Nós teremos a eleição para a presidência da CBA no início de 2013. Pelo atual estatuto, o presidente da CBA é eleito pelo voto dos presidentes das federações estaduais. Contudo, o automobilismo no Brasil é feito – há anos – por promotores independentes, por chefes de equipe, por pilotos que, por mais das vezes, passam longe deste meio político. Não seria interessante se buscar uma modernização deste processo eleitoral, de se mudar o atual estatuto da CBA e permitir que promotores de categoria, chefes de equipe e pilotos também tivessem direito a votar diretamente, mesmo que representados por associações, para eleger o presidente da CBA? Isto não poderia ser uma coisa positiva para o automobilismo brasileiro? Antônio Jorge Neto – Piloto da Copa Fiat e da GT Brasil. Eu acredito que seria algo muito bom se o processo eleitoral fosse mais aberto e democratizado, Somos nós aqui nas equipes que sofremos as consequências deste modelo de gestão não profissional que existe no automobilismo brasileiro. No meu ponto de vista, a Confederação Brasileira de Automobilismo deveria funcionar como uma empresa. Com seu presidente e os demais membros da Confederação sendo profissionais remunerados e cobrados em suas responsabilidades, como qualquer funcionário de qualquer empresa. Acabar com esta coisa de voluntarismo, de presidente que é presidente mas que também é profissional liberal, empresário, funcionário público, etc. e isso extensivo aos comissários e diretores de prova. Tinha que ser todo mundo profissional. Ter responsabilidades e, caso errasse, ser cobrado, ser punido, ser multado. Isso os obrigaria a ser mais preparados e fazer um trabalho melhor. Um processo de profissionalização iria acabar com essa coisa de eleição por amizade, por afinidade, faria com que o processo fosse mais correto e com a participação de todos nós que fazemos o automobilismo acontecer na pista. Marcio Fonseca – Assessor de Imprensa da Copa Fiat, do WTCC no Brasil, da Equipe Medley e de diversos pilotos em diversas categorias. Toda questão que envolve política é, por si só, bastante complexa e no caso do automobilismo brasileiro parece ser mais ainda. Como disse bem a pergunta, praticamente todas as categorias do automobilismo brasileiro estão nas mãos de promotores independentes e a Cofederação Brasileira de Automobilismo administra, de certa forma, o funcionamento do todo. Até onde eu me lembre, em todos os países que conheço a coisa funciona mais ou menos assim. Se fizermos um parâmetro, por exemplo, com o Campeonato Mundial de Carros de Turismo, o WTCC, que se parece um pouco com a Stock Car, vamos ver que o campeonato é feito por um promotor independente, o Marcello Lotti, e que a FIA tem um papel de supervisão, de endosso de credibilidade. Eu vejo a questão por este prisma. A CBA tem o papel de fiscalizadora, de fomentadora do automobilismo, deixando a iniciativa de organizar e promover as categorias para empresários. Agora, com relação as categorias de base, a CBA teria sim que ter o papel de organizadora, de fazer com que se tenha um início até que se chegue ao estágio de profissionalização. O importante é que haja uma consonância entre os promotores e a CBA para que o automobilismo se fortaleça, como esporte e como negócio. Não podemos esquecer que é um esporte caro e que este tem que gerar meios de sobreviver. As partes – CBA e promotores – precisam buscar este entendimento e trabalhar juntos para que isso aconteça. São esferas distintas e no meu ponto de vista, devem permanecer assim, mas com uma ligação estreita para que o automobilismo funcione. Wellington Cirino – Piloto da Equipe Mercedes Benz na Fórmula Truck. Seria uma coisa maravilhosa se isso pudesse acontecer, não apenas a nível de automobilismo brasileiro, mas a nível de automobilismo mundial. Contudo, eu acho muito difícil que isso venha a acontecer tanto para esta eleição de 2013 como para outras mais adiante. Há alguma coisa relativa a isso escrita pela FIA e uma mudança como esta teria que ser aprovada por eles. Infelizmente, a única categoria do mundo em que o promotor, as equipes e – relativamente – os pilotos tem alguma voz junto a quem administra o esporte, no caso a FIA, é a Fórmula 1. Para mudar o formato da eleição seria preciso mudar o estatuto da CBA e, honestamente, eu não acredito que nenhum dos dirigentes que hoje tem o privilégio tanto de votar como de se eleger mudariam este atual estatuto para diminuir o seu próprio poder e dividi-lo com os pilotos e chefes de equipe, além dos promotores, sabendo que nem sempre ou dificilmente os interesses seriam os mesmos deles. Luciano Monteiro – Assessor de Imprensa da Fórmula Truck e locutor de corridas. Eu considero uma grande injustiça os pilotos não poderem votar para a eleição do presidente da CBA e também das federações estaduais. O que a gente vê por aí, passando por diversos estados do Brasil é que os dirigentes só querem saber do status, de vender suas licenças para os pilotos poderem competir e de colocar dinheiro nos cofres das federações. São dois ou três que se salvam. Os presidentes das federações estaduais formam uma grande confraria. Eles votam nos amigos, nos amigos dos amigos, em quem vai dar vantagens para ele em quem vai viabilizar um projeto ou outro que vai reder dividendos pra ele, independente daquele ser ou não o melhor candidato. O piloto é que seria votar, nem os chefes de equipe. Os pilotos já trabalham em sintonia com estes, ou não, mas em geral sim e tem uma ideia semelhante. Já no caso dos promotores, estes continuarão fazendo seus eventos, pelo menos enquanto o retorno for positivo. Se um dia deixar de ser, eles param. Ter o voto deles ou um deles na presidência implicaria certamente em ou outro tipo de conotação, não apenas política, mas também de interesses comerciais. Temos hoje nem 20 promotores de evento no país e uns 8 a 10 mil pilotos. Eles seriam um universo muito pequeno para interferir em uma eleição, mas acho que isso, deixarem piloto votar, não vai acontecer nunca. Christian Fittipaldi – Piloto da Copa Fiat e expiloto da Fórmula 1 e Fórmula Indy. Em toda a minha vida como piloto eu sempre me mantive afastado de toda e qualquer questão política e neste meio político a gente pode ver cinco, dez, vinte visões diferentes de como se tratar desta questão de eleição do presidente da CBA. Certamente cada um vai defender seus pontos de vista e conciliar estas visões é algo que eu vejo como praticamente impossível. Sinceramente eu não ser qual seria o melhor meio para se eleger o presidente da CBA, mas sobre a conduta administrativa que ele deveria ter eu acho que ele teria que ser mais enérgico, mais agressivo e menos político nas suas tomadas de decisões, agindo sempre no sentido do que for melhor para o esporte. Atualmente eu vejo a Confederação agindo de forma muito mais política do que técnica e isso se reflete negativamente no esporte. Temos hoje um excesso de categorias no país, com diversas categorias que “competem umas com as outras”, além das categorias regionais. Isso interfere diretamente no desenvolvimento do esporte e mudar, melhorar o processo de gestão do nosso automobilismo pode ser feito com a atual forma de gestão. Milton Alves – Assessor de imprensa da VICAR Está não é uma reinvidicação apenas de pilotos e chefes de equipe no nosso automobilismo. Nos outros esportes também há este desejo e esbarra-se no mesmo modelo de se ter os presidentes das confederações eleitos por presidentes de federações estaduais. Se em todos estes esportes, no caso do automobilismo não só pilotos e chefes de equipe, mas também os mecânicos pudessem votar para a presidência da CBA, se nos outros esportes os jogadores, técnicos preparadores físicos pudessem votar isso daria uma conotação mais democrática ao sistema de poder... mas isso não acontece. Como estamos as vésperas da eleição, não seria a hora de se discutir este assunto, mas, eleito este próximo presidente, aí sim, caso houvesse interesse e respaldo, poderia se discutir este assunto para as eleições seguintes, independente de quem venha a ser eleito nesta agora. Eu não seria favorável a uma alteração para agora, mas acho que um estudo neste sentido poderia e deveria ser feito. Quem sabe não seja algo realmente bom para todos? As partes envolvidas podem pensar nisso. Cacá Bueno – Piloto da Stock Car, da Copa Fiat e da GT Brasil. É difícil saber ou afirmar se seria melhor ou não. Eu tenho para mim que sim, especialmente se tivéssemos uma participação efetiva por parte de pilotos e chefes de equipe. Já a participação dos promotores de categoria eu tenho minhas dúvidas de até onde seria ou não seria bom, pois há muitos interesses comerciais e políticos e isso apenas faria o processo mudar de mãos, mas seguiria a mesma cartilha do modelo atual. Se formos olhar para o nosso automobilismo, basta andar pelos boxes e ver que tem gente aqui que está trabalhando na pista e nos boxes há mais de 30 anos, passando por todo tipo de situação e continua investindo e trabalhando e gerando emprego no automobilismo que emprega muita gente. É o esporte individual mais coletivo do mundo, como eu costumo dizer. Honestamente, eu não acho que isso venha a mudar, pois precisa que se mude o estatuto para que se possa fazer isso que se propõe e as pessoas que hoje estão no poder não vão querer abrir mão do poder que tem. As pessoas se apegam as vezes mais a poder do que a dinheiro e se a pessoa tem o poder não vai querer abrir mão dele. Eu não vejo perspectiva de mudança deste cenário. Acho que a legislação permite a abertura de ligas independentes e que quem estiver insatisfeito pode mudar e fazer algo parecido com o que o [Nelson] Piquet fez no passado, mas sem os problemas que ele enfrentou. Agora, mudar a regra do jogo na CBA? Não muda. Fernanda Gonçalves – Assessora da equipe BMW na GT Brasil e de diversos pilotos. Com certeza que um processo mais participativo seria muito mais interessante para o nosso automobilismo. São os pilotos que fazem o espetáculo, são eles que trazem o público para o autódromo. Contudo, acho muito difícil que os dirigentes aceitem mudar um estatuto que deixa apenas para eles o direito de poder decidir quem vai ser o futuro presidente da entidade. É importante lembrar que esta última gestão foi bem tumultuada, com episódios lamentáveis, muitas críticas à postura do presidente da CBA e que mostra o quanto as pessoas precisam se comprometer ao abraçar uma responsabilidade como esta. Em um processo mais democrático, com a participação de mais pessoas, a cobrança vai ser maior e certamente a conscientização de quem estiver à frente da confederação vai ser maior. Haver uma união, um direcionamento de esforços para que o automobilismo brasileiro se fortaleça cada vez mais. Eu vejo promotores tentando fazer campeonatos e se desdobrando para fechar calendários, fechar patrocinadores, atrair pilotos e os pilotos correndo atrás de quem os ajude a continuar correndo. As pessoas tem que se escutar mais e se dar mais para que o automobilismo melhore. Pelo bem do automobilismo brasileiro, os dirigentes deveriam rever este estatuto e democratizar o processo. Lucas Di Grassi – Piloto de testes da Pirelli para os pneus da Fórmula 1. Eu não sei exatamente como funciona o processo de escolha dos presidentes das federações e dos clubes em seus bastidores, mas se a proposta for a de haver um processo mais participativo, mas democrático e mais transparente isso vai ser muito positivo para o automobilismo brasileiro. Eu praticamente não corri no Brasil, só de kart e era muito pequeno então estes processos passavam longe da minha cabeça, mas depois de adulto eu passei a acompanhar algumas coisas mais de perto e já reclamei muito. O automobilismo brasileiro tem um enorme potencial e inexplorado. Se as coisas fossem mais organizadas, melhor geridas, a estrutura do nosso automobilismo seria muito melhor. É preciso mudar a gestão de negócio. Haver uma sintonia entre os promotores das categorias e os dirigentes para fazer calendários mais inteligentes, sem conflitos de datas, com deslocamentos mais lógicos, por exemplo. Isso reduziria custos. Teríamos que fazer os autódromos brasileiros melhorarem. São Paulo recebe todos os grandes eventos e seria importante incluir outras praças neste contexto, mas sem abandonar as raízes, que estão no kart e que anda enfraquecido. Estamos formando poucos pilotos. A estrutura está deficiente, o custo do kartismo está muito alto, depois do kart o piloto não tem uma categoria de fórmula para dar continuidade na sua formação e é preciso se ouvir os pilotos. Aqui em Interlagos eu identifiquei pontos que precisam ser melhorados a nível de segurança. Este autódromo do Rio, vai sair? Se sair, quem está fazendo o projeto? Ele ouviu algum piloto? Eu fiz alguns trabalhos com o [Hermann] Tilke e me ofereci ao presidente da CBA para ajudar neste projeto... e, bem... É preciso que todos passem a pensar no todo, numa proposta de automobilismo mais forte aqui no Brasil e fazerem isso juntos. |