Nos últimos anos, temos visto um crescimento no número de categorias disputando campeonatos de automobilismo no Brasil, sejam eles monomarcas ou não. Com carros de turismo ou fórmulas. Como sabemos que o automobilismo é um esporte caro, existe mercado para esta expansão do automobilismo no Brasil com relação ao número de patrocinadores para que estas categorias sobrevivam ou corremos o risco de entrarmos num processo de “canibalização” entre as categorias, com umas tirando potenciais patrocinadores das outras? Os diretores de categorias de automobilismo aqui do Brasil costumam se reunir para falar sobre aspectos técnicos e/ou comerciais? Alan Helmeister – Piloto da GT4 no GT Brasil de Superturismo. Este processo que vocês chamaram de “canibalização” sempre existiu. Não só aqui no Brasil como existe em qualquer lugar. Até na Fórmula 1 a gente vê isso acontecer. Gente que dá em cima do patrocinador do outro, se oferece para divulgar a marca com o mesmo espaço por um custo menor... isso é uma realidade. Hoje em dia, no Brasil, existem poucas categorias que podemos chamar de “categorias profissionais”. Eu chamo estas categorias aquelas em que o esquema para se correr é profissional. Todos os membros da equipe são profissionais do automobilismo e vivem do automobilismo. Os pilotos que dela participam são pilotos profissionais e vivem do automobilismo onde ele é contratado por uma equipe, levando ou não patrocínio. É mais comum o piloto levar parte do patrocínio para ajudar no bugget da equipe. Contudo, há uma série de categorias que são mantidas por empresários, que fazem automobilismo, talvez, mais por hobby do que por busca de retorno financeiro. Nestas categorias existe um suporte financeiro que faz com que não haja para os pilotos uma necessidade tão grande de busca por patrocinadores. Outra coisa que as pessoas que assistem as corridas pouco sabem é do que está envolvido no pacote de um contrato de patrocínio. Um piloto quando assume um compromisso com seu patrocinador há uma série de destinos para aquela verba que eles investiram. Uma parte vai para a equipe, outra vai para divulgação que o próprio piloto faz da marca, com espaços VIP, com convidados, Buffet, palestras, toda uma série de atividades extrapista e uma parte vai para seu sustento, seu salário. Esta parte da busca e gestão é uma parte que os pilotos tem que aperfeiçoar, eu inclusive. Além disso, existe a competição com outros esportes. Nos próximos anos vamos ter uma copa do mundo de futebol e uma olimpíada no Brasil e isso deve canalizar muito das possíveis verbas de potenciais patrocinadores para outros esportes que não o automobilismo será mais uma dificuldade para todos nós. Valdeno Brito – Piloto da Equipe V-Power na Stock Car e da Equipe BMW na GT3, na GT Brasil. De fato, nos últimos anos houve um crescimento considerável no automobilismo brasileiro, em particular no número de categorias até mesmo em relação ao número de pilotos. Este excesso de categorias a meu ver pode acabar enfraquecendo cada uma delas e comprometendo a sobrevivência no futuro delas mesmas. Isso provoca uma coisa que pode, a princípio, ser boa para os pilotos, pois vai haver mais vagas para correr, o montante de dinheiro que o piloto tem que levar para a equipe diminui, porque a equipe precisa que entrem pilotos nela. Só que com isso o orçamento das equipes vem pra baixo e aí a situação financeira das equipes fica prejudicada. É claro que é bom quando há várias categorias e várias opções para os pilotos, mas isso pode estar gerando um outro tipo de situação: faltar piloto para correr em todas as categorias. Veja bem, existem categorias que tem mais retorno para o patrocinador, mais visibilidade, mas essas categorias costumam ser mais caras, exigindo uma verba maior. O piloto, por sua vez, também busca a exposição e, é claro, a possibilidade CE poder correr na equipe mais forte, com o melhor carro, com a melhor condição de vitória. Acredito que o desejo de todos, patrocinadores, pilotos, promotores, donos de equipe, é que todos tenham o melhor retorno possível para que o automobilismo se fortaleça. Adalberto Jardim – Piloto da Equipe Volkswagen na Fórmula Truck. Eu não acredito que haja esse processo de canibalização no automobilismo brasileiro, muito pelo contrário. Eu acho que existe muito campo para o crescimento do leque de patrocinadores e diversificação destes patrocinadores para alavancar o crescimento e desenvolvimento do automobilismo no Brasil. O grande problema e que eu considero um erro por parte de todos, pilotos e equipes, é que nós procuramos sempre os mesmos patrocinadores há muitos anos. Eu acredito que existe um universo enorme de patrocinadores em potencial para o automobilismo que só não estão hoje nos autódromos, nos carros e com os pilotos em seus macacões por falta de alguém chegar com uma proposta e apresentar a eles um projeto interessante, economicamente viável e com boas perspectivas de retorno. A forma de se trabalhar esta relação entre equipe, pilotos e patrocinadores tem que ser uma fórmula boa para todos. Não é só você chegar e apresentar uma coisa dizendo que o patrocinador vai ter ‘x centímetros quadrados’ ou ‘x metros quadrados’ no carro, no caminhão, no macacão do piloto. A proposta tem que envolver mais do que você andar na frente e/ou ganhar corrida para aparecer a marca da empresa. As escolas de marketing estão aí para mostrar que existem diversos caminhos para se expor uma marca no mercado e o automobilismo precisa evoluir e abrir os olhos para estas novas formas de se promover o parceiro comercial, pois o patrocinador é um parceiro e quando se tem uma parceria, tem que haver uma troca, um projeto que atenda a todas as partes, nisso entram também os fornecedores de componentes do carro ou do caminhão, no meu caso particular. Por isso tudo que digo que há espaço para todos, é só buscar além dos mesmos lugares. Michelle de Jesus – Piloto da equipe Pink Energy, na categoria Mercedes Challenge. A primeira coisa que precisamos observar é que está havendo um movimento muito positivo no automobilismo brasileiro. Estamos tendo um crescimento no número de categorias e o surgimento de novos pilotos. Isso também tem sido visto na frequência nos autódromos, mostrando que está havendo uma maior “popularização”, se é que podemos falar assim, pois a nossa realidade aqui é de um meio onde tudo custa caro, menos o ingresso, claro. Com relação a esta coisa da “canibalização”, não é bem assim. Quem tem mais apelo, mais retorno de mídia, quem anda na frente... esse vai ter sempre uma vantagem no mercado para conquistar patrocinadores vai acabar conseguindo. Essa coisa de “um tirar do outro” é muito complexo, mas é algo que tem em qualquer lugar. Vamos dar um exemplo: você tem uma empresa de brindes e vendia um brinde a 10 reais há anos... aí vem um concorrente e vende o mesmo brinda por 9 reais. Você perdeu o cliente! Isso é a realidade, tem em qualquer lugar. Eu já perdi patrocínio assim e não tem muito o que fazer. O que não pode é sentar e chorar. É batalhar e arranjar outro! Agora, um outro lado é a questão da postura, da ética, da consciência de cada um sobre como vai agir, sobre como vai lidar com as coisas que circulam em torno da tua vida, do teu trabalho. Eu não vou aqui criticar quem fez algo diferente do que eu faço, de alguém que tirou um patrocínio meu. Eu não tenho o direito de julgar ninguém. Mas existem duas realidades: um piloto de ponta como o Cacá [Bueno] é um piloto que não precisa, pelo menos hoje, correr atrás de patrocínio. Os patrocinadores é que correm atrás dele. Contudo, para a grande maioria é o contrário e a vida não é fácil. A gente tem mesmo é que pensar pra frente e pra cima, pra chegar no mesmo nível de um Cacá. É isso que penso e que busco. Lico Kaesemodel – Piloto da Equipe Rosinei Campos Motorsport na Stock Car. Esse é um tema muito complexo. Não há dúvidas de que o automobilismo brasileiro teve um crescimento grande no número de categorias. As categorias ‘top’ estão com um orçamento muito alto, estão realmente caras e com o crescimento do número de categorias e do número de pilotos o patrocínio tá difícil, tá disputado e, para correr numa categoria cara como a Stock o montante que o piloto tem que reunir é grande. A forma como se deu este aumento de categorias no Brasil eu, particularmente, não acho que esteja sendo bom para o automobilismo como um todo. Um crescimento desordenado, sem um planejamento provoca e está provocando uma dispersão no número de pilotos e isso pode gerar um enfraquecimento do automobilismo como um todo. O que eu acho que vai acabar acontecendo é uma estabilização, com uma ou duas grandes categorias, onde os pilotos vão buscar chegar e se estabelecer, e entre as menores, eu torço para que elas encontrem meios para se manter e que continuem, mas se estabelecer no automobilismo não é fácil e promotores, equipes e pilotos vão ter que trabalhar muito. Estamos vivendo um momento difícil na economia mundial, com recessão na Europa e com reflexos no Brasil como foi em 2008. Vamos torcer para que as coisas deem certo, mas se tivermos umas duas categorias ‘top’ e pelo menos uma intermediária, vai estar valendo. |