Edson Ferreira da Silva é uma pessoa que conseguiu transformar um sonho em realidade. Ele é o responsável pelo funcionamento de uma – na verdade duas – categoria de Fórmula no estado do Paraná: a Fórmula Premium. Para conhecer um pouco da história desta categoria, precisamos voltar quase uma década no tempo. Plácido Iglesias, Engenheiro de pista, responsável pelo acompanhamento de diversos pilotos brasileiros no exterior, tanto na Europa como nos Estados Unidos, em suas incursões fora do país, em especial nos Estados Unidos, observou a existência de categorias de monopostos de baixo custo, nos moldes da Fórmula Vê de anos atrás e em diversos países estas categorias existem há mais de 30 anos. Juntos então eles pensaram: porque não aqui no Paraná? Afinal, o estado é um formador de grandes pilotos há décadas. Assim, os dois começaram a buscar meios para tirar o projeto do campo das ideias. Era final de 2004, início de 2005 que a dupla partiu para buscar meios de viabilizar o projeto e para tal, foram buscar uma parceria com a Universidade Federal do Paraná e o curso de Engenharia Mecânica onde a ideia foi bem acolhida e como parte da formação dos futuros jovens engenheiros, estaria incluído o estudo e a confecção de um chassi para uma categoria de monopostos. O projeto foi o trabalho de conclusão de curso dos alunos. Quando estava tudo organizado, com o envolvimento de todas as partes assegurado, o Plácido descobriu um câncer, em estado muito avançado, e pouco mais de um mês passado ele veio a falecer. Inicialmente ficaram todos um tanto perdidos e em uma série de reuniões Edson decidiu bancar o projeto em memória do amigo. O Departamento de Engenharia da Universidade Federal do Paraná levou a parte técnica do projeto adiante e no final do curso daquela turma eles concluíram o carro e me entregaram o carro construído (a estrutura tubular), pronto para receber a motorização e ir para a pista. Devido aos custos que seriam imputados para se produzir o carro em série, em um determinado número para formação de um grid, o modelo entregue pela universidade ficou por mais de um ano na garagem da casa de Edson até que ele tivesse condições de dar seguimento ao projeto. Com alguma experiência com fibra de vidro, Edson foi fazendo os moldes e depois de algum tempo o carro estava realmente pronto para um teste real de pista. Dois amigos viram o carro e ficaram interessados em ter um também. Aquilo pareceu ser o estímulo que faltava para que Edson voltasse a se animar com a possibilidade de ter uma categoria de fórmulas paranaense. Com tempo, paciência, pouco dinheiro e muito trabalho, os carros foram se multiplicando na oficina do idealista (não tem outro adjetivo para definir uma pessoa como ele). Contudo, isso não aconteceu da noite para o dia. Para ter seis carros prontos foram precisos cinco anos. Então, no início de 2010, dois amigos chegaram com uma ideia para compor o grid e dar início à categoria. Resgatar os antigos chassi dos Fórmula Chevrolet, colocando um outro motor. Assim, duas categorias correriam juntas, compondo um grid com um número razoável de carros e seria possível buscar a homologação junto à Federação Paranaense de Automobilismo e tendo o apoio da Prefeitura da cidade de Pinhais. Contudo, para passar da teoria a prática de se conseguir reunir pilotos interessados em correr na categoria, efetivar a mesma ainda levou mais um ano e a estreia das duas categorias no Paraná só ocorreu em 2011. O regulamento das categorias ficou assim definido: Fórmula Premium – Carros de Fórmula de qualquer origem, podendo ser dos Fórmula Chevrolet, dos Fórmula Ford ou Fórmula Renault, equipados com motor AP 1.8, Volkswagen, com câmbio manual de 5 marchas avante e 1 a ré. Fórmula Premium Light – Carros feitos sob o gabarito desenvolvido pelo Departamento de Engenharia da Universidade Federal do Paraná, equipados com motor AP 1.6, Volkswagen, com 1,5mm de rebaixamento no cabeçote, com câmbio manual de 5 marchas avante e uma a ré. Uma das boas coisas que a categoria tem é que todas as peças utilizadas na confecção de ambas as categorias paralelas são 100% nacionais. Assim, não existe aquele custo extra de importação que costuma ocorrer em outras categorias tidas como nacionais. Caso haja algum problema com algum componente mecânico, qualquer loja de autopeças poderá resolver o problema. Ambas as categorias usam os mesmos pneus utilizados pela Fórmula 3 sulamericana... com uma diferença: são pneus usados! Enquanto um jogo de pneus slick, sem uso, “zero Km”, custa mais de três mil e oitocentos reais, Edson consegue comprar os pneus usados por menos de 500 reais o jogo e estes, sem a exigência de potência dos Fórmula 3, ainda conseguem render bem por dois ou três finais de semana. No início eram usados pneus radiais, mas incrivelmente os carros se comportaram muito melhor com os pneus usados e como os radiais sofriam desgastes e deformações excessivos, a aposta nos pneus usados mostrou-se vantajosa. O sistema de freio utilizado é com freio a disco nas quatro rodas, sendo os freios dianteiros os mesmos que eram utilizados na Brasília e os freios traseiros com os discos que eram originais do Santana., que tem uma pinça maior. O sistema permite que o carro, que chega um pouco acima dos 200 Km/h frear depois dos 75 metros para a entrada da chicane do final da reta do autódromo de Curitiba sem nenhum problema. O sistema de suspensão dianteira é o mesmo que havia na Brasília, mas com o uso de pivot, ao invés da configuração do carro de passeio dos anos 70, o que propicia uma grande estabilidade. Na traseira, uma surpresa: o sistema funciona de forma independente, usando as molas da motocicleta NX200, da Honda. Como todo carro moderno, há uma carga de eletrônica embarcada. A utilizada para os dois tipos de carro é a da Fulltech, com um sistema de injeção desenvolvido no Rio Grande do Sul, com sistema de leitura do mapa de injeção como do ponto do carro na pista. Uma coisa importante é que todos os sistemas são equalizados para permitir que o piloto faça a diferença e não o carro. Para correr na F. Premium: O piloto que tiver interesse em participar da Fórmula Premium, seja na Premium ou na Premium Light tem como opção alugar o carro, que é revisado corrida a corrida pela equipe de mecânicos da categoria ou comprar o carro, seja com o Edson, seja em outro lugar, mas que precisará passar pelo processo de equalização da categoria para manter a competitividade da mesma. O custo de um piloto, por final de semana, de disputas, incluindo os treinos e as duas baterias da etapa fica em R$ 3.000,00 (três mil reais), incluídos os pneus, o combustível, a assessoria mecânica. A manutenção é muito baixa, ao ponto de, entrando pelo terceiro ano de disputas, os motores ainda serem os mesmos da primeira bateria da primeira etapa. Nenhum motor quebrou até hoje! Caso o piloto seja o dono do próprio carro, o custo, incluindo o combustível, o custo de pneus e a contratação de um mecânico. Em ambos os casos a inscrição é um custo além do citado, variando de autódromo para autódromo, conforme a gestão de cada um com a federação. Em ambas as categorias o piloto precisa ser federado e ter uma carteira de piloto novato, a graduados B para poder assumir o volante de um destes monopostos, que apesar de ter motores diferentes, o carro da Premium Light, que usa motor 1.6, consegue virar os mesmos tempos dos carros com motor 1.8, tamanho o esmero e a competência de quem elaborou o projeto. Apesar do baixo custo, a categoria não vive, apenas sobrevive, com o esforço dos pilotos que insistem em correr quando lhes é permitido. Na oficina da categoria, estão sob os cuidados do Edson sete Fórmula Premium Light e quatro Fórmula Premium. O total de 11 carros, dos quais nem a metade são próprios, poderia vir a ser uma oportunidade para os jovens pilotos oriundos do kart, pensando em sonhos maiores, terem o seu primeiro contato com um monoposto. Contudo, a categoria, assim como a Fórmula Vee em São Paulo, é composta de pilotos veteranos. Edson tem suas queixas com relação ao autódromo local, onde um dia de treinos durante a semana custa nove mil reais e para colocar pilotos novatos na pista, mesmo que sejam vários, o custo é um tanto assustador. Assim, ficam apenas as rodadas do regional para fazer acontecer e isso por vezes assusta os garotos, na opinião do dono da categoria. Segundo ele, os meninos “tremem” em saber que aquele treino não é um teste, é um treino de corrida. Para a temporada de 2013 a categoria tem um outro desafio: Devido ao concorrido calendário de eventos do Autódromo Internacional de Curitiba, foram disponibilizadas apenas três datas para a os carros da categoria correr junto com o campeonato metropolitano de turismo. Assim, a categoria vai ter que correr atrás de outras praças (Londrina e Cascavel), para levar o campeonato adiante e, quem sabe, esta mudança forçada não vá atrair mais pilotos interessados. Quem quiser correr na categoria deve entrar no site da mesma: www.formulapremium.com.br e entrar em contato com o Edson. Trata-se de um bom primeiro degrau para quem quer correr com monopostos. |