Falta pouco para a etapa de abertura da 63ª temporada de Fórmula-1, marcada para 18 de março, na Austrália. E a grande expectativa do fã brasileiro de esporte a motor, claro, é ver um de seus compatriotas das pistas faturar o título da categoria. O último patrício a faturar tal caneco foi Ayrton Senna, em 1991. Vinte e um anos atrás. Mas se membros da imprensa segmentada em automobilismo e torcedores do Brasil se aborrecem com esse “jovem”, pense então se tivessem de aguentar um tabu como o dos italianos na Fórmula-1. O último Mundial de Pilotos conquistado por um representante do simpático país europeu ocorreu em 1953, com Alberto Ascari. Fosse uma pessoa, essa ausência de títulos já seria um senhor prestes a completar 59 anos. Estaria cansado de encarar o trânsito de São Paulo e um bocado incrédulo com a política tupiniquim. Poderia até estar aposentado. Mas não parado. Afinal, teria de trabalhar para reforçar um benefício tão esdrúxulo que às vezes parece mais um malefício. Contudo, os italianos não ligam muito para esse jejum. Por lá, quem chama a atenção é uma sessentona enxuta. E não é a Sophia Loren - até porque essa já passou dos 70 anos. Falo da Scuderia Ferrari. "A grande verdade é que na Itália tanto os torcedores quanto os jornalistas estão mais preocupados com a Ferrari", disparou Jarno Trulli em uma entrevista à revista Racing, publicada em abril de 2002. "Por esse motivo, não tenho tanto problema com pressão". Um dos episódios que deixam mais evidente a "hierarquia" mencionada pelo piloto, preterido por Vitaly Petrov na equipe Caterham, aconteceu no Grande Prêmio de San Marino de 1983. O francês Patrick Tambay, da Ferrari, e o piloto da casa, Riccardo Patrese, da Brabham, protagonizam uma bela disputa pela primeira posição da corrida. Seis voltas antes da quadriculada, Patrese conseguiu a ultrapassagem sobre o ferrarista. No entanto, pouco depois, passou do ponto na curva Acqua Minerali. E bateu. Logo que Tambay reassumiu a liderança, o que se viu nas arquibancadas foi uma série de comemorações da tiffosi. Digna dos festejos pelos gols de Paolo Rossi na vitoriosa campanha da seleção italiana na Copa do Mundo, disputada no ano anterior, na Espanha. Patrese, que admitiu o erro, disse só ter percebido a reação da torcida quando assistiu a uma gravação da corrida, na noite daquele domingo. Sem dúvidas, uma situação estranha. Especialmente quando adaptamos tal situação a um cenário além do território italiano. Seria como se brasileiros, fãs da equipe Fittipaldi, vibrassem após um dos carros do time, pilotado pelo finlandês Keke Rosberg, assumir a liderança de uma prova no Brasil por conta de um abandono de Nelson Piquet. Ou se amantes ingleses da McLaren festejassem algum deslize de Nigel Mansell, que favorecesse, por exemplo, a Ayrton Senna, da conterrânea McLaren, num GP em Silverstone. Algo estranho. Mas que dá uma noção da força desse fenômeno chamado Ferrari. Um fenômeno sexagenário. “Um mito, uma história” É evidente que a Ferrari é um fenômeno mundial, amado nos quatro cantos do Planeta. Não só como equipe de Fórmula 1, mas como fabricante dos ditos carros superesportivos. Mas a força da marca em sua terra natal ainda impressiona. Tive o privilégio de conversar recentemente com o bicampeão de FIA GT, o italiano Thomas Biagi, sobre o assunto. E uma declaração dele chamou muito minha atenção: “a Ferrari é simplesmente um mito, uma história, que faz parte de nosso país graças a Enzo Ferrari, um grande homem”. Abraços, Rafael Ligeiro |