cola de secagem rápida, em uma das etapas, depois de ver o chefe concorrente chegar com um carrão no circuito, o brasileiro foi lá e entupiu de cola todas as fechaduras do carro, voltando para os boxes depois disso para “meter a mão na graxa”, como sempre. Nem sempre as provas "terminavam bem"... esta, em Brands Hatch, mal começou. Acidente no início com Piquet, Serra e Warwick. Terminado o dia de trabalho, na hora de ir embora, via-se um Ron Dennis furioso, espraguejando a tudo e a todos, sem conseguir enfiar uma chave que fosse para seguir seu caminho. Não bastasse isso, Nelson repetiu a traquinagem por mais três vezes ao longo do campeonato (se bem que a maior delas foi passar o seu “setup” para Derek Warwick conseguir conquistar o Vanderwall e impedir que Chico Serra vencesse e tivesse a mesma ou provavelmente maior exposição de mídia que ele, que estava no final da temporada, disputando provas na F1 com carros de equipes privadas – coisas do passado). O tempo passou e, anos depois, na F1, com Piquet já um piloto consagrado, bicampeão do mundo e Ron Dennis, dono da poderosa McLaren, frequentavam o mesmo circo. Eis que um dia, chega Ron Dennis com um Lamborghini daqueles “de cinema” e Piquet o vê chegando... no melhor estilo “recordar é viver”, lá foi Piquet e uma bisnaga de cola para o estacionamento... No final do dia, deu até polícia! Ron Dennis começo a vida nas pistas como mecânico. Trabalhou com Johnny Surtees, Jochen Rindt (na foto acima) e outros. Ron Dennis furioso no estacionamento, o pessoal da TAG (os árabes) sem entender bem o que se passava e o brasileiro se acabando de rir em algum lugar. Certamente Dennis lembrou do que passou anos atrás e agora? Quem seria o responsável por aquele ato de vandalismo? Aqui, ainda nos anos 60, ao lado do tricampeão de Fórmula 1, Jack Brabham. Sério, metódico e trabalhador, Ron Dennis cresceu. Como a coisa foi "divertida", lá foi Piquet, na corrida seguinte, fazer a mesma sacanagem... mas desta vez Ron Dennis foi prevenido e quando o Piquet já se esgueirando pelo estacionamento chegava ao alvo – a fechadura – quando foi interpelado por um “negão, modelo ‘armário de seis portas’”, também conhecido como “3 por 2”. O diálogo a seguir vai com direito a “tradução livre”: - Ô, que é que ‘cê’ tá fazendo aí, ‘mermão’? - Heim? Quem? Eu? Eu tava só vendo o carro... um carrão, né? Daí que o segurança contratado pelo Ron Dennis reconheceu o pseudo apreciador do carro: - ô, mas você é o Nelson Piquet... - É, sou eu mesmo. - Caraca, meu filho é teu fã? Me dá um autógrafo? - Claro, tem papel e caneta aí? - Hi, caraca... nun tenho. Dá um minutinho, vou conseguir! - Vai lá, vai na boa... Enquanto o “pai do fã” foi correr atrás da caneta e do papel, a cola escorreu para dentro da fechadura, mais uma vez! No final do dia, a cena do “piti” do Ron Dennis se repetia, com o detalhe que agora havia um bode expiatório: o segurança “3 por 2”. Em 1980, Dennis passava a ser um dos principais membros da equipe McLaren na Fórmula1. Depois, comprou o controle do time. Depois disso, contam as más línguas, Ron Dennis nunca mais chegou dirigindo o próprio carro, chegando sempre com motorista e seguranças. Algum tempo depois, Piquet mandou a seguinte pérola após não acertar contrato com a McLaren como era desejo da Honda: "Melhor que ganhar corrida para o Ron Dennis, é ganhar corrida DO Ron Dennis!" É muito amor, não? Feliz dia dos namorados e até a próxima, Paulo Alencar |