Alguns personagens da nossa “Galeria de Heróis” passaram longe dos cockpits dos monopostos ou mesmo dos bancos dos carros de turismo, mesmo assim, tiveram enorme importância dentro da história do automobilismo... não apenas brasileiro como mundial! Este é o caso de Francisco Castejon do Couto Rosa, o famoso Chico Rosa. O primogênito dos quatro filhos do casal formado pelo fazendeiro Nelson do Couto Rosa, de tradicional família do sul do estado de Minas Gerais, e de Ovídia Castejon do Couto Rosa, com origem espanhola, radicada no sul de Minas Gerais, cresceu bem longe dos agitos das grandes cidades. Tendo, inclusive, nascido em uma das fazendas da família, em Patrocínio Paulista, localidade próxima as cidades de Franca e Ribeirão Preto, no dia 5 de maio de 1942. Durante a primeira parte de sua infância, Chico Rosa estudou na escola rural, na própria fazenda de propriedade da família, fazendo todo o antigo primário, antes de seguir para a cidade de Monte Santo de Minas, para casa da avó materna, D. Ovídia Dias Castejon, para continuar os estudos e fazer o antigo ginasial (primário e ginásio são o que chamamos hoje de ensino fundamental). Pensando no futuro, ‘seu’ Nelson do Couto Rosa tratou de mandar o filho para São Paulo para cursar o científico. Ele mesmo chegou a levar os estudos adiante antes de se casar, tendo inclusive cursado durante algum tempo o curso de Engenharia na Faculdade Politécnica do Estado de São Paulo, mas sem chegar a concluir o curso, indo assumir a administração dos negócios da família com as fazendas de gado leiteiro e café entre Minas Gerais e São Paulo. Assim, em 1957, Chico Rosa foi sozinho para a capital paulista, onde foi aluno interno do tradicional colégio Arquidiocesano, tendo sido contemporâneo de Rodney Terra Smith, irmão mais novo do ‘Nobre do Grid’, Luiz Fernando Terra Smith, com quem seus caminhos viriam a se cruzar nos anos seguintes. Na foto da turma do 1º ano científico do Arquidiocesano. No lado esquerdo, na 1ª fileira, Chico Rosa, que depois mudou de colégio. Em 1958, a família inteira veio morar em São Paulo, assim, Chico Rosa pode voltar ao convívio familiar com seus pais e os irmãos, Ronan, Suzana e Tania. Não tendo mais que estudar em um colégio interno e por facilidades de localização e transporte, morando no bairro de Higienópolis, Chico Rosa trocou o Arquidiocesano pelo também tradicional colégio Rio Branco, onde concluiu o científico (ensino médio). A mudança teve um efeito extra – e é aí que o ‘velocitocócus’ entra no enredo – pois a família passou a morar perto de um dos grandes expoentes das corridas da época: Ciro Cayres. ‘Seu’ Nelson gostava de corridas e ouvia as narrações das provas que aconteciam em São Paulo e no exterior, quase sempre narradas pelo ‘Barão’ Wilson Fittipaldi pela Rádio Panamericana. Estando em São Paulo e tendo conhecido o Ciro Cayres, a curiosidade pelo meio do automobilismo só aumentou e, num final de semana naquele mesmo ano, pelas mãos do piloto, Chico Rosa foi pela primeira vez ao autódromo de Interlagos. Pode ver de perto pilotos como o seu “anfitrião” Ciro, Celso Lara Barberis, Chico Landi, Fritz D’Orey e todas as feras da época. Ir ao autódromo passou a ser um de seus “programas de finais de semana”, pois não podia descuidar dos estudos e, como bom aluno, conseguiu entrar para o curso de Engenharia Civil na Universidade Mackenzie. Foi pelas mãos do inesquecível Ciro Cayres que Chico Rosa passou a frequentar Interlagos. Ali, pode conhecer feras como o Marinho. Com o passar do tempo e a frequência assídua em Interlagos, Chico Rosa foi conhecendo mais e mais pessoas, fazendo mais e mais amizades e entre elas, uma que acabou, anos depois, rendendo uma bela parceria, que foi Luiz Antônio Greco, que logo depois passou a ser o assistente direto de Christian Heins na estruturação da equipe Willys. Frequentando os boxes e as corridas, Chico Rosa foi entendendo como funcionava a estrutura das equipes, como se faziam corridas de longa duração – comuns na época – cronometragem... coisas que um dia viriam a ser de grande valia. Contudo, a “estréia oficial” foi em 1964, nos 1000 Km de Brasília. Chico Rosa foi de ônibus, de São Paulo até a capital federal e juntou-se à equipe Willys para fazer a cronometragem e o planejamento estratégico da equipe durante a prova. Não era um trabalho fácil. Conseguir cronometrar 7 carros na pista, o revezamento dos pilotos – que alguns estavam inscritos em mais de um carro – coordenar as paradas planejadas para abastecimento... e sem computadores! Entre os amigos que fez, com Luiz Antônio Greco a amizade passou para a parceria e trabalho na vitoriosa equipe Willys. A formação acadêmica de Chico Rosa e o interesse pessoal tornou o nosso Nobre do Grid um poliglota. Ele falava inglês e francês fluentemente. Aprendeu italiano praticamente apenas por ler os artigos das revistas importadas que chegavam às suas mãos. O ‘Barão’ Wilson Fittipaldi recebia, diariamente, o jornal francês, L’Equipe... e o repassava à Chico Rosa para que ele o lesse. Chico Rosa logo passou a ser um dos maiores conhecedores entre os brasileiros das competições e a ter o respeito de outros grandes conhecedores do que acontecia no automobilismo fora do país, como eram Jorge Lettry e Pedro Victor Delamare. Era comum vê-los conversando sobre o mundo do automobilismo. Aqueles eram outros tempos e a “turma do automobilismo” era muito unida. A disputa era nas pistas, fora dela, todos se falavam e grandes amizades se formaram mesmo em equipes rivais. Chico Rosa tinha, por exemplo, uma grande amizade com Paulo Goulart, dono da Dacon, equipe que “tirou o sono do Greco” por quase um ano. Encontros no Deck, o famoso bar e restaurante da avenida 9 de julho, reunia praticamente todos, de todas as equipes. Naquele tempo, todo mundo era amigo de todo mundo. Aqui, no Deck, com Paulo Goulart, Anísio Campos e Rodolfo O. Costa. Nas muitas conversas que surgiam na época, começava-se a se pensar e se especular sobre o que os pilotos brasileiros conseguiriam fazer correndo na Europa... e o “olho clínico” de Chico Rosa via em um dos pilotos da geração mais nova aquele que poderia se destacar no velho continente: Emerson Fittipaldi. Apesar de Emerson raramente ter corrido com os carros da Willys, Chico Rosa e Emerson eram amigos muito próximos e, sempre que o assunto entrava nas conversas, ele falava para o futuro campeão das suas reais possibilidades no velho continente. A ida de Emerson para a Europa acabou se consumando em 1969, mas o compromisso de amigo e parceiro estava firmado entre os dois... e Chico Rosa foi junto. Bem, quase. Chico precisou adiar a ida por conta de uma prova de segunda época para concluir o curso na faculdade de engenharia, seguindo apenas algumas semanas depois. O trabalho de estratégia nas provas longas eram de grande importância. Aqui, Chico Rosa contra a Dacon (Greco está à direita, fora da foto). Quem está "dando placa" na frente dos boxes é José Carlos Pace, com Paulo Goulart ao fundo. A vida na Inglaterra não era fácil, com os dois – Chico Rosa e Emerson Fittipaldi – dividindo um quarto de pensão em Wimbledon, nos arredores de Londres, e perto da oficina onde o carro de Fórmula Ford ficava. Eram quase 10 quadras percorridas a pé todos os dias onde, além da preocupação com o carro, havia toda a parte burocrática de inscrição para as provas, documentação... coisa que era bem diferente do que se fazia no Brasil. Chico Rosa mostrou que era um bom companheiro de equipe e também “pé quente”, mesmo com todo o frio da terra da rainha. Na primeira prova após sua chegada – e que também era véspera de seu aniversário, dia 4 de maio – Emerson Fittipaldi ganhou a corrida de Snetterton com autoridade. Foi a primeira das quatro vitórias antes dele deixar o campeonato de Fórmula Ford para entrar no de Fórmula 3. Quando a Fórmula Vê decolou no Brasil, Chico Rosa passou a acompanhar mais de perto o amigo Emerson Fittipaldi. O esquema de equipe era o tipo “circo mambembe”. Um caminhão bem rodado, onde iam o carro, as peças, o piloto, o mecânico, se muito dois, e Chico Rosa. Assim, além de provas no campeonato inglês, a dupla percorreu alguns circuitos da Europa e foi numa destas que Chico Rosa pode – de uma vez por todas – certificar-se de que seu “olho clínico” estava certo. Após uma corrida na Itália, eles se preparavam para retornar para a Inglaterra quando foram avisados que a corrida de Oulton Park seria no sábado e não no domingo. Com 24 horas a menos eles tiveram que correr contra o tempo e Emerson Fittipaldi dirigiu o caminhão por 3 dias, praticamente sem dormir, com uma parada na suíça, na casa da família Gancia para um banho e uma “recarga de bateria”, até Winbledon, para buscar o mecânico que revisaria o motor, cruzando o canal da mancha de Ferry Boat. Etapa da Fórmula Vê em Interlagos. Os irmãos Fittipaldi à esquerda e Chico Rosa com Marivaldo Fernandes à esquerda. Chegaram em Oulton Park na madrugada de sexta-feira, para o sábado, com o mecânico ao volante e Emerson “apagado”. Na manhã do sábado, era o treino de classificação... 20 minutos e, sem conhecer o circuito, Fittipaldi “seguiu” quem conhecia nos poucos minutos de treino. No final, marcou a pole position e ganhou a prova! A “vítima” foi Dave Walker e a vitória rendeu o convite para correr a F3. Ao longo de todo o ano de 1969 Chico Rosa acompanhou de perto a trajetória de Emerson Fittipaldi na Fórmula 3, já correndo de Lotus e tendo Colin Chapman como patrão indireto, pois a equipe era da Jim Russel Racing Drivers School. Ao final do ano, com o título, a ida para a Fórmula 2 na equipe era certa, mas novos desafios iriam surgir para Chico Rosa na Europa. Empolgados com o sucesso de Emerson Fittipaldi e com o “caminho das pedras” bem marcado, vários pilotos brasileiros começaram a planejar sua ida para o velho continente. Com a equipe de Greco já utilizando o logotipo da Ford, Chico Rosa - ao lado de Totó Porto - já era uma referência no automobilismo. Em 1970, Chico Rosa esteve, durante boa parte do ano, “em dois lugares ao mesmo tempo”. Com a sorte de que raramente as corridas da fórmula 2 coincidiam com as corridas da Fórmula 3 inglesa, ele pode dividir seu tempo entre Emerson Fittipaldi e José Carlos Pace. Moco, mais rodado do que era Emerson quando foi para a Europa, partiu direto para a Fórmula 3. No segundo semestre do ano, com Emerson já na equipe de Fórmula 1, Pace passou a ter mais atenção de Chico Rosa. Com competência nas pistas e bem assessorado fora delas, o Brasil ganhava mais um campeonato de Fórmula 3 na Inglaterra e consolidava-se como país formador de pilotos. A projeção de Chico Rosa no meio automobilístico nacional e internacional era notória, passando a ser uma personalidade não apenas nos paddocks, mas em eventos sociais. Nos anos seguintes, a vida de Chico Rosa era essa: acompanhar os pilotos que seguiam do Brasil para a Europa para tentar se estabelecer no automobilismo internacional... e assim o foi até o final de 1973, quando outro compromisso começou a prendê-lo no país. Há alguns anos, entre viagens e cartas através do atlântico, além de uma temporada juntos em 1972, o namoro com a catarinense, residente em São Paulo, Sylvana Simone Pereira culminou com o casamento. Chico Rosa chegou a ir para a Europa ainda em 1974, mas não só o casamento, como a gravidez da esposa mudaram seu esquema de vida. O casamento com Sylvana deu ao casal dois filhos, Felipe e Carolina. Em 1969, Chico Rosa na Inglaterra, naquele "delicioso frio molhado", acompanhando Emerson Fittipaldi em sua primeira temporada. Chico Rosa passou a dedicar-se à engenharia, trabalhando no escritório de projetos de seu amigo, o arquiteto Marcos Tomanik, na avenida Faria Lima. Tomanik era muito amigo dos pilotos do meio, em especial o Moco, e que gostava muito de corridas e assim Chico Rosa ainda chegou a viajar para a Europa algumas vezes no ano de 1974, mas não para lá permanecer como fazia antes. O conhecimento de automobilismo acumulado ao longo dos anos rendeu à Chico Rosa um convite para participar de um projeto da CESP (Companhia Elétrica do estado de São Paulo) na Escola de engenharia da Universidade Mauá para a adaptação de um motor Diesel para o uso de metanol, bem antes do governo lançar o Proálcool. Apesar do processo não ter ido pra frente no Brasil, no exterior ele foi aproveitado. A Caterpillar utiliza o processo nos Estados Unidos até hoje! Chico Rosa consolidou-se como uma das personalidades mais importantes do esporte a motor (acima, um jantar com Juan M. Fangio). Em 1975, Olavo Setubal, fora nomeado prefeito da cidade de São Paulo pelo então governador, Paulo Egídio Martins (na época os prefeitos das capitais eram indicações). Seu secretário de esportes, Caio Pompeu de Toledo, convidou Chico Rosa – com quem estudara no Rio Branco – para integrar a equipe de administração do autódromo de Interlagos uma vez que a experiência acumulada pelos anos no Brasil e depois no exterior, certamente, seriam de grande valia. Depois de voltar para o Brasil, em definitivo, Chico Rosa até tentou ficar um pouco mais distante das corridas. Afinal, depois de ter visto tudo o que viu, viver tudo o que viveu, ser um dos responsáveis diretos pela consolidação do nome do país no cenário automobilístico internacional, era difícil encontrar motivação para voltar às origens, ainda porque, o automobilismo mudara e a grande maioria daqueles com quem ele freqüentava os boxes não estava mais lá, ainda por cima depois de vir a trabalhar na administração de Interlagos, ver algumas corridas e visitar alguns autódromos era parte da rotina de trabalho. O ‘velocitococus’ é um vírus danado de resistente... e insistente. Assim, vez por outra lá estava Chico Rosa para assistir alguma corrida. Naquela época, a categoria que tinha mais destaque no Brasil era a Fórmula Super Vê e foi em Brasília, naquele ano de 1975 que Chico Rosa foi assistir uma corrida da categoria... e teve uma visão: Um piloto deu um verdadeiro show na pista, passando diversos carros, tomando a ponta e vencendo a prova. O carro não tinha o ronco de motor mais forte, mas a guiada do piloto fazia a diferença. Já como membro da administração do autódromo de Interlagos, em uma reunião (1976) para tratar das melhorias na pista para 77. Alguns meses depois, na prova que seria em Interlagos, Chico Rosa procurou saber mais sobre aquele piloto que o impressionara em Brasília. Sendo ele quem era, ficou de longe, observando o piloto em seu trabalho com a equipe, seus mecânicos e viu na troca de informações, na atitude, no comprometimento e no entendimento entre equipe e pilotos. Era uma questão de referência: ver Ron Tauranac, Colin Chapman, Ken Tyrrell trabalhando era uma escola e era possível ver aquele entendimento entre aquele piloto e sua equipe. Ele venceu novamente e Chico Rosa viu ali um potencial campeão mundial de Fórmula 1: era Nelson Piquet Souto Maior! Chico Rosa era voz importante nas tomadas de decisões para a realização do GP do Brasil de Fórmula 1. Ele conhecia todos os autódromos onde se disputavam as provas da categoria na época e isso trouxe a proximidade dos dirigentes das categorias e dos chefes de equipe... entre eles, um tal de Bernard Ecclestone, que chegou a ficar hospedado na casa dos pais de Chico Rosa na sua primeira vinda ao Brasil. Uma outra história iria começar. Quando ia acontecer uma corrida em Interlagos, Chico Rosa chegava cedo no autódromo e dava uma volta na pista antes mesmo do diretor de prova fazer isso. Em uma das provas da Fórmula Super Vê, ele foi interpelado por um piloto que o chamava... era Piquet. Certamente alguém lhe contara que Chico Rosa estava a observá-lo e Chico Rosa o chamou para dar a volta na pista junto com ele. Ali começava uma amizade que perdura até hoje. Além de Emerson Fittipaldi, Chico Rosa teve um papel importantíssimo na ida de Nelson Piquet para a Europa e sua chegada à F1. Durante todo o ano de 1976, ano que Piquet sagrou-se campeão da Fórmula Super Vê, foram várias as vezes que o piloto freqüentou a casa de Chico Rosa e, neste convívio, os conselhos para que Piquet seguisse para a Europa eram constantes. A união de Chico Rosa, Carlos Cintra Mauro, o Lua, Edu Prado, o pai do Edu, Dr. Eduardo Prado, que era um homem com muitos contatos, advogado de grandes empresas, e se conseguiu montar um esquema para que Piquet fosse disputar a Fórmula 3 na Europa (Piquet optou pelo campeonato europeu, visando conhecer os circuitos do continente, enquanto isso, Chico Rosa fazia seu trabalho de bastidores. Antes da ida de Nelson Piquet para a Europa, Chico Rosa levou-o ao escritório de Emerson Fittipaldi e, antes de apresentá-lo, teve uma conversa com o amigo dos tempos difíceis sobre o futuro do novo piloto. Chico Rosa apresentou Piquet como futuro campeão do mundo, e pediu que o Emerson ligasse para os irmãos Pedrazzani, da Novamotor, na Itália, para prepararem um motor para o Nelson. Os motores da Lotus na F2 eram da Novamotor e Chico Rosa pediu para o Emerson ver se conseguia um motor de primeira linha por um preço mais em conta. Emerson respondeu, nas palavras de Chico Rosa: “Eu nunca pedi nada pra ninguém... vou fazer isso por você. Se você está dizendo que esse cara é bom, eu vou pedir”. Só depois desta conversa é que Nelson Piquet entrou na sala. Os italianos prepararam o motor com o qual Nelson Piquet correu na Europa. No pódio do GP de Long Beach em 1980, os pupilos de Chico Rosa juntos. em muito graças ao seu trabalho, 5 títulos mundiais! Bernie Ecclestone, que de vendedor de carros usados chegou a dono de equipe – a Brabham – e começou a fazer negócios fora da Inglaterra, inclusive aqui no Brasil, tinha em Chico Rosa um bom amigo, chegando a freqüentar a casa do nosso Nobre do Grid. Na época, Chico Rosa era delegado da FIA e o único fiscal de circuitos da entidade na América do Sul, fazendo inclusive as vistorias em Buenos Aires, que também recebia a F1. Em 1977 o autódromo de Jacarepaguá tinha sido reformado e era o plano levar o GP do Brasil de 1978 para o Rio de Janeiro. A corrida que homologou o circuito do Rio de Janeiro foi uma prova de Super Vê e o Bernie Ecclestone veio ao Rio de Janeiro na época. Lá, numa conversa de final de tarde com Chico Rosa, sentados no guard rail da reta, pouco depois da curva da vitória, ele confessou: “pilotos novos... eu preciso de um campeão do mundo”! Chico Rosa respondeu: “eu tenho um que você precisa conhecer. Ele vai correr o inglês de F3 agora em 1978”. – É o filho do Mario Patti? Perguntou Bernie. – Não, o nome dele é Nelson Piquet Souto Maior”. Uma foto para guardarmos com carinho: Em 2009, Chico Rosa encontra com o velho amigo dos anos 60, Luiz Pereira Bueno. Antes do final do ano Nelson Piquet, já campeão da F3 e tendo começado a correr com alguns carros privados na F1, assinava contrato com a Brabham onde, três anos depois, o brasileiro sagrava-se campeão mundial da categoria, depois de um vice campeonato no ano anterior. Em 1982, Bernie Ecclestone trouxe para o Brasil uma miniatura do carro de Nelson Piquet, o BT-49C, para o Presidente Figueiredo. Antes de seguir para Brasília, em um almoço em São Paulo, o Bernie virou-se para o Chico Rosa e pediu: “daqui mais 5 anos, arruma outro desses”! Chico Rosa teve participação direta em 5 dos 8 títulos mundiais de F1 conquistados pelo Brasil. Desde 1975, tirando um período entre o final da gestão do prefeito Reinaldo de Barros, retornando até a posse de Mário Covas, posteriormente na gestão de Luiza Erundina e desde então, quando da reforma do autódromo até o presente momento, Chico Rosa está envolvido com a administração do Autódromo Internacional José Carlos Pace. Se formos pensar bem, a relação de Chico Rosa com o autódromo de Interlagos tem cinquênta anos... e muitas historias e lembranças. Ao longo destes anos, viveu os problemas do descaso durante a gestão de Janio Quadros, à salvação do circuito na gestão de Luiza Erundina. Chico Rosa destaca ao longo destes anos a decisão do então prefeito José Serra, quando transferiu a administração do autódromo, da secretaria de esportes para a secretaria de turismo, a SPTuris, atendendo uma sugestão ou, aos olhos de quem queira pensar assim, uma solicitação. No período da reforma, na gestão da Erundina, durante um período a administração ficou com a SPTuris e a gestão ficou menos burocrática na opinião do administrador. Atualmente Chico Rosa divide suas atenções entre a gestão do Autódromo Internacional José Carlos Pace e a parte que coube da partilha das fazendas da família. Com a irmã mais nova, Tania, morando fora do país e os filhos – Felipe e Carolina – adultos e cuidando de suas próprias vidas, os olhos sagazes de Chico Rosa continuam a percorrer os caminhos do automobilismo brasileiro. Se não com a mesma velocidade, certamente com mais precisão!
Esta pequena homenagem biográfica foi escrita em 2009. No início de 2023, aos 80 anos de idade e com alguns anos de afastamento dos eventos de automobilismo, o gigante Chico Rosa entrou (oficialmente) para a eternidade. Para os automobilistas ele já era e sempre será eterno! Fontes: Revista Quatro Rodas; Revista Autoesporte; arquivos pessoais e depoimentos de Chico Rosa. |