Durante a etapa de Cascavel da Stock Car, praticamente todas as equipes sofreram com problemas de pneus. Foram mais de dez “furos”, que na verdade foram rompimentos estruturais, provocados por diversos fatores... pelo menos na visão de pessoas diretamente envolvidas com a categoria. A pergunta é: serão os pneus que atualmente a categoria usa capazes de atender as necessidades e as exigências as quais estão sendo submetidos? Teria sido Cascavel um caso isolado ou existe mais a se discutir sobre o assunto? O site dos Nobres do Grid procurou, durante a etapa de Curitiba, ouvir um representante de cada uma destas partes para tentar levar o nosso leitor a formar sua opinião (e não impor uma) sobre o que aconteceu e o que pode ser feito para que algo do gênero não ocorra nos próximos anos, caso a categoria retorne à esta pista do interior do Paraná. Valdeno Brito, vencedor da etapa de Cascavel. Segundo o vencedor da etapa, logo nas primeiras voltas foi possível verificar que o carro precisaria de “um setup mais conservador” (que logicamente ele não entregou, nem sob tortura e muito menos com uma tentativa de suborno com queijo coalho e carne de sol) para suportar a enorme força G das curvas de alta, especialmente no “bacião. Uma tocada mais suave, tentando diminuir este efeito mostrou-se eficaz.” “A aceleração lateral poderia destruir o “ombro” dos pneus e ‘dechapar’ a banda de rodagem. Foi isso que aconteceu na maioria dos casos. Além disso, a pista mostrou-se extremamente ondulada, fazendo todo o conjunto – pneus, molas e suspensão – trabalhar mais do que o de costume”. Para o piloto da equipe V-Power, um trabalho de melhoria na pista seria muito importante para reduzir e, se possível, eliminar as ondulações uma vez que Valdeno acha muito pouco provável que a Goodyear, fabricante dos pneus, venha a fazer um composto diferenciado para corridas em Cascavel. Maurício Slaviero, Diretor Executivo da VICAR. Na visão do dirigente, apesar da pista estar – visualmente – em boas condições para a realização da etapa, diversos pontos críticos de pista e zebras que poderiam, dependendo do ângulo de ataque, vir a provocar um furo. O asfalto, novo, mostrou-se também muito abrasivo e os “bumps”, especialmente os que estavam nos pontos de tomada e freada das curvas, provocaram uma exigência demasiada dos conjuntos. Para o dirigente, a pista precisa passar por um retrabalho para poder receber a categoria em 2013, reduzindo e/ou eliminando as ondulações e resolvendo os problemas das zebras. Contudo, existe um componente político nesta equação, que é a reeleição ou não do atual prefeito, comprometido com o projeto de recuperação do autódromo. Zequinha Giaffone – Diretor da JL Indústria e Comércio, construtora dos carros da categoria. Para Zequinha Giaffone, que foi piloto por muitos anos e que vem de uma tradicional família envolvida com o automobilismo, a falta de testes prévios foi um problema para se ter uma real avaliação do que poderia acontecer em Cascavel. Caso os mesmos tivessem ocorrido, talvez algo pudesse ter sido feito. Uma ideia seria a Goodyear estudar a possibilidade de produzir um novo composto, capar de resistir a condições mais extremas de esforço e temperatura, mas sem comprometer a performance. Logicamente não é um trabalho simples, que vai demandar tempo e pesquisa, mas que, tecnicamente, pode ser uma solução para o próximo ano. No caso de Cascavel, pilotos que conseguiram manter uma boa performance com uma tocada mais suave, conseguiram concluir a prova sem problemas mais graves. Temos que lembrar que, além de um asfalto novo e abrasivo, fazia muito calor no dia da corrida e estes fatores contribuíram para o que aconteceu. Mauro Vogel – Chefe da equipe Vogel Motorsports. De acordo com o decano chefe de equipe da categoria, o problema é mais complexo do que simples furos de pneus e o que aconteceu em Cascavel poderia acontecer em outras pistas por uma razão técnica: os pneus estão trabalhando em uma temperatura muito acima da temperatura de trabalho! Segundo informações da equipe, durante a etapa de Cascavel os compostos chegaram a 130 graus centígrados, 30 graus acima do limite superior da temperatura nominal de trabalho. Para tentar minimizar o problema, o regulamento específico para a prova permitiu que fossem criados sistemas de refrigeração alternativos, desviando mangueiras de refrigeração já existentes para resfriar os pneus. Mesmo com o uso deste recurso, o excesso de “grip” e as ondulações na pista continuaram criando problemas. A temperatura baixou muito pouco, menos de 5 graus. Este problema – o excesso de temperatura dos pneus – tem sido uma constante, não tendo sido uma exclusividade de Cascavel. Em Tarumã tivemos o mesmo problema e lá o regulamento não permitiu o uso das mangueiras para resfriamento dos pneus. Ou a Goodyear repensa como fazer os compostos ou teremos mais e mais problemas. Eles precisam encontrar uma solução que seja tecnicamente viável e eficiente. Não adianta fazer um pneu que comprometa o desempenho do carro e ele perca em aderência, tração e o carro perca estabilidade. Vinícius Sá – Responsável técnico da Goodyear. “A nossa análise do que houve em Cascavel é que o excesso de ondulações na pista, em especial no ponto mais crítico – a entrada do “bacião” – provocava um movimento vertical em freada além do que se observou até hoje em outras pistas”. “A falta de rodagem e consequentemente de acerto pelo fato dos carros nunca terem andado lá e não haver uma referência prévia deve ser levado em conta, bem como o acerto de suspensão, molas, cambagem e calibragem que cada equipe buscou. Alie-se a isto o estilo de pilotagem de cada piloto e temos então o parâmetro para pensar no que fazer”. “Uma coisa que não seria viável, adianto, seria a criação de compostos diferenciados para cada circuito ou um específico para cascavel. Temos um bom produto e este vem atendendo bem a categoria”. E o amigo leitor, o que pensa sobre o assunto? Grande abraço, Flavio Pinheiro |