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A confusão do Avallone PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 11 April 2013 00:10

 

Antônio Carlos Avallone é um dos grandes personagens da história do nosso automobilismo. Piloto, construtor de carros que foram desde os pequenos FFord aos poderosos Avallone que disputaram a Divisão 4, organizador de eventos como a Copa Brasil e até mesmo a produção de carros especiais para o uso nas ruas.

 

Avallone foi personagem no filme ‘Roberto Carlos a 300 Km por hora onde interpretou o esquentado piloto italiano Pietro Antonioni... parece que o papel com aquelas cenas de explosões de temperamento, não eram propriamente uma interpretação... o homem era cabeça quente e pavio curto, especialmente se estivesse se sentindo com razão.

 

O episódio que vamos contar aconteceu em Interlagos no dia 7 de junho de 1981 foi uma “pequena amostra” do “italiano Antonioni”  na vida real.

 

Era uma rodada dupla em Interlagos – ainda na ‘pista de verdade’ e não na ‘pistinha do seu Bernie’ – onde correriam o ‘Regional de Stock Car’, com os pilotos do Rio de Janeiro e de São Paulo, e de ‘Turismo 5000’, que era disputado pelos ‘Seniors Drivers’. Avallone iria correr nas duas categorias.

 

Bem antes da largada da Stock Car, Avallone estava levando seu carro de Turismo 5000 para os boxes – um ‘Dojão’ daqueles ferozes – quando um fiscal no portão 7 impediu a sua entrada. De uma cordial argumentação a coisa logo descambou para um bate boca daqueles, com impropérios de mais baixo calão até chegarem ao ponto de irem pra porrada. Estava confusão!

 

Antônio Carlos Avallone. Um dos grandes expoentes do automobilismo brasileiro, tanto como piloto como construtor.

 

A ‘turma do deixa disso’, que parece estar de plantão em todos os lugares, conseguiram acalmar os ânimos e Avallone conseguiu levar o ‘Dojão’ até os boxes, onde pegou seu Opala Stock Car e levou-o para o final do grid de largada da categoria. Tudo parecia estar ‘nos conformes’ quando um fiscal de pista chegou do lado do carro e ‘buzinou’ no ouvido do piloto que ele deveria levar o carro para os boxes, pois estaria impedido de largar!

 

O ‘homem’ “explodiu” de novo. Mandou um monte de palavrões com o dedo em riste para fora do carro, acionou o motor e arrancou... levou o carro até a frente do grid, atravessando-o na pista e mandou ver: “Se eu não largo, ninguém larga!”

 

Eis que entra em cena um comissário desportivo, Carmine Maida, escoltado por dois policiais, dando ordem de prisão a Avallone. Os PMs e o comissário foram surpreendidos quando Avallone, aos berros, também ordenou que prendessem Carmine. E aí, quem era que tinha “poder de polícia” naquela briga? E a confusão instalou-se mais uma vez! Com isso, toda a programação de provas do autódromo foi sendo atrasada.

 

Antônio Carlos Avallone estava irredutível e ninguém via uma solução para o problema quando o Presidente da Federação Paulista de Automobilismo teve uma ‘brilhante ideia’: “deixa o Avallone largar lá de onde ele estava, no fundo do pelotão e depois da prova o desclassificaríamos. Teria a corrida e tudo ficaria bem”.  Enquanto Avallone levava seu carro de volta ao final do grid os organizadores da prova fizeram uma “incrível descoberta”: O Avallone nem estava inscrito na prova!!! (Nota do Editor: Recebemos um email de Fernando Avallone, filho de Antônio Carlos Avallone, onde ele informa que a questão foi que, diante da confusão, os comissários resolveram pedir uma ‘recibo’ da inscricão que, aí sim, claro que não existia.).

 

 

Barraco geral antes da largada em Interlagos. Antônio Carlos Avallone foi direto: se eu não largo, ninguém larga!

 

Por ordem do Diretor de Prova, um novo grupo de comissários e fiscais foram na direção do fundo do grid. Avallone nem esperou eles chegarem perto. Arrancou novamente e atravessou o carro de novo na frente do grid. Mais confusão! E nisso ficou uma coisas de ‘vai-não-vai’, ‘larga-não-larga’ que parecia não ter fim.

 

Acabaram indo todos para uma reunião, nos boxes, para tentar resolver a situação. Carmine Maida queria de todo jeito ver o carro rebocado e Avallone em cana, mas acabou demovido da ideia. Quando Avallone saiu da reunião, os outros carros já estavam com os motores funcionando e a placa de dois minutos levantada. Avallone pensou em ficar de pé na frente do grid, em sinal de protesto, mas em vista do ânimo que os outros pilotos deveriam estar com eles, teve bom senso de não fazê-lo.

 

Como ele mesmo tinha levado seu carro para os boxes, decidiu que iria largar de lá mesmo... só que ele não esperou a bandeirada de largada (nessa época ainda não tinha essa de sinal) e partiu – dos boxes – na frente de todo mundo!

 

Seu carro era mais lento que o da maior parte do grid e logo ele foi alcançado e foi sendo ultrapassado pelos demais pilotos... até que chegou a vez de Sidney Alves, que resolveu ‘tomar as dores’ – e a raiva – de todos no grid e ao invés de ultrapassar o Stock de Avallone, partiu para a “agressão física”.

 

Antes da largada, Avallone levou o seu Opala para o grid... de uma corrida para a qual nem sequer estava inscrito!

 

No melhor estilo “Kurt Busch”, piloto da NASCAR, começou a bater no carro de Avallone, quase que numa competição de ‘derby de demolição’. Os dois carros ficaram semidestruídos, mas Sidney Alves estava ‘eleito o paladino da tarde’!

 

Ao voltar para os boxes, quem precisou de escolta policial – para protegê-lo – foi o próprio Avallone, pois um linchamento estava prestes a acontecer. Um efetivo policial e sete viaturas protegeram a integridade física do piloto... mas não os restos do seu Opala e seu Dojão, Que foram demolidos pelos demais pilotos, mecânicos e outros presentes. A polícia ainda tentou prender Avallone por conta da confusão antes da largada, mas o piloto disse ser advogado (Nota do Editor: Fomos informados por Fernando Avallone, filho de Antônio Carlos Avallone que seu pai formou-se em Direito, inclusive com grande sacrifício, percorrendo de trem, todos os dias, o trajeto enttre Jundiaí e Campinas para cursar a faculdade), e a questão terminou sem ninguém ir em cana. 

 

Avallone escapou da fúria dos pilotos, do xilindró da polícia, mas não escapou dos cartolas da federação e tomou um ‘gancho’ de seis meses.

 

Felicidades e velocidade,

 

Paulo Alencar 

 

 

Last Updated ( Tuesday, 16 April 2013 14:29 )