A visão que se tem do prédio onde “funciona” – é, entre aspas mesmo – a FAUGO (Federação de Automobilismo de Goiás) é assustadora. O prédio, localizado na rua 55, nº 910, numa região bem entral da capital do estado, lembra um cortiço, daqueles descritos nas músicas de Adoniran Barbosa... mas pode ser até mais tenebroso. Condenado, sem água ou energia elétrica... sem nada! Imagine o amigo leitor, uma invasão... no térreo, encontramos a Federação de Ciclismo e no terceiro andar, entre caixas de papelão, pastas de arquivos e duas escrivaninhas sem nenhum conforto. Em um espaço que seria a entrada, fica a secretária, atrás de uma escrivaninha cercada por um amontoado de caixas, e numa sala “grande e pelada” encontramos o Presidente José Ney Lins, que há 20 anos preside a federação dos goianos. O automobilismo no estado tem uma história muito rica. O goiano adora automobilismo, a ponto de nem o futebol conseguir rivalizar-se com ele. Recentemente estes dois esportes se confrontaram. A seleção brasileira enfrentou a Holanda no estádio Serra Dourada, levando 36 mil e 500 torcedores às suas dependências no sábado, dia 4 de junho de 2011. No dia seguinte, com 10 Km de engarrafamento, com a GO 020 interditada o domingo assistia o Autódromo Internacional de Goiânia receber mais de 60 mil pessoas para assistir a etapa da Fórmula Truck! Mas vamos voltar até os anos 50/60 para tentar entender isso. 99% do automobilismo goiano ao longo destes quase 50 anos de história foi feito fora do autódromo, segundo o Sr. Ney Lins. Antes do autódromo ser construído, além das corridas de rua que eram realizadas em Goiânia, outras provas eram feitas em cidades do interior. O prédio da antiga CASEGO, na rua 55, região central de Goiânia era o endereço da FAUGO quando estivemos lá. As corridas, antes da existência do autódromo, eram no centro de Goiânia, o circuito urbano era feito nas principais avenidas da cidade, com a Avenida Araguaia, Avenida Anhanguera, Avenida Tocantins e os boxes eram na praça do centro cívico, em frente ao palácio do governo. Nas ruas de Goiânia correram os irmãos Fittipaldi, Piero Gancia e Emílio Zambello com as Alfa Romeo da equipe Jolly, entre outros. A Praça Cívica também foi o palco das primeiras provas de kart do estado no início dos anos 70 e que diversas vezes recebeu em suas disputas Nelson Piquet. A visão que tivemos foi assustadora: um prédio abandonado, uma total precariedade, mas uma coisa havia: registros de tudo! No interior do estado, as corridas também aconteciam em circuitos urbanos. As 200 milhas de Anápolis foi uma destas provas em que pilotos de outros estados vieram a Goiás para enfrentar os pilotos locais e do distrito federal que, pela composição geográfica, sempre tiveram forte participação nas provas do estado. Devido à sua grande extensão territorial, mesmo depois da divisão para a criação do estado do Tocantins, O offroad goiano sempre teve espaço com Rallies de regularidade e Raids, além das provas de velocidade na terra. Não apenas Goiânia tinha corridas de rua nos anos 60. Anápolis tinha sua corrida anual e até o 'Patinho Feio' da Camber andou lá. No inicio dos anos 70, com a projeção nacional no cenário internacional do automobilismo, com o chamado “milagre econômico” e o “sonho do Brasil grande”, os autódromos começaram a proliferar. Surgiram Fortaleza, Tarumã, asfaltaram Cascavel e no planalto central, começaram as construções dos autódromos de Brasília e Goiânia. Apesar do autódromo da capital federal ter ficado pronto antes, o que deveria ter ocorrido era justamente o contrário: o autódromo de Goiânia deveria ter sido inaugurado em 1973, e em grande estilo! Nessa época, o Campeonato Mundial de Marcas (hoje seria o equivalente ao FIA GT) gozava de muito prestígio, e os 1000 km de Buenos Aires faziam parte do calendário. Largada das 200 Milhas de Anápolis: dois Lorenas fizeram a primeira fila. Muitos pilotos de SP / RJ / RS correram no estado. A prova de Goiânia havia sido programada para 1º de setembro, Contudo, os 1000 km de Buenos Aires, prova que era tradicional no calendário e estava programada para o final de outubro foi cancelada. As obras em Goiânia estavam em um ritmo frenético, mas com o cancelamento da prova argentina a etapa brasileira tornou-se incerta. Não havia razão para se continuar naquele ritmo e a prova goiana acabou sendo cancelada também. Assim como aconteceu, oficialmente em 1973, a inclusão do Brasil no calendário da F1, era pretensão da CBA incluir o país no calendário do Campeonato de Marcas. O problema foi que a prova argentina foi cancelada definitivamente, a partir de 1974, a distância e a logística envolvida (muito longe das facilidades de hoje) inviabilizavam economicamente o deslocamento da categoria para realizar uma prova apenas no continente. Assim, o ritmo das obras desacelerou e Brasília ficou pronto primeiro, recebendo um GP extraoficial de F1. Em 1973, o autódromo da cidade deveria ficar pronto antes mesmo do autódromo de Brasília... mas acabou terminando depois. Após ter sido adiado o sonho dos goianos em ter seu autódromo, a crise do petróleo acabou por complicar todo o cenário automobilístico nacional, uma vez que o país importava a maior parte do petróleo que consumia. As atividades automobilísticas da primeira metade do ano se resumiram a algumas provas do Campeonato Brasileiro de Divisão 1 e corridas regionais, além das duas corridas de Formula 1 (São Paulo e Brasília) no começo do ano. Os demais campeonatos – nomeadamente os brasileiros – pareciam estar fadados a não acontecer dada a crise no país. A inauguração de Goiânia acabou sendo o palco ideal para dar início a dois campeonatos nacionais, da Divisão 4 e Divisão 3. A inauguração do autódromo, em 28 de julho de 1974, foi uma festa que parou a cidade, literalmente, tamanho o engarrafamento na rodovia de acesso ao circuito. Além das provas da divisão 3 e 4, a prova principal acabou sendo uma corrida de longa duração: as 12 Horas de Goiânia, que fazia parte do campeonato da Divisão 1 e contou com 38 carros inscritos, sendo 22 da Classe C, 1 da B e os demais da Classe A. Seis Opalas foram inscritos, entre os quais, três 250 S. O resto dos inscritos na classe eram Mavericks, francos favoritos. 2/3 dos Opalas abandonaram antes da metade da corrida, facilitando demais a tarefa dos carros da Ford. Em julho de 1974, finalmente o autódromo goiano era inaugurado. Um verdadeiro festival de velocidade aconteceu. O único Opala que foi realmente competitivo foi o 250S número 6, da Equipe Itacolomy, com Reinaldo Campello e Edgard Mello Filho, que chegou em 6°. A corrida foi um verdadeiro ‘passeio’ para os carros da equipe de Luiz Antônio Greco. A dupla formada por Marivaldo Fernandes e Bob Sharp recebeu a bandeira quadriculada em 1º lugar, seguidos de Paulo Gomes e Antonio Castro Prado. Do 3° ao 5° lugar as duplas Antonio da Rocha/Carlo Gancia, Arthur Bragantini/Marinho Amaral e os paranaenses Carlos Eduardo Andrade/Luiz Moura Brito. Completaram o pódio. No final da década de 60 e início da década de 70, o kartismo começava a se difundir no estado e, assim como eram as provas de automobilismo, as disputas eram feitas nas ruas da capital, na Praça Cívica, onde os pilotos locais logo tiveram acirrada a disputa contra os pilotos do Distrito Federal, entre eles, Nelson Piquet, que era um verdadeiro tormento na vida dos ases locais, como Alencar Junior, que ainda hoje se diverte dizendo que o troféu do segundo colocado era sempre maior que o do primeiro, pois este era do Piquet. Acima, uma das várias provas ocorridas em Goiânia. Ao lado do Puma, um jovem do radicado no interior do Paraná: Pedro Muffato. Com o autódromo, logo foi construído o kartódromo, no mesmo terreno e sob a mesma administração. A grande extensão do estado certamente abriria espaço para as competições offroad e a quantidade de clubes e associações de Rally, Raids e de velocidade na terra foram ganhando corpo ao longo do tempo. Goiânia foi o ponto de partida de quase todas as edições do famoso Rally dos Sertões, o mais importante do país em seu gênero. As provas dos calendários nacionais passavam obrigatoriamente por Goiânia, que se fortaleceu também a nível regional. Em 25 anos, por assim dizer, Goiás foi um dos berços do automobilismo brasileiro, sendo naturais deste estado diversos campeões nacionais em todas as categorias. Contudo, nos últimos 10 anos as coisas foram ficando difíceis no planalto central. Em agosto de 2001, a Stock Car andou pela última vez em Goiânia. Uma obra desastrosa – e desastrada – de recapeamento literalmente destruiu a pista. O governo do estado decidiu recapear a pista à revelia da solicitação da FAUGO, utilizando uma cobertura que não era a indicada para a utilização em um autódromo. Apesar dos protestos da federação o serviço foi feito. Em 1979, quando a Stock Car começou, Goiânia não poderia ficar de fora do calendário e nem do 'casting' de pilotos. Existe uma diferença entre resistência ao peso e resistência à tração. O asfaltamento das ruas e avenidas seguem o princípio da resistência ao peso, contudo, uma pista de corridas precias levar o fator tração em consideração. Um kart exige mais de um revestimento asfáltico do que um caminhão da Fórmula Truck. Depois do malfadado serviço realizado, outras tentativas de ‘resolver o problema’ foram realizadas, mas nenhuma tendo o caráter definitivo e necessário para que Goiânia pudesse voltar a ser um dos palcos mais importantes do automobilismo nacional. Wellington Justino (acima, no brasileiro de marcas e pilotos, 87) foi um dos muitos pilotos que mostraram a força do automobilismo goiano. Com más administrações por parte do governo estadual, ao longo da década passada o complexo autódromo/kartódromo chegou ao fundo do poço. Alguns anos atrás o piloto goiano Giuseppe Vecci (Stock Car / Pick Up Racing / Copa Clio) veio a público – leia-se imprensa – e externou a realidade que vivia o automobilismo e o kartismo goiano: Segundo Vecci, a situação chegou ao ponto da energia elétrica ter sido cortada no local... e este corte teria sido a pedido pessoal do presidente da Agetur (Agência Goiana de Turismo) na época, Durval Fernandes Mota. Não houve qualquer explicação por parte da agência. O abandono também tem outro lado. Sem qualquer segurança, a pista é refúgio para moradores de rua e usuários de drogas. A coisa chegou a um ponto tão crítico que até local para “desova de cadáveres”, fruto da guerra do tráfico na cidade o autódromo tornou-se, uma vez que não havia segurança patrimonial e o portão de acesso vivia aberto. Goânia foi palco de grandes disputas da Fórmula Ford nos anos 80 e da Fórmula 3 sulamericana nos anos 90. Além destes problemas, o local, durante o dia em diversos finais de semana foi o ponto de encontro para festas regadas a álcool, drogas, desordem e vandalismo. Foi a partir de 2009 que a situação começou a mudar, com a nomeação do Sr. Américo Larozzi para a função de administrador do autódromo e do kartódromo. Depois disso, começou a ser feito um trabalho de recuperação do local (que ainda está longe de poder ser chamado de bom), mas que parece ter encontrado o caminho certo. O problema agora está nos interesses em torno da área e nos projetos que podem surgir... em ambos os casos, o esporte – como não poderia deixar de ser – é o último fator a ser considerado. Pouco antes das últimas eleições para o governo do estado, surgiu com estardalhaço a notícia de que Hermann Tilke (esse mesmo, o dos autódromo que o Bernie Ecclestone tanto gosta) estava sendo contratado para fazer uma reforma no autódromo! O valor da reforma seria de 5 milhões de reais e o famoso arquiteto alemão chegou a visitar as instalações do autódromo e a reunir-se com autoridades locais. Como todos sabemos, não mexeram nem uma pedra desde então! A má gestão do autódromo transformou uma das maiores praças de esporte do país a ser um local de bandidos e vândalos. Atualmente o autódromo de Goiânia passa por um processo que envolve uma corrente que luta pela sua plena recuperação, outra que almeja que seja feita uma permuta de área com uma empresa de construção, interessada numa permuta de áreas onde teria sido oferecida ao governo, a construção de um espaço multiuso, com local para feiras, exposições, shows e o autódromo, localizada a cerca de 8 Km do local do atual autódromo. A área seria isolada por um “cinturão verde” para impedir que a especulação imobiliária chegasse ao local, como aconteceu com o autódromo. A contrapartida seria a cessão da área do atual autódromo para esta construtora explorar. Contudo, a área fica num município que é reduto de um dos mais fortes opositores do atual governador do estado, Marconi Pirillo e aí... Enquanto isso, apenas medidas paliativas tem sido tomadas para que o autódromo fique em condições – precárias – de receber corridas. O estado tem um kartódromo dos mais modernos do país, em Itumbiara, mas fazer corridas lá implica em mais um custo: o deslocamento. Além destes, há o kartódromo de Trindade e o de Rio Verde. A FAUGO ainda promove corridas de rua em cidades que não possuem kartódromos. Em outros casos, o automobilismo acabou vítima como foi o caso do kartódromo de Anápolis, onde foi feito um túnel para a ferrovia norte-sul sob a pista e a acomodação do terreno destruiu o asfalto, inviabilizando a realização de qualquer prova. Com uma grande área, as corridas em pista de terra, como esta de fusca-cross em Anápolis, e os Rallies sempre tiveram espaço. O kart goiano é também um retrato do que acontece no autódromo. Inclusive, o malfadado campeonato brasileiro de kart, realizado no kartódromo que fica na área do autódromo foi uma sucessão de problemas, inclusive com uma desastrada ação policial onde pilotos (entre 7 e 12 anos), pais, mães e familiares foram tratados como criminosos de alta periculosidade. Goiás conta com quatro circuitos de velocidade na terra quando do fechamento desta matéria. Contudo, nenhum deles é considerado um ‘circuito oficial’. São circuitos privados e que dependem da boa vontade dos proprietários para que as provas de ‘Gaiola’ e ‘Kart Cross’ sejam realizadas. A foto não dá a idéia do sério problema do asfalto goiano: o uso de um asfalto inapropriado inviabilizou as corridas no estado. As Perspectivas para refortalecimento do automobilismo goiano passam necessariamente pela definição da condição do autódromo. Se for para reformar o autódromo atual, o problema está praticamente restrito ao asfalto, que precisa ser refeito. As demais instalações do autódromo estão em boas condições. Também precisariam ser substituídas as lâminas dos guard rails e os moirões de sustentação destes, que são os mesmos desde a inauguração. O ideal seria fazer muros de concreto. Fazendo isso, todas as provas nacionais voltarão para Goiânia. A F. Truck voltou em 2011 e mostrou o quanto o goiano gosta de automobilismo. Entre as iniciativas da FAUGO, segundo seu presidente, foi a estruturação da F200, que contou com Nelson Piquet na abertura. Fomos até a sede da FAUGO conversar com o seu presidente, José Ney Lins Rocha, e abrimos o microfone para que ele pudesse expor seu ponto de vista sobre a realidade do automobilismo no estado. Este cearense, residente em Goiânia desde 1965, casado, pais de quatro filhos, com uma longa vida profissional em diversas áreas de atuação (Ex funcionário da Petrobras, ex representante comercial, ex bancário e hoje aposentado), dá expediente todos os dias na FAUGO, que foi fundada em 2 de setembro de 1969. Nei não participou da fundação, mas passou a integrar seus quadros logo em seguida. Ney Lins, como ele é chamado, foi o primeiro diretor do autódromo. No cargo há 20 anos, segundo ele, seu antecessor e expresidente da CBA, Reginaldo Bufaiçal, que permaneceu por 11 anos como mandatário dos destinos do automobilismo nacional, ‘consertou’ o automobilismo brasileiro! Segundo Nei, a gestão de Piero Gancia deixou muito a desejar e Bufaiçal, quando assumiu, encontrou a sede da CBA penhorada. Ainda segundo ele, foi o acordo com a Shell, para a realização da Copa Shell, que salvou a sede no bairro da Glória, no Rio de Janeiro. NdG: Como está estruturada, hoje, a FAUGO? ""Para se fazer automobilismo é preciso muita garra, tempo disponível e força de vontade. Eu tenho tudo isso! Ney Lins: Temos 14 clubes filiados, 9 com direito a voto e os outros 5 estão em fase de homologação. A sustentação da FAUGO são dois clubes: O MS, fundado em 1972 e o Trail Clube Goiano, fundado em 1989. Além destes tem os clubes de Arrancada, de Drifting, o Fora de estrada, além do Jipe Cross, o kart Clube Anapolino e os automóveis clube de Itumbiara e Inhumas.Campeonato de Marcas 1.6 e acontece também a copa cento oeste e uma prova de arrancada por mês, estes eventos no autódromo. Temos a copa centro oeste e a copa sudoeste de kart, temos o campeonato de Fórmula K-200, com uma prova por mês em uma categoria criada em 1988 e já foram feitos 4 campeonato nacionais além do regional. Acontece há 15 anos o ‘Rally do Cerrado’, prova de regularidade, são realizadas as provas da copa Goiás e da copa Centro oeste de regularidade, além do estado ter feito parte do trajeto do Rally dos Sertões em quase todas as suas edições.Goiás tem (tinha em 2011, quando falamos com o presidente da FAUGO) cerca de 300 pilotos federados entre pilotos de asfalto, rally e kart. Como evento especial, a FAUGO promoveu durante anos o “Rally do Batom”, depois chamado de Rally da Mulher, em que chegou a ter quase 500 participantes... do sexo feminino! Contudo, a degradação do autódromo causou um esvaziamento. Se hoje ainda há o campeonato de turismo 1.6, antes também havia a copa centro oeste 2.0, a copa Corsa... NdG: sobre esta ideia de um novo autódromo, o que há de concreto sobre o assunto? Ney Lins: A proposta do governador é muito boa e viável. Seria uma grande solução e que atenderia aos interesses de todos, mas, acredite, ainda tem gente contra! A FAUGO é totalmente a favor. As pessoas que estão contra jamais fizeram alguma coisa pelo automobilismo goiano. Este autódromo novo, caso seja construído, vai beneficiar não apenas o automobilismo, mas o motociclismo e o ciclismo também. O problema é que o administrador do autódromo, o Américo Larozzi andou falando o que não devia, divulgando o que não devia. O governador [Marconi Pirillo] não gostou nem um pouco do ocorrido e como o negócio não estava definido, há um risco de que nem venha a ocorrer.Quando o autódromo de Goiânia foi construído, no início da década de 70, não se imaginava que a cidade cresceria tanto naquela direção. Para evitar que ocorra o mesmo com o novo autódromo, vai ser feito um cinturão verde em volta da área que compreenderá o autódromo e o parque de eventos, impedindo que a especulação imobiliária encoste no autódromo como encostou no atual.Quando foi feita a Fórmula Truck em 2001, foi preciso inverter o tráfego da GO 020 e dos acessos para facilitar a chegada dos espectadores ao autódromo... e inverter o sentido ao final da corrida. Para quem mora nas proximidades isso é um problema terrível. NdG: Como a FAUGO e o senhor se posicionam em relação a atual gestão da CBA? Ney Lins: Relação é de apoio à situação na CBA desde os tempos de Reginaldo Bufaiçal. Nos tempos de Paulo Scaglione, foi o primeiro a assinar como apoio tanto na eleição como na reeleição... mas fui o primeiro a ser contra um 3º mandado dele à frente da CBA. NdG: Porque? Goiás foi um dos pioneiros a fazer com a GM uma parceria para estabelecer a Copa Corsa, segundo Ney Lins. Ney Lins: Ele fez uma proposta de dois mandatos apenas. Eu acho que quem se propõe a alguma coisa, tem que cumprir aquilo a que se propõe e ele se comprometeu a cumprir uma série de coisas... e não cumpriu. Então um grupo de presidentes de federação decidiu fazer o que tinha que ser feito: dois terços dos presidentes convocaram uma assembleia extraordinária e foi feito um edital, antecipando as eleições e lançando o Cleyton [Pinteiro]. E o movimento começou aqui. Foi aqui que nos reunimos... e em duas semanas, uma reunião que teve 3 federações reunia 13 em torno de uma proposta de mudança. NdG: E o apoio continua? Ney Lins: Algumas decisões que deveriam passar pela assembleia não passaram e foram implementadas. Isso gerou descontentamentos na base que elegeu o Cleyton. Ele ainda não se manifestou sobre uma reeleição (até o final de 2011). Seu mandato vai até 2013. Eu apoio o Cleyton, gosto dele, mas ele precisa se aproximar mais das federações. Este foi um erro que o Paulo Scaglione cometeu e o Cleyton está cometendo também. Eu alertei o Paulo sobre isso em 2008 e o que aconteceu depois todos sabem.A CBA é muito grande e muito rica em valores humanos. Gente que conhece. Aqui na FAUGO, só para você ter uma ideia, temos as Comissões de velocidade na terra, no asfalto, de kart, de rally, de arrancada... no total são 34 pessoas que integram estas comissões e destes, 21 são engenheiros. Todo mundo gente bem preparada e com muito a oferecer. Nós fazemos um trabalho intenso no sentido de fortalecer cada seguimento. Alem disso, temos o tribunal que possui 11 membros, sendo 9 efetivos e 2 suplentes, composto por advogados renomados, juízes e desembargadores e antes de um assunto chegar ao tribunal, todo processo passa por uma comissão disciplinar, que tem 5 membros que funciona de forma a tentar resolver os problemas antes de chegar ao tribunal. Temos um conselho fiscal rigoroso, enfim, temos uma estrutura muito bem montada para fazer automobilismo e tudo isso está à disposição da CBA como também nos outros estados. NdG: o senhor falou de uma estrutura enorme... e mesmo assim aconteceram todos os problemas testemunhados e relatados durante o brasileiro de kart de 2009. O senhor disse que os comissários e diretores que trabalharam eram inexperientes. Como é que esta questão de formação de pessoal de pista é tratada pela FAUGO? Ney Lins: Talvez a FAUGO seja uma das poucas federações que tenha um trabalho especializado neste sentido. Aqui nós temos 3 comissários técnicos formados pela CBA, dois para kart, que fazem campeonatos brasileiros e outro, para velocidade no asfalto, que trabalha há 19 anos no GP Brasil de F1 como comissário técnico. Temos também 3 comissários desportivos com diploma da CBA, tenho 2 diretores de prova. Não tenho 3 porque o Américo saiu e agora é o administrador do autódromo, mas a saída dele foi porque ele começou a organizar corridas piratas e eu o afastei! É uma pena perder uma pessoa com a capacidade dele, que conhece muito, que já foi adjunto da F1, que eu coloquei ele lá e que poderia estar, perfeitamente, entre os 3 melhor preparados diretores de prova no Brasil. Nós já chegamos a ter 12 pessoas de Goiânia trabalhando na F1. Nós temos um curso aqui para fiscais de pista, os bandeirinhas, dado aqui no estado. Temos tudo, material, rádios, computadores... tudo funciona num dia de corrida. A secretária da FAUGO faz a secretaria daqui de Tocantins e do Distrito Federal. E toda vez que tem um curso de especialização na CBA, a FAUGO é a primeira a indicar pessoal. NdG: Mas como é que, com tudo isso, a FAUGO está instalada tão precariamente? "Reginaldo Bufaiçal foi o homem que 'consertou' o automobilismo brasileiro. Aqui eu caçei as competições de ligas com a do Piquet." Ney Lins: ah, mas isso é provisório... nós estamos com tudo arrumado para nos mudar. Eu estou alugando uma casa, que irei pagar do meu bolso. Como a gente está praticamente sem realizar corridas, eu não posso cobrar taxas dos pilotos, dos clubes... assim eu vou fazer o que acho que é preciso fazer. O que a gente recebeu de dinheiro foram os 20 mil reais da F. Truck e é com ele que eu venho tocando a federação desde junho. Tem o que entra de renovação de carteira de piloto, mas é mixaria. Se eu pudesse voltar a ter as corridas que tinha aqui, eu iria poder fazer muito mais. A FAUGO patrocinava pilotos, mandava para competições até fora do país. Nós fizemos 4 fóruns sobre as leis Zico e Pelé aqui em Goiânia. Nós queremos muito fazer automobilismo aqui, mas a falta do autódromo está sendo um problema seríssimo há anos. NdG: Qual é a situação aqui neste prédio? É algo extremamente precário, não? Ney Lins: Mas é o que temos hoje. Por isso que eu vou alugar uma casa e pagar do meu bolso (VER NOTA NO FINAL). Este prédio onde estamos foi a leilão no final de agosto... não apareceu nenhum interessado! Eu conversei com o governador um tempo atrás e pedi que fosse feita uma reforma neste prédio e que o mesmo fosse repassado às federações, até resolver o problema do centro de excelência que está parado tem quase dois anos. Era para lá que a federação iria se mudar. Nós estávamos lá, no antigo estádio olímpico, desde que a FAUGO foi fundada. De lá saímos para a construção do centro de excelência... que não ficou pronto até hoje e nisso estamos aqui, nesta condição que vocês estão vendo. NdG: Como entusiasta do automobilismo, o senhor vê nos eventos no autódromo uma fonte de promoção da cidade e aumento da arrecadação. Na prática, isso funciona mesmo? Ney Lins: para você ter uma ideia, veja o que aconteceu em um simples final de semana aqui: o último jogo da seleção brasileira de futebol no Serra Dourada e a etapa da Fórmula Truck aconteceram respectivamente no sábado e no domingo. Enquanto a seleção levou 35 mil pessoas ao estádio, a corrida levou 65 mil pessoas ao autódromo! O ingresso mais barato no jogo de futebol era 15 reais, o ingresso da Truck era 25. Quando a seleção brasileira vem até aqui, somando todos os envolvidos, tem-se no máximo 250 pessoas que ficarão aqui por 3 dias. Uma Stock Car vindo para Goiânia vai trazer, por pelo menos 7 dias, um contingente de 4 mil pessoas. Pessoas que vão ocupar hotéis, pessoas que vão comer, beber, consumir... é muito mais interessante para o estado do que um jogo de futebol. No caso do automobilismo, tudo é a custo zero para o governo, diferente do que é no futebol. Se os governantes do Brasil tivessem mais visão, todo ele construía um autódromo e locava para os promotores fazerem suas corridas. NdG: Em 2009 o senhor se viu envolvido em um triste episódio, onde pais, pilotos, preparadores e torcedores viram-se em meio a um tumulto com ação policial e tudo que não se quer ver em um evento esportivo. O que foi que deu de tão errado para se chegar ao ponto em que as coisas chegaram? "Esta situação que estamos passando aqui é provisória. Eu vou alugar uma casa, do meu bolso, para instalar a FAUGO." Ney Lins: Olha, em primeiro lugar, eu lamento pelo que se passou e lamento ainda mais não ter insistido para que o campeonato fosse realizado em Itumbiara, um kartódromo que é de 1ª linha no Brasil. Nem o Presidente da CBA, nem o Presidente da CNK, Rubens Gatti conheciam ou mesmo conhecem o kartódromo de Itumbiara e insistiram para que o campeonato ocorresse em Goiânia. Foi feita uma reforma no kartódromo, mas o maior problema foi administrativo e operacional: Era o primeiro campeonato na gestão Cleyton Pinteiro e foram afastadas pessoas que trabalhavam havia anos como diretor de prova e comissários da gestão de Paulo Scaglione, presidente anterior. Segundo ele, a fórmula dos campeonatos vinha ‘dando certo’ desde a época do Reginaldo [Bufaiçal].Além disso, pessoas da cidade ‘contrataram’ dois sites especializados em kart para ‘falar mal’ do campeonato. Esta pessoa teve acesso a pista e colocou um produto corrosivo no asfalto que fez buracos na pista, obrigando a serem feitos reparos de emergência. Eu fui tão vítima deste episódio quanto os pais, pilotos e profissionais que vieram aqui trabalhar. NdG: Depois de quatro décadas envolvido com automobilismo, com tantos dissabores que se vive neste meio, não dá vontade de ‘jogar tudo para o alto’ e ir cuidar da prória vida? Ney Lins: Para se fazer automobilismo é preciso ter muita garra, muito tempo e muita paixão. E eu garanto a vocês que eu tenho estas três coisas. O automobilismo, tendo um evento de grande porte por mês, vindo aqui todas as categorias nacionais mais importantes, só trará benefícios para a cidade. Fomentará o comércio, fomentará o turismo, aumentará a arrecadação... e tudo isso a um investimento mínimo. É por isso que eu digo: se os governantes do Brasil tivessem mais visão, todo ele construía um autódromo e locava para os promotores fazerem suas corridas!
Nota dos NdG: Este depoimento do Sr. Ney Lins foi dado no dia 1º de setembro de 2011. Até o dia 30 de abril de 2012, última vez que passei pela Rua 55, nº 910, a FAUGO continuava no mesmo lugar! |