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Camillo Christófaro PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 09 June 2009 12:12

         

Com o pequeno Camillo, ou será que poderíamos chamar de: Lobo e Lobinho do Canindé. Uma imagem para sempre.

 

Camillo Christófaro foi, sem dúvidas, um dos pilotos mais carismáticos do automobilismo brasileiro. Foi ele que “inventou a torcida de bairro no automobilismo” pois era ele um “filho legítimo do Canindé!”. 

 

Nascido em São Paulo no dia 27 de abril de 1928 no Bairro do Canindé e foi lá que passou sua vida toda. O automobilismo certamente estava no DNA herdado por parte de mãe uma vez que D. Esperança era irmã de ninguém menos que Francisco Sacco Landi, o ‘Seo’ Chico e de Quirino Landi, o irmão menos famoso. 

 

Como não poderia deixar de ser, Camillo esteve presente na inauguração de Interlagos (17/05/1940) e assistiu o tio chegar em 2º lugar na prova  “III Grande Premio Cidade de São Paulo”. Prova da qual Quirino também participou.
 

 

Foi estudar no SENAI, na unidade do Bairro do Brás (torno, fresa e plaina), seguindo o caminho da mecânica, mas antes disso, já os 14 anos, começou a trabalhar, inicialmente de ajudante numa oficina mecânica na rua onde morava. 

 

Depois da maioridade, já com a carteira de motorista em mãos, passou a guiar caminhões e nisso trabalhou até os 23 anos, fazendo – entre uma viagem e outra – as vezes de motorista de taxis.  

 

A renda extra obtida proporcionou a compra de seu primeiro carro, um Chevrolet 1937, carro que vei a se tornar um dos mais famosos ícones do nosso automobilismo: A poderosa Carretera Nº 18! 

 

Em 1952, com 24 anos, deu novos rumos à sua vida: Montou sua própria oficina mecânica – no bairro do Canindé, lógico – e casou-se com Wilma, namorada de alguns anos. 

 

Contando com uma boa clientela e com o bom andamento da oficina, construiu seu primeiro carro de corridas: Um monoposto, dentro do regulamento da categoria “Mecânica Nacional”, usando a estrutura do chassi de um Alfa Romeo, um motor Ford de 4 litros e o restante do carro sendo uma miscelânea composta por peças de diversas origens. A carroceria foi feita pelo próprio Camillo, que levou quase três anos para ficar pronto.

 

O carro recebeu o Nº 18, homenagem à data de aniversário da esposa. Na pintura, como forma de mostrar o apego à família e o carinho pelo filho (com quem veio um dia a ter a felicidade de correr em parceria), mandou pintar a figura de um personagem de estórias em quadrinhos: O lobinho que seu filho simplesmente adorava e pedida para que a figura fosse pintada na carenagem. Com o tempo a figura foi sendo modificada e ganhou até mesmo um capacete e um “design mais feroz”... a equipe do Canindé foi ficando conhecida como “Escuderia Lobo”, e Camillo em pouco tempo passou a ser chamado de o “Lobo do Canindé”.Sua estréia foi no início da temporada organizada pelo Automóvel Clube do Brasil, contudo, terminou com um abandono.
 

 

Camillo naquele ano transformou seu carro em um “biposto” e no ano seguinte dominou as primeiras etapas da Copa do Cinqüentenário do Automóvel Clube do Brasil. Neste ano, na V prova, quando vinha em segundo lugar, sofreu em sério acidente devido a quebra da manga de eixo da roda dianteira esquerda. O carro foi prá cima do barranco mas o piloto – felizmente – nada sofreu.  

 

No final daquele ano, competindo em dupla com Djalma Pessolato, viu o parceiro morrer nas Mil Milhas Brasileiras com a sua Carretera Chevrolet/Corvette 4.3L em um acidente inusitado: Um cavalo atravessou a pista durante a prova e Djalma, desviando bruscamente acabou capotando e caiu do barranco entre as curvas 1 e 2.

 

 

   

A Carretera acidentada por conta do cavalo que atravessou a pista. O piloto Djalma Pessolato não resistiu.

Camillo recuperou esta carretera e participou de algumas corridas com ela, chegando a vencer em Petrópolis, RJ.  

 

Este não seria o primeiro parceiro de Camillo a falecer. Em 1958, a caminho de Interlagos (as Carreteras tinham placas e andavam nas ruas, deslocando-se até o autódromo), o parceiro que correria as Mil Milhas Brasileiras com o Lobo do Canindé, Jair de Melo, bateram a caminho de um treino. Além do piloto, três mecânicos também faleceram. Camillo não correu a prova, ficando como marca daquele ano nas pistas com a estréia de seu novo carro, um “Mecânica Nacional” com chassi Alfa Romeo e motor Corvette, de 4.3L na segunda edição dos 500 Km de Interlagos com um 2º lugar em parceria com Dinho Bonotti. O antigo carro teve inscritos o próprio Dinho e Caetano Damiani. 

 

 

Em 1959 correu as Mil Milhas fez dupla na Carretera Nº 84 de José Gimenez Lopes, terminando em 2º lugar e, correndo com seu “Mecânica Nacional” Venceu a prova em homenagem ao Presidente do ACB. 

 

Em 1960 fez dupla com o tio – Chico Landi – na prova “24 Horas de Interlagos” (só carros nacionais) ao volante de um FNM/JK, conquistando o 2º lugar e em setembro compra a Carretera de Gimenez Lopes para correr as “Mil Milhas Brasileiras” ao lado de Celso Lara Barberis. Esta prova teve um final dramático para Camillo e Celso: Faltando poucas voltas para o final, e na liderança, a Carretera simplesmente parou antes dos boxes. Empurrada até onde estavam seus mecânicos, não houve jeito de fazê-la funcionar novamente, com a corrida perdida, a equipe toda empurrou a Carretera para cruzar a linha de chegada e ainda garantir o 4º lugar. 

 

Em 1961 Camillo estréia um novo carro na categoria “Mecânica Nacional”, uma Maserati/Corvette que já começou vencendo em Piracicaba-SP. Em relação a Carretera que ele corria – aquela recuperada – ele fez algumas modificações, dentre elas, o rebaixamento do teto. Neste ano, tirando a corrida de estréia seus resultados não foram tão bons. 

 

Em 1962, Camillo vendeu a Carretera a Catharino Andreata, grande piloto Gaúcho. No ano anterior ele já havia vendido o “MN” Alfa Romeo/Corvette para Justino de Maio.

 

Foi em 1963 que começou a nascer o mito de sua poderosa Carretera, construída a partir do seu antigo Chevrolet 1937. Nas pistas ele venceu novamente as 12 Horas de Interlagos (ao lado de Antonio Carlos Aguiar e Décio D’Agostino. A estréia da mítica Carretera Nº 18 foi nos “1600 Quilômetros de Interlagos” ao lado de Antonio Carlos Aguiar.

 

 

A famosa Carretera com a qual Camillo ficou imortalizado na história do automobilismo Brasileiro.

Até então a prioridade do “Lobo” eram as corridas de Mecânica Nacional, mas com a diminuição das corridas para carros nesta categoria, passou a correr com mais frequência com a Carretera.

 

Venceu a “250 Milhas de Interlagos”, uma prova realizada usando o circuito no sentido horário, ou seja, no sentido inverso, mais uma vez em parceria com Antonio Carlos Aguiar. 

 

Neste ano ocorreu uma disputa familiar que foi das pistas para bastidores. Camillo correu naquele ano, e vencido, a prova “IV Centenário do Rio de Janeiro” pilotando uma Ferrari 250 GTO Drago. Toda a polemica foi causada pelo chefe de equipe Simca, ninguém menos do que o tio – Chico Landi. Chico entrou com recurso alegando que a Ferrari vencedora originalmente era um GT e que havia sido enviada para a Itália e transformada, então seria agora um protótipo, após muita discussão o ACB acabou considerando o carro como GTO e manteve o resultado.  

 

Com a Ferrari, no IV Centenário. Vitória e "briga" em família.

 

Nos anos de 1964 e 1965 foram diversas vitórias, tanto com a Carretera como com a Maserati/Corvette MN.

 

Mas foi em 1966 que Camillo venceu aquela que talvez tenha sido a mais eletrizante edição das Mil Milhas Brasileiras ao lado de Eduardo Celidônio. Da glória da vitória à quase tragédia, um mês depois, no “GP Rodovia do Café” (PR) Camillo sofre um sério acidente, capotou numa depressão, acabou com o tornozelo esquerdo trincado, dois cortes no rosto e escoriações pelo corpo e a Carretera destroçada. 

 

 

Dois momentos de Camillo e a Carretera: A vitória em Interlagos, 1966 e o resultado do acidente em 1967.

Em 1967 faz 5 provas, inclusive “Mil Milhas”, novamente em dupla com Eduardo Celidônio, vencendo 3 delas (2 em sua categoria). Contudo, nas Mil Milhas o resultado foi um abandono. 

 

 

Entre 1968 e 1969, com Interlagos fechado para reformas, fez provas no Paraná, Rio de Janeiro e Brasília. Todas sem obter grandes resultados.  

 

A Carretera pronta para os 500 Km da Guanabara.

Em 1970, com Interlagos de volta as atividades, voltaram as corridas e os bons resultados, com dois 3º lugares mas os abandonos também foram muitos. Camillo também correu no Paraná e na inauguração do Autódromo de Tarumã (RS), onde, apesar de ter largado em ultimo pois não treinou, terminou em 3º lugar, atrás apenas do Fúria de Jayme Silva e do Bino Mark II de Luiz Pereira Bueno, dois carros construídos por Toni Bianco. 

 

 

 O Furia/Ferrari na Copa Brasil.

 

 

1971 foi o ano da última corrida da famosa Carretera na 1º etapa da Copa Brasil. A partir da 2º etapa Camillo passou a correr com o protótipo Fúria/Ferrari que havia encomendado ao carrozieri Toni Bianco, fez apenas 2 corridas com esse motor. Para se adaptar ao regulamento trocou por um motor Dodge Chrysler nacional, correndo com esse carro na Divisão 4 em 1972 e 73. Nesse último ano lançara-se a Divisão 1, com provas de longa duração e carros com reduzido preparo, e também foi lançado o Ford Maverick V-8. Grande amante dos V-8, Camillo logo se entusiasmou com o modelo e a categoria. Nos anos seguintes, participaria de diversas corridas de Divisão 1 e 3, com Mavericks preparados pela Escuderia Lobo. Correu com ele os anos de 1972 e 73 e a partir da “Mil Milhas” de 1973 passou a usar um Ford Maverick V8 (Camillo sempre teve uma grande paixão pelos V8) durante os anos de 1974 e 1975 conquistou algumas vitórias e outros ótimos resultados nos campeonatos das Divisões 1 e 3. Mas foi neste ano de 1975, aos 47 anos, que ele realizou um de seus sonhos: Correr em dupla com o filho “Camilinho”, então com 22 anos, na prova ”6 Horas de Interlagos”, as "500 Milhas".  

 

Esta corrida corrida tem uma daquelas estórias das quais só o Camillo era capaz de protagonizar: Em 1975 a Divisão 1 estava em franca expansão. As 25 Horas de Interlagos não foram realizadas naquele ano, decidindo-se realizar uma prova mais curta, as 500 Milhas de Interlagos (ou também conhecida como as 6 horas de Interlagos). Assim como eram as 25 Horas, as 500 Milhas também ficaram sob a responsabilidade do Avallone Motor Clube, de Antonio Carlos Avallone, e seria realizada na pista completa de Interlagos. Nessa época, a maioria das provas de Interlagos contava com a experiente equipe Sget’s de cronometragem, mas nessa prova estrearia uma nova equipe, a Racing Crono.  

 

A prova foi vítima de uma série de confusões, algumas inevitáveis, como a climática. Apesar de 71 carros inscritos, a principal equipe da Divisão 1, a punida Mercantil-Finasa, na qual corria José Carlos Pace, não participaria da corrida embora contasse com a autorização da CBA. Depois, choveu nos treinos de classificação. A maioria dos carros foi para a pista molhada, marcando tempos altíssimos, mas quase no final dos treinos, com a parada da chuva, a pista começava a secar. O esperto piloto paranaense Edson Graczyk ficara com seu Opala da equipe Tecnomotor parado nos boxes enquanto chovia. Quando parou de chover, e a pista começou a secar, Graczyk prontamente foi para a pista e marcou a pole position em 4’10”1, com certa facilidade. Em segundo ficou outro Opala, o de Sergio Carvalho, e em terceiro Camillo Christófaro, o primeiro com Maverick. Havemos de lembrar que nessa época os Maverick simplesmente acabavam com os Opalas nas provas de Divisão 1. A única grande vitória do Opala fora nas 25 Horas de 1974, e os carros da Ford ganharam todas as outras provas. Assim que a pole de um Opala foi surpreendente. Até mesmo o 3° de Camillo surpreendeu, devido a quantidade de água na pista no momento em que o tempo foi obtido. 

Com o Filho, em 1975, correndo com seu filho: Um sonho realizado!

 

A prova foi transmitida pela TV e a Itacolomy, Concessionária Chevrolet estava oferecendo prêmios aos vencedores. 

 

No domingo não choveu e o velho Lobo (na época este não era apelido do Zagallo) fez a melhor largada (que "surpreendentemente" ocorreu no horário previsto), pulando diretamente para a primeira posição. Não só Camillo largou melhor, como começou a abrir distância do segundo colocado, Graczyk. Era o Camillo de antigamente, que após 40 minutos de prova, já tinha 23 segundos de diferença sobre o segundo colocado, Arthur Bragantini. Com uma hora de prova, Camillo entrou nos boxes para reabastecer e passar a direção do Maverick número 18 a seu filho, que logo voltou à ponta. Camillo Jr. não só manteve a primeira posição, como ampliava a diferença em relação ao segundo colocado.

 

Quando faltava  menos de 1 hora para terminar terminar a prova Camillo recebeu placa para pit-stop na próxima volta. Contudo, na Curva do Sol perdeu o traçado e colocou uma roda na grama ainda molhada da chuva e o Maverick  escapou e bateu no guard-rail externo, devido à velocidade foi parar sobre o guard-rail interno, o carro ficou dobrado ao meio.

 

Há uma “versão folclórica” de que o experiente piloto, teria feito "uma graça" com Totó Porto na reta oposta e perdeu o ponto de tangência da curva.  Ao chegar aos boxes declarou, decepcionado com sua bobagem que ele era um “salame”, que corria a mais de 20 anos e cometera uma besteira.

 

Não bastasse o tosco acidente, outro ocorreu... na torre de cronometragem! A nova empresa estava completamente perdida (a única certeza que tinham era que o Maverick da Escuderia Lobo era o líder) e o resultado oficial levou horas para sair sob uma enxurrada de protestos.

 

No cronômetro venceram os Opalas mas, por um problema de peso, os carros da Chevrolet foram desclassificados e a vitória ficou com os Mavericks.

 

Camillo continuou correndo de Maverick o Campeonato de 1975 e fez 3 provas do Campeonato de 1976, conquistando mais duas vitórias, quando decidiu parar de correr, concentrando-se em preparar carros e continuou com a oficina, com a equipe e passou a se dedicar à carreira do filho que competia no Brasileiro de Marcas e na Stock Car.  

 

13 anos depois, em 1989, Camilinho, na época com 36 anos, conseguiu convencer o pai, já com 61 anos, a correr mais uma edição das Mil Milhas Brasileiras. Correram com um Chevrolet Opala equipado com cambio Corvette e um motor de aproximadamente 300 cavalos. Foram 197 voltas, pouco mais de 11h34min. e um 3º lugar na geral e 1º na categoria Força Livre Nacional.
 

  

Em 1989, sua última corrida em Interlagos, mais uma vez com seu filho, nas Mil Milhas Brasileiras.

 

Foi esta sua última corrida e, coincidentemente, também a última “Mil Milhas” realizada no circuito antigo que ele tanto conhecia. No final daquele ano Interlagos foi fechado e a pista reformada, sendo reduzida de seus quase 8 Km para 4.309 metros dos dias de hoje. 

 

A mítica carretera do Lobo do Canindé, restaurada para o Festival de Automobilismo em Interlagos.

 

Camillo faleceu em 20 de agosto de 1995, deixando saudades e seu nome gravado para sempre na história do automobilismo brasileiro.

 

 

Fontes: Revistas Mecânica Nacional; Autoesporte e Quatro Rodas. Bandeira Quadriculada, Óbvio, CDO.

 

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Last Updated ( Saturday, 07 August 2010 19:49 )