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O legado de Dionísio PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 30 March 2014 08:41

Falar sobre um amigo que a gente conhece há mais de 40 anos pode ser algo fácil e ao mesmo tempo difícil. Muitas vezes a amizade vem em ciclos onde ficamos mais próximos ou mais distantes daquela pessoa, mas mesmo quando estamos num momento da vida onde os caminhos parecem ser divergentes, o sentimento de amizade não diminui,mesmo que passemos anos sem ter como encontrar aquele que escolhemos como sendo “membro da família que escolhemos”.

 

Meu convívio com Dionísio vem desde os tempos do colégio Batista Brasileiro, onde estudamos no início dos anos 70. Não éramos colegas de sala, mas tínhamos uma paixão em comum. Desde quando eu comecei a conviver com Dionísio, ele  já era totalmente envolvido com o kart. Nós fomos alunos da escola de kart do Carol Figueiredo e Maneco Combacau, a ESPAKA, e o Dionísio era muito bom. Além disso, como a família dele tinha uma condição financeira muito boa, ele tinha equipamento de sobra, tinha 3 karts, 6 motores e eu não tinha como ter nem ao menos um, mas eu tinha uma habilidade para fazer contatos e isso me fez propor a ele um acordo: se eu conseguisse um patrocínio, ele me emprestava um kart.

 

Consegui não apenas um patrocínio,mas um grande patrocínio com a Petrobras, que estava entrando no ramo de óleos e o diretor disse que se fosse para entrar, era para ganhar e para isso teria que se montar um esquema capaz de enfrentar a equipe Hollywood com isso eu voltei para falar com o Dionísio com a grande notícia. Assim, passamos a ter uma equipe, com equipamento, patrocínio e assim éramos pilotos da Equipe Petrobrás Óleo 100%/Rede Joia de postos de combustível.

 

O time tinha o Dionísio, o Horácio, o Pingo, o Marcelo Del Nero. Enquanto eles eram grandes pilotos eu, por falta de treino e de talento mesmo, vi que o meu talento estava na área dos negócios, de conseguir patrocínios, parceiros e com isso, além do que, eu corria de kart emprestado e correr de equipamento emprestado, algo que não é seu, é sempre complicado. Mas o Dionísio foi um dos maiores kartistas do Brasil nos anos 70, tendo conquistado duas vezes o campeonato paulista, que era muito mais difícil que o campeonato brasileiro.

 

Amizades sinceras são duradouras... e se tiver uma mistura de gasolina com óleo 2 tempos... são eternas!

 

Todo mundo sabe, ou acha, que o piloto começa no kart e depois vai correr de carro, para tentar chegar na F1. Dionísio até correu algumas provas de carro, correu uma prova em Brasília, sua estreia no turismo com uma pole position (ele comprou um Passat na Dacon, 0 Km e super bem preparado. Ele fez duas corridas na Fórmula Vê – com um carro meu – mas a paixão dele era mesmo o kart.

 

Na segunda metade dos anos 70, tinha um pirralho que chegou pra andar de Kart lá em Interlagos e que era um verdadeiro fenômeno: o Ayrton Senna. Ele era muito focado no treino, era o primeiro a chegar e dos últimos a sair e era um moleque muito introvertido. Ele não tinha amigos e entre as poucas amizades que fez foi justamente comigo e com o Dionísio. No verão, depois de treinar, íamos para a represa de Guarapiranga, esquiar. Ele esquiava muito bem. 

 

Em 1977 ele decidiu parar de correr e eu, no ano seguinte, 1978, eu tinha vendido um negócio e fui disputar o paulista... e ganhei! Passei o ano todo perturbando ele, para ele voltar, para fazermos uma dupla... e ele voltou em 1979. Mas só voltou porque ele achava que faltava um título brasileiro e ele conseguiu ganhar este título em Uberlândia, naquele ano.

 

Eu era sócio e parceiro do Ayrton Senna naquela altura e ele andou tão bem que eu pensei: ele devia tentar disputar o mundial... e eu sabia que o Ayrton ia prá Itália, para disputar o mundial. Não tive dúvidas: Falei para o Ayrton que eu queria ir com ele... mas eram precisos 10 mil dólares e estamos falando de anos 70... era dinheiro! Eu insisti com o Ayrton que queria ir come ele. A vaga ficou em aberto e um conhecido que corria conosco, o Maximo Mella, que era sobrinho do De Ângelo Parilla, da família que fazia os karts DAP. Eu pedi ao Maximo para entrar em contato com a família e segurar essa vaga para o Dionísio. Ele conseguiu!

 

Um momento de descontração e alegria com Dionísio e seu sobrinho, Stefano Pastore (Foto: Bruno Gorski).

 

O Dionísio foi, mas quando chegou lá descobriu que o custo era metade do valor para correr (5 mil dólares) e daí rolou uma discussão, uma desavença e o Dionísio foi correr na equipe Suiss Hutless. A outra vaga ficou com um holandês, o Peter Koene... que ganhou o campeonato! O Dionísio queria morrer! Ele abriu mão de pilotar no kart que ganhou o campeonato. Ele me pedia: “Zé, não deixa ninguém saber disso...” risos.

 

Nos anos 80, quando surgiu o Superkart, aquele kart com dois motores que foi a preparação do Emerson Fittipaldi antes de ir para os Estados Unidos, para a Fórmula Indy, e muitos dos grandes kartistas do país foram para a categoria... e o Dionísio entre eles. E ele era um dos que andava na frente. O Emerson achava que ele queria que ele fosse correr na Europa.

 

 

 

Dionísio casou duas vezes, mas não teve filhos. No meio do kart, seu “filho” era seu sobrinho, Stefano, a quem ele sempre acompanhou a carreira e também vinha fazendo um importante trabalho de “coaching” com o Nelson Stanisci e com o Guilherme Oliva. A generosidade dele não tinha tamanho!

 

Na pista, graças ao entusiasta do Paraná, Marcelo Afornali, que criou um maravilhoso projeto que é o “Vintage Kart” o Dionísio se animou em ir para pista, em preparar um “kart das antigas” e voltar a pilotar. E nós, que andávamos um tanto longe, nos reaproximamos de novo. Ele era aquele cara que amava não apenas pilotar, mas fazer toda a preparação do kart. Chegar em Interlagos e encontrar o Dionísio, era vê-lo metendo a mão na graxa!

 

No último mês de setembro, apresentei o Dionísio ao editor chefe do site dos Nobres do Grid, durante os 500 Km de Interlagos, onde foi feita a homenagem a um grupo de pilotos beneméritos. Conversamos bastante e surgiu o convite para que Dionísio integrasse a equipe de colunistas do site, escrevendo sobre kart, sua paixão!

 

A perda de um amigo como ele, de tantos anos, de tantos momentos intensos vividos, e com quem eu compartilhei por tantos anos esta paixão que é o kart me levou a tomar a decisão de fazer algo mais do que apenas falar com os amigos e como eu estou promovendo o campeonato paulista deste ano e em paralelo com o campeonato, vamos fazer o “Troféu Dionísio Pastore”.

 

Este projeto vai premiar um piloto pelo conjunto do seu desempenho ao longo da temporada. Não quer dizer que vai ser o vencedor, mas que vai premiar o piloto que, ao longo do Campeonato, demonstrar mais envolvimento com a preparação técnica,  é competitividade, espírito esportivo (fair play), com seu Kart e colegas, aquele que fez a diferença.

 

Na etapa da Granja Viana, Nelsinho Stanisci fez uma homenagem especial ao seu incentivador e mentor.

 

Esse é a essência do “Troféu Dionisio Pastore”, eleição esta que será feita por um grupo de notáveis do kart, sendo a entrega do troféu e premio (iremos determinar junto a potencial patrocinador), na cerimônia de encerramento do Campeonato, em local e data a serem definidos. 

 

Que o legado do Dionísio permaneça para sempre!

 

José Eduardo Ávila

 

 

 

José Eduardo Ávila é Diretor de Marketing da Medrar Gestão em Esportes, patrocinadora do Campeonato Paulista de Kart.

 

Last Updated ( Friday, 04 April 2014 14:34 )