Temos visto, há alguns meses, uma maciça campanha em todos os meios de comunicação, na televisão especialmente, com matérias e mais matérias sobre a perigosa combinação entre álcool e direção. É inegável que o risco de acidentes – e as estatísticas mostram isso – com motoristas alcoolizados ao volante é maior que se os motoristas estiverem sóbrios. Contudo, a forma como esta campanha vem sendo conduzida pelos senhores jornalistas e as linhas editoriais dos telejornais – em especial – chegam a ser tão criminosas quanto os bêbados que circulam por ruas, avenidas e rodovias do país. Exagero meu? Não, não é. Todas as mazelas do nosso sistema de controle de trânsito estão sendo, literalmente, “varridas para debaixo do tapete”. Há quanto tempo o amigo leitor não vê ou ouve ou lê uma reportagem sobre o abandono das estradas brasileiras, sobre a falta de conservação, sobre obras que nunca terminam – e algumas que nem começam – com asfaltos esburacados, cortando pneus, quebrando suspensões e mangas de eixo, provocando acidentes? As autoridades brasileiras – e nesta incluam-se os governantes, tanto do poder executivo como do legislativo, as polícias rodoviárias e militares dos batalhões de trânsito – tem sido omissas (para dizer o mínimo) há décadas na forma como são conduzidas as políticas de trânsito do país bem como a inépcia com que as ruas e principalmente as rodovias tem sido administradas. O álcool ao volante é um problema? É claro que é! Estes mesmos telejornais, jornais e sites que estou criticando aqui já mostraram diversas cenas patéticas (e pavorosas) de motoristas e até motociclistas que não conseguiam sequer manter-se em pé, tamanho o estado de embriaguez. Contudo, isso não dá o direito a estes órgãos de imprensa – e muito menos aos governantes – de tentar “tapar o sol com a peneira” sobre os demais fatores que tem tirado mais de 40 mil vidas por ano nos últimos três anos no Brasil. Começando pelos motoristas, o motorista – e os motociclistas também – brasileiro são extremamente mal formados, extremamente mal educados, extremamente imprudentes e o uso excessivo do álcool é apenas uma das variáveis desta equação. Mal formado e mal educado, o motorista brasileiro é negligente – para não dizer irresponsável – com relação à manutenção de seus veículos, é um descumpridor, via de regra, de toda e qualquer lei que ele possa burlar, descumprir, corromper. As ruas, avenidas e principalmente as estradas brasileiras são mal asfaltadas, esburacadas com o uso de asfalto de péssima qualidade, que comprometem a resistência mecânica dos carros e motos que por ela trafegam. Estes governantes que “desgovernam” deveriam ter seus direitos políticos cassados antes de se começar a cassar carteiras de motoristas. Agora, estes legisladores querem impor a ditadura do “álcool zero” para os motoristas no país, como se isso fosse resolver todos os problemas dos acidentes envolvendo carros e motos no Brasil. Pelo projeto de lei, quem sai de casa com algum teor alcoólico na corrente sanguínea é um criminoso em potencial, um assassino em potencial. Seria um fumante que sai de casa com um isqueiro de casa um incendiário em potencial? Neste aspecto, quem fuma ao volante é tão ou mais perigoso que um motorista alcoolizado, uma vez que ao menos uma de suas mãos está dividida entre o volante e o cigarro. Outro dia, em um destes telejornais, uma senhora identificada como profissional da área de saúde afirmou que conversar no carro, com o controle de voz de ligações telefônicas ao volante são um perigo igual ao de se falar convencionalmente ao celular quando dirigindo me obriga a indagar: sendo assim, ter mais de uma pessoa no carro deve implicar que não se pode conversar. Afinal, isso irá comprometer a concentração do motorista, certo? Música então, nem pensar! O governo deveria exigir que os veículos produzidos no país, a os importados, viessem ser rádio ou sistemas de som e os guardas deveriam multar que conversasse enquanto estivesse ao volante. O teor amargo deste editorial é fruto do drama familiar que estamos passando desde o final do carnaval deste ano, quando tive meu carro atingido por um veículo que vinha em direção contrária na BR 262, uma das mais perigosas do país, e que cruzou a pista, atingindo outros três carros. Fiquei quase um mês hospitalizado, minha família foi – inteira – parar em uma UTI e a minha filha de apenas 11 anos vai passar por um longo tratamento para, quem sabe, com muita sorte, poder voltar a ter – em dois anos – uma “vida normal, com sequelas mínimas”... porque as cicatrizes, físicas e psicológicas, jamais serão apagadas ou esquecidas. Para constar: nenhum dos motoristas envolvidos no acidente estava alcoolizado. |