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Piquet e os leilões na Inglaterra PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 18 June 2012 10:39

 

 

No final do ano de 1978, Nelson Piquet, já coroado campeão inglês de Fórmula 3  (para irritação de Ron Dennis e Chico Serra), foi convidado para uma ‘conversa’ com Bernie Ecclestone, o então dono da Brabham, que lhe oferecia um contrato de três anos de duração. Segundo fala-se, Piquet correu praticamente “de graça”, recebendo apenas o suficiente para cobrir os custos de viagem e alimentação. Além disso, Ecclestone se reservava ao direito de explorar os espaços publicitários no macacão de Piquet e demiti-lo a qualquer momento, caso assim decidisse.

 

Piquet havia feito quatro provas pelas equipes ‘nanicas’ Ensign e BS Fabrication (que usou um McLaren M23), duas das piores do grid da Fórmula 1. O convite para correr com a Brabham de Bernie Ecclestone era uma grande oportunidade. Teria como primeiro piloto ninguém menos que Niki Lauda e o futuro tricampeão não pensou duas vezes, estreando pelo time ainda no GP do Canadá de 1978, no qual terminou em 11º. O novato foi mantido para a temporada seguinte como companheiro do austríaco Niki Lauda, mas ainda precisaria provar a Ecclestone que merecia a chance que havia recebido.

 

A temporada de 1979 foi extremamente difícil e complicada para a Brabham, que marcou apenas sete pontos (três deles conquistados por Piquet, no GP da Holanda), mas serviu para que ele se firmasse como piloto de Fórmula 1, ainda por cima quando Niki Lauda abandonou a carreira no correr daquele ano. Mesmo alçado a condição de primeiro piloto da equipe, Piquet ainda tinha que se virar para pagar as contas com o contrato nada vantajoso que havia assinado. Enquanto Ecclestone faturava 300 mil dólares com os patrocinadores que estampavam suas marcas no macacão de Piquet, o piloto tinha uma vida um tanto monótona e limitada na Inglaterra, onde morava perto da sede da Brabham.

 

Uma das poucas diversões de Piquet era justamente passar o dia na fábrica da equipe. “Ficava lá olhando, perguntando, aprendendo, fuçando, propondo, enfim, fazendo aquilo de que sempre gostei”, conta Piquet em seu livro “Eu me lembro muito bem”. O problema é que o novato era tão assíduo na sede da Brabham que estava “enchendo o saco” dos membros da equipe. Bernie Ecclestone determinou que Piquet só poderia passar pela fábrica duas vezes por semana e o brasileiro foi obrigado a procurar outra diversão no seu tempo de lazer.

 

 

 

Foi aí que Piquet descobriu os leilões de automóvel na Inglaterra. Sem muito dinheiro e com tempo livre (naquela época não tinha essa agenda social que os pilotos tem que cumprir nos dias de hoje), o piloto viu neles a oportunidade de “ganhar uns bons trocados” e compensar o salário que a Brabham mal pagava. Em seu livro, Piquet explica como funcionava o esquema: “Era fácil! Comprava o carro no leilão, dava uma caprichada nele, lavava e polia, regulava motor, sangrava freio, alinhava, enfim, fazia tudo o que o antigo dono tinha preguiça de fazer. O resultado era que o carro vendia rapidinho porque valia muito mais do que antes”.

 

O dinheiro, como Piquet relembra, era usado para “aproveitar um pouco a vida” enquanto seus resultados na pista não traziam retorno financeiro. Para ganhar dinheiro nos leilões, Piquet precisava escolher bem a “matéria prima” que iria comprar e trabalhar duro com os carros para poder ter um bom retorno na venda. Este trabalho exigia aquele “olho clínico”, que Piquet desenvolveu nos anos da Camber em Brasília... e também aquela ‘astúcia’ que parecia ser uma coisa ‘nata’. Assim, semanalmente Piquet visitava os leilões de carros usados na Inglaterra e em lá chegando, usava de uma “técnica toda especial” para escolher a mercadoria preferida.

 

“A primeira providência era vistoriar, bem cedinho, os carros expostos. Toda vez que achava um dos bons, ia logo, sem que ninguém visse, tirando fusíveis e botões para evitar concorrentes na hora do martelo. Punha os fusíveis e os botões no bolso e ia para casa certo de que, na hora do ‘quem-dá-mais’, era eu quem levantava o braço primeiro”!

 

 

 

E foi assim que Piquet ganhou uns trocados antes de começar a receber prêmios por suas vitórias e títulos na Fórmula 1.

 

Eu adoraria poder olhar a cara dos que não gostam destas coisas “nada engomadinhas” que tanto diferenciam o nosso mais autêntico dos pilotos dos demais que um dia chegaram ou sonharam chegar à Fórmula 1. Dá para imaginar algum piloto da Fórmula 1 atual, brasileiro ou não, tendo que ‘se virar’ deste jeito?

 

Felicidades e velocidade, 

 

Paulo Alencar

 

 

Last Updated ( Friday, 29 June 2012 19:52 )