Em que nível nós poderíamos avaliar a segurança nos autódromos brasileiros no aspecto da estrutura física (condição do asfalto, áreas de escape, zebras, barreiras de pneus, muros, entrada e saída de boxes, etc), que pontos precisariam ser melhorados para que os pilotos pudessem ter mais segurança? Christian Fittipaldi: Ex piloto da F1, da F. Indy e atualmente correndo no Racing Festival, no “Trofeo Línea”. Se a gente for dar uma nota pegando o aspecto geral, de zero a dez, nota sete. Tem o que melhorar? Tem. Se a gente pegar os autódromos, mesmo aqueles mais modernos, construídos para a Fórmula 1, sempre a gente vai encontrar uma ou outra coisa para deixá-lo mais seguro. Por melhor que seja um projeto de um autódromo, sempre tem um ou outro aspecto que fica faltando. Aqui no Brasil os autódromos, de uma forma geral, são bons, são compatíveis com as categorias que correm neles. Com exceção da Fórmula Truck, que tem um peso muito grande desenvolvendo uma velocidade muito alta, nas demais categorias, para o que os carros andam, temos áreas de escape compatíveis na maioria dos pontos, temos barreiras de pneus nos pontos mais perigosos. Se aqui no Brasil tivéssemos, por exemplo, categorias com carros muito mais rápidos dos que os que disputam as provas por aqui, aí, é óbvio, as exigências com segurança seriam muito mais críticas. Para dar um parâmetro em termos de velocidade, aqui no Brasil temos a GT3, que são carros, talvez os mais rápidos andando nas nossas pistas. Um protótipo que corre no American Le Mans Series comparado com os mesmos carros que disputam o campeonato aqui no Brasil na prova de Sebring é 25 segundos mais rápido que o carro da GT3 em um pista que a volta é em torno de 1 minuto e 48 segundos para os carros mais rápidos. Mas tudo que os autódromos puderem fazer para ficar ainda melhores será muito bom para todos. Para os pilotos, para as equipes e para quem assiste, na pista ou na televisão. Fernando ‘Kid’ Resende: Campeão sulamericano da F3 na categoria Light, atualmente disputando a categoria principal. De uma forma geral os autódromos brasileiros são bons, assim em termos de pista, de traçado, para o aprendizado e o desenvolvimento do piloto. São pistas que exigem do piloto. Infelizmente muitas delas não tem tido o cuidado que deveriam ter. Não tem uma manutenção constante, algumas precisam de reformas e estas nunca acontecem. Interlagos, por exemplo, é um autódromo muito bom, é onde acontece a Fórmula 1, aqui as coisas são feitas, apesar de ter hoje uma rachadura ali no “S” do Senna muito grande e que é um obstáculo a mais. Mas o resto tudo está bom. Aí a gente vai correr em outro lugar, como em Brasília. Brasília deixa muito a desejar em termos de estrutura. O autódromo tem, sei lá, trinta anos e nunca foi feita uma reforma. Londrina é uma pista que parece circuito de rua. Se você sair da pista bate no muro, tirando aquela curva no final da reta oposta que melhoraram a área de escape. No ano passado em saí a 230 por hora e encontrei uma pilha de pneus desamarradas. Eu bati de frente no muro. Os pneus espalharam e eu fui direto no concreto. A sorte é que o carro é muito bom, muito seguro. Os carros de corrida são seguros em caso de acidente, mas nem sempre o carro apenas é suficiente. O que eu vejo é que os autódromos que são dos governos estão em piores condições. Parece que ninguém olha por eles e o automobilismo é um motivo de orgulho para o Brasil. Temos oito títulos mundiais de Fórmula 1 e mais um monte de pilotos que tem orgulho de ser brasileiros. Felipe Giaffone: Ex piloto da F. Indy e atualmente correndo na Fórmula Truck. Se a gente for analisar dentro de um nível de segurança de padrão internacional, quem estaria bem? Interlagos estaria bem, é onde acontece a Fórmula 1, é onde tem vistoria da FIA, com o Charlie Whiting, as barreiras de pneus estão na proporção certa, do jeito certo... só que, para a gente vê como as coisas são esquisitas. Justamente Interlagos, que seria o nosso autódromo mais seguro, foi onde aconteceram os últimos acidentes fatais. O que eu acho o maior problema nos autódromos brasileiros, de uma forma geral, é que as barreiras de pneus no final das retas não são, em sua grande maioria, feitas com pneus afixados uns aos outros, também menores do que deveriam ser. Tem uma outra coisa que eu vejo em relação as barreiras de pneus. Elas são montadas coladas aos muros. Eu acho que deveria haver uma distância entre a barreira de pneu e o muro. Em termos de pista, sempre vamos ter pistas mais seguras ou menos seguras, isso faz parte do automobilismo. O importante é que elas vão sempre evoluindo, melhorando, que os dispositivos de segurança sejam aprimorados, que haja uma evolução. Alguns autódromo estão mais largados... Os autódromos do Rio de Janeiro e Goiânia estão largados há anos. Eu achei Caruaru muito largado este ano. O maior problema parecem ser os autódromos que são administrados pelas cidades ou pelos estados. Interlagos tem uma condição melhor por causa da Fórmula 1, aí a prefeitura tem que cuidar conforme a FIA exige. Um caminho talvez fosse que os autódromos fossem privatizados e que alguém quebrasse a cabeça para aquilo virar uma fonte de renda. Curitiba é um exemplo disso. É uma pista particular e a gente vê tudo sempre muito bem cuidado. Como eu estou sempre muito envolvido com os eventos de kart, eu vejo a mesma coisa nos kartódromos. Os privados estão sempre muito mais bem cuidados que os que são do estado ou dos municípios. Thiago Camilo: Piloto da Stock Car e da Copa Petrobras de Marcas. Se a gente for dar nota de zero a dez, os melhores autódromos do Brasil chegariam numa nota sete ou oito... mas a gente tem autódromos em uma condição muito ruim, pra baixo até de uma nota cinco. Se a gente pegar todos, talvez a média fique em seis. Já que a gente pode comparar, vamos colocar aqui o caso de Campo Grande, que tem duas retas paralelas em frente aos boxes e não tem nenhuma separação entre elas, só uma barreira de pneus e solta. Apesar de estarem distantes uma da outra, uma infelicidade pode colocar dois carros numa condição de uma batida de frente. Tinha que ter uma mureta de concreto ali. Tem muita coisa que pode ser feita, que tem que ser feita. O automobilismo no Brasil precisa evoluir mais. Seria preciso haver um critério maior, mais rigoroso. A gente que está na pista procura colaborar com a CBA, procura colocar o que a gente vê de dentro do carro para que as mudanças e as melhorias aconteçam, mas nem sempre o resultado disso vem na forma ou na velocidade que a gente gostaria. As barreiras de pneus em muitos dos autódromos onde nós corremos ainda não são como as de Interlagos ou as de Curitiba, que os pneus são aparafusados. Tem lugar que teria que ter três fileiras de pneus e quando a gente chega lá pra ver tem somente uma ou duas. São detalhes que podem fazer a diferença no caso de uma escapada de pista. Precisa haver uma evolução constante do que se faz nos autódromos em termos de segurança. Os carros evoluem, ficam mais rápidos, mais seguros. A velocidade aumenta ano a ano, então os autódromos precisam acompanhar esta evolução. Aqui no Brasil esta parte de segurança não tem acompanhado esta evolução. Xandy Negrão: Ex piloto da Stock Car e do brasileiro de Marcas e Pilotos. Atualmente correndo no Itaipava GT Brasil, na categoria GT3. Não sei o que os outros falaram ou vão falar, mas é capaz de falarmos a mesma coisa: nossos autódromos são uma vergonha! Para os carros que estão andando hoje, velozes como estão, só existe um autódromo seguro, que se você sair da pista e bater, você sai inteiro: Interlagos. Curitiba está um degrau abaixo, mas ainda dá pra correr, esse ainda oferece alguma condição de se fazer uma competição decente. Se bem que aqui em Curitiba tem pontos bem Críticos como essa entrada da reta com aquele muro colado na pista que se você sair ali vai bater forte e não tem para onde escapar, vai voltar para o meio da pista. E aí, restou mais algum que a gente possa chamar de autódromo? O resto acabou. Tirando um ou outro os autódromos são todos dos estados, onde ninguém investe nada, os autódromos ficam abandonados. Brasília ainda foi arrendado por um tempo para o Nelson Piquet, depois voltou para o estado e nem com um nem com outro fizeram nada. O do Rio de Janeiro ficou aquela coisa lá, dividido com Maria Lenk, com Poliesportivo... tanto espaço para se fazer as coisas neste país e você tem que destruir um autódromo para fazer ginásio, piscina? Goiânia acabou. Cascavel acabou. Só no Rio Grande do Sul, que é um berço do automobilismo aqui no Brasil, é que ainda fazem autódromo. Se bem que quem tem dinheiro para fazer isso é o pessoal do Velopark. O de Santa Cruz não tem a mesma quantidade de dinheiro rolando. Um país que tem três campeões do mundo, oito títulos... nos anos 70 todo estado queria construir um autódromo. Alguns até construíram. Construíram mas não conservaram, não melhoraram, não cuidaram e o que a gente tem é isso que tá aí, uma vergonha! Tá mais que na hora de se fazer mais pelos autódromos desse país. |