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Entrevista: Bobby Rahal PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 01 July 2013 00:57

Os Norte Americanos tem um mundinho bem deles onde “eles se bastam”. No esporte isso fica bem acentuado e no automobilismo não é diferente. Eles tem as categorias deles, o jeito de correr deles e praticamente ignoram o que acontece fora de suas fronteiras.

 

Para Robert Woodward Rahal as coisas não foram bem assim: este sessentão (10/01/1953), nascido em Medina, Ohio, hoje no terceiro casamento e pai de seis filhos, entre eles o piloto do seu time, Graham, pensava de forma diferente da grande maioria dos pilotos americanos. Bobby Hahal, como é conhecido desde os tempos de jovem piloto, queria correr fora dos Estados Unidos, na Fórmula 1. Chegou a fazer duas corridas em 1978, mas não conseguiu fechar contrato para 1979. Esteve na categoria também como dirigente, na Jaguar, em 2001.

 

Foi durante a sua estada no Brasil que o tricampeão da Fórmula Indy (1986; 1987 e 1992) e vencedor das 500 Milhas de Indianápolis de 1986 conversou conosco no escritório montado no pavilhão do Anhembi para a São Paulo Indy 300.

 

NdG: Bobby, fala um pouco de você. Não aquelas coisas pró-formes, mas aquilo que você fala entre amigos. Podemos conhecer um pouco do Robert?

 

Eu vendo automóveis para ganhar dinheiro e pagar as contas. Como piloto ganhei dinheiro. Como dono de equipe eu só gasto dinheiro.

 

Bobby Rahal: (Risos) Gostei disso! Olha, o Robert é uma pessoa bem tranquila. Nasci numa cidade pequena num estado pequeno no meio de um país enorme como é os Estados Unidos, apesar de ter morado em Chicago desde garoto. Sou uma pessoa que gosta das coisas simples, mas bem arrumadas. Gosto de organização, sou bem metódico. Diziam que eu tinha mais cara de professor do que de piloto (risos) quando eu corria.

Continuo vivendo em Chicago, onde estou vivendo meu terceiro casamento, e eu tenho com esta minha esposa duas filhas pequenas. A mais nova está com dois anos de idade e lá toco minha vida. Tenho uma revenda de carros onde negocio as mais importantes marcas do mundo nos Estados Unidos e, como hobby,  tenho 17 modelos da marca Oldsmobile, que é um excelente carro. Quando você quiser comprar um carro novo, me procure(risos). E é com ela que ganho dinheiro e pago minhas contas, porque com corridas a gente só gasta dinheiro, não ganha dinheiro algum! Apenas pilotos ganham dinheiro com corrida, donos de equipe, não.

 

NdG: E como foi que você foi parar no mundo do esporte a motor?

 

Bobby Rahal: O meu pai era piloto amador. Ele corria em provas semi-profissionais quando tinha tempo e um dinheiro extra e aquilo acabou aproximando a mim e ao meu irmão mais novo deste meio, mas ele nunca se interessou em correr, eu sim. Depois que terminei o High School fui para a universidade e me graduei em História, mas desde que fui com meus pais em uma viagem à Europa em 1970 e vi a F1 em ação quis correr lá. Disputei algumas corridas no Canadá até conseguir comprar um F. Atlantic em 1975. Ali comecei a correr de verdade. Eu trabalhava com meu pai e as corridas eram para ser uma diversão também, mas foi ficando sério e mais sério há cada dia. Em 1976 e 77 liderei várias corridas, mas sempre tinha um problema ou outro e as vitórias escapavam entre os dedos. Cheguei a fazer algumas provas de Grand Am também até que em 1978 fiz algumas corridas de F3 e tive a chance de pilotar em duas provas da F1, com um carro da equipe Wolf.

 

NdG: Os americanos tem seu próprio estilo de vida e não costumam dar muita bola para o que acontece pelo mundo a fora. Você poderia ter apenas corrido nos Estados Unidos, mas alguma coisa parece ter voltado seus olhos para fora. O que você viu fora dos EUA ou eu tomei muito sol na cabeça hoje?

 

Meu pai corria e eu acompanhei-o de perto. comecei a correr em 1975, na F. Atlantic e em 1978 eu consegui disputar duas provas na F1.

 

Bobby Rahal: (Risos) Apesar de estar bem quente lá fora, foi bem assim mesmo. Meu pai trabalhava com carros europeus como Porsches e Ferraris e eu acompanhava as corridas tanto dos EUA como da Europa e me tornei fã de Jim Clark e a forma como ele venceu em Indianápolis foi tão fantástica que eu vi que era na Europa que estavam os melhores. Assim, quando as corridas ficaram mais sérias o objetivo passou a ser chegar na Fórmula 1.

 

NdG: Após as duas corridas em 1978 você tentou continuar em 1979. O que faltou para conseguir se firmar na F1?

 

Bobby Rahal: Hoje em dia se fala muito em valores, em patrocínios para se correr nas principais categorias, mas naquela época já havia isso. Claro que não com os mesmos valores de hoje em dia, mas havia e eu não tinha um patrocinador por trás de mim, era algum dinheiro de amigos, da família e meu. Por outro lado eu via, por exemplo, empresas com subsídio do governo francês bancando pilotos franceses e equipes francesas. O próprio Emerson Fittipaldi, com quem conversei e que já se dizia cansado daquilo tudo falava que, sem dinheiro para ajudar, não tinha como se manter. Eu corri na equipe Wolf e eles contrataram para 1979 James Hunt. Era um esquema parecido com o que havia antes, quando era a Hesketh, onde Hunt correu antes de ir para a McLaren e era um carro apenas e Hunt forçou a barra para que a equipe continuasse com um carro apenas. Com isso, acabei ficando sem equipe para correr e com o dinheiro que tinha, fui correr de Fórmula 2, que poderia ser uma forma de chamar  atenção dos donos de equipe.

 

NdG: Mas você acabou voltando para os EUA...

 

Bobby Rahal: No meio do campeonato de 1979, fui convidado para substituir o George Palmer, um piloto famoso nos EUA que corria no campeonato de protótipos, o Can Am, que hoje é o Grand Am. Era uma prova de longa duração e meu companheiro de time seria o Keke Rosberg. Fomos bem e a equipe gostou do meu trabalho. Como o Keke estava focado na Fórmula 1, acabei ficando no time, mas ainda disputei mais algumas provas de Fórmula 2. No ano seguinte, a equipe me ofereceu um contrato para correr. Pela primeira vez eu ia receber dinheiro para correr e com isso fui ficando nos EUA e abrindo mão da carreira na Europa.

 

NdG: Depois de fazer uma carreira inteira em monopostos, e tendo uma categoria forte como a Cart nos EUA, a mudança dos protótipos para a Cart foi uma questão de tempo, de circunstância ou de dinheiro?

 

Enquanto eu via as empresas francesas patrocinando pilotos franceses com apoio do governo, eu tinha que me virar para correr. 

 

Bobby Rahal: A Cart abria possibilidades para novos pilotos e havia um grupo que não disputava todas as provas. Assim, vez por outra aparecia um carro disponível para correr. Em 1980 fiz algumas corridas. Em 1981, mais algumas e acabei conseguindo chamar a atenção de alguns chefes de equipe e fui contratado para correr a temporada de 1982 pela Truespors. Venci duas corridas e terminei o campeonato como vice campeão. Daí em diante, não tinha mais volta. Eu era um piloto da Cart!

 

NdG: Tendo pilotado na Can Am e na Fórmula Indy com tanto sucesso, nunca passou por sua cabeça correr também na NASCAR, uma categoria tão popular nos Estados Unidos?

 

Bobby Rahal: A NASCAR ganhou uma projeção muito grande para chegar no ponto que chegou hoje devido a imprudência dos dirigentes da Cart e da IMS que dividiram a categoria. Isso foi algo extremamente prejudicial para todos nós e é um espaço que a Indy está sofrendo muito e vai ter que trabalhar muito para reconquistar. A NASCAR sempre teve seu público cativo, mas não a projeção, inclusive internacional, que tem hoje. Além disso, neste mesmo período a NASCAR foi patrocinada pela indústria tabagista, que investiu milhões e milhões na categoria. Mas, honestamente, nunca me senti atraído por lá. O desenvolvimento tecnológico, a técnica em guiar é mais apurada em um carro da Indy.

 

NdG: As corridas da Fórmula Indy passaram a ser transmitidas regularmente para o Brasil quando Emerson Fittipaldi começou a correr nos EUA. Dentre os pilotos que chamaram atenção do público aqui no Brasil estava você. Tanto pela técnica, quanto pela constância de andar sempre entre os primeiros e também por usar óculos dentro do capacete. Eles nunca embaçaram ou ficaram com gotículas de água por conta da transpiração?

 

A NASCAR não tinha a projeção que tem nos dias de hoje antes da briga que gerou a divisão entre a Cart e a IMS. Foi muito estúpido. 

 

Bobby Rahal: (Risos) Nos dias de chuva eles ficavam um tanto quanto embaçados, mas às vezes era até melhor não ver certas coisas do que vê-las. De uma forma geral, nunca foi um problema. Atualmente vemos mais pilotos usando óculos dentro do capacete. Acho que quando eu comecei a usar havia poucos casos de pilotos que já haviam usado. Dos que corriam comigo na Cart, não lembro de nenhum.

 

NdG: Você passou a condição de sócio, de proprietário, da sua equipe no início dos anos 90, em 1992, e logo foi campeão da categoria como piloto e proprietário. Como foi esta transição entre ser piloto e ser chefe e dono de equipe?

 

Bobby Rahal: Foi um processo tranquilo, não foi algo repentino e como eu já tinha uma experiência como administrador do meu próprio negócio, isso ajudou bastante. Uma coisa boa quando se passa por um processo desta forma é que você vai vendo como alguns pontos de vista mudam, mas ter ainda a visão muito próxima como piloto é um fator positivo. Para o “piloto” também é uma abertura de campo de visão, quando passa-se a se preocupar com o todo da equipe. No meu caso ainda tive a felicidade de conseguir um contrato de patrocínio de 5 anos o que faz com que pudéssemos solidificar o time sem aquela pressão e incerteza de ter que sair atrás de patrocinadores para a temporada seguinte. Pessoalmente, foi algo tranquilo e natural. Eu gosto de assumir o controle das coisas, de ser cobrado e, caso algo saia errado, eu ser o responsável.

 

NdG: Seu primeiro sócio na equipe foi Carl Hogan, um dirigente acostumado com o meio das corridas. Hoje você tem o apresentador de TV David Letterman como sócio. Como é ter um sócio assim, tão distante do mundo do esporte a motor?

 

Não foi difícil passar da condição de piloto para chefe/proprietário de uma equipe. Ser empresário ajudou muito na tomada de decisões.

 

Bobby Rahal: Apesar de Carl [Hogan] ter estado por um bom tempo envolvido com a categoria e depois ser meu sócio, ele não era engenheiro ou um ex-piloto, mas era um excelente negociante e entendia muito das coisas que envolviam dinheiro. Ele era ‘o homem do dinheiro’, o que negociava contratos, espaços, patrocínios. Estava sempre ali do lado, ia a todas as corridas. Já o David [Letterman] é uma pessoa que gosta de corridas e que um dia falou que, caso eu quisesse um sócio, ele entraria como sócio na equipe e aqui está. Ele não se mete em questões técnicas e é uma pessoa que admiro e respeito muito. Ele é ótimo no que faz.

 

NdG: Esta pergunta agora vai não apenas para o esportista Bobby Rahal, mas também para o homem de negócios Robert Rahal. Desde os anos 60 a Fórmula 1 tenta se estabelecer nos EUA mas não consegue. Onde é que eles estão fazendo a coisa errada, se é que estão, ou é apenas algo que não atrai o público norte americano?

 

Bobby Rahal: Nos anos 60 e 70, com as corridas em Watkins Glen e Long Beach a Fórmula 1 tinha um bom público, gente que se interessava em ir as corridas, mesmo em Watkins Glen que é um circuito um pouco distante dos grandes centros. Depois o Bernie [Ecclestone] tentou fazer corridas em Detroit, Las Vegas, Dallas... lugares onde fazia muito calor, com circuitos muito travados... aquilo não foi bom e teve também as corridas em Indianápolis, que podiam ter dado certo, mas que marcaram a categoria de forma muito negativa. Tanto com aquela corrida com apenas seis carros como também com aquela que o [Michael] Schumacher deixou [Rubens] Barrichello vencer. Aquilo vai de encontro a tudo que o americano pensa e a vaia na premiação foi enorme. Outro problema é a falta de um piloto americano em boas condições de disputar corridas. Tivemos o Danny Sulivam e o Eddie Cheever correndo por algum tempo na categoria e andando não tão mal. Depois tivemos a ida do Michael [Andretti] para uma McLaren decadente e tendo como parâmetro o [Ayrton] Senna. Depois disso até tivemos outros tentando, mas sem chances reais de conseguir algo. Isso, a meu ver, atrapalha bastante.

 

NdG: Um dos “sonhos do Bernie Ecclestone” é ter um bom piloto norte americano, alguém competitivo, na categoria. Pelo menos é isso o que ele diz. Seu filho é um dos melhores pilotos da categoria. É rápido, competitivo e tem uma idade adequada. Ele, o Bernie, nunca o procurou para falar sobre o assunto, sobre uma chance, um teste para o Graham na categoria?

 

A Fórmula 1 tinha um bom público nos tempos em que corria em Watkins glen e Long Beach. O que a derrubou foram os episódios no IMS.

 

Bobby Rahal: Não! Na verdade, eu tenho um ponto de vista sobre este “sonho” que o Bernie teria em relação à América. Ele quer sim conseguir fazer corridas de Fórmula 1 aqui, pois elas são uma grande publicidade para marcas como a Ferrari e a Mercedes. Nisso eu também ganharia, uma vez que vendo carros da Mercedes, mas quanto a ter um piloto americano hoje, eu não acredito muito. A F1 já teve o Mario [Andretti] vencendo lá, mas isso foi há mais de 30 anos. O Scott Speed não se firmou por lá. Hoje a F1 é diferente e é preciso ter um super astro como foi o [Michael] Schumacher, não acho que ele esteja tão interessado assim em ter uma americano. Para se estabelecer nos EUA ele tem que competir contra esportes muito populares e diversos como Hockey, Basebol, Football, Basketball, além das corridas americanas. Na Europa é praticamente apenas o Soccer que atrai grandes massas. Mesmo que ele se esforce muito, não vai ser fácil.

 

NdG: Um outro caminho poderia ser pelo estabelecimento de uma ligação americana através de uma equipe. Antes do fiasco daquela USF1, no início da década passada você foi convidado para ser diretor da Jaguar na F1, mas as coisas não deram muito certo. O que aconteceu naquela época?

 

Bobby Rahal: Poderia ter dado certo. Quando eu fui contratado uma boa parte do projeto já havia sido iniciado. Os pilotos já haviam sido contratados, vários engenheiros e técnicos também. Acredito que se tivesse sido feito um grupo de trabalho comigo dentro e nós fazendo tudo juntos poderia ter sido diferente. Tínhamos gente boa na equipe. Apostei em gente como o Steve Nichols, e também achava que precisávamos de pilotos mais experientes. Eu era o ‘homem da Ford USA no time, que era parte da empresa que investia o dinheiro e na parte inglesa eles contrataram o Niki Lauda, que é um piloto com uma grande história, mas que tinha seu próprio método de trabalho... e isso não dava certo. Antes do final da temporada eu deixei tudo e voltei para os Estados unidos.

 

NdG: Nesta trajetória de mais de quase 40 anos de automobilismo, se você pudesse mudar algo no passado, o que você faria de diferente?

 

No período em que passei na Jaguar na F1 havia um conflito entre os interesses dos americanos e dos ingleses. Eu não precisava daquilo.

 

Bobby Rahal: Um coisa que certamente eu faria era buscar alguém para cuidar da minha carreira nos anos em que estive correndo na Europa. Eu fazia tudo sozinho e certamente não fiz da maneira correta. Se eu tivesse alguém comigo, certamente teria sido de grande valia e talvez eu até tivesse conseguido ficar na Fórmula 1. As coisas são muito mais políticas na Europa do que nos Estados Unidos e quando se é um jovem piloto você só pensa em pilotar e ter as conexões certas, os canais certos com as pessoas certas é muitas vezes mais importante do que os resultados que você consegue na pista. Isso pode colocar o piloto no lugar certo na hora certa. Mas que fique claro que apesar de não ter conseguido ter feito uma carreira na Fórmula 1, eu sou uma pessoa realizada como piloto por tudo que conquistei.

 

 

Last Updated ( Thursday, 04 June 2015 13:35 )