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Um argentino muito macho! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 10 November 2013 21:45

A gente aqui no Brasil tem uma rivalidade histórica com os “hermanos argentinos”. Sempre rola aquelas alfinetadas – muitas vezes nada sutis – de parte a parte. Uma das melhores que conheço é aquela que a gente diz que todo argentino é um frustrado que tenta se comportar como um inglês, que queria ser italiano, mas que fala mal e porcamente o espanhol!

 

Cutucadas à parte, tem um argentino neste nosso meio da Fórmula 1 que eu admiro – como piloto – até hoje: Carlos Reutemann, ‘El Lole’. Este apelido – Lole – foi dado a ele pelos próprios pais, quando ele ainda era criança, e dada a sua paixão por animais, ele sempre ia para os criadouros da fazenda na província de Santa Fé ver “los lechones” (os leitões) que ele falava “lolechones”.

 

Mas não é do pequeno Reutemann que vai se tratar esta coluna, mas sim do dia em que ele se fez grande, maior que tudo e que todos, quando enfrentou o ‘status quo’ da equipe Williams no GP do Brasil e não aceitou a ordem de Box – na época dada por placas, já que não havia comunicação por rádio com o carro – para que ele, que liderava a corrida, cedesse a posição para o primeiro piloto da equipe – e campeão do mundo de 1980 – Alan Jones. Mas vamos contar essa estória com calma e desde o início.

 

No ano anterior, em 1980, Alan Jones era apontado como favorito ao título pela performance que os carros de Frank Williams apresentaram no final da temporada anterior nas mãos do piloto australiano. O companheiro de Alan Jones seria outro: o argentino Carlos Reutemann.

 

 

Alan Jones confirmou o favoritismo, vencendo o campeonato, apesar de ter enfrentado uma dura concorrência do brasileiro Nelson Piquet que começava a “reinvenção da Brabham” ao lado de Gordon Murray. Estreante na equipe, Carlos Reutemann terminou o campeonato em terceiro lugar, vencendo o GP de Mônaco e fazendo outros 7 pódios nas 14 corridas da temporada, sendo o piloto mais regular do campeonato.

 

Para a temporada de 1981, começava a se desenhar uma disputa entre as equipes Williams e Brabham, mas era uma época em que mais equipes tinham chances, especialmente com os carros com motor turbo como Renault e Ferrari tornando-se cada vez mais confiáveis. Ou seja, o campeonato antes do início da temporada estava completamente aberto... em teoria.

 

O GP de abertura da temporada mostrou que talvez nem tanto, com a Williams conquistando uma dobradinha, com Alan Jones vencendo a Corrida e Carlos Reutemann terminando em segundo lugar, relegando Nelson Piquet e sua Brabham ao lugar restante no pódio. Detalhe: o primeiro terço da prova foi liderado pelo pole, Ricardo Patrese com uma Arrows, depois dos problemas no carro e posterior abandono, as Williams tomaram a ponta... com Reutemann na frente!

 

 

Contudo, na 31ª volta, houve uma “inversão de posições”, num estranho e inexplicável erro do argentino, com Alan Jones assumindo a ponta e liderando até o final, deixando Reutemann apenas controlando a distância para Nelson Piquet, que tinha mais de 30 segundos de desvantagem para o líder. E assim, o circo da Fórmula 1 veio para o Brasil, segunda etapa dp campeonato, uma vez que a corrida da África do Sul foi disputada (e vencida por Carlos Reutemann)  sem contar pontos para o campeonato.

 

Mas foi na corrida que o argentino mostrou ter a personalidade que hoje nós tanto reclamamos ter faltado a Rubens Barrichello e a Felipe Massa em relação à subserviência dentro da equipe Ferrari para Michael Schumacher e Fernando Alonso. O argentino foi macho pra cacete e disse não!

 

A corrida teve Nelson Piquet como pole position, mas o brasileiro fez uma arriscadíssima aposta contra a previsão meteorológica... e perdeu. Piquet decidiu largar com pneus para pista seca no piso molhado de Jacarepaguá, acreditando que a pista secaria e que ele levaria vantagem... mas a pista não secou.

 

 

Carlos Reutemann pulou na ponta e foi seguido por Alan Jones... da primeira a última volta. Na parte final da corrida, os boxes começaram a sinalizar para que Reutemann, cedesse a liderança para Jones, que com isso dispararia na classificação do mundial. Contudo, depois de ter andado na frente nos Estados Unidos, vencido na África do Sul e estar liderando no Brasil, o argentino certamente pensou: este é meu ano!

 

Com personalidade de campeão, Carlos Reutemann ignorou as placas – e a revolta dos membros da equipe – manteve a ponta e venceu a corrida, ficando em uma condição de igualdade em pontos com Alan Jones. Como Nelson Piquet terminou em 12º lugar e não pontuou, permanecendo com os quatro pontos da primeira etapa, enquanto os pilotos da Williams lideravam a tabela com 15.

 

 

 

Como corrida de Fórmula 1, naquela época, tinha carros mais frágeis e sujeitos a quebras, o cenário começaria a mudar na Argentina, quando Nelson Piquet conseguiria outra pole position e, desta vez, preferiu apostar na mesma estratégia do restante do grid: pista molhada, pneus de chuva!

 

Com as Brabham super acertadas, tanto que Hector Rebaque, piloto que enfiava um carrinho de mão (na época era o suficiente) de dinheiro pra correr na F1 e na equipe chegou a andar por um bom tempo em segundo lugar, vindo de 7º e passando todo mundo (Prost, Jones, Reutemann, Arnoux) e lá ficando até a quebra do distribuidor.

 

 

Nas arquibancadas, mais de 80 mil enlouquecidos argentinos berravam “Lole! Lole! Lole!” e exibiam placas com os dizeres que as fotos e a transmissão da televisão no Brasil mostraram para o mundo todo. Lá, em Buenos Aires, era o nome de Reutemann que estava acima do de Alan Jones.

 

Com a vitória de Nelson Piquet, de ponta aponta, e o segundo lugar de Carlos Reutemann, com uma discreta corrida terminando em quarto lugar de Alan Jones, colocavam o argentino na liderança do campeonato, com Jones em segundo e Piquet – de volta ao páreo – em terceiro, com 21; 18 e 13 pontos respectivamente.

 

 

O argentino liderou o campeonato praticamente inteiro. Piquet só conseguiu empatar em pontos com Reutemann na 12ª etapa (de 15) do campeonato, em Zandvoort, na Holanda, enquanto Alan Jones, o favorito da equipe, alternava corridas apagadas, alguns acidentes e poucas corridas boas, ficando distante da briga pelo título, que acabou polarizada entre os dois pilotos sulamericanos.

 

O resultado todos conhecem, mas a imagem mais emblemática do GP de Las Vegas foi quando Alan Jones, em uma de suas poucas boas corridas no ano, colocou um volta sobre o “companheiro” de equipe que brigava pelo título... e todo o Box da Williams vibrou!

 

Frank Williams e sua equipe sempre deram mais valor ao título de campeã de construtores do que ao título de pilotos. Na cabeça – dura – de Sir Frank, a equipe estava sempre em primeiro lugar, mas ele não era nenhum idiota de sabotar seu próprio piloto sendo este o único ainda com chances de conquista do título. Se tem uma coisa que Frank Williams nunca foi, ele nunca foi burro!

 

 

Perder aquele campeonato abalou Cerlos Reutemann, que abandonou a carreira e a equipe Williams após o GP do Brasil de 1982 – temporada vencida por seu companheiro de equipe, Keke Rosberg – tendo disputado 146 Grandes Prêmios e vencido 12 vezes. Mesmo sem nunca ter sido campeão, jamais teve um tratamento jocoso como é dado aos nossos ex-pilotos ferraristas (já estou colocando o Macarroni nesta barca).

 

Em 1996, 14 anos após disputar sua última corrida, Carlos Reutemann acelerou novamente um fórmula 1, em algumas voltas de exibição antes do GP da Argentina disputado naquele ano. Mesmo tendo se passado tanto tempo, empurrado pelos gritos de “Lole! Lole! Lole!” o então governador da província de Santa Fé (espécie de estado para nós que Reutemann governou por dois mandatos) marcou em sua melhor passagem 1’32.074”, o que daria a ele a 11ª posição no grid. Detalhe: Eddie Irvine, segundo piloto da Ferrari marcou o 10º tempo!

 

 

Carlos Reutemann está hoje em seu terceiro mandato como Senador da Argentina, sendo um dos políticos mais influentes do país. Seus feitos como piloto sempre serão lembrados pelo povo argentino, mesmo ele não tendo sido campeão, mas algo que o mundo jamais esquecerá é que ele foi homem suficiente para honrar os princípios do esporte, que é disputar uma competição dando o máximo de si, sendo honesto com seus adversários, com as regras e consigo mesmo.

 

Eu sempre serei fã del “Lole”... mesmo ele sendo argentino!

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva

 

 

 

 

Last Updated ( Thursday, 02 February 2017 22:08 )