Se na Fórmula 1, depois do acidente de Maria Villota, as mulheres ficaram mais longe das categorias principais do esporte, no Mundial de Endurance o universo feminino acelera forte com uma japonesa boa de bota. Keiko Ihara sorri e seus olhos brilham quando ela fala sobre automobilismo. Nem de longe parecendo os 39 anos de idade, a pilota da equipe Gulf Middle East Racing, da classe LMP2, acelera fundo, deixando para trás qualquer traço de desconfiança e preconceito contra seu sexo e o desenvolvimento de sua carreira. Num papo rápido com o site dos Nobres do Grid, ela conta como é preciso ser forte para se sair vitoriosa neste meio. NdG: É verdade que você era uma ‘grid girl’ antes de se tornar piloto? Keiko Ihara: Eu fazia faculdade de design e era modelo em Tokio quando surgiu uma chance trabalhar como ‘Grid Girl’ no GP do Japão de F1 em 1995. Fui escalada para ficar de ‘scort’ do carro de Michael Schumacher, na época piloto da Benetton e ao longo daquele dia comecei a pensar: eu quero um dia pilotar um carro de corridas... se possível uma Ferrari! Depois da corrida, procurei me informar sobre como eu poderia me tornar uma piloto de competição. Fiz um curso de pilotagem e com a ajuda do meio da moda para dar os primeiros passos até consegui participar do Ferrari Challenge no Japão, em 1999, onde o Schumacher compareceu. Desta vez ele era o modelo e eu a pilota! Risos. NdG: Mas de uma competição monomarca e quase promocional como o Ferrari Challenge para o Mundial de Endurance você teve que percorrer um longo e duro caminho. O que foi mais difícil? Keiko Ihara: O automobilismo é um meio predominantemente masculino e eu, além de ser mulher, sou asiática. Se as europeias como Lella Lombardi, Vanina Ickx, Suzy Stodart e outras sofreram e sofrem com a desconfiança sobre nossa capacidade, imagine eu? Em 2002 quando cheguei na Inglaterra para disputar o campeonato de Fórmula 3 só faltaram me chamar de ‘Nakajima de saias’ (risos), do resto me chamaram, mas eu não me importava. Estava ali para aprender, me aperfeiçoar e ser o mais competitiva possível. Sempre foi engraçado ver a reação dos pilotos (homens) que eu deixava para trás. Eles pareciam inconformados (risos). Foram quatro temporadas onde pude me desenvolver bastante e conhecer muita gente no meio do automobilismo. Ser um ‘piloto diferente’ pode ser muito bom. NdG: Você queria chegar à Fórmula 1? Desistiu? Mudou o foco? O que houve depois da F3 inglesa? Keiko Ihara: Eu fiz corrida em outras categorias, F. BMW, carros de turismo, mas foi numa corrida em Monza, os 1000 Km, em que corri com a Vanina Ickx que eu comecei a olhar com mais atenção para as corridas de endurance. O pai dela nunca foi campeão de Fórmula 1, mas é respeitado até hoje como um dos melhores pilotos do mundo e de sua geração, muito mais pelos resultados no mundial de protótipos do que no da F1. Cheguei a correr na copa asiática da Aston Martin, mas em 2008 fui uma das vítimas da crise econômica e precisei parar com a carreira. Faltou dinheiro! NdG: E como foi que você fez para voltar as pistas? Keiko Ihara: A economia mundial melhorou e a minha paixão pelo automobilismo nunca diminuiu. Em 2009 eu ainda consegui fazer algumas corridas, mas foi só no final de 2011 que consegui, com apoio da Nissan, voltar a correr uma temporada regular. Está sendo muito bom para mim e minha relação com meus companheiros de time, Jean-Dennis Deletraz e Fabien Giroix é muito boa. Nos ajudamos muito e trabalhamos muito para fazer o time ter bons resultados. NdG: Esta é sua primeira vez no Brasil? O que está achando de São Paulo e do circuito de Interlagos? Keiko Ihara: Estou adorando a receptividade das pessoas aqui. No Japão pude conhecer alguns descendentes de japoneses que foram para lá trabalhar. É um povo alegre, divertido e muito bom de se conviver. São Paulo é uma cidade que parece não ter fim de tão grande. Como não temos muito tempo para passear, não consegui ver muita coisa. Sobre o autódromo, eu conhecia das corridas de Fórmula 1, mas não imaginei que fosse tão difícil pilotar aqui. É anti-horário, o que já exige mais do físico do piloto. Além disso, tem subidas e descidas, especialmente nas curvas e freadas fortes, que exigem muito do carro. Acredito que faremos uma boa corrida aqui. "Arigatô gozaimasu", Keiko! |