Caterham e Marussia disputam a temporada 2013 com o mesmo desejo: conquistar os primeiros pontos na Fórmula-1. Em 58 Grandes Prêmios disputados desde a estreia na categoria, em 2010, jamais receberam a quadriculada entre os dez primeiros. O melhor resultado de ambas as equipes, curiosamente, ocorreu na etapa de encerramento do campeonato passado, em Interlagos. Vitaly Petrov, da Caterham, terminou na 11ª posição; Charles Pic, da Marussia, na 12ª. À primeira vista, tais retrospectos podem parecer extremamente pobres. Patéticos. Atualmente, os dez melhores colocados de cada corrida são bonificados. Em anos anteriores, quando a zona de pontuação era restrita aos seis primeiros de cada GP, times como Minardi costumavam beliscar seus pontinhos. Contudo, algo precisa ser ressaltado: conquistar um top ten nas últimas três temporadas se mostrou tarefa muito mais complicada às equipes pequenas que obter um top six nos tempos da própria Minardi. Entre 1993 e 2002, por exemplo, em média 60% das seis posições pontuáveis por etapa eram ocupadas por carros das três primeiras colocadas dos Mundiais de Construtores. Já de 2010 a 2012, 73% da zona de pontuação foi preenchida pelas cinco melhores equipes. Red Bull, Ferrari, McLaren, Lotus e Mercedes conquistaram pontos em 139 ocasiões na temporada passada. Os outros sete times do grid, menos da metade: apenas 61 vezes. Marussia e Caterham travam uma importante disputa ao longo do ano... invisível para o público e vital para ambas. Esse retrospecto deve ser atribuído à considerável queda no número de abandonos na Fórmula-1 ao longo da última década. Embora possa parecer estranho, tal cenário representa um enorme prejuízo às escuderias menores. Estas sempre contaram com problemas mecânicos e deslizes de adversários para herdar posições durante as corridas. Para a tática funcionar, apostavam em estratégias de prova e pilotagem conservadoras. A meta era receber a quadriculada. E o que viesse era lucro. A redução de abandonos nos Grandes Prêmios ocorreu essencialmente graças a dois motivos. Primeiro: ao longo dos últimos anos, conceitos de segurança tornaram a maioria dos circuitos de Fórmula-1 “tolerantes” a erros de pilotagem. Esse processo teve início após a morte de Ayrton Senna, em 1994, e se intensificou na década passada, quando o arquiteto alemão Hermann Tilke passou a desenvolver vários autódromos à categoria. Se no passado, equipes pequenas como a Minardi conseguiam marcar pontos vez por outra, hoje, é difícil. Pódio? Impossível! Hoje, grande parte dos circuitos da Fórmula-1 conta com amplas zonas de escape. Parte desse trecho é composta apenas por asfalto. Essa combinação aumenta a possibilidade do piloto voltar à pista em caso de algum deslize. Bem diferente, por exemplo, dos anos 80 e 90, quando não raramente saídas de pista resultavam em carros presos à brita. E abandono. A segundo responsável pela diminuição de abandonos nas provas de Fórmula-1 é a restrição no número de motores e câmbios disponíveis às equipes por temporada. Esta, aliás, é fruto da busca da Federação Internacional do Automóvel (FIA) em conter a escalada de gastos no certame. Se houve tempos em que times chegavam a usar dois motores em um carro no mesmo fim de semana (um para classificação e outro para corrida), atualmente tal número é limitado a oito unidades por ano – além de 11 caixas de câmbio. Com isso, as equipes são obrigadas a trabalhar incisivamente na durabilidade dessas peças. Lutando contra o orçamento pequeno, o equipamento aquém dos concorrentes e com a necessidade de pilotos pagantes, sobrevivem. E o resultado está aí. Apenas seis motores e cinco sistemas de transmissão impediram pilotos de completar corridas na temporada passada. Em 20 Grandes Prêmios, foram 42 abandonos por conta de problemas mecânicos. Isso representa apenas 8,8% dos carros que largaram, mesma marca de 2011. Para se ter uma ideia, esse retrospecto é quase três vezes inferior ao 1997 (25,5%) e quase 3,5 menor ao de 2002 (30%). Neste último campeonato, aliás, foram registrados 106 abandonos por falhas mecânicas, sendo 42 relacionadas a motor e 16 a sistema de transmissão. Abraços, Rafael Ligeiro
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