Saudações D’Alem Mar! No passado dia 14, em Faro, no Algarve, terminou o Rali de Portugal, prova a contar para o campeonato do mundo da modalidade. Sebastien Ogier demonstrou a toda a gente que é o melhor piloto da atualidade, após a retirada de Sebastien Löeb, e graças ao seu Volkswagen Polo R WRC, deu a si mesmo e à marca alemã a sua terceira vitória consecutiva no Mundial de 2013, parecendo que ambos vão, quase sem grande oposição, a caminho da vitória em ambas as competições, já que nem o finlandês Mikko Hirvonen, no seu Citroen, nem o norueguês Mads Ostberg ou o russo Evgueny Novikov, nos seus Ford, são capazes de apanhar os carros alemães. Contudo, a grande questão sobre o rali de Portugal, um evento de enorme sucesso e um dos “clássicos” do WRC, tem a ver com a sua localização. Corrida no sul do país, tem contudo uma enorme legião de fãs no Norte do país, que há muito tempo faz “lobby” para que este regresse a partir de 2014. E quando no inicio do mês, em Fafe, o presidente do Automóvel Clube de Portugal (ACP), Carlos Barbosa, afirmou na televisão que o Rali iria regressar ao Norte a partir do ano seguinte, começaram as polémicas entre esta entidade e os promotores do Turismo no sul, como as Câmaras Municipais (Perfeituras) algarvias e a Entidade do Turismo do Algarve. A etapa do Campeonato Mundial de Rally em Portugal é uma das mais tradicionais do calendário... e agora, "troféu de uma guerra"! Desidério Silva, o presidente da Entidade de Turismo do Algarve, afirmou numa entrevista ao jornal local “Barlavento” que “tenho da parte do Sr. presidente do Turismo de Portugal a vontade e garantia que o rali se mantenha na região”. E explicou as razões pelo qual discorda da passagem para o Norte: ”Não quero fazer disto uma guerra norte/sul, quero, pelo contrário, defender uma causa. Estou convicto, por aquilo que é a excelência dos troços, da hotelaria, do serviço, das acessibilidades, e da segurança, que não há nenhum sinal que leve a que possa haver uma alteração de localização, porque não há nenhum fator que seja melhor ou supere aqueles que são os fatores de referência dados pelo Algarve”. Durante a apresentação da etapa deste ano a questão não foi levantada, mas após o final da mesma, o conflito estabeleceu-se. Depois prosseguiu: “Mais do que a paixão, devem contar as condições de onde a prova acontece – todos os dados que foram indicados e avaliados são de nota excelente, e não há aqui uma situação que diga ‘vocês foram bons em tudo, mas nisto não’. Fomos bons em tudo! E quando se é bom em tudo, acho que ninguém quer arriscar mudar para uma situação que será naturalmente pior. Acho que temos boas condições para poder fazer e valorizar este nosso papel e esta vontade de defender uma causa”. Um evento como o Rali de Portugal tem um impacto bem grande em termos de turismo e de receitas. Os estudos feitos pela Universidade do Algarve, divulgados em 2010, têm dito que, em média, o rali consegue gerar receitas indiretas da ordem dos 80 milhões de euros, isto quando este custa normalmente três a quatro milhões de euros a ser organizado. Daí que seja algo apetecível de o ter na região, por ser mais uma fonte de receitas a uma região iminentemente turística. O povo português é um apaixonado por velocidade, pelo Rally então, esta paixão extrapola até mesmo o senso de perigo. Contudo, ainda há mais uma boa razão para ter o Rali no Algarve: para as equipas oficiais é bem mais vantajoso ter uma concentração das classificativas, pois permite ir e voltar no mesmo dia ao “Parque Fechado”, que se situa em Faro. Mas em termos de “coração” ou de adeptos, estes nunca desistiram de reivindicar de que o “coração” do Rali de Portugal é a Norte. Mesmo a FIA, agora presidida por Jean Todt – um ex-navegador de ralis – acolheria de bom grado a mudança do rali para o Norte, como forma de resgatar o glorioso passado do WRC. Ainda por cima, as câmaras locais também acolheriam de braços abertos o regresso do rali aos seus lugares, pois fariam melhores promoções do que as suas congéneres do sul do país. Contudo, nos últimos anos, o ACP e o seu presidente se têm queixado de que o Rali não está a ter a devida promoção junto das entidades locais, e este sabe que no Norte, as coisas seriam feitas de forma diferente. Daí que haja desde 2012 o Fafe Rally Sprint, um “especial para o espetáculo” que atrai em média… 120 mil espectadores. Se a parte sul de Portugal tem o apelo da melhor estrutura hoteleira do Algarve, o norte tem a tradição e a história ao seu lado. A razão para isto tudo é económica, mas também histórica: o Rali de Portugal sempre foi uma prova que dava a volta ao país, especialmente na zona Norte e Centro. Sítios como Fafe-Lameirinha, Arganil, Figueiró dos Vinhos, entre outros, fizeram parte da paisagem. O salto da Pedra Sentada era sempre o “cartão de visita” do Rali nos anos 80 e 90, até 2001. Nesse ano, o rali foi disputado debaixo de imensa chuva e as condições eram quase impraticáveis. Para piorar as coisas, existia na FIA um forte “lobby” para excluir o rali de Portugal para entrar ralis em sítios mais visíveis. Assim sendo, no seu lugar entrou o Rali da Alemanha, e o WRC apenas voltou a acolher o Rali de Portugal em 2008, com as classificativas no Algarve. As razões são complicadas, mas provavelmente as coisas não mudarão muito em 2014. Uma decisão será tomada dentro de algumas semanas, mas o mais provável é que no ano que vêm, o rali andará pelo sul, pois as entidades já afirmaram “a plenos pulmões” que há contratos a cumprir, pelo menos até 2015. E apesar das ameaças de países como a China, Africa do Sul e Brasil, que querem entrar no calendário do Mundial, não seria conveniente ter o Rali de Portugal noutro local, que por muito mais popular que seja, o controlo de multidões seria bastante mais difícil e as classificativas ficariam mais longe do centro nevrálgico, que à partida seria na cidade do Porto. E os organizadores querem que o rali figure no calendário por muito tempo. Qual será o resultado desta batalha, desta guerra, não sabemos. A única certeza é que os carros do WRC continuaram a voar! Em suma, é uma questão de dinheiro e de divulgação. Carlos Barbosa e o ACP querem que o Algarve acarinhe mais o Rali de Portugal, e o deixe de o apresentar como “mais um evento” nas dezenas que esta região, turística por natureza, acolhe cada ano. Porque se assim for, não faltarão outros que queriam fazer isso. E provavelmente com melhores resultados. Até a próxima, Paulo A. Teixeira |