Bird Clemente (o nome é uma homenagem do seu pai ao Almirante Inglês que chegou ao pólo sul) Nasceu em São Paulo no dia 23 de dezembro de 1937 e passou a infância e a juventude no bairro do Pacaembu, seu pai, industrial do ramo de artefatos de papel e papelaria, deu-lhe esse nome em homenagem ao Almirante “Richard Bird”, o conquistador do Pólo Sul. ‘Seu’ Vitor, o pai, um Argentino, era uma pessoa que adorava automobilismo e parece que – capricho dos “Deuses da velocidade” – acertou em cheio ao batizá-lo assim. Aluno mediano (confesso) foi estudante do Mackenzie, onde outros futuros pilotos também estudaram e teve aulas com um certo Professor Rubens Carpinelli... ele mesmo: o Presidente da Federação Paulista de Automobilismo. Só podia ser destino! Desde criança ia a Interlagos, junto com o pai e o irmão mais novo, Nilson, e costumava ouvir as transmissões das corridas internacionais, em um rádio ondas curtas. Por sinal, ‘seu’ Vitor chegou a ir – de carro – naqueles tempos de estradas difíceis ao Rio de Janeiro para acompanhar um GP do Rio de Janeiro no antigo circuito da Gávea e assim poder ver de perto o ás alemão, Hans Stuck. Aos 13 anos o pai deixou-o dar suas primeiras voltas em um Pontiac Hidramático... não era um carro de corridas, mas é uma memória guardada até hoje. O 'velocitococus' já havia contaminado por completo o corpo e a alma daquele menino. Não podia dar em outra coisa... Em 1956, aos 18 anos, foi estudando Agrimensura no Mackenzie que conheceu Titto Livio, irmão de Eugênio Martins, que já corria de automóveis, apresentado, logo se enturma e passa a frequentar a oficina de Cláudio Daniel Rodrigues, “Point” dos corredores mais jovens, da época. Enquanto estudava trabalhava com o pai. Inspirado por Fangio e Chico Landi, decidiu: “É disso que eu gosto!” Seus “heróis mais próximos” eram o Ciro Cayres e o Christian Heins. Era o jornal de hoje. O Chico Landi e o Celso Lara Barberis já eram tradição, o Camilo Christófaro começando... e naquele tempo se começava a correr de carro! Kart nem existia. “De kart mais tarde, o Wilsinho Fittipaldi me chamou para correr, mas as reações eram tão diferentes que achei que ia me confundir”. O fusca 1951 recebido de presente não demorou muito a ir para o autódromo de Interlagos e outros eventos de competição. Presenteado pelo pai com um Volkswagen 51 passou a frequentar a oficina do Jorge Lettry, na rua Butantã, fundos de um posto de gasolina, era o início de uma nova era. Em lugares como este um jovem como ele podia ver seus heróis de perto. Na oficina conheceu seu maior rival, certamente, e um de seus maiores amigos: Luiz Pereira Bueno. E em 1958 com quase 21 anos se inscreve em dupla com Luiz nas III Mil Milhas com um Fiat “Millecento” tocado com outro amigo, João Batista Carneiro. Essa corrida foi sua “quase estreia” no automobilismo, logo nas primeiras voltas o carro quebrou e ele nem chegou a pilotar na prova. Sua estreia ficou limitada aos treinos. Entre as amizades que Bird Clemente fez ao longo de sua vida nas pistas, Jorge Lettry foi uma de enorme importância. Depois ficou conhecendo Ciro Cayres, um ídolo seu até então, e ano seguinte, 1959, faz dupla com ele nas IV Mil Milhas num DKW da revenda Comercial Lara Campos, com retaguarda da fábrica. Nos treinos das V Mil Milhas, em 1960 Bird estava nos boxes da Vemag acompanhando o amigo Eugênio Martins, quando Jorge Lettry e Christian “Bino” Heins discutem e Bino desiste de correr. Na Vemag, chefiada pelo Lettry, havia um ritual. Iam todos os carros para a pista e todos os pilotos. Ele fazia um ‘mis-en-cene’ que mais paracia uma coisa marcial. Todo fardado, de sobretudo, mandava com sinais o piloto entrar no carro, outro sinal para ligar o motor e lá ia, todo mundo obedecendo. O Christian e o Jorge parece que tinham uma mágoa recíproca depois que o Christian andou correndo na Europa. Mas foi com Marinho Camargo que Bird Clemente mais teve proximidade nos seus anos como piloto, dentro e fora da Vemag. Num destes treinos o Jorge cheio de pose dando as ordens gestuais e o Christian debochando. Lá pelas tantas o Jorge parou no lugar acertado e deu o sinal para Christian dar a partida. Ele botou a cara na janela e disse: ‘Pô Jorge larga de ser bobo, sai daí, deixa de ser tonto, puta palhaçada...’ O Jorge foi tirar satisfações e o Christian abriu a porta e simplesmente disse na frente de todos: “Tá bom, vou embora, nunca mais guio esta merda”. Como já tinha alguma quilometragem de pista, Bird foi chamado para assumir o lugar de Heins, desde que fizesse um bom tempo, e naquela hora. Fez o melhor tempo de toda turma até então e correu em dupla com o amigo Eugênio Martins num DKW da revenda Serva Ribeiro assistido pela fábrica. No início da carreira, Bird Clemente tomou o lugar deixado pela saída de Christian Heins da equipe e segurou o rojão. Sua próxima corrida foi com Ciro e de Simca Chambord novamente, as III 24 Horas de Interlagos de 1961. Para as VI Mil Milhas a Vemag lançou a Equipe Vemag, oficial de fábrica, e os pilotos chamados foram Bird e Marinho Camargo (Mario César de Camargo Filho). Os estudos? Ah, estes ficaram para trás, como seus adversários. “Ia indo até que em 1961 tinha uma prova final e um dia antes baixei o recorde de Interlagos com um DKW. Nem pensei, larguei mão daquilo tudo, nunca mais”. A célula do profissionalismo. Mostrando competência, Bird passou a ser figura popular. Já era reconhecido até na rua, dava autógrafos, mas sabia que era só um mundinho. Aí, o cenário das competições nacionais estava começando a crescer. A passagem pela Vemag foi um grande momento. Havia a parceria e o desafio sempre presente de acompanhar e derrotar a estrela da equipe, o Mario César de Camargo, o Marinho, um piloto excepcional, muito rápido. Era um osso duro. Eram os pilotos oficiais da equipe, corridas longas, outros pilotavam como convidados. Como não existiam campeonatos e títulos, não havia uma visão de longo prazo. Nas Mil Milhas Brasileiras de 1961 Bird Clemente assumiu um dos carros da competição e não decepcionou. “Em 1962, eu achando que os pilotos deviam se dar mais valor, arriscavam a vida em provas e testes e só ganhávamos ajuda de custo, fui negociar com a diretoria e a partir de então nos forneceram carros zero km iguais aos que usávamos na pista, só que na versão original e desconto na compra de outros veículos, além da ajuda de custo”. “Em 1962, eu achava que os pilotos deviam se dar mais valor. Arriscavam a vida em provas e testes e só ganhavam ajuda de custo. Fui negociar com a diretoria e a partir de então nos forneceram carros zero km iguais aos que usávamos na pista, só que na versão original e desconto na compra de outros veículos, além da ajuda de custo”. A Vemag tinha vários projetos e quando surgiu a F. Junior, Bird Clemente assumiu o monoposto nas primeiras aparições. Com a Vemag fora da prova 500 Milhas de Interlagos em 1962, Bird obteve a liberação da equipe e se inscreveu com Celso Lara Barberis e Roberto Gallucci, se revezando em dois carros, uma Ferrari 250MM e uma Lancia D20. Nenhum terminou a prova. A Vemag tinha Bird e Marinho Camargo. Christian Heins, depois de deixar a equipe, foi chamado para montar o departamento de competições da Willys. Deeu muita dor de cabeça e de cotovelo em muita gente, mas o Alemão (Christian) era bom, cobrava, mas sabia ensinar. Era a grande estrela do país, a Willys um tremendo esquema com um caminhão de dinheiro e produtos muito mais adequados às corridas. Foram muitos testes e algumas competições com o monoposto e sob o comando de Jorge Lettry, chefe da equipe Vemag. Na época, o Luiz Antonio Greco, que tinha o apelido de Gazetinha, porque dava a notícia e zanzava de um lado para o outro, era secretário do Alemão... Era mais uma “espécie de articulador”. Sabia fazer bons negócios, eram até sócios em algumas transações. O esquema da equipe era fantástico... mas aí veio a tragédia: Christian morre durante as 24 Horas de Le Mans, o melhor carro do Brasil ficava com o cockpit vago. A melhor equipe brasileira ficava órfã e o país sem sua estrela maior. Bird correu pela Equipe Vemag até a prova 1600 Quilômetros em 1963. Com a morte de “Bino”, Luiz Antonio Greco assumiu a chefia da Equipe Willys, a arqui-rival da Vemag nas pistas e, logo que assumiu, Greco traçou seu plano de ação e dez dias depois bateu à porta de Bird Clemente e fez uma proposta irrecusável: uma Berlineta, um outro carro e mais um ótimo salário com “carteira assinada”. Bird seria o primeiro piloto profissional do país. Depois da trágica morte de Christian Heins em Le Mans, Bird Clemente foi contratado pela Willys e com Luiz P. Bueno no time. “Minha filosofia de profissionalismo havia finalmente vingado”. Diz Bird, que pouco depois reivindica o mesmo tratamento para os companheiros, Luiz Pereira Bueno e Wilsinho Fittipaldi, transformando a Willys na primeira equipe profissional do Brasil. A proposta e como tudo aconteceu foi uma revolução no meio do automobilismo nacional. Para provar que não era “conversa de garagem”, o Greco exigiu que o Bird comunicasse o fato ao pessoal da Vemag ainda no dia seguinte e como prova de palavra, ofereceu-lhe para que usasse enquanto quisesse, um Berlinetta especial, cor única, Prata, que pertencera a Christian que já estava na porta, com tudo de novidade que o carro de corridas tinha. A grande virada na carreira: Sua estreia na equipe oficial foi em Porto Alegre em 1963, dias antes de completar 26 anos, ao lado de ninguém menos que o lendário Catharino Andreatta, tri-campeão das Mil Milhas, contudo, a divulgação da equipe era algo inimaginável para os padrões da época e houve uma “apresentação oficial” em Interlagos: “eu nunca havia guiado com um câmbio de cinco marchas, era difícil, quebrava que nem lâmpada. Pedi a ele que não tomasse tempo, era só uma apresentação. Outro dia a gente capricha. Chegamos e já havia um problema. O Christian era grande, tinha um ‘bundão’ e eu, ficava soltinho lá dentro. Dei umas três voltas – adorei – mas aí o Greco falou: ‘vamos ver o tempo que você vira’. A equipe fez história no automobilismo nacional e reuniu alguns dos maiores pilotos da época sob o comando de Luiz Antônio Greco. “Saí chateado por ele não ter atendido o meu pedido e na frente dos outros. Saí dos boxes pensando que se não virasse muito bem, iam me queimar, eu era a convicção da marca. Não tive dúvida me atirei como louco em cada curva e na terceira passagem tomei só um segundo do melhor tempo do Christian naquele mesmo carro. Foi um alívio”. O primeiro piloto profissional do país. Conquista esta que pouco depois reivindica o mesmo tratamento para os companheiros, Luiz Pereira Bueno e Wilson Fittipaldi Jr., transformando a Willys na primeira equipe profissional do Brasil. “Tenho isso como um princípio: Não podemos estar aqui nos arriscando sem uma remuneração justa”. No início de 1964, Bird conquistou um feito que ficará marcado para sempre na história: venceu a prova 200 Milhas de “El Pinar”, no Uruguai. Foi a primeira vitória de um carro fabricado no Brasil em provas no exterior. Foi a vitória que despertou sua maior emoção. E que oferecia como prêmio, uma viagem à Europa, para assistir as famosas 24 horas de Le Mans. Com a equipe Willys Bird Clemente voou alto e levou a equipe brasileira a uma história vitória no Uruguai. “O Greco já vinha tentando me convencer da possibilidade de eu correr lá fora. Fomos correr em El Pinar, no Uruguai, e o foguete local era um Morris Mini Cooper que era pilotado pelo campeão Vitor Pollier. Já tinha roda de magnésio, havia ainda Alfas ‘Giulietas’, um grid forte... mas nós demos um show porque era um circuito misto e dava para explorar aquele estilo de ‘guiar atravessado’ na Berlinetta. Venci a prova! Aí chegou um cara de sombrancelhas enormes, me abraçou emocionado e disse que nunca tinha visto um cara guiar como eu. O Greco me avisou depois que era o Horacio Stevens, o papa da Renault na Argentina”. Dono de um estilo ímpar de atacar as curvas e tirar o máximo do carro Bird Clemente era respeitado até pelos estrangeiros. Muitos anos depois, encontramo-nos novamente em um evento e lembrei das sombrancelhas. Ele me fez uma festa e disse: finalmente vi um piloto guiar como você. Chama-se o Ronnie Peterson, e foi-se embora. Coisas da vida. Depois daquela corrida no Uruguai, Greco levou seus pilotos para Le Mans, Bird, Wilsinho, Luiz Pereira Bueno e Chico Lameirão. Assistiram também a uma prova de F-1 em Dijon, onde Bird mostrou ter olho clínico: “Fiquei vendo os caras guiar e disse para o Chico: Pô Chico, não tem mistério, estes caras não tocam. Graham Hill, Jim Clark e Dan Gurney tudo bem. E o resto? Um ou outro baba, o resto vem só no ritual. Tava caindo a ficha, tomei esculhambação do Luiz, mas anos depois o Emerson era Campeão Mundial, eu não falara bobagem”. A equipe Willys introduziu alguns avanços, indo além das Berlinetas e introduzindo protótipos construídos por Toni Bianco. Bird guiava muito bem na chuva e na neblina e existiam várias lendas sobre isso, mas era apenas muito treino, disposição, enfim uma dedicação total. “Eu tenho a impressão que ninguém fez mais quilometragem em Interlagos do que eu. Conhecia Interlagos muito bem e sabia quando teria neblina e assim, ia lá treinar”. Explica. Ele era o piloto que dava espetáculo, além de andar muito rápido. Tinha o controle absoluto sobre o carro, seu jeito de fazer as curvas (logo imitado), freava em cima, cambiava já dentro da curva, e isso tudo derrapando de lado nas quatro rodas, de modo a sair da curva já alinhado e mais embalado. A cada corrida em Interlagos, a presença de Bird Clemente na pista era garantia de espetáculo para o público presente. “Eu tinha um certo cacoete por ter guiado muito tempo carros como o DKW, tração dianteira. Eu tinha que reaprender a pilotar. Então, pegava uma Berlinetta de rua e subia e descia horas a fio a estrada da Serra de Ubatuba, cheia de curvas, que eu conhecia bem. Na medida em que eu melhorava, fui entendendo os macetes do carrinho e descobri todas as suas reações. Percebi que poderia ser ainda mais rápido se eu deixasse o carro escorregar por inteiro, diminuindo o atrito dos pneus. Deu certo! Na ‘ferradura’ de Interlagos, era mesmo impressionante: Com adversários pilotando carros muito mais potentes, eu levava a pior nas retas. Na aproximação, eu lançava a Berlinetta, deixava escapar e no pulo enfiava o pé de leve no freio. Daí enfiava uma quarta e saía acelerando, antes do final do contorno. A prestigiada revista Quatro Rodas, voltada para o meio automotivo, fez de Bird Clemente sua capa, a primeira do setor de competição. Se ameçasse a estolar, ainda enfiava uma terceira, com o câmbio seco. Foi só acostumar, porque até que qualquer adversário que aliava o pé ou até freava pudesse ganhar potência para descontar na reta, não tinha mais tempo ou reta para fazê-lo. Eu ficava na frente dele!” De todas as vitórias que teve em sua carreira de 15 anos, Bird diz que três lhe deram mais prazer: Curitiba em 1964, corrida em ruas de paralelepípedos com a carretera Gordini e em dupla com Wilsinho. A Prova Almirante Tamandaré, no Rio de Janeiro em 1967, onde chovia muito, com o Bino Mark I correndo contra as Lotus Europa, Porsche e o Fitti-Porsche. E as 24 Horas de 1970, com o Opala particular e sua primeira vitória ao lado do irmão Nilson Clemente. No início dos anos 70 Bird teve o prazer de correr - e vencer - as 24 Horas de Interlagos ao lado de seu irmão Nilson. Com esse mesmo Opala, quatro portas, (ainda não haviam lançado o de duas portas) bateu o recorde brasileiro de velocidade, em 20 de junho de 1970 na Rodovia Castelo Branco marcou 232,510 Km/h. na média de duas passagens, conforme regulamento da FIA. O bloco do motor de 3.769cc, o virabrequim, os pistões e as bielas eram os originais, só a taxa de compressão era aumentada e três carburadores Webber duplos. Depois de algum tempo, este carro foi vendido para o piloto gaúcho Pedro Carneiro Pereira. E a mais “estranha” foi uma corrida de estrada, no Rio grande do Sul, entre Porto Alegre e Capão da Canoa, em 1968. “Nunca vou esquecer minha preocupação na largada dessa prova. Tinha o melhor carro, a melhor equipe e portanto a obrigação de vencer. Entretanto nunca havia corrido em estrada, pois isso era 'coisa de gaúcho'. Fui então, humildemente, ao grande mestre Catharino Andreatta perguntar como é que se fazia para correr em estrada. Então, do alto de sua experiência, olhou para mim e disse: Guri: Olha os fios!!! Imediatamente entendi seu recado. Olhando para os postes e seus fios, enxerga-se as curvas e as variações de relevo muito antes que se olhasse somente para a estrada”. Humilde, ao participar de uma corrida de estrada pela primeira vez, foi pedir "dicas" ao grande campeão, Catharino Andreatta. Depois de uma parada de dois anos, Bird Clemente voltou às pista pelas mãos de Luiz Antônio Greco, correndo cinco provas com um Ford Maverick de sua equipe, três vitórias, um segundo e uma quebra. Depois deste feito que mostrou – mais uma vez – o tamanho da sua capacidade, parou definitivamente com as competições aos 36 anos. Após parar, Bird Clemente não se desligou completamente do universo automobilístico, abriu uma distribuidora de auto-peças e acessórios onde trabalhou até aposentar-se, em 1999, passando desde então a dedicar-se somente à família. Bird tem quatro filhos. De seu casamento nos anos sessenta com Marise, irmã de Ciro Cayres, tem uma filha e de seu casamento com Maria Luiza, sua atual esposa, que dura deste os anos setenta, uma filha e dois filhos. Após um tempo afastado, voltou às pistas na Divisão 3 ao volante de um Maverick da equipe Greco. Foram mais vitórias. Sempre que possível frequenta provas em Interlagos, eventos ligados ao automobilismo e é ainda muito requisitado para entrevistas ou mesmo contar detalhes sobre fatos da sua época nas pistas. O registro histórico de uma lenda viva: Uma das melhores características de Bird Clemente é que ele é um grande contador de estórias. Entre as suas favoritas está a de quando o famoso piloto italiano, Piero Taruffi, piloto da Ferrari com histórico na Fórmula 1 e 24 Horas de Le Mans, foi trazido aqui para o Brasil para dar um curso de pilotagem e a Willys o inscreve também. Ele retrucou, arredio a ideia de fazer o tal do curso de pilotagem. Afinal, já era um piloto consagrado, mas acabou cedendo aos apelos do seu chefe de equipe, Luiz Antônio Greco, com uma promessa: Não haveria avaliação. Um moomento inesquecível: o curso de pilotagem com Piero Taruffi, onde ele (aluno) deu aula de pilotagem ao professor italiano No curso, tudo segue sem problemas até que depois de algumas voltas na pista, seguindo as diretrizes do italiano, e mesmo comenta que um outro piloto estava se destacando... foi o que faltava para ele perder a paciência: “Olha, aquela marca que você colocou ali para frear, eu freio muito depois dela!”. O Taruffi não acreditou e precisou o nosso pássaro voar baixo por Interlagos, com o piloto italiano no “banco do carona” (concha e sem cinto de segurança), fazendo as curvas de lado e baixando em muito o tempo feito anteriormente para ainda assim ele sair com o seguinte comentário: “Você deveria estar no circo”. Quando voltou aos boxes o Bird falou: “Estás vendo estes garotos aí atrás... todos eles fazem isso. Se não fizer, não vem tempo e se não fizerem tempo, eles estarão no olho da rua amanhã”. Seu livro, lançado em 2008, contou como ele viu sua passagem entre os grandes pilotos de sua época. Bird é um "contador de histórias". No dia 17 de novembro de 2008, lançou seu livro “Entre Ases e Reis”, em meio a todos os veículos de imprensa, fãs e amigos. “Sempre corri em equipes ligadas às fábricas, Simca, DKW, Willys e Ford, mas pagaria para correr, se não houvesse outro jeito”. Esta frase resume a filosofia de vida dos pilotos da sua geração. No ano de 2019 ele revelou mais um de seus talentos, fazendo uma exposição de gravuras para um público muito seleto. Bird Clemente vive há muitos anos em São Paulo e nos últimos anos de sua versão impressa, tornou-se colunista da Revista Racing. Em 2019, em um evento em São Paulo, nosso Nobre do Grid fez uma exposição de seus desenhos, retratando grandes momentos seus e do automobilismo brasileiro. Nos últimos anos, um de seus maiores prazeres era poder receber seus amigos em casa para longas e prazerosas conversas. No dia 1° de outubro de 2023 nosso Nobre do Grid partiu para uma nova jornada. Fontes: Obvio; Bandeira Quadriculada; Revistas Quatro Rodas e Autoesporte; CDO. |