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Vukovich, O Russo Maluco PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 05 May 2014 15:16

Figura enigmática, de pouquíssimas  palavras  e  muita atitude,  Bill  Vukovich  foi  um  verdadeiro  cometa  e sua curta  passagem  pela  elite  do  automobilismo  foi  digna  de  deixar  sem  fôlego  a  todos  os  que  puderam  vê-lo em ação.

 

Na primeira metade dos anos 50, o brilho inesperado de Bill Vukovich deixou atônitos os fãs das corridas, tal era a força com que ele se entregava a uma disputa. Lembrado por suas atuações nas tradicionais 500 Milhas de Indianápolis, há quem diga que ele foi o maior dos maiores pilotos que já atuaram na Brickyard. O certo é que ele continua sendo um dos mais emblemáticos nomes da história do automobilismo americano. Das cinco edições das 500 Milhas que participou, entre 1951 e 1955, ele venceu duas vezes consecutivas e chegou perto de vencer mais duas. Acabou encontrando a morte na sua quinta tentativa, enquanto liderava com larga frente sobre o segundo colocado.

 

De ancestrais sérvios, vindo do calor da Califórnia e desde bem cedo lutando contra circunstâncias adversas, o enigma desse homem rude talvez nunca seja plenamente desvendado. Vukovich tinha sido a grande sensação na Brickyard desde sua segunda corrida lá, em 1952, quando uma falha na barra de direção o colocou fora da disputa enquanto liderava a poucas voltas do final.

 

 

Até então era um piloto praticamente desconhecido. A partir daí, cresceu sua fama como um homem destemido, que falava pouco e cuja pilotagem assombrava público, comentaristas e adversários. Entre os seus amigos e inúmeros fãs, seu nome era Vuky. Quando perguntado sobre o seu segredo para ser tão bem sucedido em Indianápolis, se resumiu dizendo: "A única maneira de ganhar aqui, é manter o pé no acelerador e virar o volante para a esquerda..."

 

Guiando um Kurtis Kraft-Offenhauser pela equipe Fuel Injection, Vukovich dominou as 500 Milhas de 1953 e 1954. No ano seguinte, o homem que a imprensa apelidou de The Mad Russian (“O Russo Maluco”) – por seu estilo de condução arrojado –, e Silent Serb (“Sérvio Silencioso”) – por seu comportamento frio com a mesma imprensa – deu tudo de si para ser o primeiro piloto a ganhar mais de duas vezes consecutivas a Indy 500. Se tivesse conseguido, seria o único até hoje.

 

Antes da Última Corrida: Pressentimento

 

Em 1955, nenhum outro piloto tinha feito mais dinheiro em Indianápolis do que Vuky. Mas depois de se juntar à seleta galeria dos poucos que venceram duas vezes consecutivas nas 500 Milhas, dizem que Vukovich teve uma premonição sobre o que seria a sua última corrida. Cerca de uma semana antes, ele teria comentado entre amigos que, a despeito de ser o franco favorito, sentia que não terminaria a prova.

 

Vukovich a bordo do Hopkins Special na foto pré-qualificação para a Indy 500 de 1955.

Na próxima foto, ele ostenta na pintura de seu carro a dupla coroa nas 500 Milhas.

 

No dia 30 de maio de 1955, largando da 5ª posição do grid com seu Lindsey Hopkins Special azul, Bill Vukovich avançou para a liderança como um tigre faminto, exatamente como nos dois anos anteriores. Após a largada, Vukovich ultrapassou sem dificuldades um a um seus adversários até chegar ao segundo posto e ameaçar o líder Jack McGrath. A corrida foi épica, magistralmente documentada em cores no filme  The Unforgettable 500, onde vemos o intenso duelo entre Vuky e McGrath pela liderança. Num momento na curva 1, tentando retomar a dianteira, Vuky põe perigosamente as duas rodas esquerdas na grama, tamanha a sua gana de assumir a ponta. Nessa mesma volta Vukovich tomou a liderança e decidido a não perdê-la mais, pisou fundo assumindo larga vantagem. Então, na volta de número 57, quando Bill, de pé embaixo, superava com estupenda habilidade um pelotão de retardatários, aconteceu a tragédia.

 

 

Com o abandono de McGrath, Vuky tinha uma vantagem de cerca de dezessete segundos sobre o segundo colocado e sem aliviar, costurava os carros retardatários a fim de não perder tempo. Tudo foi muito rápido. À sua frente uma confusão começava quando o futuro bicampeão da Indy 500 Rodger Ward, que estava prestes a tomar duas voltas de atraso, perdeu o controle do seu carro por conta de uma rajada de vento, batendo forte no muro depois de entrar na reta oposta. Com a aproximação dos carros de Al Keller e do estreante protegido de Vuky Johnny Boyd no local onde o carro de Ward capotava, só havia um espaço de cerca de seis metros na pista, quando Vukovich surgiu na cena do acidente, tentando ganhar uma volta sobre seu jovem amigo Boyd.

 

Pressentindo uma manobra de emergência, Vukovich se enfiou no único espaço disponível; mas Keller, sentindo a proximidade de Boyd e tentando evitar Ward, desceu demais com o carro para a parte interna da pista e ao frear com a roda traseira esquerda na grama, perdeu o controle indo de bico em direção ao muro externo exatamente no momento em que Boyd e Vukovich estavam passando. O carro de Keller colidiu na lateral do carro de Boyd e este foi jogado na frente do carro de Vukovich. Vuky nada pode fazer para evitar o impacto. Colidindo na lateral do carro de Boyd a cerca de 210 Km/h, o carro de Bill decolou por sobre o muro e, fora da pista, embateu de bico dando quatro cambalhotas e meia em pleno ar, diante da multidão que assistia a corrida no estacionamento ao longo da reta oposta. O Lindsey azul ainda embateu em um jipe e em um Studybaker estacionados no local, antes de parar de cabeça para baixo e arder em chamas. Antes mesmo das chamas se levantarem do carro, Bill Vukovich já estava morto, com uma fratura na base do crânio. Ele tinha 36 anos. O anúncio de sua morte causou imensa consternação nas arquibancadas e no mundo do esporte.

 

Vuky na sua última corrida (carro azul), à caça do primeiro colocado, Jack McGrath.

 

No pitlane, Bill Vukovich era conhecido por sua intensidade e vontade de vencer. Um homem atarracado – alguns disseram com amargor em seus olhos –, ele tinha o hábito de jogar psicologicamente com outros pilotos, intimidando-os. Tinha grande aversão a entrevistas – daí o tão pouco que saibamos a respeito de sua vida, já que jamais pretendeu fazer frisson em meio à mídia e mesmo, uma vez que suas conquistas começaram a elevar seu nome como um dos mais queridos do público, evitava cada vez mais estar onde os repórteres estavam. Tinha alguns amigos devotados entre o pessoal de sua equipe de mecânicos e alguns outros pilotos – como Ed Elisian, que naquela corrida fatídica, tendo sido testemunha do terrível acidente de Vuky, parou seu carro intacto e correu para os destroços do Lindsey em chamas, arriscando sua vida na desesperada tentativa de salvar seu amigo. Bill Vukovich, é bom lembrar, foi também um exímio mecânico, que refinou a ciência da preparação de um carro de corridas. Seu nome, porém, será sempre o de um piloto legendário não só por sua habilidade e audácia dentro da pista como também pelo seu mistério fora dela, e a história de sua vida, rica em superações, ficará na maior parte como mito: a lenda do homem que ousou desafiar tudo e todos, até que a morte precoce o apanhou antes de concluir o que teria sido uma trajetória humilhante para todos aqueles que se pusessem em seu caminho como seus adversários.

 

Segundo de sete filhos, William J. Vukovich nasceu em 13 de dezembro de 1918, em Alameda, Califórnia. Cresceu em Fresno. Seus pais, John e Mildred Vukurovich, haviam mudado de nome quando imigraram da Iugoslávia para os EUA. John era carpinteiro e proprietário de uma fazenda. Mas o crack na bolsa de valores em 1929 surtiu duros efeitos na vida de todos e manter a fazenda ficou cada vez mais difícil. Em 13 de dezembro de 1932 – dia do 14º aniversário de Bill – John não aguentou a pressão e cometeu suicídio.

 

Crescendo durante a Grande Depressão, com dinheiro escasso e sem pai, Bill teve que sair da escola junto com seu irmão mais velho Eli, e trabalhar para ajudar a mãe a sustentar a casa e suas cinco irmãs. Orgulhoso, Bill jamais permitiu que alguém de sua família mendigasse, mesmo em circunstâncias desesperadoras. Naqueles tempos difíceis, seu único alívio era o Ford T da família. Bill se divertia dirigindo esse carro, perseguindo coelhos através dos campos.

 

Até que Bill um dia descobriu que corridas de automóveis podiam pagar bem – e ele começou a competir por dinheiro antes mesmo de seus vinte anos. Ele ficou em segundo lugar em sua primeira corrida, pilotando um Chevrolet modificado de propriedade de um amigo chamado Fred Gearhart. Aos 18 anos, em sua terceira corrida, Vukovich venceu pela primeira vez. Começava aí uma parceria: Gearhart confiava em Bill para manter os ganhos e este pensava que estava fazendo uma grana preta – levando para casa uns 15 dólares quando o fim de semana era bom. Gearhart foi fundamental para ajudar Bill Vukovich a sair do circuito de corridas amadoras de carros modificados e iniciar, em 1938, sua carreira como profissional de Midgets (fórmula menor de monopostos cujas corridas ocorrem, geralmente, em pistas de terra). Dois anos mais tarde, sofreu suas primeiras lesões graves em um acidente de corrida – uma clavícula quebrada e uma mão queimada. Mas com a vinda de mais vitórias – e mais dinheiro –, Vukovich só recrudesceu seu estilo, com o fim de satisfazer o seu ardente desejo de vencer. Para ele, vencer era a sua profissão.

 

 

Vuky começou a fazer seu nome a bordo de um Midget.

 

Em 1941, enquanto recuperava-se de uma lesão causada por um acidente nas pistas de corrida (o que iria mantê-lo fora da II Guerra Mundial), ele se casou com Ester Schmidt. No ano seguinte, tiveram uma filha, a quem deram o nome de Marlene. Seu filho William Jr. (ou Billy II) nasceria em 1944.

 

Nem mesmo a perspectiva de ser pai de família freou o ímpeto de Bill. Ele simplesmente não se dava o direito de sentir medo; seu espírito era vencer ou vencer, a qualquer custo. Quando Eli começou a correr inspirado pelo sucesso de seu irmão mais novo, Bill avisou: "Não se mete comigo, chapa. Dentro da pista você é apenas outro piloto." Ainda assim, o grande objetivo dos irmãos era ganhar dinheiro e eles pretendiam fazer até US$ 50 por semana nas corridas da Costa Oeste. Foi uma concorrência feroz – o tipo de corrida onde os pilotos não hesitavam em empurrar os outros oponentes para fora da pista caso não dessem passagem. Vuky correu com tudo o que tinha. Ele também se mantinha em boa forma física – evitava beber mesmo em hora de celebrar vitórias e dava, diariamente, largos passeios de bicicleta, além de manter-se sempre ativo trabalhando pesado como mecânico.

 

Durante a Segunda Guerra Mundial, Vukovich trabalhou em uma unidade militar consertando jipes e caminhões, aprimorando seu know-how em mecânica e ganhando dinheiro suficiente para comprar um Midget de seu velho amigo Fred Gearhart por US$ 750. Bill preparou esse carro para a temporada de 1945 e pintou-o de vermelho brilhante batizando-o com o nome de “Old Ironsides”. Por detrás desse volante, Vukovich se tornou o rei das corridas de Midget da Califórnia.

 

 

Vuky a bordo do “Old Ironsides” e, abaixo, em meio a um fantástico contra esterço numa disputa em San Diego.

 

Concussões, mãos marcadas, ombros e costela quebrados jamais o demoveram. Muito menos os inimigos que foi ganhando nas pistas. Tudo isso nutria mais e mais a sua sede de vitória. Vencer era questão de honra – especialmente vencer o irmão mais velho Eli. Ganhando com folga o campeonato da URA (United Racing Association's) na Costa Oeste, tanto em 1946 quanto em 1947, Vukovich se estabeleceu como o piloto dominante na Copa Midget. Nessa época foi votado pela revista Pacific Coast Speedway News como o piloto de Midget mais popular. Em 1950, ele conquistou a coroa na Copa Nacional de Midget, pavimentando seu caminho para a liga principal de monopostos do automobilismo americano, a AAA (American Automobile Association) National Championship Trail (origem da hoje conhecida Formula Indy), cuja abertura de temporada era sempre na corrida que era a maior vitrine do automobilismo na época: a prestigiada 500 Milhas de Indianápolis com seu sempre pomposo prêmio em dinheiro. 

 

O Começo do Show na Indy

 

Com as corridas de Midget perdendo seu apelo para os fãs, alguns dos maiores nomes da categoria – pilotos como Walt Faulkner, Andy Linden e Manny Ayulo – buscaram migrar para a Indy, enquanto Vukovich não demonstrava interesse por qualquer outra coisa que não fosse um Midget. Ao que parece, Vuky começou a mudar de ideia ao perceber que migrar para a Indy era bem mais rentável que permanecer numa categoria em que geralmente ganhava menos de U$7.000 por ano como piloto profissional. Já em 1950, sob a condição de piloto reserva para Indy 500, ofereceram à estrela dos Midgets um passeio no lendário oval de Indianápolis a bordo de um velho Maserati pré-guerra. No entanto, seu carro não era capaz de se qualificar para a corrida. Mas percebendo o quanto se sentia à vontade a bordo de um Indy, começou a considerar-se apto para encarar o desafio mais seriamente.

 

 

Estreante se preparando para as 500 Milhas de Indianápolis de 1951.

 

No ano seguinte Bill Vukovich conseguiu o patrocínio de Pete Salemi da Central Excavating de Cleveland, para inscrever-se em sua primeira tentativa real na Brickyard. Seu carro era um Trevis-Offenhauser, equipamento que figurava entre os mais modestos do grid mas bom o suficiente para um piloto estreante. Bill sabia que tinha que agarrar aquela oportunidade com unhas e dentes. E foi exatamente o que ele fez. Depois de começar em vigésimo no grid, em apenas 15 voltas já estava em décimo. Mas o carro durou apenas 29 voltas: Bill teve de abandonar a corrida com uma quebra no tanque de óleo.

 

O Fuel Injection

 

Enquanto ganhava seus US$ 750 por terminar em 29º, parecia bastante claro que o esforçado Bill Vukovich poderia ser um candidato a grandes conquistas, se a oportunidade certa lhe fosse dada. Seguindo na temporada IndyCar com o suporte de Salemi e a bordo daquele fraco Trevis-Offy, das cinco corridas seguintes em que se inscreveu largou entre os Top-Ten em quatro. E apesar dos resultados magros, sua reputação ascendia. Ele foi notado pelo milionário desportista Howard Keck, que já havia patrocinado algumas empreitadas vitoriosas na Indy 500. Keck precisava de um substituto para o aposentado Mauri Rose, três vezes vencedor na Brickyard. Assim começa, em 1952, a intensa história de Vuky com o que é hoje um dos carros mais icônicos em exposição no Museu das 500 Milhas de Indianápolis – o  Fuel Injection Special. O chassi era o inovador Kurtis Kraft KK 500A, o primeiro assim chamado Indy Roadster – desenhado de modo a compactar o grande motor Offenhauser na parte dianteira esquerda do carro e piloto situado mais à direita. O melhor equipamento para se correr em um oval pavimentado naqueles tempos.

 

 

Vukovich em sua segunda tentativa em Indianápolis, nas 500 Milhas de 1952

 

Na edição de 1952 das 500 Milhas, Vukovich qualificou o carro nº 26 de Howard Keck na terceira fila, em oitavo lugar. Depois da largada, não demorou para que ele assumisse a ponta e quando estava com a corrida na mão, com 25 segundos de vantagem sobre Troy Ruttman e a apenas oito voltas do final, um pino de quarto de polegada saiu do braço de direção de seu carro e o jogou no muro, legando a Ruttman a vaga de vencedor. Vukovich ficou com o 17º na tabela final. Enquanto caminhava de volta para os boxes, Vuky percebeu que a Indy 500 não estava tão longe do seu alcance. Assim, ele se tornou, de um piloto praticamente desconhecido na Brickyard, a um forte candidato. A partir daí, todos passaram a observá-lo. E ninguém perderia por esperar o que Vuky faria no ano seguinte.

 

 

 

 

 

Foi em 30 de maio de 1953 e para a 37ª edição das 500 Milhas, Indianápolis ardia em calor. A temperatura estimada da pista estava em torno de 54°C. Durante a corrida, a maioria dos pilotos tiveram de legar o volante aos seus pilotos reserva por não resistirem a temperatura sufocante dentro de seus carros. Houve mesmo uma fatalidade entre os pilotos por conta disso: Carl Scarborough acabou perdendo a vida por exaustão depois de cumprir um terço da prova e entregar seu carro a Bob Scott. Nessas condições extremas, Bill Vukovich pulverizou a concorrência. Tendo capturado a pole-position em uma média de 222.72 km/h, ele liderou 195 das 200 voltas e foi um dos cinco pilotos que correram todo o sufoco daquelas 200 voltas sem o alívio de um piloto reserva. Enquanto outros pilotos paravam nos pits precisando de ajuda para saírem de seus carros, ele seguia estoicamente, apagando seus adversários. Depois de quase quatro horas dando um passeio sobre os demais, terminou as 500 Milhas mais de três minutos à frente de Art Cross, e completamente surdo pelo ruído do motor. Sua velocidade média foi de 207.19 km/h. Seu desempenho surpreendente lhe rendeu a fortuna de 89.496 dólares (em 2013 seria o equivalente a US$780,864). 

 

Sequência de momentos das 500 Milhas de Indianápolis de 1953; abaixo, Vuky larga na pole...

 

 

 

... e no momento em que ele rasga na reta principal.

Acima, em uma de suas paradas no pit; abaixo, liderando o pelotão...

 

… e ovacionado no Victory Lane.

 

 

Momento após a excruciante prova da Indy 500 de 1953: sua esposa Esther lhe dá um refresco

 

Mas Vuky ainda tinha mais para mostrar no ano seguinte. Numa rara entrevista para o Indianápolis Star, ele deixou claro a que veio: “Estão falando que não dá para vencer aqui duas vezes seguidas. Podem falar a vontade. Mas eu sei que Mauri Rose e Wilbur Shaw conseguiram e eles não eram super-homens. De qualquer jeito, ainda quero correr aqui ainda por alguns anos. E dá sim para continuar vencendo aqui. É preciso sorte, claro, e a combinação certa. Mas não é impossível. Nada é impossível.” E o que se viu naquele 31 de maio de 1954, estabeleceu Bill Vukovich como piloto-show, arrebatando uma legião de fãs. Apesar de ter conseguido apenas o 19º lugar no grid devido a problemas no motor durante o Pole Day, ele foi ainda mais rápido durante a corrida que no ano anterior; mostrando todo o seu ímpeto, marcou um recorde na Indy 500 pela média de 210.57 km/h. Liderou 90 voltas e de novo levou para casa o troféu de vencedor. Assim, ele se tornou o terceiro piloto a vencer a Indy 500 por duas vezes consecutivas. Nesse ano ele faturou mais 74.934 dólares. Para quem ainda tinha dúvidas sobre a capacidade de Vuky, foi uma exibição de cair o queixo.

 

Homem prático, com a fortuna ganha na Indy 500 comprou dois postos de gasolina em Fresno e investiu dinheiro para dar segurança à sua família.

 

 

Sequência das 500 Milhas de Indianápolis de 1954

 

Acima, Vuky põe sua “Race Face” esperando o sinal

 

Vukovich, em plana ação nas 500 Milhas de 1954. Abaixo, é novamente recebido por sua esposa no Victory Lane

 

Exausto, depois de mais um trabalho bem feito.

 

1954: Famosa foto de Bill Vukovich, se recuperando nos boxes logo depois de vencer a Indy 500

 

 

 

 

Fresno, 1954: a família Vukovich na parada em homenagem ao vencedor da Indy 500 daquele ano.

 

Bill Vukovich se preparando para a Carrera Panamericana de 1954.

 

Com a paz financeira das grandes conquistas, Vukovich podia agora se dar ao luxo de recusar quantas ofertas aparecessem para correr, visando se dedicar mais aos seus postos de gasolina e demais negócios familiares, sempre se preparando para a próxima edição das 500 Milhas. Durante o outono ele aceitou o convite para dirigir um Lincoln Capri-Stock Car nas estradas mexicanas da Corrida Pan-Americana. Seu estilo de condução tornou-se evidente durante a corrida, aterrorizando seu co-piloto, Vern Houle. O “Mad Russian” cortava curvas como um alucinado enquanto atravessava as perigosas estradas montanhesas. No meio da corrida, Vukovich & Houle estavam na segunda posição em sua classe quando o carro saiu da estrada nas montanhas de Sierra Madre. Por pouco escaparam ilesos.

 

Vukovich posando de terno e gravata para o comercial de uma concessionária de carros.

 

Epílogo

 

Em 1955, Howard Keck se viu forçado a abandonar as corridas por motivos financeiros e Bill Vukovich ligou-se a Lindsey Hopkins, que acabara de se tornar o proprietário de um novo roadster, um Kurtis Kraft KK 500C com o mesmo motor Offenhauser vitorioso nos dois anos anteriores.

 

Bill Vulkovich e sua equipe para a disputa das 500 milhas de Indianápolis de 1955.

 

Ao assumir seu posto na nova equipe, Vuky insistiu para que seus mecânicos na Fuel Injection viessem junto. Com seu novo patrão e seu novo carro, Vukovich se reuniria à única tragédia na disputa da Indy 500 daquele ano. Aquele foi verdadeiramente um ano negro para o mundo do automobilismo, que contou também com a morte de Manny Ayulo (durante os treinos da Indy 500) e do campeão italiano Alberto Ascari, além da tragédia descomunal das 24 Horas de Le Mans.

 

Entre 1950 e 1960, a prova das 500 Milhas de Indianápolis contava pontos para o calendário do Campeonato Mundial de Pilotos da FIA, a hoje conhecida Formula 1. No ano de 1954, com a vitória na Indy 500, Bill Vukovich agregou 8 pontos no Campeonato Mundial, terminando a tabela em 6º (no ano anterior, terminara em 7º com 9 pontos – 8 pontos mais 1 pela volta mais rápida). Hoje, o seu nome consta nas estatísticas da F1 com índices impressionantes. Levando em conta apenas as suas cinco participações na Indy 500, ele liderou 485 voltas – incríveis 71,7% das voltas que correu. Em 1955, ele obteve a volta mais rápida e assim acumulou um ponto na tabela do Mundial, tal como em 1952. Ao todo, ele acumulou 19 pontos em sua carreira na Formula 1. E permanece sendo, depois de sessenta anos, o único piloto que liderou o maior número de voltas de uma edição da Indy 500 três vezes consecutivas. Ele venceu também duas outras corridas do Campeonato IndyCar – as 100 Milhas de Detroit e as 100 Milhas de Denver, ambas em 1952.

 

Bill Vukovich foi o segundo campeão das 500 Milhas de Indianápolis a morrer defendendo o título (depois de Floyd Roberts em 1939) e é o único vencedor a morrer enquanto liderava a prova. Seu nome também consta como o primeiro piloto a encontrar a morte em um acidente durante uma corrida válida para o Mundial de F1.

 

A morte de Bill Vukovich não impediu a sua descendência de continuar ocupando o esporte. Seu filho Billy II, em cuja lembrança guardou pouco do pai já que este passava a maior parte de seu tempo em meio às corridas de carros, foi o Estreante do Ano na Indy 500 de 1968 (quando ele chegou em 7º) e terminou em 2º em 1973. E o filho de Billy II, Billy Vukovich III, foi nomeado Estreante do Ano para a Indy 500 de 1988 por seu 14º lugar na tabela final. Tragicamente, a vida de Billy III terminou tal como a do avô. Ele sofreu um acidente fatal numa prova em Bakersfield, na Califórnia, em novembro de 1990.

 

 

A intensa disputa entre Vuky& McGrath para as 500 Milhas de 1955

 

Veja como ele pilotava no limite: a roda dianteira esquerda não toca o chão.

 

 

O nome de Bill Vukovich entrou para mural do International Motorsports Hall of Fame em 1991. E mais recentemente, ele foi votado o 9º dos 100 maiores pilotos que competiram nas famosas 500 Milhas.

 

Hoje, passados sessenta anos de suas mais notáveis conquistas, Bill Vukovich é e vai continuar sendo desses personagens cuja memória se confunde com a lenda, talvez não só por seu exemplo de garra e talento como também por sua personalidade arredia, fechada em seu estreito circulo de familiares e amigos – e tão avessa a jornalistas e biógrafos. Seja como for, esse filho da Califórnia, que enfrentou e venceu uma infância de miséria para se tornar na arena do automobilismo um de seus mais notáveis gladiadores, ficará destacado na História pelos assombrosos números deixados por sua curta e brilhante carreira em Indianápolis.

 

"Bill Vukovich foi provavelmente o maior piloto que já conhecemos em termos de determinação e habilidade"

Rodger Ward, duas vezes vencedor da Indy 500

 

Ruy Petra

 

Ruy Petra é Bibliotecário no 'marco divisório', entre SP e MG, em Poços de Caldas e um apaixonado por automobilismo clássico.

 

Fontes:

– Wikipedia

http://en.wikipedia.org/wiki/Bill_Vukovich

http://en.wikipedia.org/wiki/1953_Indianapolis_500

http://en.wikipedia.org/wiki/1954_Indianapolis_500

 

– “Vukovich was a fearless racing driver” por Lissete Hilton em

http://espn.go.com/classic/biography/s/Vukovich_Bill.html

– “Vukovich Indy 500 Trophy Sale Inspires Memories” em

http://scoop.diamondgalleries.com/Home/4/1/73/1012?articleID=50325 

– “1955: Death of Bill Vukovich” por Curt Cavin em

http://www.indystar.com/article/99999999/NEWS06/80515049?nclick_check=1

Site –  A Report On The Accident That Killed Bill Vukovich In The 1955 Indianapolis 500-Mile-Race

http://www.vukovichaccident.com/ 

Sports Illustrated – “What Really Happened to Bill Vukovich at Indianapolis” (13/06/1955) em

http://sportsillustrated.cnn.com/vault/article/magazine/MAG1129772/index.htm

– Video The Unforgettable 500 em

http://www.youtube.com/watch?v=PhjupPTTZP4 

– Video Donald Davidson Remembers Indianapolis 500 Legend Bill Vukovich em

http://www.youtube.com/watch?v=S2aJnMdOwbk

– Os números da carreira de Vuky na IndyCar estão em

http://www.champcarstats.com/drivers/VukovichBill.htm

 

 

 

 

 

Last Updated ( Thursday, 08 May 2014 20:55 )