A Escócia é o berço de alguns dos maiores pilotos da história do automobilismo. A família Smith, de origem escocesa, plantou parte de suas raízes aqui no Brasil, no Rio de Janeiro e um de seus descendentes veio a se tornar um dos grandes pilotos da mais brilhante geração de pilotos da nossa história. Os Bisavós paternos de Luiz Fernando Terra Smith vieram para o Brasil no século XIX, como a maioria dos imigrantes, buscando novas oportunidades. Eles poderiam ter ido para qualquer lugar no mundo, um país onde se falasse inglês. Isso seria muito mais simples... mas acabaram vindo para cá. A família estabeleceu-se no Rio de Janeiro, trabalhou e progrediu. Carlos Smith, o avô de Luiz Fernando, era dentista e protético, viajando pelo interior do estado do Rio de Janeiro, atendendo as pessoas. Esta vida na área de saúde acabou influenciando seu filho, Carlos Smith Jr. Ele fez faculdade de medicina e tornou-se um cirurgião na cidade do Rio de Janeiro, que era no Estado da Guanabara, antes da mudança da capital do país para Brasília. Como parecia ser “tradição de família”, Dr. Carlos enveredou pelo interior, exercendo a medicina. Trabalhando na cidade mineira de Araxá, recebeu um convite para ir trabalhar na cidade de Uberaba, progrediu ao ponto de, após alguns anos, construir seu próprio hospital. Além de construir seu próprio hospital, foi lá que construiu sua própria família, quando conheceu Maria Alice Castro Terra, com quem veio a se casar alguns anos depois. Na sua adolescência, Luiz Fernando Terra Smith estudava em um dos mais tradicionais colégios de São Paulo... como interno! Apesar de ser dono de um hospital (talvez justamente por isso) e consciente das dificuldades que era exercer a medicina no interior do Brasil naquela época, Quando Maria Alice ficou grávida, Dr. Carlos tratou de enviá-la para a cidade do Rio de Janeiro para que, com mais recursos, ela viesse a dar a luz, no dia 30 de julho de 1940, ao seu primogênito, Luiz Fernando Terra Smith. A mesma coisa o fez quando da vinda da irmã (Maria Lucia, já falecida) e do irmão (Rodney), no total de três filhos, todos nascidos na maternidade Arnaldo de Moraes, próximo ao túnel, no bairro de Copacabana. A infância de Luiz Fernando Terra Smith foi praticamente dividida entre Uberaba (afinal, era lá que seu pai tinha se estabelecido) e o Rio de Janeiro, entre os bairros de Copacabana e da Tijuca. Contudo, ainda menino foi para São Paulo, estudar no tradicional colégio Arquidiocesano, da congregação Marista, em regime de internato. Durante este período, foi um atleta destacado, especialmente no judô, que começou a praticar aos 11 anos e chegou ao 1º Dan da Faixa Preta. Com os pais (Maria Alice Castro Terra Smith e Carlos Smith Junior) em Uberlândia, onde concluiu o ensino científico. Luiz Fernando Terra Smith ficou em São Paulo até o segundo ano do chamado “científico”, hoje o ensino médio, retornando para Minas Gerais para fazer o último ano e prestar o serviço militar obrigatório no ‘Tiro de Guerra’. Após o serviço militar, retornou para a capital paulista, indo morar num apartamento na Avenida Paulista, quase na esquina com a Brigadeiro Faria Lima (devidamente ‘financiado’ por Dr. Carlos), para se preparar para fazer o vestibular e entrar na universidade. Ele chagou a passar e começar a cursar Administração de empresas na capital paulista... mas a sua mente já estava em outro terreno, na verdade, nos autódromos! O regime de estudo em tempo integral não dava à Luiz Fernando Terra Smith muito tempo para cuidar de outros interesses... e ele tinha outros interesses! Por isso, acabou desistindo do curso superior e começou a trabalhar. Um de seus primeiros empregos foi na fábrica da família Clemente (do pai do Nobre do Grid, Bird Clemente), a ‘Produtos Windson’, que produzia bobinas de papel para calculadoras, blocos de notas e outros produtos do gênero. Atleta, conseguiu grande destaque no Judô, graduando-se até o primeiro dan da faixa preta. Também nadou e jogou tenis. Mesmo tendo uma convivência próxima com Bird Clemente, este nunca comentara que era piloto (‘seu’ Bird já tinha disputado até Mil Milhas) com Luiz Fernando Terra Smith. Ele sabia que os jovens pilotos da época, quando não corriam em Interlagos, usavam o bairro do Morumbi – que era um descampado distante, como “circuito alternativo”. Luiz Fernando Terra Smith nunca tinha ido a Interlagos. Ao Morumbi, para as “corridas extraoficiais” nunca foi. Ele nutria sua paixão pelo automobilismo através das revistas especializadas, em sua maioria estrangeiras. Luiz Fernando Terra Smith descobriu que, se quisesse ser piloto, teria que começar participando de corridas para estreantes e ele fez a sua estréia em Interlagos no ano de 1962, inscrevendo-se com seu próprio carro, uma Berlineta. Luiz Fernando Terra Smith venceu logo na estréia, em uma prova de 80 Km de extensão (10 voltas no circuito original de Interlagos), derrotando outros competidores com carros mais possantes, como os JK. O ‘velocitococus’ já havia se apoderado de mais um jovem daquela época e Luiz Fernando Terra Smith chegara à conclusão de que “levava jeito” pra coisa. Depois da primeira vitória, com uma Berlineta, seu próprio carro, na segunda corrida ele usou o 1093 de um amigo e venceu. Contudo, não demoraram a proibir o uso das Berlinetas nestas provas para iniciantes. E para a segunda prova Luiz Fernando Terra Smith estava “a pé”. Foi numa lanchonete ali na Rua Oscar Freire, quase na esquina da Rua Augusta, um dos famosos “pontos de encontro da turma da velocidade”, que ele encontrou com um amigo que não tinha nada a ver com este meio. Ele tinha um Renault 1093 e acabamos fazendo um acordo: trocamos de carro e eu devolveria o 1093, após a corrida, no estado original... negócio fechado! Para a segunda corrida, Luiz Fernando Terra Smith foi correr atrás de patrocínios. Na época isso não implicava em dinheiro, mas em pneus, embreagem, revisão de suspensão, geometria, alinhamento, etc. Luiz Fernando Terra Smith foi na COPAVE, na Rua Amador Bueno conversar com o proprietário da revenda e tentar conseguir alguma coisa. Ele conseguiu, em troca do nome da revendedora estampado nas laterais do carro, ter o 1093 recuperado após a prova. Devido ao bom desempenho nas provas de estreantes, Luiz Fernando Terra Smith foi convidado para ingressar na equipe Willys. Nos treinos para segunda corrida para estreantes, correndo com o 1093 do amigo, Luiz Fernando Terra Smith foi abordado por um outro Nobre do Grid: Anísio Campos. Don Anísio – a quem ele nunca tinha visto – vendo o bom desempenho de Luiz Fernando Terra Smith chamou-o para levar seu carro até o Departamento de Competições da Willys, que ainda era chefiado por Christian Heins (outro Nobre do Grid). A equipe deu uma preparada no carro e o resultado não poderia ter sido outro: vitória! As primeiras vitórias de Luiz Fernando Terra Smith ficaram registradas para sempre na revista “Velocidade”, que deixou de circular ainda nos anos 60. O carro foi devolvido ao proprietário da mesma forma que fora recebido, mas com um motor melhorado. O bom rendimento de Luiz Fernando Terra Smith nas suas primeiras corridas culminaram com o convite, já feito por Luiz Antônio Greco (mais um dos Nobres do Grid) para que o jovem carioca ingressasse para a equipe de pilotos do Departamento de competições da fábrica francesa. Amigo dos Fittipaldi, Luiz Fernando Terra Smith também fez algumas corridas de kart com a equipe Mini, a mais forte do país. A convivência no meio dos pilotos fez com que Luiz Fernando Terra Smith também fizesse algumas incursões no kart, mas apenas disputou algumas provas, sem disputar um campeonato por inteiro. Tendo como companheiro de equipe Wilsinho Fittipaldi, a maioria destas participações foram com karts da equipe Mini. Como piloto efetivo da equipe, Luiz Fernando Terra Smith passou a disputar provas regularmente, em sua grande maioria nas provas de longa duração onde dividiu o volante com Luiz Pereira Bueno e Bird Clemente. Além disso, foi um dos principais atuantes do esquema promocional que a Willys fazia pelo interior do estado, levando seus pilotos para apresentações de habilidade com os carros da marca e que ficou conhecido como o “Cirquinho da Willys”. Durante os anos em que fez parte da equipe Willys, os pilotos - quando não tinham que correr - faziam shows de habilidade. Quando não tinha corridas, o departamento de publicidade da Willys providenciava as apresentações nas cidades, muitas vezes por solicitação dos revendedores. O “cirquinho” também se apresentava em feriados e aniversários de algumas cidades. Era uma forma de se tentar mudar a opinião dos moradores que tinham pelo Gordini uma péssima imagem. Estranhamente, Luiz Fernando Terra Smith não foi escalado para fazer parte do teste de longa duração do Gordini. O grande momento da carreira de Luiz Fernando Terra Smith foi – sem dúvidas – a vitória nas Mil Milhas Brasileiras de 1967. No ano anterior, a dupla (Luiz Pereira Bueno e Luiz Fernando Terra Smith) sofreu com diversos problemas mecânicos, mas para a IX edição da prova a equipe contava com um protótipo que havia sido trabalhado por Toni Bianco (outro Nobre do Grid). Estes espetáculos, agendados pelo departamento de marketing, era conhecido como o "cirquinho da Willys"... olha a segurança... Apesar das conquistas nas pistas, a relação entre Luiz Fernando Terra Smith e a Equipe Willys não era uma “perfeita sintonia”. Havia uma diferença entre os pilotos que faziam parte da equipe: tinham os assalariados (Bird Clemente, Luiz Pereira Bueno e Wilsinho Fittipaldi – enquanto lá correu) e os outros. Não que eles tivessem que “pagar para correr”, mas não havia compensação financeira. Alem disso, tirando os pilotos titulares (Bird e Luizinho), os demais eram escalados conforme as determinações de Luiz Antônio Greco, o chefe da equipe. Para se sustentar nesta época, Luiz Fernando Terra Smith trabalhou como vendedor de automóveis, de motos para a Pereira Barreto, na Av. 23 de maio, e – sempre que precisou – contou com o apoio do seu pai. Nesta altura, a Willys já havia sido vendida para a Ford e Luiz Fernando Terra Smith, insatisfeito há tempos, foi até a diretoria reclamar da situação e exigir uma tomada de posição em relação àquela condição que tanto o incomodava. Luiz Fernando Terra Smith conseguiu chamar a atenção dos americanos da Ford, que resolveram conhecer melhor como funcionava a equipe de competição. Dentre as conquistas de Luiz Fernando Terra Smith nas pistas, a mais importante foi - sem dúvidas - as Mil Milhas de 1967. Após duas semanas, o Mr. Prescot, um dos novos diretores, chamou Luiz Fernando Terra Smith até a sede e comunicou que, a partir daquele momento ele também seria um piloto remunerado, com direito a receber o que deixou de ser pago nos anos anteriores. Luiz Fernando Terra Smith mostrou então que a “solução” iria implicar em outro problema: ele ‘atropelara’ a hierarquia da equipe, passando por cima de Luiz Antônio Greco e que isso seria um sério problema para que ele continuasse na equipe... a menos que Greco saísse! Estava formado o impasse. A Ford decidiu aprofundar a investigação sobre como funcionava o Departamento de Competições e ao final do processo, decidiu por fechá-lo. Luiz Fernando Terra Smith, por sua vez, moveu um processo contra a Ford por ter trabalhado para a empresa, desde os tempos que esta era a Willys. Tal atitude foi considerada “uma loucura” pelos colegas de pista, mas Luiz Fernando Terra Smith estava decidido a ir até as últimas consequências. No Rio de Janeiro, com o Bino Mark I, perseguindo a BMW de Chico Landi. Correr em casa era sempre um prazer extra. Boa parte do equipamento que pertencia à equipe Willys (quatro Berlinetas, dois Gordinis e dois 1093) foi vendida para uma empresa paranaense, a Transparaná, uma transportadora com sede em Londrina e 'capitaneada por um descendente de italianos chamado Etore Beppe, que tinha uma equipe de competição, que também utilizava uma Berlineta Interlagos. Com isso, Luiz Fernando Terra Smith foi correr pela nova equipe, mas o investimento era alto em manter pilotos como Luiz Pereira Bueno e Luiz Fernando Terra Smith no time e o projeto no Paraná durou pouco mais de um ano, enquanto Luiz Pereira Bueno De volta a São Paulo e com uma relação extremamente desgastada, e sem ambiente dentro do meio, por conta do processo contra a Ford e a briga comprada com Luiz Antônio Greco, Luiz Fernando Terra Smith - que sempre teve seu talento reconhecido – foi convidado por Emilio Zambello e Piero Gancia (Nobres do Grid) para disputar algumas provas pela equipe Jolly. Contudo, no início dos anos 70, deixou de lado as corridas e mudou-se para os Estados Unidos, onde foi trabalhar em uma empresa de importação e exportação, ficando lá por quase dois anos. Depois do fechamento do Departamento de Competições da Willys, Lui Fernando Terra Smith correu pela Transparaná, de Londrina. O processo contra a Ford arrastou-se por dez anos, tendo tramitado em todas as instâncias, desde São Bernardo – cidade da Grande São Paulo – até Brasília. No final, além de ter criado a jurisprudência, a vitória no processo obrigou a montadora a pagar tudo aquilo que a justiça determinou. Depois de retornar para o Brasil, Luiz Fernando Terra Smith foi trabalhar no ramos de hotelaria, num projeto de empresários europeus na Bahia, indo morar no nordeste e por lá ficando por muitos anos, até voltar a morar em São Paulo nos anos 80, em um apartamento próximo a esquina da Av. Consolação com a Av. Estados Unidos e trabalhando ainda com os italianos do projeto do empreendimento hoteleiro na Bahia. No aeroporto de Montevideo, ao lado de Emerson Fittipaldi, indo participar de mais uma corrida, ainda nos tempos da Willys. Foi neste período dos anos 80 que Luiz Fernando Terra Smith foi apresentado ao “Tiro Prático”. É um esporte em que não se fica parado, atirando em alvos. São situações simuladas em que o esportista tem um percurso a cumprir onde ele tem que atingir determinados objetivos e tem a cronometragem, uma vez que o tempo de percurso é fator de pontuação. Durante anos Luiz Fernando Terra Smith foi praticante assíduo. Em uma ida à Curitiba, por conta de uma busca por seu carro, que havia sido roubado quando estacionado em frente ao hotel Maksoud Plaza, onde aproveitou para visitar uma tia e alguns amigos e amigas, foi apresentado, quase que casualmente, à Vera Maria da Silva Carrano. O início do namoro em julho de 1986, onde as viagens entre Curitiba e São Paulo eram constantes. Em casa, Luiz Fernando Terra Smith e a sua coleção de troféus, sendo alguns de automobilismo e outros do tiro prático. Nos anos 90, Luiz Fernando Terra Smith foi retornou às origens, voltando ao interior de Minas Gerais, investindo em agricultura e pecuária na região onde estava familiarizado. O namoro com D. Vera apenas mudou de roteiro, com as viagens passando a ser entre Uberaba e Curitiba. Ali Luiz Fernando Terra Smith ficou até 1996, quando mudou-se para Curitiba. Luiz Fernando Terra Smith viveu bem a vida, tendo assumido o matrimônio após os 50 anos de idade e hoje, casado – sem filhos – com D. Vera, uma companheira para todas as horas, mora confortavelmente em Curitiba onde está sempre disposto para um papo agradável e muita história para contar. Fontes: Revista Velocidade; Revista Autoesporte; Revista Quatro Rodas; Fotos e depoimentos de Luiz Fernando Terra Smith. |