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Retrospectiva 2014 – Reflexões e Cenários para 2015 PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 27 December 2014 22:13

Olá, gente!

 

Espero que estejam com as baterias renovadas e que tenham um excelente 2015, cheio de vitórias, com muita gasolina nas veias.

 

O ano de 2014 passou voando por nós, mas neste pit stop de competições podemos olhar pelo retrovisor e refletir melhor sobre quais foram as notícias que mais marcaram o kartismo brasileiro e mundial neste ano, bem como as tendências para 2015.

 

Indiscutivelmente, a notícia de maior relevância para o kartismo em 2014 foi a ida de Max Verstappen para a Fórmula 1 após menos de um ano de competições no automobilismo, com apenas 17 anos de idade. E não apenas isto, mas desde o primeiro contato com o Toro Rosso, ele demonstrou uma imediata familiaridade com o carro, sendo veloz e não cometendo erros. Esta contratação sem precedentes na história da Fórmula 1 gerou, como era de se esperar, uma grande oposição de diversos ex-pilotos de Fórmula 1, sendo o mais veemente deles o sempre polêmico e sem papas na língua Jacques Villeneuve.

 

 

 

Villeneuve afirmou, com bastante razão, que a Fórmula 1 deveria ser o pináculo do automobilismo, algo quase inatingível, com máquinas com as quais todo piloto deveria sonhar em acelerar, restrita a poucos privilegiados que demonstrassem ter experiência e pedigree suficientes para chegar lá. Ele disse que “na época do meu pai, os pilotos eram quase mitos, pessoas capazes de domar máquinas virtualmente indomáveis” e que a ida de um moleque de 17 anos, que mal tem barba na cara, desmoraliza tudo isto. Realmente, a ida de Verstappen à Fórmula 1 é desmoralizante, porque mostra para quem quiser ver que um excepcional piloto do kartismo europeu pode sentar em um carro da categoria máxima do automobilismo mundial e, em poucas voltas, dominar a máquina e ser competitivo. Não, os atuais pilotos de Fórmula 1 não são mais deuses... Mas o que muitos estão deixando de enxergar, neste quadro, é a realidade de que não é que a Fórmula 1 tenha se tornado fácil, simples, controlável por qualquer Zé Mané (Niki Lauda percebeu isto quando pagou por sua língua alguns anos atrás, após afirmar que até um macaco pilotaria um carro de Fórmula 1 atual e passou o maior vexame tentando controlar o Jaguar de Mark Webber), mas sim que o nível de competitividade do kartismo europeu é incrível. E isto não vem de hoje! Lembrem-se de que quando perguntaram a Senna qual teria sido o seu maior e mais difícil rival nas pistas, ele não citou Prost, Mansell ou Piquet, mas sim Terry Fullerton, o piloto inglês com quem deu as suas mais ferrenhas divididas nas pistas de kart entre 1978 e 1982.

 

A prova de que o kart é a verdadeira escola: Max Verstappen vai praticamente direto para a Fórmula 1. 

 

E eu afirmo com absoluta convicção que, se a categoria shifter existisse na minha época, eu teria dominado qualquer carro de corridas de então com absoluta tranqüilidade. O único monoposto mais difícil que um shifter que eu já pilotei foi um Indy Light Panamericano, carro que pesava 650 kg e tinha um motor V8 5.7 de mais de 500 hp. Quem pilota um shifter no limite pode guiar um Fórmula 3 com o pé nas costas, acreditem em mim!

 

Este ano de 2014 mostra, por outro lado, que a estrutura do kartismo brasileiro deve ser repensada e logo. Tendo tido a oportunidade de acompanhar as nossas competições mais de perto este ano, pude perceber que o atual modelo de regulamento técnico das principais competições é injusto, gera custos altíssimos e nivela por baixo as competições. Os grids da categoria Graduados, a principal do kart brasileiro, refletem isto: no começo do ano, vemos até 30 pilotos por corrida, enquanto no final do ano no máximo 12 participam. Não há nada mais triste do que grids vazios, preparadores desesperados e pais de pilotos falidos.

 

O "Shifter" é tão apaixonante que pilotos profissionais de todas as categorias aceleram por lá... como o Rubinho!

 

No afã de diminuir custos, os dirigentes do nosso kart deram um tiro no próprio pé. A preparação de motores foi limitada drasticamente, sendo proibido aos preparadores limarem janelas do cilindro, trabalhar no bloco ou no virabrequim. Seu trabalho ficou limitado a mexer na “bolha” do cabeçote, adiantar ou atrasar o ponto, e subir ou baixar o diagrama por meio de juntas entre o cilindro e o bloco. As relações de coroa e pinhão também ficaram restritas, para que os motores girassem menos e durassem mais. Na prática, o que vemos são duas ou três empresas preparadoras de motores dominando o mercado brasileiro e cobrando aluguéis de motores de módicos R$ 3.000,00 ou mais por prova.

 

Os preparadores com menor estrutura, por mais competentes que sejam, estão sumindo. E por qual razão? A razão é a de que estes grandes preparadores compram enormes quantidades de motores diretamente da fábrica na Europa. O que se diz à boca pequena é que a fábrica estaria produzindo cilindros com diagrama feito exatamente de acordo com as especificações pedidas pelos preparadores, ou seja, motores preparados de fábrica. Se isto está realmente acontecendo, é difícil de comprovar, mas o fato é o de que atualmente só se ganha corridas em grandes competições se o pai do piloto puder pagar as exorbitantes quantias pedidas por estes dois ou três preparadores.

 

Para o kartismo brasileiro, vejo dois caminhos bastante positivos e que poderiam ser melhor explorados: as categorias que utilizam motores Rotax da Copa São Paulo de Kart Granja Viana e as competições com motores shifter (KZ).

 

As categorias Rotax tem se mostrado como das mais "democráticas" entre as existentes.

 

As categorias Rotax são interessantes pelo baixo custo de manutenção de motores e pela competitividade em todos os grids, que envolvem desde categorias para meninos de menos de 10 anos de idade até categorias para maiores de 40. O ponto negativo fica para a realização de provas exclusivamente no Kartódromo Granja Viana, tido por muitos, inclusive por mim, como chato e perigoso. Em 2014, no mês de maio, foi realizada uma prova excepcionalmente em Interlagos e foi algo espetacular, digo por experiência própria, pois participei na categoria Shifter Sênior e pude matar as minhas saudades da pista onde aprendi a pilotar, tendo levado dois canecos para casa, um na Shifter Sênior Geral onde fui sexto e outro na Shifter Sênior B, onde fui segundo e fiz a melhor volta. Espero que em 2015 eles repitam a experiência de fazer etapas em outras pistas mais vezes, de preferência em Interlagos!

 

Como já escrevi nesta coluna diversas vezes e vocês estão carecas de saber, pra mim a categoria mais espetacular do kartismo brasileiro e mundial é a KZ ou shifter. Os karts são velozes, desafiadores, exigem grande preparo físico e concentração e são mais complexos de acertar, mais parecidos com um automóvel de competição. Os custos de manutenção também são mais baixos do que o de um 125cc normal, apesar dos chassis “comerem” muito mais pneus por sua força de aceleração e frenagem. Por isto, não entendo por que tão poucos pilotos graduados no Brasil se dedicam a esta categoria... No grid deste ano, eram presenças frequentes pilotos do naipe de Rubinho Barrichello, Danilo Dirani, Guilherme Salas, Gaetano Di Mauro, Bia Figueiredo e Galid Osman, pilotos profissionais no automobilismo mas que sabem melhor do que ninguém que não existe treino melhor do que competir com estas máquinas. Outros pilotos como Dennis Dirani, Bruno Grigatti e Allam Synthes, profissionais do kart, competem exclusivamente nesta categoria e guiam em altíssimo nível, sendo ossos duros de roer para qualquer piloto.

 

Pensando no ano de 2015, temos algo muito positivo que merece ser mencionado: o Super Kart Brasil voltará a ser organizado nas nossas pistas! O SKB foi o que de melhor aconteceu em termos de campeonato no Brasil nos últimos anos, com organização de Paulo e Sylvia Carcasi, Ruben Carrapatoso, André Nicastro, Renato Russo, Danilo e Dennis Dirani. A idéia era a de ter os melhores pilotos, com os melhores equipamentos, nas melhores pistas e foram eles que ressuscitaram as competições no Kartódromo de Interlagos. Porém, a falta de apoio fez com que eles decidissem no começo do ano passado transformar a competição em algo anual, o que certamente empobreceu o nosso ambiente de competições.

 

José Eduardo Ávila e Floriano Pessaro. Uma força para o kartismo paulista e, consequentemente, nacional.

 

A volta do SKB coincide com o ressurgimento do Campeonato Paulista de Kart, que foi durante décadas a principal competição do país, mais importante até mesmo que os campeonatos brasileiros e sul-americanos. As competições serão em eventos conjuntos... Devemos agradecer por isto o empenho e trabalho sério de José Eduardo Ávila, um querido amigo de quem já falei algumas vezes aqui, ex-companheiro de equipe de Ayrton Senna no kart e amigo de adolescência do Dionisio Pastore. Junto com o ex-vereador de São Paulo e atual deputado federal Floriano Pesaro, Ávila conseguiu a reforma completa do Kartódromo de Interlagos, a volta do Campeonato Paulista de Kart e algo único na história deste país sem memória: uma homenagem em sessão solene na Câmara dos Vereadores de São Paulo para os maiores pilotos e preparadores do nosso kart, onde foram premiadas com muito merecimento as maiores figuras da história deste esporte.

 

Um grande abraço pra todos vocês!

 

Rodrigo Bernardes