Tarde de domingo em um circuito mundo afora. Com um tempo mais de dois segundos superior ao obtido na melhor volta do pole position, um Piloto larga apenas na 14ª colocação. Do box da equipe, o diretor-esportivo murmura: “Não sei como é que eu pude confiar um carro para esse moleque. Vai ser outra corrida daquelas que dá vontade de empacotar tudo, colocar no caminhão e deixa-lo sozinho na pista”. Luz verde. O moleque, apenas em sua quarta corrida pelo time, solta a embreagem com precisão e as rodas do carro giram sem deslizes. Nem mesmo sinal daquela fumaça que sai próxima aos compostos durante a partida de alguns veículos de competições automobilísticas. Ainda na reta principal ultrapassa dois adversários, com sobriedade, e escapa da confusão causada pelo segundo e terceiro no grid, que se engalfinharam pelo caminho. É décimo colocado. “Que coisa! O que ele não mostrou nos treinos, tem em sorte!”, exalta o diretor. Sétima volta. O Piloto parte para o ataque sobre um adversário osso duro de roer quando o assunto é segurar sua posição. Cara difícil, desses que não tem vergonha em fechar a porta e até, se necessário, jogar o carro contra o de um adversário. Uma, duas, três tentativas de ultrapassagem e nada. Sem muita paciência, o Piloto enfia o bico do carro por fora do traçado ideal num ponto em que não se costuma ver muitas trocas de posições. Espeta uma marcha acima e solta a bota no acelerador. Sem dó. “Por fora, não!”, pensa o desesperado cartola, quase puxando os poucos cabelos que restavam-lhe. “Por fora, não! Quem esse cretino pensa que é: Ayrton Senna?!”. Pois é. O aspirante a Senna ultrapassa o rival numa manobra parecida com a que executaria, umas dez voltas depois, sobre outro concorrente. Pula ao oitavo lugar e logo pede ao pessoal dos boxes: “O acerto do carro está bom, mas sinto que dá para conseguir mais velocidade”, declara. “Portanto, vocês podem tirar um pouco de asa traseira na próxima parada”. Adverso à ideia, o chefão espera que o comandado mantenha o ajuste aerodinâmico. Para isso, usa uma velha e conhecida tática. “O que você disse?”, berrou com dois dedos próximos a boca em posição de ajuste ao pequeno microfone acoplado aos fones de ouvido, que, àquela altura da corrida, já estavam tortos na cabeça do dirigente. “O rádio está péssimo e entendi que o carro está bom, portanto, não vamos muda-lo”. “Pelo contrário”, corrige o Piloto. “Pode tirar um pouco de asa. É por minha conta e risco. Confie em mim, chefe!”. O silêncio se fez por alguns segundos. “Se der errado, pelo menos, ganho um pretexto a mais para colocar aquele endinheirado no lugar dele…”, raciocinou o diretor. “Está bom!”, gritou via-rádio. “Pedido aceito”. A mudança foi efetuada na parada de box, que ocorreu sem problemas. O Piloto voltou à pista e o carro, para surpresa de qualquer um, estava um foguete! Sétimo, sexto, quinto, quarto, terceiro… Enfim, o piloto recebe a quadriculada em segundo lugar. Trata-se de um excelente resultado para o time, que não subia ao pódio havia mais de 30 provas. “Muito obrigado pelo carro, chefe! O trabalho de todos foi sensacional! Nem tenho mais o que dizer!”, exalta o Piloto, ainda no cockpit, quase aos prantos. “Ok, menino!”, exclama o diretor-esportivo. “Tenha certeza de uma coisa: sempre confiei em você!”. Nota do Editor: O colunista promete para quem acertar de qual piloto ele está falando um capacete do Ayrton Senna de 1983! Emails para
This e-mail address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it
Só tem uma chance... |