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Rush: uma OBRA de ficção! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 16 September 2013 00:50

Dois meses atrás, inspirado como um oráculo, escrevi sobre este filme que estreou justo numa sexta-feira 13... e para azar do diretor, dos atores (nossa, como tinha atriz gostosa, não?), dos inocentes fãs que acreditam em quase tudo e outras fábulas automobilísticas, eu fui ver o tal do filme... vi logo DUAS sessões, munido do meu bloquinho de notas e de muita... muita paciência, uma vez que o primeiro “fato” foi logo uma mentira!

 

Respirei fundo e continuei, assistindo e tomando notas. Mas vamos logo contar qual foi a mentira, para deixar os leitores de cabelo em pé: a cena onde Hunt e Lauda disputam a liderança de uma prova de Fórmula 3 em Cristal Palace existiu... houve uma batida envolvendo o Hunt... MAS O OUTRO PILOTO NÃO ERA O LAUDA!!! Era Dave Morgan. Além disso, a disputa não era pela liderança, mas pelo segundo lugar. Pior que isso: o Lauda NÃO disputou a F3 inglesa! O prêmio que Hunt ganhou por parte da imprensa inglesa foi um ano antes, em 1969, onde foi considerado um dos três pilotos promissores da Grã Bretanha, não “O” piloto promissor ou revelação, ou futuro campeão como ficou exposto no filme.

 

Se o leitor já estiver me xingando, pode xingar à vontade! Fiz o meu “dever de casa” e pesquisei a biografia dos dois pilotos... e não foi na Wikipédia! Foi a do canadense Gerald Donaldson, a biografia “oficial” do James Hunt. Sendo assim, agora você, aí do outro lado da tela do computador, fica quieto e me deixa continuar.

 

Foram raríssimas as corridas que os dois disputaram juntos em categorias anteriores à F1... e nenhuma na Fórmula 3 inglesa, uma vez que Niki Lauda não foi piloto na fórmula 3 inglesa! Incrível, não? Estas provas ocorreram na Fórmula 2. Outra “fantasia” do roteirista do filme foi a relação (patrão-piloto) de James Hunt com o Lord Hesketh. Esta só veio ter início depois que Hunt deixou, no início da temporada de 1972, a F2. O fato ocorreu quando o inglês foi dispensado e parou de correr com a March. Foi nesta época que Lord Hesketh, o nobre britânico que era fã de corridas e acompanhava o desempenho dos pilotos ingleses – entre eles James Hunt – comprou um chassi do fabricante e então James Hunt concluiu a temporada, vindo estrear na F1, com o mesmo time em 1973. Quer a prova dos nove? http://www.formula2.net/ Neste site tem o resultado de todas as corridas das categorias de base na Europa.

 

Coincidências desta da vida (que não são coincidências) enquanto James Hunt lutava para sobreviver na Fórmula 2, Niki Lauda já era piloto – na mesma March  que dispensara o inglês – na Fórmula 1! Lauda fez a primeira corrida em 1971, na Áustria, como piloto pagante. Depois, fez a temporada completa em 1972, na mesma condição, “modus operandi” de funcionamento do esquema montado pelo famigerado Max ‘chicotinho’ Mosley, de quem Alex Dias Ribeiro também foi vítima anos depois. Ou seja, a revolta porque o “rato” Lauda estava na F1 e ele não foi mais uma “viagem na maionese” do diretor, do escritor e do roteirista do filme.

 

A verdade de alguma coisa – além do fato de James Hunt ser um ‘pegador-mor’ – aparece quando Lauda “compra” seu lugar na BRM, uma equipe que vivia disto mesmo: de “vender assentos”! Em algumas corridas era possível ver quatro, cinco, até seis carros BRM no grid. Os únicos pilotos da equipe que eram pagos e não pagantes eram Clay Regazzoni e Jean-Pierre Beltoise. Os demais, entravam com a “caixinha”!

 

Em sua carreira nas divisões inferiores, Hunt nunca foi campeão. Nem na FFord, nem na F3, nem na F2, mas era considerado promissor.

 

Eu já estava a ponto de sair do cinema, furioso com tanta baboseira, quando veio a minha primeira gargalhada – meio Clodovil, meio Fafá de Belém – no meio da escuridão onde tinha, se muito, umas 30 pessoas na sala. O Lauda vai fazer o seu primeiro teste em Paul Ricard, na França e, na hora do teste, aparece o prédio dos boxes, com o letreiro “Paul Ricard”... EM BRANDS HATCH!!! Quando mostrou a reta (que não é tão reta), com aquela ‘baixada’ que tem na formação do grid do circuito inglês e ao fundo o prédio (uma montagem por computador, certamente), não deu pra segurar. KKKKKKKKKKKKKKKK! Mas vamos lá, tudo em nome da fantasia e do entretenimento.

 

Outra contradição do filme é que, em 1973, a Hesketh, que tinha um carro só e uma estrutura menos dividida, proporcionou a James Hunt obter melhores resultados do que Niki Lauda e a “comercial BRM”.  Hunt conseguiu dois pódios (Um 3º lugar na Holanda e 2º lugar nos Estados Unidos). Lauda pontuou apenas na Bélgica, um 5º lugar. Regazzoni foi ainda pior: um 6º lugar em Interlagos. Se alguém ia sacanear alguém com posição no grid e em corrida, seria o Hunt com o Lauda, e não o contrário como mostra o filme. O melhor piloto do time BRM foi o JP Beltoise, com 9 pontos no total. Mas aí entra outro fato verídico: Regazzoni foi chamado para voltar a defender a Ferrari e indicou Niki Lauda para ser seu segundo piloto, dada as habilidades do austríaco.

 

O filme mal menciona a temporada de 1974, onde Niki Lauda voou na pista, conseguindo 9 poles, mas que não conseguiu transformá-las em vitórias (venceu 2 corridas e foi segundo em outras 3) por excesso de ímpeto (Sim, Lauda não era o tão cerebral Lauda do filme na fictícia F3 inglesa que ele não disputou), terminando em 4º lugar, com 38 pontos contra 15 pontos de Hunt, que fez 3 terceiros lugares na temporada.

 

A segunda gargalhada veio quando mostraram o final da temporada de 1975, onde mostraram uma eletrizante disputa entre Niki Lauda e James Hunt, trocando posições, saindo de quatro nas curvas e que Hunt só perdeu porque o motor de seu Hesketh estourou...  Com esta vitória, Lauda sagrava-se campeão do mundo. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!!! Ainda bem que não existe mais a figura do “lanterninha” nos cinemas, caso contrário, eu teria sido colocado pra fora!

 

ESTA DISPUTA JAMAIS ACONTECEU!!! http://www.statsf1.com/en/1975/etats-unis/tour-par-tour.aspx. Niki Lauda havia se sagrado campeão no GP anterior, na Itália, com uma corrida de antecipação (e teria sido na Áustria, caso os pontos tivessem sido validados por inteiro e não pela metade na corrida interrompida pela chuva onde Vittorio Brambilla conquistou sua única vitória). Na corrida de Watkins Glen, como mostra o site mais completo sobre a F1 depois do site oficial (quem sabe mais até) em nenhum momento Lauda e Hunt estiveram em posições subsequentes durante toda a corrida como o “lap by lap” mostra. Com isso, os dois JAMAIS teriam travado o duelo, certamente feito com imagens criadas em computador. As lágrimas rolavam pelo meu rosto enquanto em buscava ar para respirar... se o motor do Hunt estourou, COMO ele foi o 4º colocado na corrida? Empurrou o carro até a linha de chegada? Sim, ele terminou em quarto, com Ronnie Peterson em 5º e Jody Scheckter em 6º, colados no seu inteiro e funcionando Hesketh.

 

Além de muita “ficção” (vou chamar assim pra diminuir o tamanho das pedras que vão jogar em mim), o filme teve uma de suas veias dramáticas – que foram várias – com o fechamento da equipe Hesketh, no final de 1975... O QUE NÃO ACONTECEU!!! A Hesketh continuou na Fórmula 1 por mais três temporadas, tendo como pilotos Bob Evans (1976), Harald Ertl (1976/1977) e Derek Daly (1978). Contudo, sem o talento de James Hunt (não vou ser hipócrita e dizer que o cara era um roda presa, um braço duro), e com menos dinheiro no orçamento não marcou um mísero ponto até fechar, em 1978. Com a saída de Emerson Fittipaldi, Hunt era o melhor nome, realmente, para assumir o lugar vago na McLaren e foi isso que aconteceu , mas não da forma que foi descrita, uma vez que Emerson Fittipaldi assinou com a Copersucar em novembro de 1975.

 

Na estreia de Hunt na McLaren, mesmo tendo feito a pole, foi engolido pelas Ferraris, sem ter condições de acompanhá-las na prova.

 

Na cena da abertura da temporada de 1976, no GP do Brasil (ainda bem que não inventaram nenhuma disputa feroz entre eles... caso contrário, sairia a terceira gargalhada), os dois – Lauda e Hunt – largaram, sim, na primeira fila, mas não houve disputa. As Ferraris deixando todo o resto do pelotão – Hunt e sua McLaren, inclusive – para trás, com Regazzoni, que saiu da 2ª fila para a ponta, liderando as primeiras voltas. Lauda tomou a ponta na 8ª volta e na 9ª Regazzoni teve problemas. Hunt andou em segundo boa parte da corrida, mas nunca com chances de ameaçar Lauda na liderança. No filme, parece que Lauda só ganhou porque Hunt quebrou.

 

Mas a terceira gargalhada não tardaria. Na cena do pódio da África do Sul, Hunt fala que “na Espanha as coisas serão diferentes”... e foram para o GP da Espanha. Lembrei-me da música do Ultraje a Rigor (Sexo). “Epa, mutilaram o filme, cortaram uma cena”. Cadê a corrida dos Estados Unidos em Long Beach, onde a Ferrari fez dobradinha, com vitória de Regazzoni, e Hunt bateu quando estava em 3º? KKKKKKKKKKKKKKKKK! As outras 29 pessoas na sala deviam estar ficando intrigadas (ou furiosas) com minhas risadas.

 

O filme também tentou passar uma impressão de que, os abandonos na Bélgica e em Mônaco foram o motivo pelo qual Lauda venceu ambas as provas. Mentira! Em momento algum Hunt andou na frente do austríaco nestas provas. O abandono na Bélgica foi por problema de câmbio e em Mônaco, sim, foi motor, mas Lauda venceu as duas corridas de ponta a ponta, sem ser ameaçado por ninguém. Outro erro grotesco do filme foi deixar de registrar que Hunt foi desclassificado da vitória em Brands Hatch por ter largado com outro carro depois da interrupção da prova na desastrada primeira largada.

 

Na parte do filme que relata o ocorrido em Nurburgring, faltou conhecimento – pior, pesquisa – para saber que o circuito tinha 175 e não 185 curvas (vai ver que o narrador/locutor/comentarista era um dos nossos, tanto da TV aberta como da por assinatura). O “locutor” das transmissões se refere a Nurburgring como “the graveyard” (cemitério). ONDE? QUANDO? Nurbugring foi chamado assim? Eu nunca li ou ouvi isso em lugar nenhum e desafio qualquer jornalista ou especialista em F1 a mostrar onde isso estava ou está escrito. Nurburgring sempre foi conhecido como “o inferno verde”. Mas o mais absurdo ainda viria a acontecer: na cena onde Lauda se acidenta, uma coisa ridiculamente inimaginável é mostrada: o capacete do piloto voando fora de sua cabeça com o impacto! Lauda declarou várias vezes que uma estupidez sua foi retirar o capacete, porque ele não conseguia respirar. Se o capacete tivesse “voado longe”, a cabeça do piloto estaria dentro dela!

 

No acidente em Nurburgring, Lauda só queimou o rosto e a cabeça porque retirou o capacete... no filme, ele teria sido arrancado!

 

Na parte final do filme, a narrativa mostra a volta de Lauda na Itália, mas não mostra o pódio do 3º lugar em Watkins Glen, muito menos como as coisas se sucederam depois do GP da Itália até a chegada para a decisão no Japão, onde o filme cometeu diversos erros e uma terrível omissão, algo imperdoável aos olhos e ouvidos de qualquer fã minimamente conhecedor da história.

 

O GP do Japão teve uma sucessão de erros que provocaram minha quarta gargalhada e algumas ofensas por parte da plateia na sala. Primeiro pelo fato de James Hunt querer “o cancelamento da corrida”, fato que não consta de sua biografia e que certamente constaria.

 

Antes da corrida, a sequência de imagens mostra que faltam 5 minutos para o início da corrida... E OS PILOTOS ESTÃO TODOS FORA DOS CARROS!!! KKKKKKKKKKKKKKKKKK. Além disso, a reta de Fuji não era o "corredorzinho estreito" que aparece no filme. Assim fica difícil levar a coisa a sério como nós, que curtimos automobilismo, levamos. Só os espectadores da sala, certamente a maioria de curiosos, ficaram ofendidos e reclamaram.

 

Logo no início da corrida, que seria o ato final da disputa entre os dois protagonistas, as cenas – feitas por computador, como na maioria das disputas do filme – mostram a Ferrari de Niki Lauda perseguindo a McLaren de Hunt por toda a primeira volta (Mentira! Lauda passou em 10º na primeira volta) entrando nos boxes (o que ele só fez na 2° volta). Na saída, o abandono do austríaco devido as condições de tempo, os cidadãos que fizeram o filme não retratam a frase – um erro IMPERDOAVEL – que deixou o Comendador Enzo Ferrari furioso: “a minha vida vale mais que um campeonato mundial de F1”, disse Niki Lauda à imprensa que o cercou após o abandono da prova.

 

No decorrer da corrida, um outro fato deixou se ser relatado da forma correta: faltando 12 voltas para o final (e não 5), Hunt caiu para terceiro enquanto a pista começava a secar. Alguns pilotos tiveram furos nos pneus e Hunt foi um deles, caindo para a 5ª posição (nunca em 6º como falou o filme) faltando cinco voltas para o final. Com pneus novos e voou nas voltas finais, recuperou duas posições, para terminar em terceiro TRÊS voltas antes do final da prova, e assim conquistou o título com um ponto de vantagem. No filme mostra uma improvável e completa incompetência dos cronometristas japoneses!!! KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK. Aquela baboseira no Box com Teddy Meyer não existiu! Quer ver a corrida, amigo leitor? Esta no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=6CZ5nRQxv4E

 

Que horror: o narrador do filme disse que Jacques Laffite estava ao lado de Lauda com uma Ligier. Era John Watson com um Penske!

 

No final, “a cereja do bolo”: um inverossímil encontro dos dois pilotos em um hangar de aviões na Itália (o que o Hunt estaria fazendo na Itália?) e o diálogo que se seguiu não me deram outra alternativa a não ser gritar: “beija logo, pô”! Sim, porque o melodramático final, depois das “cenas de corrida” no melhor estilo “velozes e furiosos”, nos dramas e conflitos estilo “Apolo 13”, não deixavam outra alternativa a não ser um ‘beijaço’, estilo Clark Gable com a Scarlet O’Hara do final de “E o vento levou”, combinado com a estridente performance da agudíssima Celine Dion cantando a música tema do último “Titanic”.

 

Para quem gostou da fantasia e das mentiras contadas, por falta de conhecimento ou pela falta de emoção da F1 atual, com estes pilotos que – tirando o ‘pé de cana’ – falam basicamente as mesmas palavras em todas as situações, sem nunca falar nada que possa comprometer suas relações contratuais, interesses de patrocinadores ou ofender alguém, ótimo! Que bom que o dinheiro do seu ingresso valeu a pena, que foi um dinheiro bem gasto. Para mim, mais uma vez, distorceram a história e sobrevalorizaram um piloto além do que ele realmente foi, algo com o que estamos convivendo há quase 20 anos aqui no Brasil.

 

Apesar disso, o Hunt continua sendo um campeão do mundo e um herói pra mim. Afinal, 5000 'cravadas' valem mais que os 1000 gols do Pelé!

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva

 

p.s. “OBRA”, vindo de “OBRAR”, quer dizer defecar em algumas regiões do país.

 

 

 

 

Last Updated ( Monday, 14 September 2015 22:09 )